Scielo RSS <![CDATA[Etnográfica]]> http://scielo.pt/rss.php?pid=0873-656120240003&lang=pt vol. 28 num. 3 lang. pt <![CDATA[SciELO Logo]]> http://scielo.pt/img/en/fbpelogp.gif http://scielo.pt <![CDATA[Conveniências contingenciais: a antecipação como prática temporal dos inspetores do SEF na fronteira aeroportuária portuguesa]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612024000300583&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Este artigo surge no seguimento do trabalho etnográfico realizado num aeroporto em Portugal, onde de junho de 2021 a abril de 2022 acompanhei nos vários grupos e turnos o quotidiano dos inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). A intenção está em analisar, através da lente da temporalidade, como a antecipação pode ser duplamente entendida como uma prática temporal aquando da gestão dos passageiros: por um lado, é produzida através de conveniências contigenciais de ordem logística, organizacional e pessoal, e por outro produz diferentes velocidades de acesso ao território nacional (TN). No decurso da mobilização destas duas dimensões temporais os inspetores reorganizam quadros espaciais e situacionais, complicando ideias de ação e não ação aquando do seu encontro com os sujeitos em mobilidade.<hr/>Abstract This article follows from ethnographic work conducted at an airport in Portugal, where, from June 2021 to April 2022, I observed the daily routines of the inspectors of the Portuguese Immigration and Borders Service (SEF) across various groups, shifts and functions. The aim is to analyze, through the lens of temporality, how anticipation can be understood in two ways as a temporal practice in the management of passengers: on the one hand, it is shaped by contingent conveniences of logistical, organizational, and personal nature, and on the other hand, it generates different speeds of access to the national territory (NT). In the process of mobilizing these two temporal dimensions, the inspectors reorganize spatial and situational frameworks, complicating notions of action and inaction when encountering subjects in mobility. <![CDATA[Cotidiano e trajetórias vitais situadas de mulheres idosas (AMBA, província de Buenos Aires, Argentina): a incidência da pandemia de Covid-19]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612024000300605&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumen Este trabajo se propone dar cuenta de las intersecciones entre distintos aspectos de la vida cotidiana y las trayectorias vitales de personas mayores en un espacio barrial, y la incidencia de la pandemia por Covid-19. Se basa en el desarrollo sostenido desde 2015 de prácticas integrales que incluyen docencia, investigación y extensión con un grupo de mujeres mayores del barrio El Retiro (Lisandro Olmos, La Plata, área metropolitana de Buenos Aires, provincia de Buenos Aires, Argentina). Se funda en un abordaje metodológico a micro-escala, desde una perspectiva etnográfica. Los resultados advierten sobre el modo en el que las situaciones críticas, como el acontecimiento de la pandemia por Covid-19, pueden constituirse en oportunidades para la reformulación de representaciones sociales y sentidos, como también pueden incluir la generación de redes de apoyo entre las propias personas mayores y con otras generaciones, dentro del barrio e incluso más allá de él.<hr/>Resumo Este trabalho pretende dar conta das interseções entre diferentes aspetos da vida quotidiana e das trajetórias de vida das pessoas idosas num espaço de bairro e a incidência da pandemia de Covid-19. Baseia-se no desenvolvimento sustentado, desde 2015, de práticas integrais que incluem ensino, pesquisa e extensão com um grupo de mulheres idosas do bairro El Retiro (Lisandro Olmos, La Plata, área metropolitana de Buenos Aires, província de Buenos Aires, Argentina). Funda-se numa abordagem metodológica em microescala, a partir de uma perspetiva etnográfica. Os resultados alertam para o modo como as situações críticas, como o evento da pandemia de Covid-19, podem tornar-se oportunidades para a reformulação das representações e significados sociais, bem como para a geração de redes de apoio entre as próprias pessoas idosas e com outras gerações, dentro do bairro e até mesmo fora dele. <![CDATA[As reconfigurações do <em>culture jamming</em> no ambiente digital: o caso dos <em>memes</em> anticonsumismo na campanha #antiblackfriday (Brasil)]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612024000300621&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Este artigo foi originalmente desenvolvido no âmbito da pesquisa de doutoramento realizada com bolsa da Fapes - Fundação de Amparo à Pesquisa e à Inovação do Espírito Santo (Brasil), e aprimorado durante período de estágio de pesquisa pelo Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE) realizado na Universidade de Lisboa, com bolsa da Capes - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, instituições às quais agradeço. Neste artigo discuto as reconfigurações do fenômeno chamado de culture jamming, característico da dimensão comunicativa do consumo político, a partir da apropriação de memes da Internet como uma ferramenta de crítica ao consumo. Com base na etnografia da criação e implementação da campanha #antiblackfriday, realizada em 2020 no Brasil como um processo planejado que fez uso deliberado de memes, exploro reflexões recentes sobre estes como ferramenta estratégica política criativa, que foge do formalismo institucional e é uma expressão da política da vida cotidiana no espaço digital; abordo o humor como elemento performático central para a crítica por meio dos memes; analiso os recursos retóricos mobilizados em um conjunto semântico polissêmico e as reações à campanha em redes sociais digitais. Argumento que a utilização de memes da Internet atualiza as estratégias de culture jamming ao se apropriar de um formato de mídia que, por si, já consiste em um remix das imagens da mídia dominante; e, ainda, permite um espaço para o registro de opiniões e de conversas ligeiras a partir das reações provocadas, possibilitando o avanço para uma dimensão dialógica que reforça a característica política do fenômeno.<hr/>Abstract In this article, I discuss the reconfigurations of the phenomenon known as culture jamming, characteristic of the communicative dimension of political consumption, based on the appropriation of Internet memes as a tool to criticize consumption. Through the ethnography of the creation and implementation of the #antiblackfriday campaign, held in 2020 in Brazil as a planned process which deliberately made use of memes, I explore recent reflections on memes as a creative political strategic tool that escapes institutional formalism and is an expression of the politics of everyday life in digital space; I analyze the rhetorical resources mobilized in a polysemic semantic set, and the reactions to the campaign in digital social networks. I argue that the use of Internet memes updates the tactics of culture jamming by appropriating a media format that, in itself, already consists in a remix of the images of the dominant media; and, also, allows a space for the recording of opinions and light conversations, enabling the advancement to a more dialogical dimension that reinforces the political characteristic of the phenomenon. <![CDATA[Informal economies in Bairro Alto (Lisbon): the nocturnal tourist city explained through a street dealer’s life story]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612024000300645&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract The historical neighbourhood of Bairro Alto is the city’s most iconic nightlife destination, especially for tourists visiting Lisbon (Portugal). The expansion of commercial nightlife in this area has been accompanied by the increasing presence of informal economies in the public space during the hours of evening and night, specifically street vendors, and street drug dealers. Based on ethnographic immersion carried out between 2010 and 2020, this article presents the life story of a drug dealing gang leader who operates in a particular street in Bairro Alto. His life story demonstrates how street drug dealing in the Bairro Alto tourist nightlife constitutes a central strategy for the economic survival of John and his boys as well as an informal, alternative and effective mechanism of socioprofessional inclusion amidst a wider social reality highly characterized by class-based and ethnic-based institutional(ised) exclusion. <![CDATA[A pame theory of force: the case of the xi'iui of the Sierra Gorda of Querétaro, Mexico]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612024000300663&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumen En este texto se analiza el término de fuerza (mana’ap) como un concepto nativo formulado por los pames (xi’iui) de la Sierra Gorda de Querétaro. Éste se encuentra relacionado con aspectos como la sangre, el alimento, lo frío, lo caliente, los aires y sus efectos en el cuerpo. Se observa que, para este pueblo, la fuerza es algo que se produce de manera continua, y, por ende, tiende a perderse ante diversas circunstancias. Para entender las dinámicas y flujos de la fuerza, se hace énfasis en las cualidades de la sangre - elemento inherente a la fuerza -, posteriormente se advierten los fenómenos y situaciones que llevan a su pérdida, y por consiguiente, a la merma de fuerza, para finalmente, explicar cuáles son las posibles vías para su reposición.<hr/>Abstract This text analyzes the term of force (mana’ap) as a native concept formulated by the pames (xi’iui) of the Sierra Gorda de Querétaro. This is related to aspects such as blood, food, cold, hot, air and their effects on the body. It is observed that, for this people, force is something that is produced continuously, and therefore, tends to be lost under various circumstances. In order to understand the dynamics and flows of force, emphasis is placed on the qualities of the blood - an element inherent to force -, later the phenomena and situations that lead to its loss, and therefore to the loss of strength, to finally explain what are the possible ways for its replacement. <![CDATA[Convergences and bifurcations in the biographies and autobiographies of indigenous intellectuals from Mexico and Brazil]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612024000300679&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumen En este artículo presentamos un ejercicio de reflexión sobre los retos que implica la escritura y el estudio de las biografías y autobiografías de intelectuales indígenas en diferentes escenarios geográficos, históricos y políticos: México y Brasil, la época colonial y la modernidad poscolonial. Nuestro análisis comparativo se centrará en las figuras del historiador indígena Domingo Chimalpáin y del activista brasileño Álvaro Tukano. Se trata de ensayar un experimento crítico e imaginativo, que evidencie las dificultades y las limitaciones de nuestra producción de textos académicos sobre la vida de dos intelectuales indígenas, cuya escritura autobiográfica no obedece necesariamente a los criterios literarios, las fronteras y los objetivos impuestos por los géneros occidentales.<hr/>Abstract In this article we present an exercise of reflection on the challenges involved in writing and studying the biographies and autobiographies of indigenous intellectuals in different geographical, historical and political scenarios: Mexico and Brazil, the colonial era and post-colonial modernity. Our comparative analysis will focus on the figures of the indigenous historian Domingo Chimalpáin and the Brazilian activist Alvaro Tukano. It is about rehearsing a critical and imaginative experiment that reveals the difficulties and limitations of our production of academic texts on the lives of indigenous intellectuals, whose autobiographical writing does not obey necessarily the literary criteria, the borders, and the objectives imposed by the Western genres. <![CDATA[A história através do sacrifício e da predação: território existencial <em>tikmũ,ũn</em> nas encruzilhadas coloniais entre os estados brasileiros de Minas Gerais e Bahia]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612024000300699&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Neste artigo analiso a história recente tikmũ,ũn (Maxakali) através das suas práticas sacrificiais e da relação que estabelecem com os yãmĩyxop (coletivo de espíritos cantores). Ao analisar historicamente o processo de “embranquecimento” da terra tikmũ,ũn, que consiste na sua desertificação e reterritorialização pela pecuária extensiva, observo que há diferentes territórios atravessando os corpos indígenas e não indígenas. O artigo desenvolve dois argumentos. O primeiro é que o sacrifício mobiliza uma construção do corpo da pessoa tikmũ,ũn que a coloca em caminhos outros, distintos de uma reterritorialização na agropecuária. O segundo é que, se não indígenas e pessoas tikmũ,ũn mobilizam em seus corpos territórios diferentes, isso me permite dizer que, se o ponto de vista está no corpo, então possivelmente ele é histórico e territorial, e que, diante da terra, o que varia é menos uma cultura do que uma natureza.<hr/>Abstract In this article I analyze the tikmũ,ũn recent history through their sacrificial practices and the relationship they establish with the yãmĩyxop (group of singing spirits). As I analyze historically the process of “whitening” the tikmũ,ũn land, which consists of its desertification and reterritorialization through extensive livestock, I observe that there are different territories crossing indigenous and non-indigenous bodies. The article develops two arguments. The first one is that sacrifice mobilizes a construction of the body of the tikmũ,ũn person, which places it on other paths, different from the reterritorialization in agriculture and cattle raising. The second is that if whites and tikmũ,ũn people mobilize different territories in their bodies, this allows me to say that if the point of view is in the body, then possibly it is historical and territorial and, in front of the land, the variable factor is less a culture than a nature. <![CDATA[“Pra virar gente”: a imitação afetuosa nas relações das crianças Capuxu com seus bichos]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612024000300725&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Este artigo analisa as experiências das crianças Capuxu com os animais de seu convívio diário, buscando compreender como as relações das crianças com estas espécies companheiras atravessam o tecido social Capuxu conformando o sistema onomástico, a comensalidade infantil, as técnicas para a produção do corpo e as tarefas desenvolvidas pelas crianças com ou para os seus bichos. Em todas estas experiências ocorre um tipo de aprendizagem mediada pelo afeto e cuidado mútuo, num processo de imitação afetuosa, no qual as crianças fazem parentesco com os bichos e com isso, paradoxalmente, na visão dos adultos, acabam “virando gente”.<hr/>Abstract This paper analyzes the experiences of Capuxu children with the animals they interact with daily, looking for un understanding about how children’s relationships with these companion species cross the Capuxu sociality, including the onomastic system, children’s commensality, the techniques for the production of the body and the tasks performed by children with or for their animals. In all these experiences, there is a kind of learning mediated by affection and mutual care, in a process of affectionate imitation, in which children make kinship with animals and paradoxically finish off “growing up as humans”, in the view of adults. <![CDATA[Laboratórios de ciências biológicas como práticas: uma leitura etnográfica da anatomia vegetal em uma universidade da caatinga (Bahia, Brasil)]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612024000300747&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Ancorado em anotações elaboradas em uma etnografia multiespécie, este texto formula uma leitura de laboratórios de ciências biológicas como práticas situantes de atores humanos e não humanos. Para isso, os autores trazem à baila plantas da/na caatinga, equipamentos de laboratório, reagentes químicos e biólogos como entidades que atuam coletivamente para produzir lâminas com retalhos de vegetais que circulam em espaços físicos e em textos, tornando-se capazes de, ainda que distantes dos seus referentes (as plantas da caatinga), informar as transformações (e impactos) dos ambientes em que habitam. Argumenta-se que os atores, humanos ou não, envolvidos em tramas multiespécies de laboratórios de ciências biológicas, respondem a partir de agendas próprias que, quando sintonizadas, fazem aparecer pesquisas, laboratórios e outros territórios em um constante trabalho de mediação.<hr/>Abstract Anchored in notes elaborated in a multispecies ethnography, this text formulates a reading of biological science laboratories as situating practices of human and non-human actors. For this, the authors bring up plants from/in the caatinga, laboratory equipment, chemical reagents and biologists as entities that act collectively to produce slides with plant pieces that circulate in physical spaces and in texts, becoming entities capable of, although distant from their referents (the plants of the caatinga), informing the transformations (and impacts) of the environments in which they inhabit. It is argued that the actors, human or not, involved in multispecies plots of biological science laboratories, respond from their own agendas that, when tuned, bring outresearch, laboratories and other territories in a constant work of mediation. <![CDATA[Mapas sensíveis nos territórios abandonados de estações férreas na fronteira Brasil-Uruguai]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612024000300773&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Esta pesquisa cartografa e investiga os territórios criados em decorrência do abandono das estações férreas, acentuado a partir dos anos 1980, nas cidades gêmeas de Jaguarão-Rio Branco e Santana do Livramento-Rivera, na fronteira Brasil-Uruguai, a fim de compreender as práticas urbanas e a relação com o patrimônio ferroviário na contemporaneidade. A partir do método cartográfico sensível, que acompanha processos vivenciados, e se aproxima de uma perspectiva etnográfica, ao propor uma imersão no campo, evidenciamos a ruptura corpo-cidade e a percepção de um abandono sensível nesses territórios. As nossas caminhadas possibilitaram a abertura para novas formas de leitura da cidade, prevalecendo a importância da fala, da escuta, da pausa, do silêncio, como uma forma potente de sentir e experimentar os lugares através da nossa sensibilidade.<hr/>Abstract The research maps and investigates the territories created by the abandonment of railway stations, a process that has been accentuated since the 1980s, in the twin cities of Jaguarão-Rio Branco and Santana do Livramento-Rivera, on the Brazil-Uruguay border. The aim was to understand the urban practices and the contemporary relationship with the railway heritage. Through the sensitive cartographic method, which explores the lived experience as processual, combined with an ethnographic perspective, which proposes an immersion in the field, the rupture body-city and the perception of a sensitive abandonment in these territories became evident. Our walks opened new ways of reading the city, and the prevalence of the importance of speech, of listening, of pause, of silence, as a powerful way to feel and experience the places through our sensibility. <![CDATA[Uma etnografia gráfica como forma de afeto e de memória: aflições, espíritos, e processos de cura nas igrejas Zione em Maputo]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612024000300803&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Em 2016, três anos depois de ter concluído o doutoramento, embarquei numa primeira tentativa de traduzir a minha pesquisa etnográfica, em Maputo entre igrejas Zione, para uma linguagem gráfica. Através de uma série de ilustrações individuais, procurei condensar graficamente algumas etapas que marcam o percurso de cura Zione, sintetizando várias histórias e testemunhos distintos em cada uma das imagens. Esta abordagem pretendia dar corpo ao universo simbólico e material Zione dentro de um quadro gráfico. Ao longo dos últimos anos, periodicamente, revisitei e refinei esses desenhos num processo cíclico de criação e reflexão. As ilustrações apresentadas neste artigo servem, portanto, como uma retrospetiva dessa jornada - uma exploração artística posterior à escrita de uma tese etnográfica. Esses desenhos foram gerados como uma linguagem representacional pós-trabalho de campo, refletindo memórias do terreno, testemunhos recolhidos, e experiências pessoais vividas entre os dois momentos.<hr/>Abstract In 2016, three years after completing my Ph.D., I embarked on my first attempt to translate my ethnographic research conducted in Maputo, among the Zion communities, into a graphic language. Through a series of single illustrations, I aimed to visually condense key stages of the Zion healing path, synthesizing various stories and testimonies into individual images. This approach sought to encapsulate the symbolic and material universe of Zion within a graphic framework. Over the past few years, I have periodically revisited and refined these drawings in a cyclical process of creation and reflection. The illustrations presented in this article thus serve as a retrospective of this journey - an artistic exploration that emerged following the completion of my ethnographic dissertation. These drawings were created as a post-fieldwork representational language, reflecting memories from the field, testimonies collected, and personal experiences lived in between. <![CDATA[Desanthropic ethnography: between apocryphal stories of water, deep dichotomies and liquid dwellings]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612024000300827&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumen En este texto abordamos la posibilidad de deconstruir las relaciones - que tienen al agua como un recurso a disposición de los humanos - que han ordenado algunas dicotomías como la de anthropos-naturaleza estableciendo que existen metodologías, teorías y visiones de mundo que rigen la vida antropocéntrica y que se encuentran agotadas. Nuestro objetivo es iluminar esas posibilidades que tiene pensar y sentir el agua desde un enfoque no centrado en el hombre como su gestor y propietario. Desde esta perspectiva, visualizamos la obra de dos artistas: Acoustic Ocean (Ursula Biemann 2018) y To Stop Being a Threat and to Become a Promise (Carolina Caycedo 2017) - que promueven discursos de consciencia y afecto otro - y realizamos una etnografía en clave desantrópica como una fuerza vital para establecer nuevas condiciones a partir de otros modos de relación entre los humanos, las especies no humanas, las tecnologías y los entes inmateriales que co-habitan en el planeta.<hr/>Abstract In this text we address the possibility of deconstructing the relationships - that have water as a resource available to humans - that have ordered some dichotomies such as anthropos-nature, establishing that there are methodologies, theories and world visions that govern anthropocentric life, and they are out of stock. Our objective is to illuminate those possibilities that water has to think and feel from a perspective that is not centered on man as its manager and owner. From this perspective, we visualize the work of two artists: Acoustic Ocean (Ursula Biemann 2018) and To Stop Being a Threat and to Become a Promise (Carolina Caycedo 2017) - that promote discourses of conscience and affection another - and we carry out an ethnography in a desanthropic key as a vital force to establish new conditions based on other modes of relationship between humans, non-human species, technologies and immaterial entities that co-inhabit the planet. <![CDATA[A Antropologia da Arte, a Antropologia - história, dilemas, possibilidades]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612024000300853&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Neste ensaio procuro primeiro identificar as razões do lugar marginal que a arte desde sempre ocupou no pensamento antropológico, sugerindo que elas são a influência da conceção estética de arte e da metafísica que suportou o projeto das ciências sociais e fez supor que a reflexão sobre arte deve ser mediada por dispositivos de natureza teórica. Tomando como guia a tradição fenomenológica e o ensaio seminal de Heidegger A Origem da Obra de Arte, que devolvem à compreensão da obra de arte a sua função de fundar e articular as coordenadas metafísicas que fundam uma comunidade e guiam o seu devir histórico, defendo que o olhar antropológico sobre arte deve focar a sua potencialidade ontológica. Argumento, por fim, que essa é a via pela qual a antropologia pode apreender a dimensão generativa do que chamamos sociedade e cultura, trazendo as “grandes obras” que as sociedades do mundo produziram e produzem para uma relação dialógica caracterizada pela reciprocidade interpretativa que se estabelece entre elas, os seus autores e os seus intérpretes.<hr/>Abstract In this essay, I first aim to pinpoint the factors that have historically marginalized art within anthropological thought. I propose that this marginalization stems from two main influences: the aesthetic conception of art and the metaphysical underpinnings of the social sciences, which suggest that art must be understood through theoretical frameworks. Drawing on phenomenology and following Heidegger’s seminal essay The Origin of the Work of Art, I assert that art’s role in establishing and navigating the metaphysical coordinates of a community, guiding its historical course, should be central to anthropological inquiry. I argue thus for an anthropological approach to art that prioritizes its ontological potentiality, thereby enabling us to appreciate the generative aspects of what we call society and culture. This approach invites a dialogical engagement with the world’s great artworks, fostering a relationship marked by interpretive reciprocity among the works, their creators, and interpreters. <![CDATA[Celso Mussane<em>, Memórias de um Caçador de Lixo: A Mafalala e os Bairros Suburbanos de Maputo sob Domínio Colonial Português</em>. Organização e apresentação de Mário Cumbe e Nuno Domingos, 94 pp. Lisboa: Outro Modo, 2022]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612024000300873&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Neste ensaio procuro primeiro identificar as razões do lugar marginal que a arte desde sempre ocupou no pensamento antropológico, sugerindo que elas são a influência da conceção estética de arte e da metafísica que suportou o projeto das ciências sociais e fez supor que a reflexão sobre arte deve ser mediada por dispositivos de natureza teórica. Tomando como guia a tradição fenomenológica e o ensaio seminal de Heidegger A Origem da Obra de Arte, que devolvem à compreensão da obra de arte a sua função de fundar e articular as coordenadas metafísicas que fundam uma comunidade e guiam o seu devir histórico, defendo que o olhar antropológico sobre arte deve focar a sua potencialidade ontológica. Argumento, por fim, que essa é a via pela qual a antropologia pode apreender a dimensão generativa do que chamamos sociedade e cultura, trazendo as “grandes obras” que as sociedades do mundo produziram e produzem para uma relação dialógica caracterizada pela reciprocidade interpretativa que se estabelece entre elas, os seus autores e os seus intérpretes.<hr/>Abstract In this essay, I first aim to pinpoint the factors that have historically marginalized art within anthropological thought. I propose that this marginalization stems from two main influences: the aesthetic conception of art and the metaphysical underpinnings of the social sciences, which suggest that art must be understood through theoretical frameworks. Drawing on phenomenology and following Heidegger’s seminal essay The Origin of the Work of Art, I assert that art’s role in establishing and navigating the metaphysical coordinates of a community, guiding its historical course, should be central to anthropological inquiry. I argue thus for an anthropological approach to art that prioritizes its ontological potentiality, thereby enabling us to appreciate the generative aspects of what we call society and culture. This approach invites a dialogical engagement with the world’s great artworks, fostering a relationship marked by interpretive reciprocity among the works, their creators, and interpreters. <![CDATA[Alberto Corsín Jiménez y Adolfo Estalella<em>, Free Culture and the City: Hackers, Commoners, and Neighbors in Madrid, 1997-2017,</em> 288 pp. Ithaca: Cornell University Press, 2023]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612024000300880&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Neste ensaio procuro primeiro identificar as razões do lugar marginal que a arte desde sempre ocupou no pensamento antropológico, sugerindo que elas são a influência da conceção estética de arte e da metafísica que suportou o projeto das ciências sociais e fez supor que a reflexão sobre arte deve ser mediada por dispositivos de natureza teórica. Tomando como guia a tradição fenomenológica e o ensaio seminal de Heidegger A Origem da Obra de Arte, que devolvem à compreensão da obra de arte a sua função de fundar e articular as coordenadas metafísicas que fundam uma comunidade e guiam o seu devir histórico, defendo que o olhar antropológico sobre arte deve focar a sua potencialidade ontológica. Argumento, por fim, que essa é a via pela qual a antropologia pode apreender a dimensão generativa do que chamamos sociedade e cultura, trazendo as “grandes obras” que as sociedades do mundo produziram e produzem para uma relação dialógica caracterizada pela reciprocidade interpretativa que se estabelece entre elas, os seus autores e os seus intérpretes.<hr/>Abstract In this essay, I first aim to pinpoint the factors that have historically marginalized art within anthropological thought. I propose that this marginalization stems from two main influences: the aesthetic conception of art and the metaphysical underpinnings of the social sciences, which suggest that art must be understood through theoretical frameworks. Drawing on phenomenology and following Heidegger’s seminal essay The Origin of the Work of Art, I assert that art’s role in establishing and navigating the metaphysical coordinates of a community, guiding its historical course, should be central to anthropological inquiry. I argue thus for an anthropological approach to art that prioritizes its ontological potentiality, thereby enabling us to appreciate the generative aspects of what we call society and culture. This approach invites a dialogical engagement with the world’s great artworks, fostering a relationship marked by interpretive reciprocity among the works, their creators, and interpreters.