Scielo RSS <![CDATA[Psicologia]]> http://scielo.pt/rss.php?pid=0874-204919980002&lang=pt vol. 12 num. 2 lang. pt <![CDATA[SciELO Logo]]> http://scielo.pt/img/en/fbpelogp.gif http://scielo.pt <![CDATA[<b>Influência do contexto na percepção e nas representações sociais da morte</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20491998000200001&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt O estudo apresentado neste artigo integra-se numa investigação em que se pretende analisar e compreender as concepções que subjazem à construção psicossocial da morte, entre futuros profissionais de saúde que com ela irão lidar num contexto social público. Partimos do facto de que, nos nossos dias, a morte raramente acontece num contexto social privado - o que parece assumir contornos dramáticos. Neste estudo experimental investiga-se o efeito do contexto em que se observa a morte de uma pessoa (contexto privado ou familiar e contexto público ou hospitalar) no modo como a morte é representada numa população de estudantes de ambos os sexos e de três cursos universitários (biologia, enfermagem e medicina).<hr/>This study belongs to a larger research in which we intended to analyse and understand the social construction of death. We departed from the social fact that death rarely occurs in private contexts - and that seems to assume dramatic outlines. In the experiment reported here the effect of the context where death takes place (private or familiar and public or hospital) on the perceptions and emotions were analysed. Participants were biology, medicine and nursing students of both sexes. <![CDATA[<b>À semelhança do estudo de Chase e Simon</b>: <b>Sobre a memória de informação clínica por psicoterapeutas dinâmicos especialistas e não-especialistas</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20491998000200002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Psicoterapeutas de orientação psicodinâmica com diferentes graus de experiência, foram sujeitos, uns à condição de dois casos clínicos típicos e outros à condição de dois casos clínicos atípicos. Todos os psicoterapeutas foram confrontados com duas tarefas: (1) avaliação diagnóstica, e (2) tarefa de memória em que reconheciam a informação contida nos casos, depois de os terem visto separadamente durante seis minutos (para cada um). Os resultados mais importantes foram: os especialistas revelaram um desempenho superior na tarefa de memória ao reconhecerem um número significativamente maior de índices na condição de casos típicos, e face a informação incongruente emergiu uma superioridade dos não-especialistas. Estes resultados tornaram-se ainda mais pregnantes quando, na análise, se utilizou um critério de correcção das respostas mais abrangente ou benevolente, já que este permite obter uma medida mais sensível da memória. Estas diferenças não puderam ser atribuídas a uma capacidade superior de memória de qualquer dos grupos, uma vez que para a memória de índices irrelevantes o desempenho dos grupos foi idêntico. Adicionalmente, constatou-se um maior reconhecimento dos índices consistentes com o diagnóstico de psicose. Este resultado foi relacionado com o elevado número de diagnósticos de psicose que surgiram nos casos atípicos; e pode ser explicado por postulados teóricos baseados na teoria dos esquemas, que serão brevemente discutidos no presente estudo.<hr/>Psychodynamic therapists, with diíferent levels of clinical expertise, were presented with either two typical clinical cases or two atypical clinical cases. All subjects were submitted to two tasks: (1) diagnostic evaluation; (2) recognition test of the information presented earlier in the two clinical cases, after seeing each for 6 minutes. The most interesting results were: experts had recognition memory superior to that of the non-experts, meaning that they more accurately recognized information seen before, in the typical clinical cases condition. When information included in clinical cases was diagnostically inconsistent, creating atypical cases, however, the non-experts were superior. These results were even more emphasized when a more benevolent response correction criterion was adopted, which is a more sensitive memory measure. This result could not be attributed to a generally superior memory ability of any of the groups, for when a irrelevant information memory measure was in consideration, the experts could then do no better in the recognition test than non-experts. Adicionally, the results in the recognition memory test were superior for information consistent with a psychotic diagnosis. This result was related to the enormous number of psychotic diagnosis given by the therapists to the atypical cases persented; and can be explained by the theoretical assumptions of schema theory. <![CDATA[<b>Percepção de variabilidade de grupo</b>: <b>Modelos de compreensão, resultados empíricos e tendências actuais</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20491998000200003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Normalmente, os membros de grupos aos quais não pertencemos, são percebidos de forma menos diferenciada e complexa do que os membros de grupos, aos quais pertencemos. Este fenómeno, a que se chama efeito de homogeneidade do exogrupo, tem sido um dos principais alvos de interesse na investigação em percepção social intergrupal. Neste artigo são discutidas as principais medidas, os resultados e as abordagens explicativas deste efeito. São ainda consideradas as evoluções mais recentes, como sejam o estudo dos factores contextuais que influenciam a percepção de variabilidade de grupo, nomeadamente a percepção de variabilidade em contextos maioritários e minoritários, e a aplicação dos conhecimentos sobre percepção de variabilidade a outros domínios da psicologia social. Por fim é referida a necessidade de se considerar a percepção de variabilidade de grupo em relação com as necessidades funcionais do perceptor social.<hr/>Normally outgroup members are perceived in a less differentiated and complex fashion than ingroup members. This outgroup homogeneity effect has been one of the most important fields of interest in research on intergroup perception. In this article, measures of perceived group variability, main results and explanations for this effect are discussed. Moreover, recent trends in research are presented: namely, an overview of contextual factors affecting perceived group variability, such as the majority and minority contexts, and the application of perceived group variability to other areas of social psychology. Finally, the need to consider perceived group variability in relation to functional needs of the social perceiver is discussed. <![CDATA[<b>Da psicologia à biologia evolutiva</b>: <b>Para uma abordagem integrada da personalidade</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20491998000200004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt O conceito de personalidade é complexo e não inteiramente consensual. No entanto, ultrapassados os detalhes das várias definições operacionais, permanece constante o facto da personalidade caracterizar um modo individual de interagir com o mundo e de um dos seus aspectos mais marcantes e menos susceptíveis de mudança ser o modo particular como o indivíduo se relaciona com os outros, conferindo às suas acções um determinado grau de previsibilidade. A personalidade, enquanto atribuição de outra espécie que não a humana, foi praticamente tabu até à década de 80, quando os etólogos ocupados com as espécies filogeneticamente mais próximas da humana começaram a referir-se ao carácter bem demarcado de cada um dos seus objectivos de estudo - chimpanzés (Van troglodytes spp) - (e. g., De Waal, 1982; Goodall, 1986) e Stevenson-Hinde (1983a; 1983b) e colaboradores (Stevenson-Hide et al., 1980) publicaram os resultados de um estudo prolongado de Macacos Rhesus (Macaca mulatta). Com a presente revisão procura-se sobretudo integrar perspectivas normalmente não cruzadas e apresentar uma visão da personalidade como atributo biológico, ou seja, caracterizado por uma modalidade (entre múltiplas alternativas) de adaptação ao ambiente, naturalmente passível de selecção, ainda que grandemente elaborada em interacção com o meio e de modo algum inevitavelmente predeterminada.<hr/>The concept of personality is a complex and not entirely consensual. However, when we overcome the details of many operational definitions, we find the remaining constant - that personality characterises an individual's particular mode of interaction with the surrounding world, conferring to one's actions a given degree of predictability. Conceiving personality as an attribute of non-human species was almost a taboo until de 80's, when ethologists studying the species phylogenetically closer to humans began to refer to the clearly differentiated character of each one of their study subjects - the chimpanzees (Pan troglodytes spp.) - (e. g. De Waal, 1982; Goodall, 1986) and Stevenson-Hinde (1983a; 1983b) and collaborators (Stevenson-Hinde et al., 1980) published the results of a long-term study of rhesus macaques (Macaca Mulata). With the present review, an attempt is made to integrate perspectives that usually never intersect, and present a vision of personality as a biological attribute, i. e., characterising a mode (among multiple alternatives) of adaptation to the environment, naturally subjected to selection, despite being largely elaborated in interaction with the environment and certainly not predetermined. <![CDATA[<b>Meios De comunicação Social e construção da Realidade Social</b>: <b>Crescer com a violência televisiva em Portugal</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20491998000200005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt No âmbito da questão sobre os efeitos directos e indirectos da violência na TV nas crianças e nos jovens, são referidos dois estudos feitos em Portugal. O primeiro inquiriu 3928 sujeitos entre os 9 e os 17 anos acerca do tempo diário de exposição à TV e acerca dos seus heróis preferidos no écran. Os resultados mostraram: 1) que o tempo médio diário de exposição à TV durante a semana é de 2h 12m e que apenas 10% das crianças do 1º ciclo e 7% das do 2.º ciclo vêem mais do que 4h diárias; 2) que os heróis preferidos pela maioria dos jovens telespectadores são heróis violentos pró-sociais - usam a violência instrumentalmente, tendo como objectivos últimos a reposição da ordem e da justiça violadas, e 3) são os espectadores mais assíduos (exposição superior a 4h diárias) que mais preferem este tipo de heróis, enquanto os espectadores menos assíduos (exposição inferior a 1 / 2h diária) preferem os heróis não violentos. O segundo estudo questionou 363 adolescentes, entre os 14 e os 18 anos, acerca das suas percepções de medo de vitimação, de locus de controlo e de confiança nos outros, bem como acerca da sua exposição diária à TV. Uma ANOVA efectuada sobre os valores dos sujeitos nos quatro factores de percepção da realidade social em que as questões se organizaram, tendo como variáveis independentes o tempo de exposição à TV e o sexo dos sujeitos, mostrou que estas duas variáveis interagiam significativamente para modulam o factor Medo-Controlo externo: com maior exposição à TV, as raparigas intensificam a crença na probabilidade de serem vítimas de violência e na percepção de controlabilidade externa nessas situações, enquanto os rapazes reduzem o medo de vitimação e aumentam a percepção de controlabilidade pessoal nessas mesmas situações. Os resultados são discutidos à luz da teoria da inculcação de crenças (Gerbner et al., 1979) enquanto efeito indirecto da exposição elevada à TV.<hr/>Within the topic of direct and undirect effects of TV violence on children and adolescents, two studies with Portuguese samples are presented. In the first study 3928 subjects aged 9-17 answered a questionnaire about their TV viewing schedule and their TV heroes. Results showed: 1) that the subjects' average daily TV viewing is 2h 12m and that only 10% of younger children and 7% of the older ones view more than 4h a day; 2) that most preferred heroes are violent but pro-social, meaning that they only use instrumental violence to protect society against evil caracters, and 3) that high viewers (more than 4h a day of TV viewing) significantly prefer this kind of heroes while low viewers significantly prefer non-violent heroes. In the second study 363 subjects aged 14-18 answered a questionnaire about their perceptions of social reality conceming fear of victimization, locus of control and trust on others, besides their TV viewing schedule. An ANOVA performed on the four factors of the subjects' perception of social reality with sex and TV viewing schedule as independent variables showed a main effect of sex and a significant interaction between sex and TV viewing on the Fear-Extemal Control factor: while high-viewing girls increase their fear of victimization and rely on external control more than low-viewing girls to deal with violence, high viewrng boys decrease their fear of victimization and perceive more internal control than low viewing boys. The discussion of these results highlights Gerbner et al (1979) cultivation hypothesis as an undirect effect of television for high viewers. <![CDATA[<b>Categorização e Interdependência</b>: <b>Duas perspectivas sobre formação de grupos e relações intergrupais</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20491998000200006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Neste artigo revemos o debate que tem sido travado entre as perspectivas da interdependência e da identificação social sobre a formação de grupos e o comportamento intergrupal. O cerne deste debate consiste no papel atribuído por cada uma das perspectivas à interdependência e à categorização. Mostramos como a perspectiva da identificação social pretendeu ter excluído a interdependência da formação do grupo e dos processos de discriminação entre grupos, a favor da categorização, e como dados recentes obtidos pelos autores da perspectiva da interdependência vieram questionar a legitimidade dessas conclusões.<hr/>This article presents the controversy between interdependence and social identification perspectives. This debate concerns the role assigned to interdependence and categorization on group formation and intergroup behaviour. We explain how the social identification perspective has pretended to exclude interdependence from group formation and intergroup discrimination and how the data obtained by the interdependence authors sheds some doubts on those conclusions. <![CDATA[<b>Percepção de riscos e culturas de segurança nas organizações</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-20491998000200007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt A segurança nas organizações tem constituído recentemente um campo de pesquisa para a qual as ciências comportamentais têm vindo a ser chamadas. Neste artigo, pretende-se (1) salientar a importância dos factores sociais na génese dos acidentes de trabalho (na identificação de uma situação como perigosa, na avaliação da probabilidade de ocorrência de um acidente e na decisão pelo curso de acção seguro) para mostrar que o chamado erro humano nunca é o erro de um indivíduo isolado, mas o resultado de uma série de processos sociais que culminam num acidente e (2) mostrar como a forma como é vista a prevenção dos acidentes ao nível das organizações está dependente de uma visão mais geral da empresa, englobando-se a chamada cultura organizacional de segurança na cultura mais geral da empresa.<hr/>Organisational safety is a recent field of research in behavioural Sciences. In this paper we aim at (1) stressing the importance of social factors on the origin of work accidents (on the classification of a situation as dangerous, on the judgement of probabilities associated with accidents, and on the individual decision for a safe behaviour). This point supports our claim that accidents cannot be conceived as the error of a single individual, but as the result of ongoing social processes. (2) showing that the organisational strategies for accident prevention are dependent on a more global view of the organisation. Specifically, we maintain that safety culture should be conceived as a part of a more global organisational culture.