Scielo RSS <![CDATA[Revista Portuguesa de Imunoalergologia]]> http://scielo.pt/rss.php?pid=0871-972120220003&lang=pt vol. 30 num. 3 lang. pt <![CDATA[SciELO Logo]]> http://scielo.pt/img/en/fbpelogp.gif http://scielo.pt <![CDATA[Imunoalergologistas - O que nos distingue, o que queremos acrescentar?]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0871-97212022000300165&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt <![CDATA[Microbioma cutâneo e dermatite atópica]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0871-97212022000300169&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt RESUMO O microbioma é definido como o conjunto dos microrganismos, os seus genomas e respetivas interações num determinado nicho ecológico. O estudo da composição do microbioma cutâneo tem sido alvo de interesse nos últimos anos, não só em indivíduos saudáveis, como na presença de doenças cutâneas, como é o caso da dermatite atópica (DA). Esta é uma doença complexa e multifatorial dependente de fatores ambientais e do hospedeiro subjacentes à sua patofisiologia. Diversos estudos têm demonstrado uma diminuição da diversidade do microbioma cutâneo nos doentes com DA, especificamente com diminuição de bacteroidetes, fusobacteria e proteobacteria e aumento de actinobacteria e firmicutes, mais especificamente estirpes de Staphylococcus aureus. Esta variação parece estar relacionada com a gravidade da doença e com a presença de exacerbações. Várias terapêuticas da DA apresentam capacidade para modular o microbioma cutâneo, nomeadamente determinados emolientes, corticóides tópicos e inibidores da calcineurina tópicos, têxteis funcionais com propriedades antisséticas, banhos de hipoclorito de sódio, técnicas de fototerapia e climatoterapia, bem como terapêuticas mais inovadoras, como é o caso do dupilumab. À medida que surgem novas terapêuticas para o controlo da doença, nomeadamente novos imunomoduladores tópicos e sistémicos, o estudo do potencial terapêutico e preventivo do microbioma cutâneo na DA carece ainda de investigação, estando em desenvolvimento tratamentos para a doença que atuem primariamente na modulação da composição do microbioma, como é o caso da utilização de probióticos tópicos ou orais e transplantes de microbioma.<hr/>ABSTRACT The microbiome is defined as the set of microorganisms, their genomes, and respective interactions in a specific ecological niche. Studying the composition of the skin microbiome has been highlighted in recent years, not only in healthy individuals, but also in the presence of skin diseases, such as atopic dermatitis (AD). This is a complex and multifactorial disease with host and environmental factors underlying its pathophysiology. Several studies have shown a decrease in the diversity of the skin microbiome in AD patients, specifically with a decrease in bacteroidetes, fusobacteria and proteobacteria, and an increase in actinobacteria and firmicutes, more specifically strains of Staphylococcus aureus. It seems to be related to the severity of the disease and the presence of exacerbations. Several AD therapies can modulate the skin microbiome, including certain emollients, topical corticosteroids and calcineurin inhibitors, functional textiles with antiseptic properties, sodium hypochlorite baths, phototherapy and climatotherapy techniques, as well as more innovative treatments, as the case of dupilumab. As new therapies for disease control emerge, namely new topical and systemic immunomodulators, the study of the therapeutic and preventive potential of the cutaneous microbiome itself still needs further investigation, with the development of treatments that act primarily in the modulation of the microbiome composition, such as the use of topical or oral probiotics and microbiome transplants. <![CDATA[Impacto da alergia medicamentosa na avaliação do risco de anafilaxia na vacinação COVID-19: Experiência de um serviço de imunoalergologia]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0871-97212022000300191&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt RESUMO Fundamentos: A vacinação contra a COVID‑19 é essencial para o controlo da pandemia. As reações adversas após a vacinação são comuns, embora a anafilaxia seja rara. Objetivos: Caracterizar as reações imunoalergológicas que motivaram referenciação pré‑vacinação dos cuidados de saúde primários (CSP), analisar o impacto da alergia medicamentosa nesta referenciação e avaliar o resultado da vacinação após estratificação do risco. Métodos: Estudo observacional retrospetivo, com inclusão dos doentes referenciados à consulta de Imunoalergologia de um hospital terciário a partir dos CSP para avaliação do risco de reações de hipersensibilidade (RHS) graves à vacina contra a COVID‑19 entre janeiro‑junho de 2021. A estratificação do risco foi efetuada de acordo com o protocolo do serviço. Resultados: De um total de 733 doentes referenciados dos CSP, 510 foram admitidos, dos quais 445 foram avaliados, 369 (83%) do sexo feminino, média de idades 66±13 anos [20‑99 anos], 122 (27%) atópicos. A maioria (n=349, 78%) foi referenciada por reações prévias a medicamentos, dos quais 69 (15,5%) por reações a vacinas. Os anti‑inflamatórios não esteroides (n=97, 51%) e os antibióticos (n=70, 36%) foram os mais reportados nas suspeitas/ hipersensibilidade confirmada a fármacos. O perfil das reações medicamentosas diferiu nos doentes de baixo risco (61% com RHS, 39% anafilaxia) e de risco intermédio/elevado (92% com RHS, 65% anafilaxia). Após avaliação, 323 doentes foram encaminhados para vacinação no centro de vacinação, dos quais 280 receberam pelo menos uma dose da vacina. Dois doentes tiveram agravamento da urticária crónica e uma teve reação vasovagal após a vacina. Foram vacinados em meio hospitalar 122 doentes, dos quais 69 receberam uma dose da vacina. Apenas dois apresentaram reações cutâneas ligeiras. Conclusões: A alergia medicamentosa foi o principal motivo de avaliação do risco pré‑vacinação. A maioria dos doentes foi vacinada no centro de vacinação sem intercorrências. O protocolo utilizado foi eficaz, sem reações de relevo nem casos de anafilaxia.<hr/>ABSTRACT Background: COVID‑19 vaccination is essential for the pandemic control. Adverse reactions after vaccination are common, although anaphylaxis is rare. Objectives: To characterize the immunoallergological reactions responsible for pre‑vaccination referral by Primary Care (PC), to analyze the impact of drug allergy on this referral, and to evaluate the vaccination outcome after risk stratification. Methods: Retrospective observational study including patients referred by PC to the Allergy &amp; Clinical Immunology Department of a tertiary hospital to evaluate the risk of severe hypersensitivity reactions (HSR) after COVID‑19 vaccination, from January to June 2021. Risk stratification was carried out in accordance with the Allergy &amp; Clinical Immunology Department’s protocol. Results: From a total of 733 patients referred by the CSP, 510 were admitted, 445 of which were evaluated, 369 (83%) females, mean age 66±13 years [20‑99 years], 122 (27%) atopic. The majority (n=349, 78%) were referred due to previous drug reactions, of whom 69 (15.5%) due to vaccine reactions. Nonsteroidal anti‑inflammatory drugs (n=97, 51%) and antibiotics (n=70, 36%) were the most reported drugs in suspected/confirmed HSRs. Drug reaction profile differed in low‑risk (61% with HSR, 39% anaphylaxis) and intermediate/high risk (92% with HSR, 65% anaphylaxis) patients. After risk assessment, 323 patients were referred for vaccination at the vaccination center, of whom 280 received at least one dose of the vaccine. Two patients had chronic urticaria worsening and one patient had a vasovagal reaction after the vaccine. 122 patients were vaccinated at the hospital, of whom 69 received one dose of the vaccine. Only two patients had mild skin reactions. Conclusions: Drug allergy was the main cause for pre‑vaccination risk assessment. Most patients were vaccinated at the vaccination center with no HSR. Risk assessment protocol was effective, with no significant reactions or cases of anaphylaxis. <![CDATA[Rinossinusite crónica com e sem polipose nasal]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0871-97212022000300207&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt RESUMO A rinossinusite crónica, considerada atualmente um problema de saúde pública, é um grupo heterogéneo de doenças com etiologia multifatorial e caracteriza‑se pela presença de sintomas nasossinusais caraterísticos, em associação com evidência clínica ou imagiológica de inflamação. Pode ser subdividida em rinossinusite crónica sem polipose nasal (RSCsPN) e em rinossinusite crónica com polipose nasal (RSCcPN), existindo várias patologias que podem ser consideradas subfenótipos adicionais da rinossinusite crónica. É também importante ter em conta as principais patologias que devem ser consideradas no seu diagnóstico diferencial. O tratamento médico de eleição é dirigido à inflamação nasossinusal, sendo o tratamento cirúrgico necessário nos doentes refratários ao tratamento médico ou com contraindicação à realização do mesmo. Este artigo tem por objetivo rever a informação disponível na literatura sobre a rinossinusite crónica, tendo como ponto de partida um caso clínico de um doente com RSCcPN seguido em consulta de Imunoalergologia.<hr/>ABSTRACT Chronic rhinosinusitis, currently considered a public health problem, is a heterogeneous group of entities with a multifactorial etiology and is characterized by the presence of characteristic nasosinusal symptoms in association with clinical or radiographic features of inflammation. It can be subdivided into chronic rhinosinusitis without nasal polyps (CRSsNP) and chronic rhinosinusitis with nasal polyps (CRSwNP), with several variants that can be considered as additional chronic rhinosinusitis subphenotypes. It is also important to take into consideration its main differential diagnosis. The preferred medical treatment should be directed towards nasosinusal inflammation. Surgical treatment might be necessary in patients who are refractory or present contraindications to medical treatment. This paper aims to review the literature on chronic rhinosinusitis presenting a clinical vignette of a patient with CRSwNP followed in an Allergy and Clinical Immunology Department as a starting point. <![CDATA[Anafilaxia a beta-lactâmicos - Quando a tolerância não exclui alergia]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0871-97212022000300223&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt RESUMO Os beta-lactâmicos são uma das principais causas de anafilaxia nos adultos. Descrevemos dois casos de doentes com sintomas de anafilaxia após toma de beta-lactâmicos que, após resolução da reação inicial, mantiveram terapêutica e toleraram um curso completo de tratamento. Na investigação efetuada, os testes cutâneos foram positivos para o beta-lactâmico suspeito e a prova de provocação identificou beta-lactâmico alternativo. A aparente “tolerância” após a reação alérgica poderá dever-se ao facto de a anafilaxia ter levado a consumo dos mediadores da inflamação alérgica, permitindo uma tolerância temporária dos mastócitos e basófilos ao respetivo fármaco, a qual se manteve por exposição contínua ao mesmo. Alerta-se para a possibilidade de a tolerância após reação alérgica a fármacos poder ser ilusória. Assim, destaca-se a importância de realizar investigação alergológica em situações de tolerância imediatamente após anafilaxia, que permitirá excluir/confirmar a existência de hipersensibilidade e reduzir o risco de recorrência de quadros potencialmente fatais.<hr/>ABSTRACT Beta-lactams are a major cause of anaphylaxis in adults. We describe two cases of patients with symptoms of anaphylaxis after taking beta-lactams that after the resolution of the initial reaction were able to keep the drug and tolerated a completed treatment period. During the investigation, the skin tests were positive for the suspected beta-lactam and the patients underwent a drug provocation test, which identified an alternative beta-lactam. We suggest that anaphylaxis led to a consumption of mediators of the allergic inflammation, allowing a temporary tolerance of mast cells and basophils to the drugs in question, which was maintained by continuous exposure. We intent to alert to the possibility that tolerance after an allergic reaction to drugs may be misleading. Thus, the importance of carrying out allergic investigation in situations of tolerance immediately after anaphylaxis, which will allow to exclude/confirm the existence of hypersensitivity and reduce the risk of recurrence of potentially fatal conditions. <![CDATA[Oral tolerance induction protocol to egg white - A report of three pediatric cases]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0871-97212022000300229&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt ABSTRACT Food allergies are the main cause of anaphylaxis in children. Cow’s milk and egg white are the most common agents and elimination diets are considered the current strategy for their management. Many children can tolerate increasing amounts of the known allergen, and thus, oral tolerance induction protocols seem to be a promising approach. The authors present a protocol drawn up in a pediatric allergic diseases’ outpatient clinic, at a level II hospital, with the aim of egg white oral tolerance induction. During the protocol there is an increase in the amount of egg white offered to children, at the end, tolerance is tested with the ingestion of an entire egg. The protocol was performed in three children with anaphylaxis to egg white. Two children completed the protocol successfully. Oral tolerance to egg white allows a less restrictive diet and improves the quality of life of the patients and their caregivers.<hr/>RESUMO A alergia alimentar é a principal causa de anafilaxia nas crianças. Os principais alimentos responsáveis são o leite e a clara de ovo, e as dietas de evicção são a principal abordagem terapêutica. Muitas crianças conseguem tolerar quantidades progressivamente maiores do alergénio em causa, o que torna os protocolos de indução de tolerância oral uma abordagem promissora. Apresentamos um protocolo, elaborado na consulta de pediatria de doenças alérgicas num hospital nível II, cujo objetivo é a indução de tolerância oral à clara de ovo. Durante o protocolo há um aumento progressivo da quantidade de clara de ovo oferecida às crianças e no fim a tolerância é testada com a ingestão de um ovo inteiro. O protocolo foi iniciado em três crianças com anafilaxia à clara de ovo. Duas conseguiram concluí-lo com sucesso. A tolerância à clara de ovo permite uma dieta menos restritiva melhorando a qualidade de vida dos doentes e seus cuidadores.