Scielo RSS <![CDATA[SOCIOLOGIA ON LINE]]> http://scielo.pt/rss.php?pid=1647-333720240002&lang=pt vol. num. 35 lang. pt <![CDATA[SciELO Logo]]> http://scielo.pt/img/en/fbpelogp.gif http://scielo.pt <![CDATA[Parentalidade No Masculino]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1647-33372024000200011&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo A parentalidade representa uma relação com duas dimensões: por um lado o vínculo com um/a filho/a e, por outro, a partilha desse/a filho/a com outro elemento (do casal parental), não forçosamente numa vida conjugal ativa, uma vez que a vida familiar atual promove uma crescente autonomia das relações de parentalidade, coexistindo com o relacionamento conjugal. A parentalidade implica habitualmente coparentalidade, responsabilidade conjunta por alguém, filho ou filha. O presente texto aborda a parentalidade no masculino, partindo das respostas dadas por homens/pais, no âmbito da realização do projeto “PARENT”, o qual permitiu conhecer as mudanças provocadas pelas crises, na vida familiar e no projeto procriativo dos homens e mulheres, que residem no país, neste caso, em quatro contextos sociais e regionais diferentes no país. Face a uma redução drástica da taxa de fecundidade, foi possível verificar como a decisão de ter mais um filho, não pode ser reduzida a uma questão “financeira”, mas representa uma escolha onde se pondera a rede de suporte, a relação com o mercado de trabalho, a coparentalidade e a correspondente partilha de tarefas. Enquanto relação paritária, a parentalidade, não deve ser confundida com maternidade ou paternidade e implica um olhar descentrado da mulher, a quem, em geral, se atribui a principal responsabilidade pelas alterações dos indicadores de fecundidade. Olhar a parentalidade no masculino permite identificar outras dimensões nesse fenómeno, cuja baixa significativa tem preocupado os países europeus, particularmente Portugal. Com esta reflexão, porventura, podemos encarar a transformação dos papéis de género de outra forma, numa ótica de cooperação e corresponsabilização, ou seja, numa abordagem às condições que permitem uma parentalidade partilhada. Considerar o lugar do pai na parentalidade poderá significar um novo desenho das políticas de família, ainda agora centradas numa visão tradicional dos papéis parentais, que valoriza a mulher/mãe cuidadora e o homem/pai provedor.<hr/>Abstract Parenthood represents a relationship with two dimensions: on the one hand, the bond with a child and, on the other, the sharing of that child with another member (of the parental couple), not necessarily in an active married life. Family life promotes increasing autonomy in parental relationships, coexisting with the marital relationship. Parenting usually implies coparenting, joint responsibility for someone, son or daughter. This text addresses male parenting, based on the answers given by men/fathers, within the scope of the “PARENT” project, which allowed us to understand the changes caused by crises, in family life and in the procreative project of men and women, who reside in the country, in this case, in four different social and regional contexts. Faced with a drastic reduction in the fertility rate, it was possible to verify how the decision to have another child cannot be reduced to a “financial” issue but represents a choice where the support network and the relationship with the market are considered. work, co-parenting, and the corresponding sharing of tasks. As a parity relationship, parenthood should not be confused with maternity or paternity and implies a decentralized view of women, who, in general, are attributed the main responsibility for changes in fertility indicators. Looking at male parenthood allows us to identify other dimensions of this phenomenon, the significant decline of which has worried European countries, particularly Portugal. With this reflection, perhaps, we can look at the transformation of gender roles in another way, from a perspective of cooperation and co-responsibility, from an approach to the conditions that allow shared parenting. Considering the father’s place in parenting could mean a new design of family policies, even now, centered on a traditional view of parental roles, which values ??the caring woman/mother and the provider man/father. <![CDATA[Direitos humanos e ensino superior em Portugal em contexto policial e multicultural]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1647-33372024000200041&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo O presente estudo analisa a formação universitária multicultural dos Oficiais de Polícia em Portugal, ministrada no Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna (ISCPSI), à luz da Sociologia, os Direitos Humanos e o Direito Penal. Procurou-se compreender se o ensino dos Direitos Humanos na formação dos futuros Oficiais de Polícia, oriundos dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), corresponde às necessidades da prática policial nos seus países, no contexto do crime de violência doméstica. Em termos metodológicos aplicou-se um inquérito por questionário, com questões abertas, a cinco dezenas de alunos de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, que frequentam o ISCPSI, a par de uma análise documental, legal, doutrinal e jurisprudencial. Os resultados demonstram que o modelo de ensino português tem um impacto transformador na formação dos alunos cooperantes, mas é necessário ajustar a estratégia pedagógica para permitir uma aproximação às realidades jurídico-sociais locais, tendo como limite intransponível, o respeito pela dignidade humana.<hr/>Abstract: The present study analyzes the multicultural university training of Police Officers in Portugal, taught at the Higher Institute of Police Sciences and Internal Security (ISCPSI), in the light of Sociology, Human Rights and Criminal Law. The aim was to understand whether the teaching of human rights in the training of future police officers from Portuguese-speaking African countries (PALOP), corresponds to the needs of police practice in their countries, in the context of the crime of domestic violence. In methodological terms, a survey with open questions was carried out with five dozen students from Angola, Cape Verde, Guinea-Bissau, Mozambique and São Tomé and Príncipe, who attend ISCPSI, along with a documentary, legal, doctrinal and jurisprudential analysis. The results show that the Portuguese teaching model has a transformative impact on the training of the cooperating students, but it is necessary to adjust the pedagogical strategy to bring it closer to local legal and social realities, with respect for human dignity as an insurmountable limit. <![CDATA[O ASSOCIATIVISMO DOS ANTIGOS COMBATENTES EM TEMPOS DE PANDEMIA COVID-19: IMPACTOS NAS AÇÕES E ESTRATÉGIAS DE SUPERAÇÃO]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1647-33372024000200061&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Em Portugal, com o fim da Guerra Colonial e a instauração da democracia em 1974, o movimento associativo dos antigos combatentes ganhou uma grande visibilidade na esfera pública, sendo inclusivamente considerado pioneiro dos movimentos que defenderam os direitos das pessoas com deficiência. Nos últimos quatro anos, este tipo de associativismo foi profundamente impactado pela pandemia COVID-19, afetando tanto o seu funcionamento como a capacidade de resposta às necessidades dos seus membros. Este trabalho visa compreender o papel desempenhado pelas associações de antigos combatentes durante a crise sanitária, nomeadamente, as formas de atuação e os contributos para melhorar o relacionamento e o bem-estar dos seus associados. A presente investigação é de natureza exploratória, baseada em entrevistas semiestruturadas aos representantes de seis associações de combatentes. Observámos a capacidade de resiliência das associações de antigos combatentes face aos desafios da pandemia COVID-19. Através da implementação de novas estratégias, as associações adaptaram-se com vista ao bem-estar dos seus membros e conseguiram mitigar os efeitos negativos da pandemia neste grupo vulnerável.<hr/>Abstract In Portugal, with the end of the Colonial War and the establishment of democracy in 1974, the associative movement of former combatants gained great visibility in the public sphere and was even considered a pioneer of the movements that defended the rights of people with disabilities. In the last four years, this type of association has been profoundly impacted by the COVID-19 pandemic, affecting both its functioning and its ability to respond to the needs of its members. This study aims to understand the role played by associations of former combatants during the health crisis, in particular the ways in which they have acted and the contributions they have made to improving relationships and the well-being of their members. The research is exploratory, based on semi-structured interviews with representatives of six combatants’ associations. We observed the resilience of the associations of former combatants in the face of the challenges of the COVID-19 pandemic. By implementing new strategies, they adapted to safeguard the well-being of their members and successfully mitigated the negative effects of the pandemic on this vulnerable group. <![CDATA[CONTEXTOS E PRÁTICAS DE MEDIAÇÃO DA LEITURA EM PORTUGAL]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1647-33372024000200085&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo O artigo que agora se apresenta tem como intenção caracterizar os contextos institucionais da mediação leitora, assim como analisar e discutir as práticas de promoção da leitura no sistema de ensino não superior. Adota a Sociologia da leitura como contributo teórico referencial, nomeadamente o conceito de prática de leitura, entendida e perspetivada como prática cultural, de lazer, não diretamente relacionada com obrigações e deveres escolares. A base empírica é qualitativa, documental e de entrevistas semidiretivas a 11 mediadores em contextos profissionais das áreas da educação, incluindo bibliotecas escolares, e da cultura, em especial bibliotecas públicas. São inventariados e analisados os quadros, contextos e atividades de exercício da mediação leitora, refletindo sobre os recursos e referenciais disponíveis para o exercício dessa função, designadamente, a formação específica que existe, diretrizes políticas no que à promoção de leitura diz respeito e a influência de instrumentos políticos de longa duração. A mediação leitora ocorre em diversos contextos institucionais desempenhando professores, bibliotecários e mediadores independentes um papel crucial. Os resultados do estudo mostram a necessidade de clarificação das orientações sobre a formação, funções e competências dos mediadores, bem como a inclusão das suas perceções e experiências na construção das políticas públicas.<hr/>Abstract The article presented here aims to characterise the institutional contexts of reading mediation, as well as to analyse and discuss practices for promoting reading within the non-higher education system. It adopts the sociology of reading as a theoretical reference, particularly the concept of reading practice, understood and viewed as a cultural and leisure practice, not directly related to school obligations and duties. The empirical basis is qualitative, consisting of documents and semi-structured interviews with 11 mediators working in professional contexts within education, including school libraries, and in culture (public libraries). The frameworks, contexts, and activities involved in reading mediation are inventoried and analysed, reflecting on the resources and references available for carrying out this role, particularly the specific training that exists, policy guidelines regarding reading promotion, and the influence of long-term political instruments. Reading mediation takes place in various institutional contexts, with teachers, librarians, and independent mediators playing a crucial role. The study results highlight the need to clarify the guidelines regarding the training, roles, and competencies of mediators, as well as the inclusion of their perceptions and experiences in shaping public policies. <![CDATA[<em>FAKE NEWS</em>, ANTIBOLSONARISMO E POLARIZAÇÃO POLÍTICA NO TWITTER (X) BRASILEIRO ENTRE 2020-2022]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1647-33372024000200104&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo As fake news são uma teia diversa de informações de natureza falsa, especulativa e difamatória, espalhadas de modos estratégicos ou orgânicos. Apresento uma investigação qualitativa que combina observação participante e etnografia online (a qual se estendeu desde a primavera de 2020 até ao outono de 2022), realizada na rede social Twitter (X). Os dados recolhidos foram analisados por meio de NVivo 11. Os resultados obtidos, conjugados com a análise de grafos de outros investigadores, permitem examinar o comportamento, recursos e métodos mais frequentes tanto no campo bolsonarista quanto no campo antibolsonarista, nessa rede e durante esse período de tempo. Registei 35% de falsos perfis bolsonaristas e 32% de perfis antibolsonaristas de usuários anónimos, porém reais (estratégia para contornar a criminalização da oposição política). Em termos de conteúdo dos 200 tweets de bolsonaristas analisados, 66% apresentavam distorção de narrativa e 32% copy-paste, 40% utilizavam estratégias de desestabilização e 31% usavam expressões de ódio. Pude, ainda, analisar picos de tensão política através de trends e hashtags, bem como fenómenos de astroturfing e grassroots- além de verificar a utilização massiva do Twitter (X) para espalhar desinformação de extrema-direita, ou como campo de batalha política. Estes resultados podem ser importantes para auxiliar os debates de sociólogos que estudem as formas como os novos mídia interagem com, repercutem e criam eventos políticos.<hr/>Abstract “Fake news” are a diverse web of information of a false, speculative and defamatory nature, spread in strategic or organic ways. I introduce a qualitative investigation that combines participant observation and online ethnography (which extended from Spring 2020 to Autumn 2022), carried out on the social network Twitter (X). The collected data were analyzed using NVivo 11. The results obtained, combined with the graph and data analysis by other authors, allow us to examine the most frequent behavior, resources and methods in both the Bolsonaro camp and the anti-Bolsonaro camp, in this network and during that period of time. I recorded 35% of fake pro-Bolsonaro profiles and 32% of anti-Bolsonaro profiles of anonymous but real users (a strategy to circumvent the criminalization of political opposition). In terms of content of the 200 tweets from pro-Bolsonaro supporters analyzed, 66% presented narrative distortion and 32% were copy-paste, 40% used destabilization strategies and 31% used expressions of hate. I was also able to analyze peaks of political tension through trends and hashtags, as well as astroturfing and grassroots phenomena- in addition to verifying the massive use of Twitter (X) to spread far-right disinformation, or as a political battlefield. These results can be important to assist the debates of sociologists who study the ways in which new media interact with, impact and create political events. <![CDATA[INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E JUSTIÇA CRIMINAL: RISCOS E DESAFIOS]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1647-33372024000200134&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo A inteligência artificial (IA) veio alavancar a digitalização na área da justiça. A inovação promovida pela IA trouxe novas vantagens, sobretudo, na análise e tratamento dos dados, porém, trouxe igualmente novos desafios ao direito e sua aplicação. Entre eles, destaca-se o uso da IA na área criminal, sob a forma de uma “justiça preditiva”. Partindo de experiências no âmbito europeu e internacional com aplicação de programas de justiça preditiva com recurso à IA, debate-se os riscos e desafios face ao respeito pelos direitos fundamentais na aplicação desta nova forma de justiça. Esta análise deixa claro que a utilização de algoritmos nas decisões judiciais criminais através da justiça preditiva pode alterar o carácter dos dados e resultar em enviesamentos discriminatórios com impacto nos resultados. Além disso, ao serem vistos como objetivamente imparciais, esses algoritmos podem influenciar a independência dos juízes nas suas decisões, comprometendo assim o direito a um julgamento justo. A concluir, sugerem-se alguns elementos que podem contribuir para uma agenda futura de reflexão e de análise sobre a utilização da IA na justiça criminal e a sua conformidade (ou não) com os direitos fundamentais.<hr/>Abstract Artificial intelligence (AI) has boosted digitalization in the judiciary. The innovation promoted by AI has brought new advantages, especially in the analysis and processing of data, but it has also brought new challenges to the law and its application. Among these, the use of AI in the criminal area stands out, in the form of “predictive justice”. Based on experiences in the European and international spheres with the application of predictive justice programs using AI, we discuss the risks and challenges regarding respect for fundamental rights in the application of this new form of justice. This study makes it clear that the use of algorithms in criminal judicial decisions through predictive justice can alter the nature of the data and result in discriminatory biases that impact the outcomes. Moreover, by being perceived as objectively impartial, these algorithms can influence judges’ independence in their decisions, thereby compromising the right to a fair trial. To conclude, we suggest some elements that can contribute to a future agenda of reflection and analysis on the use of AI in criminal justice and its compliance (or not) with fundamental rights.