e-Journal of Portuguese History

Managing Diversity in the Portuguese Empire

Abstract The production of diversity and its transformation into hierarchy and social inequality in the Portuguese Empire are at the core of this essay. Conversion of local populations and slaves to Catholicism was the main strategy used by the Portuguese Empire to create allegiance and reduce diversity. Recognition and integration of indigenous institutions into the imperial political system meant indirect rule at local level and the acceptance of some degree of institutional hybridism with different normative layers. However, slave trade, slavery and classification of populations with discrimination and exclusion of indigenous people constantly produced inequality, while colonial violence and the assertion of Portuguese rule changed local dynamics of power.

Resumo A produção da diversidade e a sua transformação em hierarquia e desigualdade social no Império português estão no centro deste ensaio. A conversão de populações locais e escravos ao Catolicismo foi a principal estratégia usada pelo Império Português para criar lealdade e reduzir diversidade. O reconhecimento e a integração de instituições indígenas no sistema político imperial significou governo indireto a nível local e aceitação de um grau de hibridismo institucional com diferentes camadas normativas. No entanto, o tráfico de escravos, a escravidão e a classificação das populações com discriminação e exclusão de indígenas produziram constantemente desigualdades, enquanto a violência colonial e a afirmação do domínio português alterou as dinâmicas locais de poder.

A Government of Indigenous Peoples: Administration, Land, and Work in the State of Brazil during the Portuguese Empire (1548-1822)

Abstract The colonial administration and management of the indigenous peoples of Brazil has been a recurrent theme in historiography. However, the Amerindians themselves, important actors in the process of constructing colonial society, are largely absent from the historical literature. This article’s objective is to critically debate, using modern historiographic methods and theory, three important aspects for understanding the governance of the Amerindians of Brazil: the religious administration, the control of native lands, and the management of their labor. This requires consideration of the indigenous people as actors in their own history and of their actions of resistance, adaptation, and negotiation when engaging with the colonial powers.

Resumo A administração colonial e a gestão dos povos do Brasil foram temas recorrentes de várias análises historiográficas. Nota-se, contudo, a ausência de atores importantes no processo de construção da sociedade colonial: os povos indígenas. O objetivo desse artigo é debater, a partir de historiografia recente, aspectos centrais para o entendimento da governança dos povos indígenas do Brasil: a administração religiosa, a gestão de suas terras e o controle da mão de obra. Serão levados em consideração o papel dos indígenas enquanto sujeitos históricos, bem como suas relações com os agentes da Coroa, balizadas por resistências, adaptações e negociações.

A Matter of Control: Colonial and Humanitarian Population Management Strategies, Angolan Refugees’ Resistance, and the Politics of Difference (1961-1964)

Abstract This article analyses international humanitarian population management strategies deployed in response to the Angolan refugee crisis in the Congo-Leopoldville in the first years of the decolonization war. It contends that the implemented strategies derived from humanitarian organizations’ limitations in adapting to sub-Saharan contexts and were based primarily on host-state needs rather than on refugees’ claims, reflecting, in turn, a shift from a legalistic to a developmental approach in humanitarian assistance. Decolonization specificities and refugee protests were also disregarded in this context, contributing both to the failure of humanitarian population management policies and an extension of the politics of difference from the imperial to the humanitarian realm.

Resumo Este artigo analisa as estratégias humanitárias de gestão populacional implementadas em resposta à crise de refugiados angolanos no Congo-Leopoldville nos primeiros anos da guerra de descolonização. Argumentamos que estas estratégias derivaram das limitações das organizações humanitárias na sua adaptação a contextos Subsaarianos e baseavam-se, primordialmente, nas necessidades dos Estados de acolhimento em contraponto com aquelas dos refugiados. Esta questão reflectiu, por sua vez, uma alteração nas abordagens humanitárias: de legalistas para desenvolvimentistas. As especificidades dos contextos de descolonização e os protestos de refugiados foram descurados neste contexto, contribuindo tanto para o fracasso das políticas de gestão populacional como para a extensão das políticas da diferença do espaço imperial para o espaço humanitário.

Race and Labor in Beira during the Era of Imperial Reform

Abstract This article examines the history of race and labor in Beira following the imperial reforms of the 1960s. The reforms promised a new era of Luso-Tropical racial equality, and some workers gained improved conditions following their implementation. Nonetheless, the racial realities of Portuguese rule continued to limit African workers’ possibilities even despite the reforms. At the same time, the rigid emphasis on non-racial rule made it increasingly difficult for workers to openly criticize colonial racism. Using letters from workers published in the newspaper Voz Africana, the article examines how the history of urban labor in Mozambique illuminates the broader history of race and reform in the late colonial Portuguese empire.

Resumo As reformas de 1961 foram inauguradas com o objetivo de estabelecer uma nova política de desenvolvimento e igualdade racial no império Português. O presente artigo analisa os efeitos destas reformas na cidade da Beira. As reformas trouxeram vantagens para alguns trabalhadores; apesar disso, as possibilidades de emprego ficaram, em muitos casos, restritas pelas práticas racializadas da sociedade colonial, ao mesmo tempo que a ideologia de Luso-Tropicalismo fez com que uma crítica aberta de racismo no império Português fosse difícil de fazer. Com base em cartas de trabalhadores publicadas no jornal Voz Africana, o artigo estuda a história do trabalho urbano nas “províncias ultramarinas” para elucidar a história do racismo e reforma na última fase do império português.

Taxing Calidad: The Case of Spanish America and the Philippines

Abstract Poll taxes constituted a significant factor to organize and perpetuate social inequalities in many early modern empires. Fiscal categorizations had very concrete effects on the daily life of the categorized, on their assets and on their labor force. They intersected with social categorizations such as gender, religion, profession, age and what many authors have termed race or ethnicity, but which I prefer to call, more accurately with a Spanish term from the colonial sources, calidad (literally ‘quality’). Categorizations were imposed by legislation from above and contested via petitions from below. This article delineates the major fiscal categorization in Spanish America and the Philippines and details three examples for their negotiation in petitions.

Resumo Capitações constituíam um fator significativo para organizar e perpetuar inequidades sociais em muitos impérios da idade moderna. Categorizações fiscais tinham efeitos muito concretos na vida diária dos categorizadas, nos seus ativos e na sua força de trabalho. Intersectavam com categorizações sociais como género, religião, profissȃo, idade e o que muitos autores tem chamado raça o etnicidade, mais o que eu prefiro chamar mais acertadamente, com um termo espanhol das fontes coloniais, calidad. Categorizaçoes foram impostos mediante legislaçȃo desde acima e contestados desde abaixo mediante petições. Este artigo delinea as categorizações principais na América Espanhola e nas Filipinas e detalha três exemplos para a sua negociaçȃo em petições.

Practicing Exclusion and Managing Diversity in England’s Trade and Empire, 1550-1700

Abstract In the sixteenth and seventeenth centuries, England’s trade and empire took place in global spaces that were home to a plethora of distinct cultures, peoples, and ways of doing business. To overcome this challenge, English merchants developed a range of institutional innovations designed to manage diversity and facilitate their participation in these complex international environments. Central to these practices were corporate forms of organisation that institutionalised exclusion as means of managing diversity, at home and abroad. This article examines how these exclusive practices developed and how they contributed to the emergence of systemic inequalities within the emerging British empire.

Resumo Nos séculos XVI e XVII, o comércio e o império ingleses desenvolveram-se a uma escala global, em espaços caracterizados por diversidade cultural, populacional e de práticas de negócio. Os mercadores ingleses responderam aos desafios apresentados por estas diversidades através do desenvolvimento de uma série de inovações institucionais, de forma a administratrar, controlar e facilitar a participação do grupo num contexto internacional de negócios. Uma das respostas institucionais aos desafios impostos pelas várias diversidades for o desenvolvimento de formas corporativas de organização do negócio, as quais institucionalizaram o fenómeno de exclusão como forma de controlo e administração da diversidade, em Inglaterra e no estrangeiro. Este artigo examina a forma de desenvolvimento destas práticas e a forma como as mesmas contribuiram para a emergência de um sistema de desigualdade no império britânico.

Commentary on António Manuel Hespanha, Filhos da Terra: Identidades mestiças nos confins da expansão portuguesa

Reappraising Informal Imperialism in the Early Modern Portuguese Expansion: A Commentary on António Hespanha’s Filhos da Terra

“The Palace of the Soul Serene”: Queen Catherine of Braganza and the Consumption of Tea in Stuart England (1662-1693)

Abstract The history of tea in Portugal is inextricably linked to the figure of Catherine of Braganza (1638-1705). The consumption of this drink was one of the most distinctive features of the Queen of England. The first part of this article examines the primary sources that historiography has tended to use in order to discuss the question of the introduction of tea into Stuart England. It will then look at the culture of agasalho in Portugal and national eating and drinking habits. Finally, based on assorted information, it will explain how tea became associated with the Queen of England, and examine its significance in her daily life.

Resumo Em Portugal, quando se analisa a história do chá, associa-se de imediato à figura de D. Catarina de Bragança (1638-1705), pois o seu consumo parece ter sido uma das características mais diferenciadoras da história da Rainha de Inglaterra. Na primeira parte do texto iremos analisar quais as fontes primárias em que se baseia a historiografia para veicular a questão da introdução do chá em Inglaterra no tempo dos Stuart. De seguida, abordaremos a cultura de agasalho em Portugal e os hábitos alimentares. Por fim, suportados em documentação variada, explicaremos a forma como se foi associando o chá à Rainha de Inglaterra e a importância que a bebida adquiriu no seu quotidiano.