Resumo Os métodos contracetivos são fundamentais na dinâmica da sociedade atual. São amplamente utilizados, sendo explorados também os seus benefícios não contracetivos. No entanto, temas controversos persistentemente associados são o risco tromboembólico e o risco de desenvolvimento de neoplasias. É fundamental um conhecimento profundo sobre estes temas para um adequado aconselhamento em contraceção.

Abstract Contraceptive methods are fundamental in the dynamics of today’s society. They are widely used, and their non-contraceptive benefits are also thoroughly explored. However, persistently associated controversial topics are thromboembolic risk and the risk of developing neoplasms. In-depth knowledge of these topics is essential for adequate contraceptive advice.

Resumo Introdução: O não-planeamento das gravidezes é uma situação frequente, mesmo nos países com fácil acesso à contraceção. Esta situação está muito associada, por um lado, ao aborto e, por outro lado a consequências adversas para as mães e as crianças. Nesta investigação são efetuadas estimativas para a importância quantitativa deste fenómeno e são analisados os fatores sociodemográficos aos quais está associado. Material e Métodos: O estudo baseia-se no Inquérito à Fecundidade, realizado pelo INE em 2019-20, com uma amostra representativa de 5.178 mulheres, das quais 3.269 já tinham tido filhos, num total de 5453 nascimentos. Foram efetuados 3 tipos de análises: a) estimativas sobre a magnitude do não planeamento dos nascimentos; b) modelos multivariados, para estimar os efeitos de alguns fatores sociodemográficos nas chances nascimentos terem sido não-planeados; c) testes estatísticos para analisar as relações entre o não-planeamento e a situação atual das mulheres. Resultados: Desta análise pode concluir-se que: 30% dos nascimentos não foram planeados; 40% das gravidezes não foram planeadas e cerca de 38% das mães tiveram pelo menos um filho não-planeado. As análises mostram que as idades jovens e a não-conjugalidade são os fatores mais associados ao não-planeamento, mas são também relevantes os gradientes socioeconómicos. Confirma-se também que o não-planeamento é um comportamento recorrente. Conclusão: Os resultados desta investigação mostram a importância relativa das gravidezes e nascimentos não-planeados e também o impacto de diversos fatores sociodemográficos neste fenómeno. Estas duas questões apontam para a necessidade de avaliar com maior profundidade os problemas de regulação da fecundidade em alguns grupos específicos, nomeadamente de conhecer melhor as suas práticas contracetivas e o recurso à interrupção da gravidez.

Abstract Introduction: Unplanned pregnancies are a common occurrence, even in countries with easy access to contraception. This situation is closely associated, on the one hand, with abortion and, on the other, with adverse consequences for mothers and children. This research estimates the quantitative importance of this phenomenon and analyses the sociodemographic factors with which it is associated. Material and Methods: The study is based on the Fertility Survey carried out by INE in 2019-20, with a representative sample of 5,178 women, 3,269 of whom had already had children, for a total of 5,453 births. Three types of analysis were carried out: a) estimates of the magnitude of unplanned births; b) multivariate models, to estimate the effects of some sociodemographic factors on the chances of births being unplanned; c) statistical tests to analyze the relationships between unplanned births and women’s current situation. Results: From this analysis it can be concluded that: 30% of births were unplanned; 40% of pregnancies were unplanned and around 38% of mothers had at least one unplanned child. The analysis shows that young age and non-marital status are the factors most associated with unplanned births, but socio-economic gradients are also relevant. Furthermore, it is confirmed that non-planning tends to be a recurrent behavior. Conclusion: The results of this research show the relative importance of unplanned pregnancies and births and the impact of various socio-demographic factors on this phenomenon. These two issues point to the need for a more in-depth assessment of the problems of fertility regulation in certain specific groups, in particular a better understanding of their contraceptive practices and recourse to termination of pregnancy.

Abstract Overview and Aims: In high-income countries, 5% of puerperal deaths are due to postpartum infections. Although there is clear evidence that antibiotic prophylaxis before caesarean section reduces the incidence of infection, there is less evidence in operative birth. The aim of this study was to compare the prevalence of puerperal infection between operative birth and spontaneous vaginal birth, finding independent risk factors for it. Study design: A prospective observational study was carried out at the Obstetrics Department of a public hospital. Population: Patients with a vaginal birth were enrolled in this study, and for each operative birth a spontaneous vaginal birth was recruited in a ratio of 1:1. Methods: Data was collected in the first 24 hours after the birth and 6 weeks after birth, when a telephone survey was performed to assess the occurrence of infection. Results: 385 postpartum women were included, 35 (9.1%) developed postpartum infection. The prevalence of infection in the operative birth group was higher (13.4% vs. 4.7%; p=0.003). In the same group most women were nulliparous (74.7% vs. 45.5%, p<0.001), the median duration of membrane rupture and active phase of labor was higher (5.5 hours, vs. 3.0 hours, p<0.001; 4.8 hours, vs. 3.0 hours, p<0.001), more episiotomies were performed (92.8% vs. 37.7%; p<0.001) and fewer grade I or II perineal lacerations occurred (6.2% vs. 25.1%; p<0.001). In the logistic regression, anemia was the only independent predictor of infection (p<0.001; correctly predicted cases=90.8%). Conclusion: Although the prevalence of postpartum infection was higher after operative birth, it was not an independent risk factor. This reiterates the need to continue the investigation of operative birth contribution to postpartum infection. Before considering generalizing antibiotic prophylaxis, maybe each institution needs to analyze local data and think about how to control other possible risk factors for infection.

Resumo Introdução e Objetivo: Nos países desenvolvidos, 5% das mortes puerperais devem-se a infeções pós-parto. Embora haja evidência clara de que a profilaxia antibiótica da cesariana reduz a incidência de infeção, esta evidência é menor no parto instrumentado. O objetivo deste estudo foi comparar a prevalência de infeção puerperal entre o parto instrumentado e o parto eutócico, investigando fatores de risco independentes para a mesma. Desenho do estudo: Estudo prospetivo observacional realizado no Serviço de Obstetrícia de um hospital público. População: Foram incluídas as puérperas com parto vaginal. A cada parto instrumentado, juntou-se um parto eutócico numa proporção de 1:1. Métodos: Os dados foram recolhidos 24 horas e 6 semanas após o parto, altura em que foi realizado um inquérito telefónico para avaliar a ocorrência de infeção. Resultados: Foram incluídas 385 puérperas, 35 (9,1%) desenvolveram infeção no pós-parto. A prevalência de infeção no grupo de parto instrumentado foi maior (13,4% vs. 4,7%; p=0,003). No mesmo grupo a maioria das mulheres eram nulíparas (74,7% vs. 45,5%, p<0,001), a duração mediana da rotura de membranas e da fase ativa do trabalho de parto foi superior (5,5 horas, vs. 3,0 horas, p<0. 001; 4,8 horas, vs. 3,0 horas, p<0,001), foram realizadas mais episiotomias (92,8% vs. 37,7%; p<0,001) e ocorreram menos lacerações perineais grau I ou II (6,2% vs. 25,1%; p<0,001). Na regressão logística, a anemia foi o único preditor independente de infeção (p<0,001; casos corretamente previstos=90,8%). Conclusões: Embora a prevalência de infeção pós-parto tenha sido superior no parto instrumentado, este não foi um fator de risco independente. Facto que reitera a necessidade de continuar a investigar a contribuição do parto instrumentado para a infeção pós-parto. Antes de generalizar a profilaxia antibiótica, talvez seja necessário que cada instituição analise os dados locais e pondere formas de controlar outros fatores de risco de infeção.

Resumo A Doença Gestacional do Trofoblasto (DGT) é um conjunto heterogéneo de doenças raras relacionadas com o desenvolvimento anormal do trofoblasto na gravidez. Entre os fatores de risco associados destacam-se a idade materna avançada e antecedente de gestação molar, que variam de acordo com o subtipo de anomalia. A determinação do prognóstico, nas formas benignas, é feita pela monitorização dos valores de gonadotropina coriónica humana sanguínea (β-hCG), após tratamento. Nas formas malignas, é estabelecido pela correlação entre dois sistemas de classificação que permite categorizar os tumores em grupos de risco de resistência ao tratamento.

Abstract Gestational trophoblast disease (GTD) is a heterogeneous group of rare diseases related to the abnormal development of the trophoblast during pregnancy. Associated risk factors include advanced maternal age and a history of molar pregnancy, which vary according to the subtype of anomaly. In benign forms, prognosis is determined by monitoring blood human chorionic gonadotropin (β-hCG) values after treatment. In malignant forms, it is established by the correlation between two classification systems that allow tumours to be categorized into risk groups for resistance to treatment.

Abstract Lymphangioleiomyomatosis (LAM) is a rare disease that mainly affects women of childbearing age. Literature on pregnancy outcomes in women with LAM is limited. This paper reports a successful pregnancy in a woman previously diagnosed with LAM. Despite experiencing a spontaneous hemorrhage from a pelvic lymphangioleiomyoma, which required emergent embolization at 20 weeks’ gestation, a cesarean was performed at 39 weeks, resulting in a healthy newborn.

Resumo A Linfangioleiomiomatose (LAM) é uma doença rara que afeta principalmente mulheres em idade fértil. A literatura sobre desfechos da gravidez em mulheres com LAM é escassa. Este artigo relata uma gravidez bem-sucedida numa mulher previamente diagnosticada com LAM. Apesar da ocorrência, às 20 semanas, de hemorragia espontânea por rotura de linfangioleiomioma pélvico, com necessidade de embolização emergente, foi realizada uma cesariana às 39 semanas, da qual resultou um recém-nascido saudável.

Abstract A postmenopausal patient referred due to stress urinary incontinence presented with severe atrophy of the upper third of the vagina and an enlarged uterus. A voluminous hematometra and cervical dilation were detected and further characterized by MRI. The patient underwent an office hysteroscopy using a vaginoscopic approach without anestesia. The stenosis was resolved using 5Fr scissors, and one liter of old blood was evacuated. This minimally invasive procedure represents the gold standard in these settings, allowing for direct visualization and overcoming stenosis while minimizing the risk of injury.

Resumo Numa doente pós-menopáusica, referenciada por incontinência urinária de esforço, foi verificada a existência de atrofia grave do terço superior da vagina e um útero de dimensões aumentadas. Foi detectado um hematometra volumoso, associado a dilatação cervical, que foram caracterizados por ressonância magnética. A doente foi submetida a histeroscopia de consultório, utilizando abordagem vaginoscópica sem anestesia. A estenose foi resolvida com tesoura histeroscópica de 5Fr e um litro de conteúdo hemático foi drenado. Este procedimento minimamente invasivo representa o goldstandard neste contexto clínico, permitindo a visualização direta e a resolução da estenose, minimizando o risco de lesões.

Abstract Endometrial osseous metaplasia is a rare non-neoplastic transformation in which the endometrial stroma is replaced by bone and cartilage. It is more frequently observed after repeated miscarriages and is associated with secondary infertility. The authors report a case of an endometrial osseous metaplasia with an uncommon presentation.

Resumo A metaplasia óssea endometrial corresponde a uma transformação não-neoplásica rara na qual o estroma endometrial é substituído por osso e cartilagem. É uma condição mais frequente após abortamentos de repetição, sendo associada a infertilidade secundária. Os autores relatam um caso de uma apresentação incomum de metaplasia óssea endometrial.

Abstract Pregnancy loss has a significant emotional impact on couples, with many seeking explanations for recurrent miscarriages. Despite investigations, many cases remain unexplained. We report a case of a 39-year-old woman with recurrent pregnancy loss and a non-viable twin gestation at 7 weeks + 6 days, in which hystero-embryoscopy was performed. A neural tube defect was observed, and cytogenetic analysis disclosed trisomy 18 and 21. This technique provides direct visualization of embryo morphology, allows for cytogenetic sampling of embryo and trophoblastic tissue, and treats retained products of conception. It enhances diagnosis and reduces risks, benefiting couples facing recurrent pregnancy loss.

Resumo A perda gestacional recorrente tem um impacto emocional significativo nos casais. Apesar das investigações exaustivas, um número substancial destes casos permanece sem causa identificável. O caso relatado refere-se a uma mulher de 39 anos, 5.ª gesta, com antecedentes de perda gestacional recorrente (IO 1031), com uma gravidez gemelar não evolutiva com 7 semanas + 6 dias à qual foi realizada embrioscopia histeroscópica. Observou-se um embrião com defeito do tubo neural e a análise citogenética revelou trissomia 18 e 21. Este caso demonstra a eficácia da embrioscopia histeroscópica, que permite a visualização detalhada da morfologia do embrião, tal como a realização de biópsias e estudo citogenético dirigido, permitindo simultaneamente o tratamento do produto ovular retido.