Scielo RSS <![CDATA[Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar]]> http://scielo.pt/rss.php?pid=2182-517320250002&lang=pt vol. 41 num. 2 lang. pt <![CDATA[SciELO Logo]]> http://scielo.pt/img/en/fbpelogp.gif http://scielo.pt <![CDATA[Conferência Mundial da WONCA 2025 - Lisboa, setembro 2025]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732025000200114&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt <![CDATA[Perfil da pessoa com o diagnóstico de perturbação depressiva na região Centro de Portugal]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732025000200117&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Objetivos: Estudar o perfil da pessoa com perturbação depressiva (PD) segundo fatores de contexto como o sexo, a idade, o tipo de família e o nível socioeconómico no Centro de Portugal. Métodos: Estudo observacional transversal com dados de pessoas com PD em 31/dezembro/2022, pela Classificação Internacional de Cuidados de Saúde Primários - 2 nos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACeS) Pinhal Litoral e Dão Lafões da região Centro, selecionados aleatoriamente com dados anonimizados, fornecidos pelo serviço informático da Administração Regional de Saúde do Centro. Resultados: Numa população de n=556.332 verificaram-se 69.215 casos de PD, 12,4% de prevalência, sendo de 13,3% em Dão Lafões e de 11,5% em Pinhal Litoral. Eram do sexo feminino 78,5% dos casos e 75,0% tinha idade igual ou superior a 40 anos. Nos 2.400 (3,5%) indivíduos com PD e tipo de família conhecido, 65,4% viviam em família nuclear. Nos 2.202 (3,2%) com nível socioeconómico conhecido, 58,1% estavam em classe Graffar média. As pessoas com PD do sexo masculino eram significativamente mais novas (57,4 vs 58,9 anos; p&lt;0,001). A classe Graffar foi significativamente diferente segundo o tipo de família (p&lt;0,001) e segundo a idade do doente (p&lt;0,001). Discussão: Em 2022, a prevalência de pessoas com PD nos ACeS estudados foi superior no sexo feminino e em idade igual ou superior a 40 anos, à semelhança do descrito para Portugal. No homem, a PD poderá estar subdiagnosticada. A maior prevalência de PD nas classes Graffar média, média-alta e alta é algo a estudar. Conclusão: Nos cuidados de saúde primários, na região Centro, a PD estava associada ao sexo feminino, à idade igual ou superior a 40 anos, a viver em família nuclear e estar em classe Graffar média. Tipo de família e Graffar estavam subpreenchidos.<hr/>Abstract Objectives: To study the profile of depressive disorder (DD) according to sex, age, family type, and socioeconomic level, in Central Portugal. Methods: Cross-sectional observational study with data from persons with DD, according to International Classification of Primary Health Care - 2nd edition codings, on 31st December 2022, in two Health Centres Groups (HCG) from the Central Region of Portugal, Pinhal Litoral, and Dão Lafões, randomly selected, health care centres clusters. Data were received from the informatics services of the Regional Health Administration of the Centre, assuring anonymity. Results: In a population of n=556,332, a n=69,215 (12.4%) prevalence of DD in December 2022, 13.3% at Dão Lafões and 11.5% at Pinhal Litoral was found. Women represented 78.5% and 75.0% were aged 40 years or older. Of the 2,400 (3.5%) DD cases whose family type was known, 65.4% lived in a nuclear family. Of the 2,202 (3.2%) whose Graffar socioeconomic status was known, 58.1% were in the medium class. Males with DD were, on average, younger than female DDs (57.4 vs 58.9 years; p&lt;0.001). The Graffar class was significantly different according to the type of family (p&lt;0.001) and according to the DD’s age (p&lt;0.001). Discussion: In 2022, the prevalence of DD in the studied HCGs was higher in females and those aged 40 years or older, similar to what is described in the literature. Male DDs may be underdiagnosed. The higher prevalence of DD cases in the medium and medium-high Graffar classes is a matter for future studies. Conclusion: In the Portuguese Central Portugal primary health care ambiance, DD was mainly frequent in females, persons aged 40 years or over, living in a nuclear family, and being in the Graffar medium class. Family type and Graffar were underfilled. <![CDATA[Codificar - codificação da doença renal crónica: qual a sua relevância? Estudo multicêntrico em seis unidades de saúde familiar de Vila Nova de Gaia]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732025000200129&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Introdução: A doença renal crónica (DRC) representa um grave problema de saúde pública. Alguns dos principais fatores de risco para o seu desenvolvimento são comuns às principais causas de morbilidade nos cuidados de saúde primários, sendo importante identificar estes doentes e registar o problema no processo clínico informatizado. Objetivos: Pretende-se estimar a prevalência da DRC nas Unidades de Saúde Familiar (USF) estudadas e identificar os fatores que influenciam a codificação da DRC pelo médico. Métodos: Foram incluídos utentes inscritos nas seis USF participantes no estudo que tivessem registo de um valor de creati-nina nos últimos cinco anos. Foi aplicado um questionário aos médicos dessas USF (n=55) para avaliar as possíveis barreiras associadas à codificação da DRC. Resultados: Foram incluídos 30.760 utentes no estudo. Destes, 4.800 apresentavam TFG &lt;60 ml/min (15,6%) e 1.863 apresentavam a codificação U99 (6,1%). Apenas 2,8% apresentavam simultaneamente TFG &lt;60 ml/min e codificação U99 (n=862). A prevalência de DRC encontrada foi de 6,4%. O questionário teve uma proporção de resposta de 69,1%. A maioria dos médicos que preencheram afirmou conhecer o código U99 (n=33, 86,9%) e referiu utilizá-lo (n=31, 81,6%). Os principais motivos que influenciam a não-codificação foram o esquecimento (n=21, 55,3%), a falta de tempo na consulta (n=19, 50%) e a inexistência de um código da Classificação Internacional de Cuidados Primários, 2.ª edição (ICPC-2) específico para DRC (n=16, 42,1%). Conclusões: Atendendo à prevalência da DRC e às suas implicações é importante que seja registada na lista de problemas. Um código mais específico para a DRC permitiria uma melhor identificação e acompanhamento destes utentes.<hr/>Abstract Introduction: Chronic kidney disease (CKD) represents a serious public health problem. Some of the main risk factors for its development are common to the leading causes of morbidity in primary health care, making it important to identify these patients and register the problem in the computerized clinical file. Objectives: We aim to estimate the prevalence of CKD in the Family Health Units (USF) studied and identify the factors that influence the physician’s coding of CKD. Methods: Participants from the six USF participating in the study (n=55) who had a record of creatinine value in the last five years were included. A questionnaire was applied to physicians at these USFs to assess possible barriers associated with CKD coding. Results: 30,760 participants were included in the study. Of these, 4,800 had a GFR &lt;60 ml/min (15.6%), and 1,863 had the U99 code (6.1%). Only 2.8% simultaneously had a GFR &lt;60 ml/min and a U99 code (n=862). The prevalence of CKD was 6.4%. The questionnaire had a response ratio of 69.1%. Most physicians reported they knew the U99 code (n=33, 86.9%) and referred to using it (n=31, 81.6%). The main reasons that influenced the non-coding were forgetfulness (n=21, 55.3%), lack of time in the consultation (n=19, 50%), and the lack of a specific International Classification of Primary Care, 2nd edition (ICPC-2) code for CKD (n=16, 42.1%). Conclusions: Given the prevalence of CKD and its implications, it must be registered in the list of problems. A more specific code for CKD would allow better identification and monitoring of these patients. <![CDATA[Perfil e motivos dos hipoutilizadores duma unidade de saúde familiar do Porto]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732025000200136&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Introdução: A não utilização dos cuidados de saúde primários é problemática, especialmente pela ausência de vigilância do hipoutilizador. Reduzida frequência em consultas com o médico de família impede realização de rastreios, deteção precoce/prevenção de patologias e controlo adequado de doenças crónicas. Objetivos: Caracterizar o perfil sociodemográfico e clínico e os motivos da população hipoutilizadora da consulta médica numa unidade de saúde familiar. Métodos: Selecionaram-se todos os utentes com 18 ou mais anos que não utilizaram a consulta nos últimos três anos. A recolha de dados foi realizada primeiramente via questionário telefónico para traçar o perfil sociodemográfico e clínico. Posteriormente, via e-mail, foi aplicado um segundo questionário relativo aos motivos. Resultados: Dos 1.182 indivíduos foram estudados 413 quanto ao perfil sociodemográfico e clínico. Os hipoutilizadores possuíam uma idade média de 47 anos. A maioria pertencia ao sexo masculino (60,8%), tinha curso superior (59,8%), emprego ativo (71,2%) e era saudável (62,7%). A patologia mais prevalente era a hipertensão arterial (10,4%). Os indivíduos com doença crónica eram mais velhos (p&lt;0,001 e p=0,004, respetivamente). Verificou-se que uma maior proporção de mulheres tinha diabetes mellitus (p=0,009), dislipidemia (p=0,048) e ansiedade generalizada (p=0,016). Apenas 119 responderam ao segundo questionário. Referiram sentir-se saudáveis 74%, 49% admitiram acompanhamento noutra especialidade no setor público/privado e 28% confessaram uma insuficiente relação com o médico de família. Conclusão: O hipoutilizador típico pertence ao género masculino, quinta década de vida, com curso superior, profissionalmente ativo, saudável. A hipoutilização da consulta médica pode dever-se a uma menor noção de risco pessoal de doença ou maior noção de literacia em saúde entre estes utentes, ou a uma maior oportunidade/acesso a consulta no setor privado. Verificou-se a necessidade de investir em medidas para aumentar a adesão destes utentes, como formações em comunicação para a equipa médica.<hr/>Abstract Introduction: The non-use of primary health care is problematic, especially due to the lack of surveillance of the low user. Reduced frequency of consultations with family doctors prevents screening, early detection/prevention of pathologies, and adequate control of chronic diseases. Objectives: This study aims to characterize the sociodemographic and clinical profile and the reasons why the population does not use family medicine consultations. Methods: All users aged 18 or older who had not used the consultation in the last three years were selected. First, data collection was collected via telephone questionnaire to outline the sociodemographic and clinical profile. Subsequently, via email, a second questionnaire was administered regarding the reasons. Results: Of the 1,182 individuals, 413 were studied regarding their sociodemographic and clinical profile. Low users had an average age of 47. The majority were male (60.8%), had higher education (59.8%), were actively employed (71.2%), and healthy (62.7%). Their most prevalent pathology was hypertension (10.4%). Individuals with chronic disease were older (p&lt;0.001 and p=0.004, respectively). It was found that a greater proportion of women had diabetes (p=0.009), dyslipidemia (p=0.048), and generalized anxiety disorder (p=0.016). Only 119 responded to the second questionnaire. 74% reported feeling healthy, 49% reported follow-up care in another specialty in the public/private sector, and 28% reported an insufficient relationship with their family doctor. Conclusion: The typical non-user is male, in his fifth decade of life, with a higher education, professionally active, and healthy. The low use of medical consultations may be due to a lower notion of personal risk of illness or a greater notion of health literacy among these users, or to a greater opportunity/access to consultations in the private sector. There was a need to invest in measures to increase the adherence of these users, such as communication training for the medical team. <![CDATA[Condição pós-COVID-19 em doentes com infeção leve a moderada]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732025000200147&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Introduction: Recognizing a post-COVID-19 condition’s prevalence and severity is essential for patients follow-up decisions. However, few robust longitudinal data on long-lasting symptoms of COVID-19 are available, especially in mild-moderate disease. Aims: This study aimed to identify the most frequent persistent and emerging symptoms of COVID-19, possible association with comorbidities, and the impact of COVID-19 infection on patients’ health status, in a primary healthcare facility, up to one year of disease onset. Methods: Telephone interviews were conducted six weeks, twelve weeks, and twelve months after COVID-19 infection to screen from acute phase clinical presentation up to one year after disease onset. Symptom persistence, patients' comorbidities and their impact on long-lasting effects of COVID-19 infection, and patients’ self-perception of their health status were investigated. Results: Long-lasting COVID-19 symptoms were predominantly asthenia, anosmia, dysgeusia, arthralgia, memory, and/or concentration problems. Health status after COVID-19 disease had worsened at post-acute disease (six and twelve weeks) and, after twelve months, some patients did not return to their usual health status. Susceptibility to prolonged symptoms could be associated with predictors, namely some symptoms present in the acute phase (myalgias, dyspnoea, asthenia, headache, anosmia, dysgeusia, diarrhoea, lumbar pain), presence of comorbidity, age over 40 and female sex. Conclusions: The health consequences of COVID-19 extend far beyond acute infection. Prolonged COVID-19 symptoms were associated with specific patients’ characteristics and acute disease presentation. Patients’ health status deteriorated after COVID-19, and several patients did not recover one year later. For these reasons, attention should be guaranteed over time, independently of COVID-19 severity.<hr/>Abstract Introdução: Reconhecer a existência da condição pós-COVID-19; a sua prevalência e severidade é importante para definir cuidados a prestar aos doentes a longo prazo; no entanto, há poucos estudos longitudinais, em especial na doença leve a moderada. Objetivos: Identificar os sintomas persistentes ou que surgiram de novo após a infeção por COVID-19, a sua possível associação a comorbidades e conhecer o impacto da infeção por COVID-19 no estado de saúde dos doentes numa unidade de saúde de cuidados primários, ao longo de um ano. Métodos: Após infeção aguda por COVID-19 foram realizadas entrevistas telefónicas ao fim de seis semanas, doze semanas e doze meses de forma a avaliar a situação clínica do doente. Foram investigados os sintomas existentes na fase aguda e pós-aguda, a existência de comorbidades ou outras características específicas dos doentes, assim como a autoperceção do seu estado de saúde. Resultados: Os sintomas de COVID-19 a longo prazo são predominantemente astenia, anosmia, disgeusia, artralgia e problemas de memória e concentração. O estado de saúde após infeção por COVID-19 piorou na fase pós-aguda de doença (seis e doze semanas) e, após doze meses, alguns doentes não retomaram o seu estado de saúde habitual. Foi possível associar a maior suscetibilidade a sintomas prolongados de COVID-19 com alguns preditores, nomeadamente alguns sintomas em fase aguda (mialgias, dispneia, astenia, cefaleia, anosmia, disgeusia, diarreia e dor lombar), presença de comorbidade, idade superior a 40 anos e sexo feminino. Conclusões: Os efeitos da infeção por COVID-19 manifestam-se muito além da infeção aguda. Foi possível identificar alguns preditores de sintomas prolongados de COVID-19. Verificou-se uma deterioração do estado de saúde dos doentes após infeção por COVID-19. Por estes motivos, deverá ser mantida vigilância ao longo do tempo, independentemente da severidade da infeção por COVID-19. <![CDATA[Bisalbuminemia, um traço familiar: relato de caso]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732025000200158&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Introdução: A albumina sérica humana constitui a proteína sérica mais abundante no plasma, desempenhando múltiplas funções essenciais. Entre os vários polimorfismos na sua expressão encontra-se a bisalbuminemia. Este fenótipo pode surgir de forma hereditária, uma patologia genética relativamente rara, ou de forma transitória (secundária). Descrição do caso: Apresenta-se uma criança de quatro anos de idade, do sexo masculino, com um quadro de seletividade alimentar, sem alterações ao exame objetivo. Realizou avaliação analítica, que revelou anemia ferropénica e um padrão de bisalbuminemia na eletroforese de proteínas, sem outras alterações. Foi presumida a forma inata, com causa genética, tendo sido solicitada avaliação com eletroforese de proteínas à mãe, que mostrou a presença de um padrão idêntico, corroborando esta hipótese. Iniciou suplementação com ferro e em reavaliação confirmou-se a correção da anemia ferropénica e manutenção do padrão de bisalbuminemia. Comentário: A bisalbuminemia hereditária tem uma prevalência reduzida na população; no entanto, o reconhecimento deste padrão é de particular relevância na prática clínica, sobretudo no contexto dos cuidados de saúde primários. A identificação precoce desta variante benigna permite ao médico de família orientar o utente de forma adequada, esclarecendo a natureza genética e não patológica da condição, evitando intervenções desnecessárias.<hr/>Abstract Introduction: Human serum albumin is the most abundant serum protein in plasma and plays several essential roles. Among the various polymorphisms in its expression is bisalbuminaemia. This phenotype can be hereditary, a relatively rare genetic condition, or transient (secondary). Case description: We present a 4-year-old male child with food selectivity and no abnormalities on physical examination. An analytical assessment revealed iron deficiency anaemia and a protein electrophoresis pattern of bisalbuminaemia, with no other abnormalities. The innate form was presumed to be a genetic cause, and the mother was asked to undergo protein electrophoresis, which showed an identical pattern, corroborating this hypothesis. Iron supplementation was started, and a reassessment confirmed the ferropenic anaemia correction and the bisalbuminaemia pattern’s maintenance. Comment: Hereditary bisalbuminaemia has a low prevalence in the population, however recognising this pattern is particularly important in clinical practice, especially in the context of primary healthcare. Early identification of this benign variant allows the family doctor to guide the patient appropriately, clarifying the genetic and non-pathological nature of the condition and avoiding unnecessary interventions. <![CDATA[Intoxicação por monóxido de carbono: descrição de um caso potencialmente fatal]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732025000200164&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo A intoxicação por monóxido de carbono é uma das principais causas de intoxicação a nível mundial. Sintomas iniciais incluem cefaleias, tonturas, fraqueza, náuseas, confusão e alterações visuais. A oxigenoterapia em câmara hiperbárica pode ser considerada no tratamento. Apresenta-se o caso de uma utente com 31 anos, sem antecedentes médicos relevantes. Recorreu, em menos de um mês, a três consultas abertas no centro de saúde, com sintomas de cefaleia e, posteriormente, síncope. Na última consulta veio acompanhada pelo cônjuge, com queixas semelhantes, permitindo a suspeição de uma possível intoxicação por monóxido de carbono. Foi referenciada ao serviço de urgência, onde foi feito o diagnóstico e tratamento com câmara hiperbárica. As cefaleias e as síncopes são sintomas muito inespecíficos, mas com causas potencialmente emergentes. É essencial a colheita completa da história clínica, permitindo um diagnóstico e tratamento precoces, assim como um melhor prognóstico.<hr/>Abstract Carbon monoxide poisoning is one of the main causes of poisoning worldwide. Initial symptoms include headaches, dizziness, weakness, nausea, confusion, and visual changes. Oxygen therapy in a hyperbaric chamber can be considered in the treatment. The case of a 31-year-old female patient with no relevant medical history is presented. In less than a month, she was observed at the health primary center, with symptoms of headache and, later, syncope. At the last appointment, she was accompanied by her spouse, with similar symptoms, causing the suspicion of possible carbon monoxide poisoning. Both were referred to the emergency department, where diagnosis and treatment with a hyperbaric chamber were carried out. Headaches and syncope are very non-specific symptoms but with potentially emerging causes. Collecting a complete clinical history, timely diagnosis and treatment, and improving the prognosis are essential. <![CDATA[Linfoma cutâneo primário difuso de grandes células B, <em>leg type</em> - Relato de caso]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732025000200168&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Introdução: Os linfomas cutâneos primários são um grupo heterogéneo de neoplasias malignas linfoproliferativas que acometem a pele, sem evidência de envolvimento extracutâneo no momento do diagnóstico. O linfoma cutâneo primário difuso de grandes células B, leg type (LCPDCB-LT) representa um subgrupo destas neoplasias. Este caso clínico ilustra a dificuldade de diagnóstico da patologia, no qual o médico de família (MF) desempenhou um papel crucial. Descrição do caso: Mulher de 75 anos que, após ser submetida a drenagem de coleção líquida no tornozelo direito em regime privado, recorre a consulta com o MF por manter drenagem, edema e rubor após vários ciclos de antibioterapia. Foi encaminhada para avaliação urgente por cirurgia geral, que descartou complicação cirúrgica. Em nova consulta com o MF para avaliação da evolução da lesão apresentava agravamento com ulceração e alteração da sensibilidade associada, levantando a suspeita de neoplasia da pele ou partes moles. Após a realização de exames complementares de diagnóstico, nomeadamente TAC articular, que descrevia “fratura envolvendo a diáfise peroneal distal associada a uma tumefação de partes moles”, a utente foi referenciada para consulta urgente de ortopedia e diagnosticada com LCPDCB-LT após biópsia da lesão. A utente iniciou esquema de seis ciclos de CHOP-R, seguido de radioterapia. Comentários: Este caso clínico ilustra a dificuldade no diagnóstico que pode acarretar um linfoma cutâneo primário. O seguimento da utente ao longo das várias consultas foi essencial para se colocar a hipótese diagnóstica de doença neoplásica. Considerando o crescimento rápido da lesão e o alto índice proliferativo é importante conhecer a apresentação clínica para, assim, realizar o diagnóstico precoce e instituir o tratamento efetivo.<hr/>Abstract Introduction: Primary cutaneous lymphomas are defined as a heterogeneous group of malignant lymphoproliferative neoplasms that affect the skin, without extracutaneous involvement at the moment of the diagnosis. Primary cutaneous diffuse large B-cell lymphoma, leg type (PCDLBL-LT) represents a subgroup of these tumours. This clinical case illustrates the difficulty of diagnosing this condition, in which the family doctor (FD) played a crucial role. Case description: A 75-year-old woman, after undergoing drainage of a liquid collection in her right ankle in a private clinic, consulted the FD due to persistent drainage, oedema, and redness after several cycles of antibiotic therapy. She was referred to urgent evaluation by general surgery, which ruled out a surgical complication. In a new consultation with her FD to assess the evolution of the lesion, it showed worsening with ulceration and hypoesthesia, raising the suspicion of the skin or soft tissue tumour. After additional diagnostic tests, such as a joint CT scan that described a “fracture involving the distal peroneal diaphysis associated with swelling of soft tissues”, the patient was referred to an urgent orthopaedics consultation and after a biopsy of the lesion, she was diagnosed with PCDLBL-LT. The patient started an R-CHOP regimen followed by radiotherapy. Comment: This case illustrates the difficulty in diagnosing a primary cutaneous lymphoma. Close follow-up of the patient during numerous consultations was essential to make the diagnosis of a neoplastic disease. Considering its rapid growth and high proliferative rate, it is important to know its clinical presentation for a precocious diagnosis and efficient treatment. <![CDATA[Balanite: um sinal de alerta (relato de caso)]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732025000200173&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Introdução: A balanite é uma inflamação da glande do pénis frequentemente causada por C. albicans. O seu diagnóstico é clínico, pode ser recorrente ou resistente à terapêutica farmacológica, o que deve fazer suspeitar de uma diabetes mellitus oculta. Este caso constitui um desafio diagnóstico, pois atualmente consegue-se realizar o diagnóstico da diabetes muito antes de existir estas alterações cutâneas. Descrição: Doente do sexo masculino, de 59 anos, que refere irritação peniana, sensibilidade aumentada, fimose, disfunção eréctil com dor intensa e eritema peniano quando tem relações sexuais. Feito o diagnóstico de balanite, o doente inicia múltiplos tratamentos antifúngicos/antimicrobianos (fluconazol, creme de associação dexametasona e clotrimazol) aos quais se verifica uma resistência. Perante isto, cerca de três meses após o início dos sintomas é levantada a hipótese diagnóstica da existência de uma diabetes oculta, cujo diagnóstico foi confirmado através da glicemia em jejum. Iniciou insulina e terbinafina, com melhoria sintomática e diminuição dos valores glicémicos. Comentário: Perante um caso de balanite resistente ao tratamento farmacológico é fundamental ter uma elevada suspeição sobre um possível diagnóstico de diabetes oculta, por forma a inclui-lo como diagnóstico diferencial, independentemente de eventuais rastreios anteriormente realizados. O médico de família encontra-se numa posição privilegiada para reconhecer a balanite enquanto manifestação cutânea da diabetes, de forma a realizar um diagnóstico atempado, prevenindo eventuais complicações.<hr/>Abstract Introduction: Balanitis is an inflammation of the glans penis often caused by C. albicans. Its diagnosis is clinical and it can be recurrent or resistant to pharmacological therapy, which should lead us to suspect occult diabetes mellitus. This case poses a diagnostic challenge, as it is now possible to diagnose diabetes long before these skin changes occur. Description: The case report is about a 59-year-old male patient who reported penile irritation, increased sensitivity, phimosis of the foreskin, erectile dysfunction with intense pain, and penile erythema when having sex. Once the diagnosis of balanitis had been made, the patient began multiple antifungal/antimicrobial treatments (fluconazole, dexamethasone, and clotrimazole combination cream) to which resistance was observed. Because of this, about three months after the onset of symptoms, the diagnostic hypothesis of occult diabetes was raised, and the diagnosis was confirmed by fasting blood glucose. He was started on insulin and terbinafine, with symptomatic improvement and a reduction in glycemic values. Comment: When faced with a case of balanitis that is resistant to pharmacological treatment, it is essential to be highly suspicious of a possible diagnosis of occult diabetes, and to include it as a differential diagnosis, regardless of any screening previously carried out. Family doctors are in a privileged position to recognize balanitis as a cutaneous manifestation of diabetes to make a timely diagnosis and prevent possible complications. <![CDATA[Os desafios da governação clínica nos cuidados de saúde primários em Portugal]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732025000200178&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo A governação clínica nos cuidados de saúde primários (CSP) é essencial para garantir a qualidade, eficiência e segurança dos serviços prestados aos doentes. É considerada uma abordagem multidimensional que envolve o estabelecimento e aperfeiçoamento de indicadores de desempenho, a monitorização contínua dos resultados, o envolvimento constante dos profissionais de saúde e a adoção de práticas baseadas na melhor evidência científica. Múltiplas barreiras têm sido criadas à efetiva implementação da governação clínica em Portugal, em diversos setores. Os desafios organizacionais e de gestão incluem a necessidade de criar uma cultura que valorize esta prática, bem como de realizar mudanças na estrutura e funcionamento das unidades de saúde. O envolvimento ativo dos profissionais é crucial, mas a resistência à mudança e o medo de perda de autonomia podem ser obstáculos ao sucesso das organizações. A interligação com outros níveis de cuidados torna-se premente para garantir a continuidade e qualidade dos serviços prestados. A complexidade das métricas de desempenho é outro conhecido desafio. Selecionar indicadores relevantes e apropriados para medir a qualidade dos cuidados é um processo complexo, dado que a escolha errada de indicadores pode levar a conclusões incorretas sobre o desempenho clínico dos profissionais. As desigualdades regionais em recursos e infraestruturas podem também afetar a implementação destas medidas. Adicionalmente, a pandemia de COVID-19 exacerbou as fraquezas existentes nos sistemas de saúde, destacando a importância de possuir um sistema de saúde pública forte e CSP de excelência. Em suma, implementar a governança clínica nos CSP é uma tarefa complexa que contempla desafios organizacionais, financeiros e culturais. Uma abordagem integrada e abrangente envolvendo todos os intervenientes no sistema é necessária para alcançar uma governação clínica sustentável e eficaz que melhore a qualidade dos cuidados para os pacientes em Portugal.<hr/>Abstract Clinical governance in primary healthcare is essential to ensure the quality, efficiency, and safety of services provided to patients. It is considered a multidimensional approach, involving the establishment and improvement of performance indicators, continuous monitoring of outcomes, constant engagement of healthcare professionals, and adoption of practices based on the best scientific evidence. Multiple barriers have been established to the effective implementation of clinical governance in Portugal, across various sectors. Organizational and management challenges include the need to foster a culture that values this practice, as well as making changes to the structure and functioning of healthcare units. Active involvement of healthcare professionals is crucial, but resistance to change and fear of loss of autonomy can hinder organizational success. Interconnection with other levels of care, such as hospitals and continuing care, becomes crucial to ensure continuity and quality of services provided. The complexity of performance metrics is another well-known challenge. Selecting relevant and appropriate indicators to measure the quality of care is a complex process, as choosing the wrong indicators can lead to incorrect conclusions about the clinical performance of professionals. Regional inequalities in resources and infrastructure can also affect the implementation of these measures. Additionally, the COVID-19 pandemic has exacerbated existing weaknesses in healthcare systems, highlighting the importance of having a strong public healthcare system. In summary, implementing clinical governance in primary healthcare is a complex task that encompasses organizational, financial, and cultural challenges. An integrated and comprehensive approach involving all stakeholders in the healthcare system is necessary to achieve sustainable and effective clinical governance that improves the quality of care for patients in Portugal. <![CDATA[Zona nos doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica: uma combinação evitável?]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732025000200185&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo O herpes zóster (HZ) ou Zona resulta da reativação do vírus da Varicela Zoster, apresentando-se como uma erupção vesicular eritematosa unilateral muito dolorosa ao longo de um dermátomo. A reativação parece resultar de uma diminuição da imunidade mediada por células, que pode surgir por múltiplos fatores: idade avançada, stress, história familiar, malignidade, infeções, utilização de terapêuticas imunossupressoras e doenças crónicas, nomeadamente a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC). Muitos estudos associam o risco de infeção por HZ com a DPOC, sendo a doença mais severa e com maior incidência de complicações nos seus portadores. A Zona contribui de forma significativa para o aumento dos custos de saúde e compromete a qualidade de vida dos doentes, o que torna essencial o desenvolvimento de estratégias preventivas, como a vacinação. Apesar das evidências de alta eficácia e custo-benefício da vacina contra o HZ, continuam a existir limitações quanto à sua realização, como o custo elevado da mesma e a falta de literacia dos doentes e dos profissionais de saúde.<hr/>Abstract Herpes zoster (HZ) or Shingles results from the reactivation of the Varicella Zoster virus, presenting as a very painful unilateral erythematous vesicular eruption along a dermatome. Reactivation seems to result from a decrease in cell-mediated immunity, which can arise from multiple factors: advanced age, stress, family history, malignancy, infections, use of immunosuppressive therapies, and chronic diseases, such as chronic obstructive pulmonary disease (COPD). Many studies associate the risk of HZ infection with COPD, which is the most severe disease and with a higher incidence of complications in its carriers. Shingles contribute significantly to the increase in healthcare expenditure and compromise the quality of life of patients, which makes the development of preventive strategies, such as vaccination, essential. Despite the evidence of the high effectiveness and cost-benefit of the HZ vaccine, there are still limitations regarding its implementation, such as its high cost and the lack of literacy among patients and healthcare professionals. <![CDATA[Prescrição de antimicrobianos em fim de vida]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732025000200191&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo O herpes zóster (HZ) ou Zona resulta da reativação do vírus da Varicela Zoster, apresentando-se como uma erupção vesicular eritematosa unilateral muito dolorosa ao longo de um dermátomo. A reativação parece resultar de uma diminuição da imunidade mediada por células, que pode surgir por múltiplos fatores: idade avançada, stress, história familiar, malignidade, infeções, utilização de terapêuticas imunossupressoras e doenças crónicas, nomeadamente a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC). Muitos estudos associam o risco de infeção por HZ com a DPOC, sendo a doença mais severa e com maior incidência de complicações nos seus portadores. A Zona contribui de forma significativa para o aumento dos custos de saúde e compromete a qualidade de vida dos doentes, o que torna essencial o desenvolvimento de estratégias preventivas, como a vacinação. Apesar das evidências de alta eficácia e custo-benefício da vacina contra o HZ, continuam a existir limitações quanto à sua realização, como o custo elevado da mesma e a falta de literacia dos doentes e dos profissionais de saúde.<hr/>Abstract Herpes zoster (HZ) or Shingles results from the reactivation of the Varicella Zoster virus, presenting as a very painful unilateral erythematous vesicular eruption along a dermatome. Reactivation seems to result from a decrease in cell-mediated immunity, which can arise from multiple factors: advanced age, stress, family history, malignancy, infections, use of immunosuppressive therapies, and chronic diseases, such as chronic obstructive pulmonary disease (COPD). Many studies associate the risk of HZ infection with COPD, which is the most severe disease and with a higher incidence of complications in its carriers. Shingles contribute significantly to the increase in healthcare expenditure and compromise the quality of life of patients, which makes the development of preventive strategies, such as vaccination, essential. Despite the evidence of the high effectiveness and cost-benefit of the HZ vaccine, there are still limitations regarding its implementation, such as its high cost and the lack of literacy among patients and healthcare professionals.