Scielo RSS <![CDATA[Análise Social]]> http://scielo.pt/rss.php?pid=0003-257320240002&lang=pt vol. num. 251 lang. pt <![CDATA[SciELO Logo]]> http://scielo.pt/img/en/fbpelogp.gif http://scielo.pt <![CDATA[O populismo português: pessoas, partidos e política.]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732024000200100&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract This special issue explores the emergence and evolution of populism in Portugal, challenging the notion of “Portuguese exceptionalism”. By examining political parties, the role of the media, and individual attitudes, the articles in this special issue reveal that populist attitudes and discourses have long existed in Portugal, albeit without electoral success until the radical right party Chega entered parliament in 2019. The contributions analyse historical populist figures, the intersection of populism with religious sentiments, and the impact of recent crises, such as the Covid-19 pandemic, on populist rhetoric. Despite being under-researched, the Portuguese case offers critical insights into the interplay of demand- and supply-side factors in the rise of populism. While more research is needed on specific aspects, this special issue paves the way for future studies on populism in Portugal and comparative analyses.<hr/> Resumo Este número especial explora o aparecimento e a evolução do populismo em Portugal, desafiando a noção do “excecionalismo português”. Através da análise dos partidos políticos, do papel dos média e das atitudes individuais, os artigos deste número especial revelam que as atitudes e os discursos populistas existem há muito tempo em Portugal, embora sem sucesso eleitoral até ao momento da entrada do partido de direita radical Chega no parlamento, em 2019. Os contributos analisam figuras populistas históricas, a interseção do populismo com a religião e o impacto de crises recentes, como a pandemia da Covid-19, na retórica populista. Apesar de o caso português ter sido pouco estudado, oferece uma perspetiva crítica sobre a interação dos fatores da oferta e da procura na ascensão do populismo. Embora seja necessária mais investigação sobre determinados aspetos específicos, este número especial abre o caminho a futuros estudos sobre o populismo em Portugal e, também, a análises comparativas. <![CDATA[Muito barulho por nada?. A pandemia de COVID-19 e a propagação do discurso populista em Portugal]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732024000200201&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract The COVID-19 pandemic and its socioeconomic impacts led to fears that a kind of pandemic-fuelled populism could erupt in crisis-struck societies. Through a content analysis of parliamentary debates on issues dear to populists, we explore the impact of COVID-19 on the incidence of populist rhetoric in Portugal in different moments of the pandemic and by different political parties. Our results indicate that, despite an increase of people-centrism during the first COVID-19 wave, the pandemic globally decreased the prevalence of populist rhetoric, suggesting that parties’ adoption of populist frames under a crisis may be dependent on the nature of that crisis<hr/>Resumo A pandemia da COVID-19 e os seus impactos socioeconómicos geraram receios de que, nas sociedades atingidas pela crise, pudesse irromper uma espécie de populismo alimentado pela pandemia. Através de uma análise de conteúdo de debates parlamentares sobre temas caros aos populistas, explorámos o impacto da COVID-19 na incidência da retórica populista em Portugal em diferentes momentos da pandemia e por parte de diferentes partidos políticos. Os nossos resultados indicam que, apesar de um aumento do centrismo nas pessoas durante a primeira vaga da COVID-19, a pandemia diminuiu globalmente a prevalência da retórica populista, sugerindo que a adoção de quadros populistas pelos partidos durante uma crise pode estar dependente da natureza dessa crise. <![CDATA[Atitudes populistas e o voto da direita radical populista em diferentes tipos de eleições: Evidências de Portugal]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732024000200202&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract In this article, the impact of populist attitudes on the vote for the populist radical right is assessed in the context of first- and second-order elections, under the expectation that the effect of populist attitudes will be stronger in the latter. To test this assumption, the focus is placed on the case of Portugal, and original survey data collected in 2021 - including information on vote choice in the January presidential elections, vote intentions in hypothetical legislative elections, populist attitudes and relevant controls - is used. The results show that populist attitudes increased the odds of voting for André Ventura in the presidential election but had no impact on the probability of expressing an intention to vote for Chega in legislative elections. The implications of these patterns are discussed.<hr/>Resumo Neste artigo, avalia-se o impacto das atitudes populistas no voto na direita radical populista no contexto de eleições de primeira e de segunda ordem, sob a expetativa de que o efeito das atitudes populistas seria a mais forte nestas últimas. Testa-se este pressuposto com um enfoque no caso de Portugal, e utilizam-se dados originais de inquérito recolhidos em 2021 - incluindo informações sobre a escolha de voto nas eleições presidenciais de janeiro, as intenções de voto em eleições legislativas hipotéticas, as atitudes populistas e controlos relevantes. Os resultados mostram que as atitudes populistas aumentaram a probabilidade de votar em André Ventura nas eleições presidenciais. No entanto, estas não tiveram impacto na probabilidade de expressar uma intenção de voto no Chega em eleições legislativas. Discutem-se as implicações destes padrões. <![CDATA[Populismo no país dos “brandos costumes” - uma história dos momentos populistas portugueses do século XX (1917-1976)]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732024000200203&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract This paper analyses Portuguese twentieth-century populist moments from a historical perspective. At the start of the current “populist wave”, pundits and academics justified the lack of support for populism in Portugal by falling back on the conservative metaphor of the “mild-mannered country” - claiming that the Portuguese were not prone to political radicalism. An examination of the country’s contemporary history reveals a different picture. Following case studies that encompass the Portuguese First Republic, the Estado Novo dictatorship, and the Carnation Revolution, we seek to demonstrate that populism in Portugal has been a force to be reckoned with.<hr/>Resumo Este artigo analisa os momentos populistas portugueses do século xx numa perspetiva histórica. No início da atual “vaga populista”, especialistas e académicos justificaram a falta de apoio ao populismo em Portugal recorrendo à metáfora conservadora do “país dos brandos costumes” - afirmando que os portugueses não eram propensos ao radicalismo político. Uma análise da história contemporânea do país revela um quadro diferente. Através de estudos de caso que englobam a Primeira República Portuguesa, a ditadura do Estado Novo e a Revolução dos Cravos, procuramos demonstrar que o populismo em Portugal tem sido uma força a ter em conta. <![CDATA[Populismo religioso: os casos do Chega! e do CDS-Partido Popular]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732024000200204&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract A pertinent and contemporary approach to the phenomenon of populism in Portugal must consider the subtype of religious populism. With the de-privatization of religion and, subsequently, of religious populism, it has become possible to identify two types of religious populism: modernophobia and Islamophobia. Building on this theoretical framework, this article analyses the religious populist discourse associated with the identity and cultural dimension and right-wing parties such as Chega! and CDS - People’s Party. Despite the differences between the parties in the way they use religious arguments in their political discourse, the current Portuguese political context follows the trend of religious de-privatisation, which may pave the way for religion and religious populism to increase their prominence in the public space and political agendas.<hr/>Resumo Uma abordagem pertinente e contemporânea do fenómeno do populismo em Portugal deve considerar o subtipo do populismo religioso. Com a desprivatização da religião e, consequentemente, do populismo religioso, tornou-se possível identificar dois tipos de populismo religioso: a modernofobia e a islamofobia. Partindo deste enquadramento teórico, este artigo analisa o discurso populista religioso associado à dimensão identitária e cultural e a partidos de direita como o Chega! e o CDS - Partido Popular. Apesar das diferenças entre os partidos na forma como utilizam os argumentos religiosos no seu discurso político, o atual contexto político português segue a tendência de desprivatização da religião, o que pode abrir caminho para que a religião e o populismo religioso aumentem a sua proeminência no espaço público e nas agendas políticas. <![CDATA[O populismo de extrema-direita em Portugal: a cultura política dos membros do CHEGA]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732024000200205&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract In 2019, Chega burst onto the Portuguese political scene, becoming the third most significant political force in the national parliament over the next four years. This article focuses on the political culture of Chega’s members and it aims to find if and how this political culture fits in with that of the populist radical right. To this end, an online survey (carried out between May 24th and June 16th of 2021) was distributed to party members addressing the following various dimensions. The 3,183 validated responses show a political culture that falls within the main lines of the radical right: nativism, authoritarianism, and populism. However, the distribution of the sample reveals less polarization than expected in the central themes of nativism (ethnic homogeneity) and populism (direct democracy).<hr/>Resumo Em 2019, o Chega irrompeu na cena política portuguesa, tornando-se na terceira força política mais significativa no parlamento nacional nos quatro anos seguintes. Este artigo centra-se na cultura política dos membros do Chega e tem como objetivo descobrir se e como esta cultura política se enquadra na da direita radical populista. Para o efeito, distribuiu-se um inquérito online (realizado entre 24 de maio e 16 de junho de 2021) aos membros do partido, abordando várias dimensões. As 3 183 respostas validadas revelam uma cultura política que se inscreve nas grandes linhas da direita radical: nativismo, autoritarismo e populismo. No entanto, a distribuição da amostra revela uma polarização menor do que a esperada nos temas centrais do nativismo (homogeneidade étnica) e do populismo (democracia direta). <![CDATA[Chamar as Coisas pelos Nomes: O Conceito de Populismo na Imprensa Portuguesa]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732024000200206&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract Populism’s increasing prominence in politics raises questions about its definition and usage. Drawing on qualitative and quantitative text analysis, this article addresses how populism is portrayed in the Portuguese press, its associations, and discrepancies with academic discourse. Over a ten-year period (2012-2021), this study examines two media outlets to assess populism’s presence in the press before Chega’s parliamentary entry. Populism is often tied to international figures, in opinion pieces, under a negative tone, and typically associated with ideological positioning. The haziness and conceptual imprecision of populism extend beyond academia halls, although the media is significantly aligned with scholarly definitions.<hr/>Resumo A crescente preponderância do populismo na política levanta questões sobre a sua definição e sobre a sua utilização. Com base na análise qualitativa e quantitativa de textos, este artigo aborda a forma como se retrata o populismo na imprensa portuguesa, as suas associações e discrepâncias com o discurso académico. Ao longo de um período de dez anos (2012-2021), analisam-se dois meios de comunicação social para avaliar a presença do populismo na imprensa antes da entrada de Chega no parlamento. O populismo é frequentemente associado a figuras internacionais, em artigos de opinião, sob um tom negativo, e tipicamente associado a um posicionamento ideológico. A nebulosidade e a imprecisão conceptual do populismo extravasam os corredores da academia, embora os meios de comunicação social estejam significativamente alinhados com as definições académicas. <![CDATA[Compreender as raízes: atitudes populistas e traços de personalidade em Portugal]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732024000200207&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract The study of populism in Portugal has mostly been focused on the supply side, disregarding, to a large extent, the analysis of individual support for populism. This study analyses the relationship between populist attitudes and citizens’ personality traits through the lens of the Big Five Personality Traits model. Our findings underscore the substantial explanatory power of personality traits in understanding not only the prevalence and manifestation of populist attitudes, even when controlling for political efficacy, but also party identification and sociodemographic characteristics. The article concludes that conscientious individuals, especially those who gravitate towards populist parties, are more likely to support stricter regulations, adhere closely to social norms, and align themselves with populist messages out of fear of declining social status and a desire for control to bolster their sense of security.<hr/>Resumo O estudo do populismo em Portugal tem-se centrado maioritariamente no lado da oferta, ignorando, em grande medida, a análise do apoio individual ao populismo. Este estudo analisa a relação entre as atitudes populistas e os traços de personalidade dos cidadãos através da lente do modelo dos Cinco Grandes Traços de Personalidade. Os nossos resultados sublinham que o poder explicativo dos traços de personalidade é substancial não só na compreensão da prevalência e da manifestação de atitudes populistas, mesmo quando se controla a eficácia política, como também na identificação partidária e nas características sociodemográficas. O artigo conclui que os indivíduos conscienciosos, especialmente os que gravitam em torno de partidos populistas, tendem a apoiar regulamentações mais rigorosas, a aderir estreitamente às normas sociais e a alinhar-se com mensagens populistas por medo da diminuição do estatuto social e por um desejo de controlo para reforçar o seu sentimento de segurança. <![CDATA[Entre o desinteresse e a participação. Fatores diferenciais dos abstencionistas e dos eleitores populistas em Portugal]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732024000200208&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract This paper examines the relationship between the rise of populist support and increasing rates of abstention in European democracies. Empirical studies have shown that populist parties are gaining traction among voters, while abstention rates are also on the rise, particularly among “temporary” abstentionists who refrain from voting due to situational factors. We delve into this matter by utilising an original survey on a representative sample of the Portuguese population conducted in 2020. The findings suggest that there are similarities between voting for populist radical right parties and abstention, particularly in terms of “protest” attitudes, which set them apart from supporters of non-populist parties. Additionally, the study indicates that both phenomena are influenced by short-term factors related to the supply side of politics. However, abstentionists are more likely to belong to lower socio-economic strata and exhibit lower levels of political interest.<hr/>Resumo Este artigo analisa a relação entre o aumento do apoio aos partidos populistas e o aumento das taxas de abstenção nas democracias europeias. Estudos empíricos têm demonstrado que os partidos populistas estão a ganhar força entre os eleitores, enquanto as taxas de abstenção também estão a aumentar, particularmente entre os abstencionistas “temporários” que se abstêm de votar devido a fatores situacionais. Para aprofundar esta questão, recorremos a um inquérito original realizado em 2020 a uma amostra representativa da população portuguesa. Os resultados sugerem que existem semelhanças entre o voto em partidos populistas de direita radical e a abstenção, particularmente em termos de atitudes de “protesto”, que os distinguem dos apoiantes de partidos não populistas. Adicionalmente, o estudo indica que ambos os fenómenos são influenciados por fatores de curto prazo relacionados com o lado da oferta da política e que os abstencionistas são mais propensos a pertencer a estratos socioeconómicos mais baixos e a exibir níveis mais baixos de interesse político.