Scielo RSS <![CDATA[Etnográfica]]> http://scielo.pt/rss.php?pid=0873-656120210002&lang=pt vol. 25 num. 2 lang. pt <![CDATA[SciELO Logo]]> http://scielo.pt/img/en/fbpelogp.gif http://scielo.pt <![CDATA[Construindo o “bom trabalhador”: inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612021000200289&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Neste texto, analisamos os processos de inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, tendo como foco uma análise curricular pedagógica e o cotidiano de interações entre professores e aprendizes de um curso de capacitação para pessoas com deficiência intelectual e/ou psicossocial. Vemos que, pensando nos modelos de “trabalhador ideal” exigidos pelo mercado, os esforços pedagógicos destes cursos acabam por “moldar” essas pessoas a um padrão considerado “mais aceitável”. Um dos efeitos desta ação está na responsabilização do indivíduo pelo sucesso ou fracasso de sua experiência, o que deixa em segundo plano a necessidade de adaptação das empresas às suas especificidades. Assim, chamamos a atenção para as moralidades e racionalidades - com relação à deficiência, classe social e geração - implícitas nestes cursos e, principalmente, para a necessidade de incorporação de uma perspectiva voltada para o modelo social da deficiência nos processos de inclusão como um todo.<hr/>Abstract In this paper, we analyse the processes of inclusion of people with disabilities in the labour market, focusing both on a pedagogical curricular analysis, and on the daily interaction between teachers and apprentices of a training course for people with intellectual and / or psychosocial disabilities. We argue that, thinking of the “ideal worker” models demanded by the labour market, the pedagogical efforts of these courses eventually “shape” these people to a standard considered “more acceptable”. One of the effects of this action is on the blame of the individual for the success or failure of their experience, which leaves in the second place the need of adapting the companies to their specificities. Thus, we highlight the moralities and rationalities - related to the disability, social class and generation - that are implicit in these courses and, call the attention mainly to the need to incorporate a perspective focused on the social model of disability in the inclusion processes as a whole. <![CDATA[When women tell: gender relations and historical narratives on an old rural property]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612021000200315&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumen En este artículo me baso en un trabajo de campo realizado en las tierras de una gran propiedad rural del Nordeste de Brasil, hoy desaparecida. Parto de la historia sobre dicha propiedad que me cuentan antiguos habitantes del lugar que aún viven allí. Me interesa mostrar que esa historia, tanto en su contenido como en las dinámicas sociales de su narración, deja fuera las vivencias y los relatos de las mujeres. También las cuestiones académicas que llevo al trabajo de campo son asociadas con experiencias fundamentalmente masculinas. En el artículo exploro las narrativas que quedan fuera de la historia. En éstas asoman vivencias específicas de género, las cuales ocupan una posición marginal en los ámbitos enunciativos del lugar.<hr/>Abstract This article is based on a fieldwork carried out in the lands of a former rural property in northeastern Brazil. I consider the history of this property as told by its old inhabitants, who still live there. I intend to demonstrate that the content as well as the social dynamics of their narrations leave out the experiences and the accounts of women. Also, the categories of social sciences that I take to the fieldwork are predominantly associated with masculine experiences. In this paper I explore the marginalized narratives that fall outside the history of this place. In these, specific gender experiences emerge. <![CDATA[Close and distant memories: from the stories about the local experience of violence to the configuration of a commemorative narrative in Colombia]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612021000200335&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumen El artículo analiza la forma en que la construcción de una narrativa oficial sobre el pasado violento precisa determinados marcos de interpretación narrativos que posibiliten transformar los relatos locales sobre la violencia armada en una memoria nacional conmemorada. Al respecto, el texto afirma que los informes oficiales de memoria son necesariamente dispositivos narrativos distantes para los actores locales, de cuya memoria esos informes buscan ser reflejo. Se configura así una tensión entre las memorias cercanas locales que circulan dentro de las propias comunidades y las memorias lejanas conmemorativas que se dirigen hacia el espacio social y político externo donde tienen lugar las disputas por la memoria nacional. El artículo está basado en un trabajo de campo extenso realizado en las poblaciones palafitas de la Ciénaga Grande de Santa Marta, zona que en el año 2000 fue epicentro de dos masacres realizadas por ejércitos paramilitares de extrema derecha, dentro del contexto del conflicto armado colombiano.<hr/>Abstract The article analyzes the way in which the construction of an official account about the violent past requires specific narrative interpretation frameworks that make it possible to transform local stories about armed violence into a commemorated national memory. In this regard, the paper states that the official reports of memory are perceived as distant narrative devices by the local actors whose memory these reports seek to reflect. A tension is thus established between the local close memories that circulate within the communities themselves and the distant commemorative memory that is directed toward the external social and political space where the disputes for the national memory take place. The article is based on an extensive fieldwork carried out in the pile dwelling populations of the Ciénaga Grande de Santa Marta, an area that was the epicenter of two massacres executed by right-wing paramilitary armies in 2000, within the context of the Colombian armed conflict. <![CDATA[Quem faz gemer a terra? Notas sobre o cotidiano de uma pesquisa de emprego e desemprego]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612021000200357&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Este trabalho apresenta uma etnografia de práticas das ciências humanas. Em uma experiência de autoantropologia, o autor busca seguir a trajetória de construção dos dados estatísticos da Pesquisa de Emprego e Desemprego da Região Metropolitana de Porto Alegre (PED-RMPA). Para tanto, utiliza-se de participação observante (pois, além de etnógrafo, é um dos etnografados), registrada em diário de campo, entrevistas com colegas e consulta a documentos que norteiam a pesquisa, especialmente manuais. Esses materiais sugerem que um dado estatístico é um coletivo, capaz de carregar todo um universo. Busca-se, então, refletir sobre a capacidade de agência das coisas que compõem esse universo. E, por fim, sobre a viabilidade de uma experiência de autoantropologia.<hr/>Abstract This paper shows an ethnography of human sciences practices. In an autoanthropology experience, the author aims to follow the trajectory of construction of statistical data in the case of Pesquisa de Emprego e Desemprego da Região Metropolitana de Porto Alegre (PED-RMPA). Therefore, the used methodology comprehends the observant participation (because the researcher is both ethnographer and member of the researched group), whose notes were registered in a field diary, interviews with workmates and analyses of PED’s documents, especially the manuals. These materials suggest statistical data is a collective that can carry a universe. This paper also reflects on the ability of agency of things that make up this universe. And about the viability of an autoanthropology experience. <![CDATA[Trilhas de sangue e mel: esboço peregrino de uma cosmoecologia negra, no sul do Brasil]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612021000200379&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Ao seguir cabras criadas em uma comunidade negra rural do extremo sul do Brasil até casas de religião de matriz africana na região metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, este artigo pretende-se uma narrativa peregrina (Ingold 2015) de perspectiva contraidentitária (Anjos 2006) das trilhas e zonas de passagem em que quilombos e terreiros criam cosmoecologias comuns. No entrelaçamento de multiplicidades concretas, percebe-se a partilha do que se pode chamar de uma cosmoecologia negra, imbricando (e implicada em) transformações mútuas entre diferentes jeitos de estar negro no mundo - frisa-se a noção de cosmoecologia, na qual estão reunidas cosmologia e ecologia, e os caminhos e destinos interligados de humanos, deuses, cabras, ervas, terreiros e quilombos (Despret 2016).<hr/>Abstract When following goats raised in a rural black community from the extreme south of Brazil to houses of Afro-brazilian religion in the metropolitan region of Porto Alegre, Rio Grande do Sul, this article intends to be a peregrine narrative (Ingold 2015) from a perspective of counter-identity (Anjos 2006) of the trails and zones of passage in which quilombos and terreiros create common cosmoecologies. In the intertwining of concrete multiplicities there is the sharing of what can be called a black cosmoecology, interlinking mutual transformations between different ways of being black in the world. The notion of cosmoecology is emphasized, in which are gathered cosmology and ecology, and the intertwined paths and destinies of humans, gods, goats, herbs, terreiros and quilombos (Despret 2016). <![CDATA[Activism and political aesthetics in the neoliberal city]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612021000200405&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumen Este artículo analiza el desarrollo de formas de militancia en articulación con cómo se experimenta y produce el espacio urbano en el barrio de La Boca, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina. Muestro que el Estado y los desarrolladores privados transformaron el espacio barrial apoyándose en la estética de ciertas prácticas populares para visibilizar espacios y sentidos de comunidad orientados al turismo, al tiempo que ocultaron otros sujetos, prácticas y formas de vida. Paralelamente, despliego el modo en que la Organización Social y Política Los Pibes, junto a otras organizaciones y militantes barriales, disputaron este reparto de lo sensible desde prácticas de militancia y formas de intervención estética en el espacio urbano. Sostengo que las estéticas fueron tanto un modo de conocimiento como de producción de geografías políticas que pusieron en cuestión las configuraciones espaciales de la desigualdad en la ciudad neoliberal.<hr/>Abstract This article analyses the development of forms of activism in articulation with the ways in which urban space is experimented and produced in the neighbourhood of La Boca, Buenos Aires, Argentina. I show that the State and private developers transformed this space based on the aesthetic quality of certain popular practices to make visible some areas and to promote ideas of community oriented to tourism; while other subjects, practices and forms of life were concealed. At the same time, I show how the social and political organisation Los Pibes, together with other neighbourhood based activists and organisations, sought to transform this distribution of the sensible through practices of activism and aesthetic interventions on urban space. I contend that aesthetics was a form of knowledge and also a way of producing political geographies that put into question the spatial configurations of inequality in the neoliberal city. <![CDATA[Introduction: getting emotional]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612021000200431&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumen Este artículo analiza el desarrollo de formas de militancia en articulación con cómo se experimenta y produce el espacio urbano en el barrio de La Boca, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina. Muestro que el Estado y los desarrolladores privados transformaron el espacio barrial apoyándose en la estética de ciertas prácticas populares para visibilizar espacios y sentidos de comunidad orientados al turismo, al tiempo que ocultaron otros sujetos, prácticas y formas de vida. Paralelamente, despliego el modo en que la Organización Social y Política Los Pibes, junto a otras organizaciones y militantes barriales, disputaron este reparto de lo sensible desde prácticas de militancia y formas de intervención estética en el espacio urbano. Sostengo que las estéticas fueron tanto un modo de conocimiento como de producción de geografías políticas que pusieron en cuestión las configuraciones espaciales de la desigualdad en la ciudad neoliberal.<hr/>Abstract This article analyses the development of forms of activism in articulation with the ways in which urban space is experimented and produced in the neighbourhood of La Boca, Buenos Aires, Argentina. I show that the State and private developers transformed this space based on the aesthetic quality of certain popular practices to make visible some areas and to promote ideas of community oriented to tourism; while other subjects, practices and forms of life were concealed. At the same time, I show how the social and political organisation Los Pibes, together with other neighbourhood based activists and organisations, sought to transform this distribution of the sensible through practices of activism and aesthetic interventions on urban space. I contend that aesthetics was a form of knowledge and also a way of producing political geographies that put into question the spatial configurations of inequality in the neoliberal city. <![CDATA[Emoções sustentáveis: palcos e bastidores da escravatura na Ilha de Goré]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612021000200437&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract More than merely symbolic, destinations of roots tourism such as Gorée Island (Senegal) are places where emotion about slavery is supposed to be experienced and displayed. UNESCO statements, political testimonies by distinguished visitors, performances of well-known African American artists and comments of tourists seem to testify this. I modestly argue that, by evoking feelings, presumably shared, about slavery in a setting that exacerbates emotions through touristic performances, the idea of international community is here re-enacted and sustained, under the principle of the universality of human rights. I believe that the global heritage regime promoted by UNESCO and other similar international platforms could be considered the strongest apparatuses to induce common belonging crosscutting national borders while spreading cosmopolitan liberal ethics and forms of cosmopolitan memory that are no longer primarily framed by the nation state. The question here, is that the very idea of international community is built with the same imagination, devices and displays and based on the same nationalist assumption of pan-cultural emotions that Anderson described for the rise of nations, but one that, paradoxically, is inter-national, made of nations: a metanation.<hr/>Resumo Mais do que meramente simbólicos, os destinos do turismo de raízes, como a ilha de Goré (Senegal), são lugares onde se espera que a emoção despoletada pela escravatura seja experienciada e exibida. Para isso contribuem as múltiplas declarações da UNESCO, os depoimentos políticos de visitantes ilustres, as performances de artistas afro-americanos conhecidos e os comentários registados pelos turistas. O meu modesto argumento é que a ideia de comunidade internacional, baseada no princípio da universalidade dos direitos humanos é recriada e reencenada, através da convocação dos sentimentos para lugares como este. O regime global do património promovido pela UNESCO e por outras plataformas institucionais similares deve ser considerado o aparato mais persuasivo para a criação de um sentimento de pertença coletiva, ultrapassando fronteiras nacionais e difundindo uma ética liberal e formas de memória cosmopolita que já não são definidas em função da moldura dos estados-nação. A questão é que a ideia de comunidade internacional mobiliza para a sua construção os mesmos dispositivos imaginativos e exibicionários e o mesmo pressuposto pancultural das emoções que Anderson descreve para a ascensão das nações, embora paradoxalmente, se assuma como inter-nacional, feita de nações: uma metanação. <![CDATA[Emoções e religião através do Atlântico: sentidos e orixás lusófonos]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612021000200465&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract For the past 30 years, the Afro-Brazilian religions have crossed the Atlantic, reaching Portugal. One of the aspects that the Portuguese find most appealing is the possibility of expressing their emotions freely, either through possession and the incorporation of entities whose performances are directly connected with a sense of emotional freedom, or because these religions proclaim a clear openness and acceptance of different races, sexual preferences or even other religious beliefs. Nevertheless, the process of becoming initiated as well as the ritual sequences are both strongly hierarchical, obeying norms that should not be transgressed in order to advance in one’s religious career. Split between such contradictory emotions, individuals manage them as a means to negotiate their identities within the religious group and outside of it (Wulff 2007). I will expand on the issues of emotional behavior, performance, and authenticity, connecting them with the case-study of the expansion of the Afro-Brazilian religions in Portugal. In order to do this, the performative side (Beeman 2007; Schechner and Appel 1990) of these religions and the relationship between emotions and issues of authenticity - anchored on the seminal work compiled by Thomas Fillitz and Jamie Saris in the book Debating Authenticity (2013) - will be discussed.<hr/>Resumo Nos últimos 30 anos, as religiões afro-brasileiras cruzaram o Atlântico, chegando a Portugal. Um dos aspetos que os portugueses consideram mais apelativos é a possibilidade de expressar livremente as suas emoções, quer através da posse e incorporação de entidades cujas atuações estão diretamente ligadas a um sentimento de liberdade emocional, quer porque estas religiões proclamam uma clara abertura e aceitação de diferentes raças, preferências sexuais ou mesmo outras crenças religiosas. No entanto, tanto o processo de iniciação como as sequências rituais são fortemente hierárquicas, obedecendo a normas que não devem ser transgredidas para avançar na carreira religiosa. Divididos entre essas emoções contraditórias, as pessoas gerem-nas como um meio de negociar as suas identidades dentro do grupo religioso e fora dele (Wulff 2007). Discutem-se aqui questões de comportamento emocional, performance e autenticidade, relacionando-as com o estudo de caso da expansão das religiões afro-brasileiras em Portugal. Para fazer isso, o lado performativo (Beeman 2007; Schechner e Appel 1990) dessas religiões e a relação entre emoções e questões de autenticidade - ancorada no trabalho seminal compilado por Thomas Fillitz e Jamie Saris no livro Debating Authenticity (2013) - será igualmente analisada. <![CDATA[O sofrimento e a esperança de um bailarino: recordar Still/Here, de Bill T. Jones, vinte e cinco anos após a sua estreia]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612021000200493&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract North American choreographer, Bill T. Jones started his activity as a professional dancer in the 1970s. Jones practices and thinks about art and creativity explicitly in its direct relationship not only with his own but larger communities life experience. Still/Here (1994) is a piece that, precisely, marks a milestone in the context of society and the art of the end of last century, particularly by addressing a relevant topic that has informed the experience of many people at that time in Euro-American society arising from HIV and AIDS crisis. In this paper, starting from the premise that reflexivity (Turner 1987) is a characteristic of theatrical dance, focusing on the modes of representation of emotional experiences on Jones’s work, and relating it to pieces created before and after Still/Here - namely, D-Man in the Waters, Achilles Loved Patroclus and Ursonate - intend to argue that these emotional expressions have a motivation that, beyond the psychobiological explanations (Lutz and White 1986), is only understandable if we consider the position (Rosaldo 1984) from which Jones lives his experiences and constructs his vision of the world, and a meaning that is only perceived in the light of the “biographical context” (Gell 1998) of the choreographer.<hr/>Resumo Coreógrafo norte-americano, Bill T. Jones iniciou a sua atividade como bailarino profissional na década de 1970. Jones pratica e reflete sobre a arte e a criatividade estabelecendo uma relação direta com a sua própria experiência de vida e a sociedade em que vive. Still/Here (1994) é uma peça que, precisamente, representa um marco no contexto da sociedade e da arte do final do século passado, nomeadamente por abordar um tema relevante que afetou a experiência de muitas pessoas na sociedade euro-americana naquela época decorrente da crise do HIV/SIDA. Neste texto, partindo da premissa de que a reflexividade (Turner 1987) é uma característica da dança teatral, atendendo aos modos de representação das experiências emocionais no trabalho de Jones, e concentrando-me em peças criadas antes e depois de Still/Here - a saber, D-Man in the Waters, Achilles Loved Patroclus e Ursonate -, argumentarei que a expressão emocional, para além das explicações psicobiológicas (Lutz e White 1986), tem uma motivação que só será compreensível se considerarmos a posição (Rosaldo 1984) a partir da qual Jones vive as suas experiências e constrói a sua visão de mundo e um significado que só é percebido à luz do “contexto biográfico” (Gell 1998) do coreógrafo. <![CDATA[Arte verbal e a expressão do inexprimível: fazer sentido da experiência sensorial]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612021000200513&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract Sensory matters have crossed paths with cultural scholarship for more than two centuries and have, during the past two decades, received renewed attention in ethnological fields and various publishing ventures. The working of the senses in tandem with cognition facilitates the experience of pleasure and pain, fear and elation - but to what extent can (or should) this realm, situated between individual experience and social coding, be accessible to cultural research? The paper probes a number of examples and methodological issues in grasping experiences and sites of interaction where sensations are expressed in a culturally shared fashion and explores which areas of research may profit particularly from an expanded ethnographic sensibility.<hr/>Resumo As questões sensoriais têm vindo a cruzar-se com os estudos culturais por mais de dois séculos e, durante as duas últimas décadas, receberam atenção renovada por parte dos campos etnológicos e em vários projetos editoriais. É o funcionamento dos sentidos em conjunção com a cognição que permite a experiência do prazer e da dor, do medo e da exaltação - mas até que ponto pode (ou deve) aceder-se a este campo, situado entre a experiência individual e a codificação social, a partir da pesquisa cultural? Este artigo acompanha uma série de exemplos e questões metodológicas explorando experiências e locais de interação onde as sensações são expressas de forma culturalmente partilhada, procurando áreas de pesquisa específicas que possam beneficiar com uma sensibilidade etnográfica expandida. <![CDATA[Técnica e aprendizagem: a <em>bykyrè</em> e as esteiras <em>Iny</em> da Coleção William Lipkind (1938)]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65612021000200541&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Entre os Iny, povos indígenas do Brasil mais conhecidos na literatura etnográfica como Karajá, um dos artefatos mais presentes nas aldeias é a bykyrè, termo na língua Iny utilizado para se referir à esteira. No presente artigo, proponho refletir sobre como o estudo etnográfico da bykyrè, realizado junto a professores Iny, a partir de uma abordagem processual da técnica e da aprendizagem, pode contribuir para entender persistências e transformações da técnica de uma geração para a próxima; e qual o lugar do acervo de fotografias e documentos da Coleção Lipkind (1938) do Museu Nacional (UFRJ) nesse processo. Seguindo a indicação de Ingold (2000, 2012) em tentar trazer as esteiras de volta à vida, após o trágico incêndio que destruiu a coleção em 2018, argumento que, seja através de noções como as de imitação prestigiosa (Mauss 2003, 1948, 2010), participação periférica (Lave e Wenger 1991), habilitação (Ingold 2000) ou educação da atenção (Gibson 1979), entender como se dá a entrada da criança na produção da bykyrè e o lugar da Coleção Lipkind, passa por uma etnografia fina da bykyrè enquanto aprendizagem de um processo técnico e precisa estar fortemente enlaçada a uma etnografia da relação entre gerações.<hr/>Abstract Among the Iny, indigenous peoples of Brazil best known in ethnographic literature as Karajá, one of the most present artifacts in the villages is a bykyrè, a term in the Iny language used to refer to mats. In this article, I propose to reflect on how the ethnographic study of bykyrè, conducted with Iny teachers, from a procedural approach of technique and of learning, can contribute to understanding persistences and transformations of technique from one generation to the next; and what is the place of the photographs and documents from the Lipkind Collection (1938) of the National Museum (UFRJ) in this process. Following the appointment of Ingold (2000, 2012) in trying to bring mats of Lipkind collection back to life, after the tragic fire that destroyed the collection in 2018, it is argued that understand how the child’s entry into the production of the bykyrè and the place of the Lipkind Collection, goes through a fine ethnography of the mats while learning a technical process and needs to be strongly linked to an ethnography of the relationship between different generations.