Scielo RSS <![CDATA[Revista Lusófona de Estudos Culturais (RLEC)/Lusophone Journal of Cultural Studies (LJCS)]]> http://scielo.pt/rss.php?pid=2184-045820240001&lang=pt vol. 11 num. 1 lang. pt <![CDATA[SciELO Logo]]> http://scielo.pt/img/en/fbpelogp.gif http://scielo.pt <![CDATA[A Hibridização do Jornalismo no Engajamento da Causa Climática: Um Estudo de Recepção com Ativistas Brasileiros]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582024000102001&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Recordes de temperatura e eventos climáticos extremos são cada vez mais frequentes no Brasil, sendo a proteção de biomas e, especialmente, da Amazônia um dos pontos centrais nesse debate. Ainda assim, governos e grandes corporações não têm enviado esforços à altura dessas demandas globais. Para reverter a situação, o jornalismo (que, neste artigo, pode ser entendido como jornalismos) coloca-se como um aspecto importante de visibilidade do debate público e, principalmente, como alavancador do engajamento por parte da sociedade civil, apontando causas, responsabilidades e possíveis soluções a fim de encorajar o envolvimento de todos na resolução dos problemas identificados. A partir do olhar de ativistas brasileiros sobre diferentes temas ou causas, este artigo discute as fronteiras do jornalismo e suas novas possíveis configurações híbridas na relação com o engajamento na causa climática. A partir da perspectiva dos estudos culturais, foi realizado um estudo de recepção, no ano de 2022, com a condução de grupos focais online, com ativistas, de 18 até 35 anos, das cinco regiões do Brasil. A categorização das falas, feita a partir da análise de conteúdo, levou em consideração a irrupção de temas recorrentes e sua relação com o aporte teórico. Dentre os resultados de pesquisa, evidenciou-se, na fala dos participantes, uma permeabilidade de fronteiras entre jornalismo e outros gêneros comunicacionais, sendo que os ativistas também instigaram a possibilidade de o jornalismo adotar mais práticas e características de outros gêneros para propiciar mais engajamento em relação às questões climáticas.<hr/>Abstract Temperature records and extreme weather events are increasingly frequent in Brazil, where the protection of biomes and, mainly, the Amazon, is a central point in this debate. However governments and large corporations have not made efforts to meet these global demands. To reverse the situation, journalism (which, in this article, can be understood as journalisms) stands as an important aspect of visibility in public debate and, mainly, as a lever for engagement on the part of civil society, pointing out causes, responsibilities and possible solutions in order to encourage everyone's involvement in solving the identified problems. This article explores the boundaries of journalism and its potential new hybrid configurations regarding engagement in the climate cause, as perceived by Brazilian activists from different themes and causes. From the perspective of cultural studies, a reception study was conducted in 2022, using online focus groups with activists aged 18 to 35 across Brazil's five regions. The discourse was categorised through content analysis, considering the emergence of recurring themes and their alignment with the theoretical framework. The research findings indicated a permeability in the boundaries between journalism and other communication genres within the discourse of participants. Additionally, activists suggested the potential for journalism to incorporate additional practices and characteristics from various genres to enhance engagement with climate issues. <![CDATA[Narrativas Sobre Mudanças Climáticas no TikTok Brasil: Entre o Diagnóstico e a Desesperança]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582024000102002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo O objetivo deste estudo exploratório é realizar um mapeamento dos discursos em circulação na rede social TikTok ligados à temática das mudanças climáticas no Brasil. Investiga-se, portanto, que narrativas predominam no TikTok brasileiro quando se trata de mudanças climáticas e que sentidos essas narrativas engendram. A partir de metodologia baseada em Basch et al. (2022) com adaptações para o contexto brasileiro, 50 vídeos indicados como os mais relevantes pela plataforma a partir da hashtag #mudancaclimatica foram analisados. Investigamos aspectos como linguagens utilizadas, uso de fontes e estratégias de enfrentamento às mudanças climáticas. Os vídeos foram classificados segundo diversos critérios, como seu posicionamento em relação à veracidade, ou não, das mudanças climáticas, os temas ambientais abordados, impactos sociais e ambientais citados e os eventos climáticos extremos referenciados. Em um contexto de grande popularidade do TikTok no Brasil, disseminação de desinformação em plataformas digitais no país e brasileiros pouco informados sobre as mudanças climáticas, a pesquisa busca compreender em que medida a circulação de narrativas na plataforma pode ser nociva à compreensão do problema. Concluímos que, por um lado, existe relativo consenso em relação à veracidade e gravidade das mudanças climáticas. Por outro, aspectos relacionados à complexidade da questão ficam em segundo plano. Narrativas em tom alarmista, reforçadas pelas affordances da plataforma, aparecem em proeminência. Além disso, fontes utilizadas e canais responsáveis pelas produções são pouco identificáveis, mesmo quando relacionados diretamente à divulgação científica, o que pode representar um problema para o uso desses materiais no enfrentamento ao negacionismo climático.<hr/>Abstract The objective of this exploratory study is to chart the discourses circulating on the TikTok social network concerning climate change in Brazil. It investigates the predominant narratives on Brazilian TikTok regarding climate change and the implications of these narratives. Using a methodology based on Basch et al. (2022) tailored for the Brazilian context, this study analyses 50 videos indicated as the most relevant by the platform using the hashtag #mudancaclimatica (#climatechange). Key aspects investigated include language patterns, the use of sources and strategies for addressing climate change. The videos were categorised based on various criteria, including their stance on the truth of climate change, the environmental issues highlighted, the social and ecological impacts mentioned, and the extreme weather events described. Given TikTok’s immense popularity in Brazil, the prevalence of disinformation on digital platforms in the country, and the lack of awareness among Brazilians about climate change, this study aims to assess the potentially harmful effects of narrative circulation on the platform on understanding the issue. The findings indicate a relative consensus on the reality and severity of climate change. However, aspects pertaining to the complexity of the problem often receive less attention. Prominent in the analysed narratives are those with an alarmist tone, amplified by the platform’s features. Moreover, the sources and channels behind these productions often lack clear identification, even when they are directly linked to scientific dissemination. This ambiguity could pose challenges in using these materials to counter climate denialism. <![CDATA[Jovens Ativistas e Justiça Climática: Uma Análise das Articulações de Txai Suruí e Amanda Costa]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582024000102003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Diante da necessidade de sensibilização para o enfrentamento da crise do clima, este artigo analisa as articulações no Instagram de duas jovens ativistas brasileiras sobre justiça climática: Txai Suruí, integrante do movimento da juventude indígena de Rondônia, e Amanda Costa, fundadora e diretora executiva do Instituto Perifa Sustentável, selecionadas por integrarem o Comitê Jovem do Pacto Global da Organização das Nações Unidas. Após as três etapas de análise narrativa adotadas (acontecimento, organização e conflito), vinculadas ao arcabouço teórico-metodológico da interseccionalidade, os resultados apontam que as jovens mulheres fissuram novos espaços e promovem discussões sobre meio ambiente, direitos humanos, cidadania, participação social e justiça climática. Com linguagem informal e empática, as ativistas realizam pressão aos agentes (governantes, instituições, empresas) e estabelecem conexão com seus públicos. Como mulheres do Sul Global, as ativistas Txai Suruí e Amanda Costa desafiam polos de poder. Conforme os resultados da análise, foi possível verificar que as jovens exercem espaço de protagonismo na articulação de conteúdos sobre os temas ao promover advocacy e ocupar as redes sociais digitais com foco educativo, de modo crítico e criativo. Representantes de povos historicamente invisibilizados, Txai e Amanda praticam narrativas de resistência ao invocar a ancestralidade na luta por um futuro com justiça climática.<hr/>Abstract Faced with the imperative to raise awareness to tackle the climate crisis, this article delves into Instagram manifestations of two young Brazilian activists dedicated to climate justice: Txai Suruí, a member of the indigenous youth movement in Rondônia, and Amanda Costa, founder and executive director of the Instituto Perifa Sustentável, selected for their involvement of the United Nations Global Compact Youth Committee. Following the three stages of narrative analysis adopted (event, organisation and conflict), coupled with the theoretical-methodological framework of intersectionality, the findings show that the young women are breaking new ground and promoting discussions surrounding the environment, human rights, citizenship, social participation and climate justice. Using informal and empathetic language, the activists exert pressure on agents (governments, institutions, companies) while establishing a connection with their audiences. As women from the Global South, activists Txai Suruí and Amanda Costa challenge entrenched power dynamics. The findings of the analysis underscore the pivotal role played by these young women in articulating content on the issues. Through advocacy efforts and active engagement on digital social networks, they exhibit a critical and creative approach. Serving as representatives of historically invisible peoples, Txai and Amanda employ narratives of resistance, drawing upon their ancestral heritage in the pursuit of a future with climate justice. <![CDATA[Diáspora Negra e a Desautorização do Refrão Único: Imaginários de Tempo, História e Gênero nas Revoltas do Povo Negro Através da Música Popular Brasileira]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582024000104001&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Tendo como inspiração O Atlântico Negro de Paul Gilroy (1993/2001), propomos realizar um exercício de interpretação de quatro letras consagradas da música popular brasileira (MPB). São elas: “Chico Rei” (Jarbas Soares, Djalma de Oliveira Costa e Geraldo Soares de Carvalho, 1964); “Zumbi” (Jorge Ben, 1974); “Mestre Sala dos Mares” (João Bosco &amp; Aldir Blanc, 1975) e “Morena de Angola” (Chico Buarque, 1980). Ao tomarmos as canções como parte do arcabouço intelectual d’O Atlântico Negro, consideramos duas principais chaves de leitura: (a) o imaginário de tempo/história e (b) os princípios generificados de enunciação. Seguindo a trilha metodológica proposta por Gilroy (1993/2001), identificamos a música como espaço público de elaboração e difusão de memórias sobre a diáspora negra. Informadas por lutas históricas travadas pelo povo negro, as canções recuperam narrativas insistentemente invisibilizadas e questionam o suposto lugar de “não-agência” política das populações escravizadas ou vivendo sob regimes autoritários. Frente à urgência em interromper o cansativo refrão da história única, encontramos nessas obras acesso privilegiado às recordações sobre revoltas contra a escravização e o colonialismo, difundindo no presente saberes decoloniais. A produção e inscrição de uma memória oposicional - aquela que reivindica espaço e lugar ao mesmo tempo em que contesta versões sedimentadas - é um trabalho constante que está intimamente relacionado com o estabelecimento de novos horizontes de luta no presente.<hr/>Abstract Inspired by Paul Gilroy's O Atlântico Negro (The Black Atlantic; 1993/2001), this study sets out to interpret four renowned Brazilian popular music (MPB) lyrics: "Chico Rei" (Jarbas Soares, Djalma de Oliveira Costa e Geraldo Soares de Carvalho, 1964); "Zumbi" (Jorge Ben, 1974); "Mestre Sala dos Mares" (João Bosco &amp; Aldir Blanc, 1975) and "Morena de Angola" (Chico Buarque, 1980). By examining the songs within the intellectual framework of The Black Atlantic, the analysis focuses on two main perspectives for interpretation: (a) the imaginary of time/history and (b) the gendered principles of enunciation. Following the methodological approach proposed by Gilroy (1993/2001), music emerges as a public space for articulating and disseminating memories of the black diaspora. Informed by the historical struggles waged by black people, the lyrics reclaim narratives insistently invisible and challenge the supposed place of political "non-agency" of enslaved populations or those living under authoritarian regimes. These compositions, confronting the urgency to break free from the tiresome chorus of a single history, provide privileged access to memories of uprisings against enslavement and colonialism, spreading decolonial knowledge in the contemporary context. The production and inscription of an oppositional memory - one that claims space and place while contesting sedimented versions - is a constant endeavour that is closely related to the establishment of new horizons for struggle in the present. <![CDATA[<em>Compor Mundos</em>: Explorando a Metamorfose do Mundo na Era das Alterações Climáticas e as Suas Implicações Para a Saúde]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582024000104005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo As alterações climáticas (AC) são a maior evidência da “metamorfose do mundo” e estão a mudar os regimes de temperatura e de pluviosidade, mas também os sistemas sociais, culturais e de saúde no planeta Terra. A imprevisibilidade dos fenómenos climáticos e os seus impactes multidimensionais na saúde humana e ambiental contribuem para tornar a nossa compreensão do mundo cada vez mais difícil. Além disso, a história provou que a tecnociência, sozinha, não é suficiente para lidar com estes problemas. Um apelo global está agora a despertar para que as humanidades e as ciências sociais também lidem com as questões humanas e não humanas levantadas pelas AC, nomeadamente através da sua integração com as áreas da saúde e da sustentabilidade. Este artigo tem como objetivo apresentar e discutir alguns dos primeiros resultados da rede transdisciplinar Compor Mundos: Humanidades, Bem-Estar e Saúde, que consiste numa rede de especialistas em humanidades, ciências sociais e da saúde que pensam sobre as questões do bem-estar e da saúde nas sociedades tecnológicas contemporâneas. A metodologia usada na primeira fase do projeto consistiu numa entrevista com perguntas abertas, construída de forma participativa pela rede de 12 investigadores. Tratou-se de uma pesquisa exploratória que utilizou a análise temática para identificar as ideias-chave originais de cada autor e a indução dos temas principais correspondentes. Os temas foram então organizados em grupos de correspondência semântica, ou clusters temáticos. Espera-se que alguns destes clusters contribuam para discutir como as AC já alteraram as nossas maneiras de ser, viver e pensar sobre o mundo, e contribuam também para lidar com os desafios relacionados com os riscos das AC na saúde e no bem-estar ao longo do século XXI.<hr/>Abstract Climate change (CC) is the greatest evidence of the "metamorphosis of the world" and is changing the temperature and rainfall patterns, but also the social, cultural and health systems on planet Earth. The unpredictability of climactic phenomena and their multidimensional impacts on human and environmental health contribute to making our understanding of the world increasingly difficult. Moreover, history has proven that technoscience alone is not enough to deal with these problems. A global appeal is now emerging for the humanities and social sciences to also deal with the human and non-human issues raised by CC, notably through their integration with the areas of health and sustainability. The aim of this article is to present and discuss some of the first results of the Composing Worlds: Humanities, Well-Being and Health transdisciplinary network, which consists of a network of experts in the humanities, social sciences and health who think about issues of well-being and health in contemporary technological societies. The methodology used in the first phase of the project consisted of an interview with open questions, made by the network of 12 researchers. This was an exploratory study that used thematic analysis to identify the original key ideas of each author and corresponding main themes. The themes were then organised into semantic groups or thematic clusters. It is hoped that some of these clusters will contribute to discussing how CC has already altered our ways of being, living and thinking about the world, and will also contribute to dealing with the challenges related to the risks of CC on health and well-being throughout the 21st century. <![CDATA[Emergência Climática e Ativismos da Juventude: Um Estudo de Caso em Lisboa]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582024000104006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Este artigo faz parte de uma pesquisa de doutorado, ainda em andamento, em ciência política no Brasil. O texto explora a emergência do antropoceno como fenômeno ético-político, destacando a transformação da humanidade em uma força geológica e suas implicações políticas e epistemológicas. Abordamos o papel central das juventudes no ativismo climático, como o surgimento de movimentos como End Fossil Occupy, a Greve Climática Estudantil e o Climáximo, em Lisboa, Portugal. Nossa hipótese é que o antropoceno exige um fazer político próprio. Dentro desse cenário, as narrativas das juventudes em Portugal emergem como contribuições significativas para a definição desse novo paradigma político. Portanto, o artigo estrutura-se em quatro partes, além da introdução e das considerações finais. Primeiro, analisamos o conceito de antropoceno, e suas debilidades, e a perspectiva de Latour sobre essa realidade, comumente referida como uma guerra de mundos; depois, abordamos sucintamente o ativismo climático nas últimas décadas; em seguida, apresentamos a metodologia de pesquisa, com base na vivência de campo em Portugal, durante outubro de 2023, que oferece uma perspectiva enriquecedora sobre o envolvimento ativo da juventude portuguesa face à iminente crise climática. Por fim, compartilhamos a experiência de campo e o diálogo estabelecido entre aqueles movimentos de juventude na capital portuguesa. O objetivo é fornecer um panorama da interseção entre o antropoceno, o ativismo climático e as perspectivas das juventudes portuguesas.<hr/>Abstract The present paper is part of ongoing doctoral research in political science in Brazil. It explores the advent of the Anthropocene as an ethical and political phenomenon, highlighting the transformation of humanity into a geological force and its political and epistemological consequences. We address the key role of young people in climate activism, that is in new movements such as End Fossil Occupy, the Student Climate Strike and Climáximo in Lisbon, Portugal. We hypothesise that the Anthropocene requires its own form of politics. Consequently, the narratives of young people in Portugal contribute significantly to establishing this new political paradigm. The article is, therefore, divided into four parts, in addition to the introduction and concluding remarks. First, we analyse the concept of the Anthropocene and its weaknesses, and Latour's views of this reality, commonly referred to as a war of worlds. This is followed by a brief discussion of climate activism in recent decades, and the description of the research methodology. The field experience in Portugal in October 2023 offers an enriching overview of the active involvement of Portuguese youth in the light of the emerging climate crisis. Finally, we share the field experience and the dialogue between these youth movements in the Portuguese capital. The aim is to provide an overview of the intersection between the Anthropocene, climate activism and the prospects of Portuguese youth. <![CDATA[Arte Ativista e Arte Ecológica: Uma Discussão Sobre a Relação Entre Cultura, Ambiente e Sociedade, Abordagens Artísticas e Contextos de Produção Cultural]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582024000104007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo O ativismo ambiental, através da arte, estimula um processo de educação, ao mesmo tempo que gera reflexões e uma experiência de vulnerabilidade sentida pelos corpos humanos diante da realidade da emergência climática (Rodriguez-Labajos, 2022). Devido às subjetividades desencadeadas pela arte ecológica para a consciência e ação sobre as questões socioambientais, este artigo, de cunho teórico, reflexivo e interpretativo, tem o objetivo de abordar os conceitos de “arte ativismo”, “arte ecológica” e outras nomenclaturas análogas, de forma a analisar a relação entre cultura, ambiente e sociedade e as condições por meio das quais as práticas de produção cultural se desenvolvem. Para tanto, procurou-se compreender a perspetiva das três ecologias e da noção de “ecoarte” de Félix Guattari (1989/1990); a natureza das abordagens de arte ecológica e as principais causas ambientais associadas; o contexto em que ocorrem as práticas artísticas de ativismo ambiental e a atividade de produção cultural. Recorreu-se a exemplos de artistas e projetos portugueses para perceber: as particularidades das práticas e das estratégias criativas ligadas à sustentabilidade ambiental; os aspetos referentes à educação ambiental, às questões éticas e às políticas culturais que se adequam à arte ecológica. Com este artigo, pretende-se contribuir para a discussão sobre a arte ecológica sob a ótica da identidade política da arte e da análise necessária e intrínseca entre práticas culturais e ambiente.<hr/>Abstract Environmental activism, expressed through art, prompts an educational process, generating reflections and evoking a sense of vulnerability experienced by human bodies before the reality of the climate emergency (Rodriguez-Labajos, 2022). Because ecological art sparks subjective responses aimed at raising awareness and driving action on socio-environmental concerns, this theoretical, reflective, and interpretive article seeks to explore the concepts of “activist art”, “ecological art”, and analogous designations in order to analyse the interplay between culture, environment, and society and the conditions shaping cultural production practices. In pursuit of this objective, our inquiry delved into the framework of Félix Guattari’s concept of “eco-art” (1989/1990), the nature of ecological art approaches and the primary environmental causes they address, the contextual landscape in which environmental activist art practices unfolds and the dynamics of cultural production. Examples from Portuguese artists and projects were used to elucidate the nuances of creative practices and strategies linked to environmental sustainability, aspects relating to environmental education, ethical issues and cultural policies that align with ecological art. This article aims to contribute to the discussion on ecological art by exploring the political identity of art and emphasising the indispensable and inherent analysis between cultural practices and the environment. <![CDATA[Contribuições de Dois Documentários Latino-Americanos Para uma Percepção Ampliada das Mudanças Climáticas a Partir de uma Leitura Decolonial]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582024000104008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo A constituição de uma nova sensibilidade em relação à crise ambiental tem sido pauta, direta ou indiretamente, de diversos atores sociais e produtos midiáticos. Destes, destacam-se os filmes e vídeos que focam a temática ambiental, em função do papel relevante que a cultura audiovisual representa hoje. Com essas premissas, este artigo foca os documentários latino-americanos Hija de la Laguna (2015) e A Mãe de Todas as Lutas (2021), com o propósito de discutir suas possíveis contribuições para uma percepção ampliada das causas climáticas. A partir da análise fílmica centrada nas protagonistas e nas escolhas estéticas e estilísticas de cada obra, este texto investiga como as narrativas dos dois documentários entrelaçam informação e conhecimento subjetivo; indivíduo e coletivo; local e global; memória pessoal e arquivos públicos; entre outros marcadores argumentativos. Essas categorizações são cotejadas ao posicionamento decolonial, assumido no texto de forma ampla, isto é, em diálogo com autores que incorporam as lutas das populações indígenas e/ou marginalizadas à teoria decolonial. Dentre os resultados encontrados, ressaltamos que os documentários estabelecem contranarrativas que permitem identificar a emersão do protagonismo feminino nas lutas pela posse da terra e da água, o posicionamento crítico em relação ao extrativismo (e neoextrativismo) e a permanência dos preconceitos étnico-raciais. Ressalta-se, ainda, nos dois filmes, a constituição de uma linguagem documentária que valoriza o sujeito, sem deixar de articulá-lo ao contexto social.<hr/>Abstract Creating a new awareness of the environmental crisis has been on the agendas, either directly or indirectly, of many social actors and media products. These include films and videos focusing on environmental issues, given the current important role of audiovisual culture. Against this backdrop, this paper focuses on the Latin American documentaries Hija de la Laguna (Daughter of the Lake; 2015) and A Mãe de Todas as Lutas (The Mother of all Fights; 2021), with the aim of discussing their possible contributions to a broader perception of climate action. Based on a film analysis centred on the protagonists, the aesthetic and stylistic choices of each work, we look into how the narratives of the two documentaries intertwine information and subjective knowledge, the individual and the collective, the local and the global, personal memory and public archives, among other argumentative markers. These categorisations are compared to the decolonial perspective, which is taken up in the text in a broad way, that is in the dialogue with authors who embody the struggles of indigenous and/or marginalised people into decolonial theory. Among the results found, we highlight that the documentaries establish counternarratives that allow us to identify the emergence of female protagonism in the struggles for land and water ownership, the critical stance towards extractivism (and neo-extractivism) and lingering ethnic-racial prejudice. Also worth noting in both films, the documentary language values the subject, without failing to link them with the social context. <![CDATA[Sondar as Perceções das Alterações Climáticas em Enclaves Vulneráveis: Realidades Resilientes no Município de Buffalo City, África do Sul]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582024000104009&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract Under the turbulent environment of the 21st century, climate change emerges as a menacing and urgent crisis, especially in urban poverty-stricken areas, where its impacts are most acutely felt. Despite the importance of understanding public perceptions to foster effective climate change resilience, there still exists a notable gap in nuanced scholarship within the informal settlements of South Africa. This study employs a mixed-method approach to explore how cognitive, emotional, motivational and cultural factors affect these communities' resilience or vulnerability to climate-related hazards. The prevailing consensus in the literature suggests a general underestimation of climate change risks among residents. However, this paper contends that innovative, resource-constrained strategies observed in these communities suggest a significant degree of agency and preparedness to confront these challenges. This study sheds light on the interplay between individual actions, social networks, information channels, cultural practices, and power dynamics in shaping climate change perceptions. It recommends integrating local, costeffective adaptation measures into wider policy frameworks. In conclusion, the study emphasises the importance of educating informal settlement residents, harnessing community participation and utilising local adaptation knowledge and sustainable development techniques to forge a resilient and equitable future for the inhabitants of Buffalo City Municipality.<hr/>Resumo Num cenário marcado pela turbulência do século XXI, as alterações climáticas surgem como uma crise iminente e urgente, particularmente acentuada nas áreas urbanas afetadas pela pobreza, onde os seus impactos se manifestam de forma mais severa. Apesar da importância de compreender as perceções públicas para promover uma resiliência eficaz às alterações climáticas, há ainda uma lacuna considerável no que toca a investigação diferenciada nos aglomerados populacionais informais da África do Sul. Este estudo emprega uma abordagem de métodos mistos para explorar como os fatores cognitivos, emocionais, motivacionais e culturais influenciam a resiliência ou vulnerabilidade dessas comunidades aos riscos associados às alterações climáticas. O consenso predominante na literatura sugere uma tendência geral de subestimação dos riscos das alterações climáticas entre os residentes. No entanto, este artigo defende que as estratégias inovadoras e com recursos limitados observados nessas comunidades sugerem um grau significativo de capacidade de ação e preparação para enfrentar esses desafios. Este estudo revela a interação entre iniciativas individuais, redes sociais, canais de informação, práticas culturais e dinâmicas de poder na formação das perceções das alterações climáticas. É recomendada a integração de medidas de adaptação locais e económicas em enquadramentos políticos mais amplos. Em conclusão, o estudo sublinha a importância de educar os residentes de aglomerados populacionais informais, de promover a participação da comunidade e de utilizar os conhecimentos locais de adaptação e as técnicas de desenvolvimento sustentável para construir um futuro resiliente e equitativo para os habitantes do município de Buffalo City. <![CDATA[Alterações Climáticas: Desafios Sociais e Culturais]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582024000104010&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract Under the turbulent environment of the 21st century, climate change emerges as a menacing and urgent crisis, especially in urban poverty-stricken areas, where its impacts are most acutely felt. Despite the importance of understanding public perceptions to foster effective climate change resilience, there still exists a notable gap in nuanced scholarship within the informal settlements of South Africa. This study employs a mixed-method approach to explore how cognitive, emotional, motivational and cultural factors affect these communities' resilience or vulnerability to climate-related hazards. The prevailing consensus in the literature suggests a general underestimation of climate change risks among residents. However, this paper contends that innovative, resource-constrained strategies observed in these communities suggest a significant degree of agency and preparedness to confront these challenges. This study sheds light on the interplay between individual actions, social networks, information channels, cultural practices, and power dynamics in shaping climate change perceptions. It recommends integrating local, costeffective adaptation measures into wider policy frameworks. In conclusion, the study emphasises the importance of educating informal settlement residents, harnessing community participation and utilising local adaptation knowledge and sustainable development techniques to forge a resilient and equitable future for the inhabitants of Buffalo City Municipality.<hr/>Resumo Num cenário marcado pela turbulência do século XXI, as alterações climáticas surgem como uma crise iminente e urgente, particularmente acentuada nas áreas urbanas afetadas pela pobreza, onde os seus impactos se manifestam de forma mais severa. Apesar da importância de compreender as perceções públicas para promover uma resiliência eficaz às alterações climáticas, há ainda uma lacuna considerável no que toca a investigação diferenciada nos aglomerados populacionais informais da África do Sul. Este estudo emprega uma abordagem de métodos mistos para explorar como os fatores cognitivos, emocionais, motivacionais e culturais influenciam a resiliência ou vulnerabilidade dessas comunidades aos riscos associados às alterações climáticas. O consenso predominante na literatura sugere uma tendência geral de subestimação dos riscos das alterações climáticas entre os residentes. No entanto, este artigo defende que as estratégias inovadoras e com recursos limitados observados nessas comunidades sugerem um grau significativo de capacidade de ação e preparação para enfrentar esses desafios. Este estudo revela a interação entre iniciativas individuais, redes sociais, canais de informação, práticas culturais e dinâmicas de poder na formação das perceções das alterações climáticas. É recomendada a integração de medidas de adaptação locais e económicas em enquadramentos políticos mais amplos. Em conclusão, o estudo sublinha a importância de educar os residentes de aglomerados populacionais informais, de promover a participação da comunidade e de utilizar os conhecimentos locais de adaptação e as técnicas de desenvolvimento sustentável para construir um futuro resiliente e equitativo para os habitantes do município de Buffalo City.