Scielo RSS <![CDATA[Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar]]> http://scielo.pt/rss.php?pid=2182-517320180005&lang=pt vol. 34 num. 5 lang. pt <![CDATA[SciELO Logo]]> http://scielo.pt/img/en/fbpelogp.gif http://scielo.pt <![CDATA[<b>Proteção de dados e o novo regulamento geral da União Europeia</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732018000500001&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt <![CDATA[<b>Conhecimentos, preocupações e atitudes dos pais perante a febre</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732018000500002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Objetivos: Caracterizar os conhecimentos, preocupações e atitudes dos pais perante uma criança com febre, de forma a traçar um plano futuro de intervenção nesta área junto da população. Tipo de estudo: Estudo transversal, descritivo e analítico. Local: USF Lagoa. População: Todos os pais ou cuidadores de crianças com idades entre os 29 dias e os 36 meses inscritos na USF Lagoa. Métodos: Estudo realizado entre setembro e dezembro de 2015, através da aplicação de um questionário por via telefónica ou diretamente com o cuidador, caso este tivesse consulta agendada durante o mesmo período de tempo. Foi feita uma análise descritiva simples, com recurso ao programa Microsoft Excel 2010®. Este estudo é reportado de acordo com as linhas de orientação STROBE. Resultados: Foram entrevistados 248 pais/cuidadores. Oitenta e três por cento fazem avaliação da temperatura na axila e 40% considera febre para valores inferiores a 37,5 °C. A maioria (54,7%) escolhe como principal fármaco a administrar o paracetamol e 30% sabe administrar doses corretas de medicação. As convulsões são consideradas a principal complicação associada à febre (62,1%). Cinquenta por cento recorre ao médico logo que surge febre ou no primeiro dia de doença, sendo o centro de saúde o local de eleição para a metade dos inquiridos. Conclusões: Perceções e atitudes erradas em relação à febre persistem nos dias de hoje. É fundamental reforçar os conhecimentos dos pais/cuidadores em relação à abordagem e tratamento da febre, de forma a diminuir a ansiedade e melhorar a prestação de cuidados à criança febril.<hr/>Aim: To characterize parents’ knowledge, concerns, and attitudes towards a child with fever, in order to design a future intervention project on this subject for the population. Type of study: Descriptive and analytic cross-sectional study. Location: USF Lagoa. Population: All parents or caregivers of children aged between 29 days and 36 months, enrolled in USF Lagoa. Methods: Study conducted between September and December 2015, through the distribution of a survey to the caregiver, either by telephone or in person, in case the patient had an appointment during this time period. Data were analyzed with Microsoft Excel 2010®. This study is reported according to the STROBE guidelines. Results: A total of 248 parents/caregivers were interviewed. Eighty-three percent of the participants evaluated the temperature in the armpit and 40% considered fever for values below 37.5 °C. The majority (54.7%) chooses paracetamol as the drug of choice, and 30% knows the adequate dose to be administered. Seizures are considered the main complication associated with fever (62.1%). Fifty percent of the participants seek medical care as soon as the fever appears or in the first day of illness, and the primary care center is the care setting of election for half of the respondents. Conclusions: Wrong perceptions and attitudes towards fever persist nowadays. It is vital to reinforce parents’ and caregivers’ knowledge on the management and treatment of fever, in order to reduce anxiety and to improve care for febrile children. <![CDATA[<b>Terapia antirretroviral</b>: <b>investigação de implementação nos cuidados de saúde primários, Nampula, Moçambique</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732018000500003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Objetivo: Avaliar a situação clínica dos pacientes em terapia antirretroviral, as taxas de adesão e descontinuação e seus fatores determinantes e intervir para melhorar o programa de luta contra o vírus da imunodeficiência humana em Nampula. Tipo de estudo: Investigação de implementação, descritiva mista. Local: Província de Nampula, Moçambique, envolvendo 10 centros de saúde. População: Pacientes em terapia antirretroviral e que descontinuaram, profissionais dos cuidados de saúde primários e praticantes tradicionais de saúde. Métodos: Investigação de implementação, aplicando inquérito a pacientes e praticantes tradicionais de saúde, entrevista semiestruturada com profissionais de saúde e praticantes tradicionais e consulta documental. Avaliada a linha de base nos centros de saúde alvo e controlo foi realizada uma ação de educação para a saúde com os pacientes e com os praticantes tradicionais e de formação médica com os profissionais de saúde nos distritos alvo. Depois foram analisados os indicadores clínicos e do programa em todos os centros de saúde. Resultados: A insegurança alimentar, discriminação e dificuldade de acesso aos serviços de saúde contribuem para uma taxa de descontinuação da terapia, atingindo 50% dos pacientes. A adesão terapêutica verifica-se em 69%. A ação foi realizada em cinco distritos, com 63 pacientes, 59 praticantes tradicionais e 96 profissionais de saúde. Nos distritos de ação verificou-se um aumento do número de Grupos de Apoio à Adesão Comunitários e de referências aos cuidados de saúde primários, bem como uma melhoria relativa do estado clínico dos pacientes e da taxa de descontinuação da terapia, sem diferença estatisticamente significativa. Conclusões: Existem diversas causas de descontinuação da terapia antirretroviral e de baixa adesão. A descontinuação da TARV é um problema grave em Nampula e resulta de fatores individuais, sociais e do sistema de saúde. Intervenções interdisciplinares de baixo custo na área da educação em saúde, associadas a extensão rural, podem inverter esta situação.<hr/>Aim: To evaluate the clinical status of HIV-infected patients under antiretroviral therapy, rates of adherence and discontinuation of medication, and their determinants, aiming to improve the program to fight human immunodeficiency virus in Nampula. Study: Implementation research, descriptive with mixed methods. Place: Nampula Province, Mozambique, involving 10 health centres. Population: Patients on antiretroviral therapy and those who discontinued therapy, primary health care professionals, and traditional healers Methods: Implementation research, applying surveys to patients and traditional healers, semi-structured interviews to health professionals and traditional healers, and documental review. Baseline evaluation was performed in both target and control primary health care centres, followed by health education sessions for patients and traditional healers, and training of health care professionals in target health centres. Finally, we compared clinical and program indicators in all health centres. Results: Food insecurity, discrimination and low accessibility to health care contribute to a discontinuation of antiretroviral therapy in up to 50% of patients. Therapeutic adherence is observed in 69% of the patients. The intervention was carried out in five districts, comprising 63 patients, 59 traditional healers and 96 health professionals. The intervention districts showed more community adherence support groups, higher number of patients referred to primary health care services, and achieved better patient clinical indicators and a lower treatment discontinuation rate, although not statistically significant. Conclusion: There are several reasons for antiretroviral therapy discontinuation and low adherence rates. Discontinuation of antiretroviral therapy is a severe problem in Nampula due to individual, social and health system factors. Interdisciplinary and low-cost interventions such as health education with extension to rural areas may change this scenario. <![CDATA[<b>Aporte de iodo e função tiroideia na gravidez</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732018000500004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Objetivo: Rever a evidência científica sobre o aporte de iodo e a função tiroideia na gravidez. Fontes de dados: Bases de dados MEDLINE, Scopus, Google Scholar e SciELO, bem como documentos oficiais da Organização Mundial da Saúde, da American Thyroid Association, do Iodine Global Network e da Direção-Geral da Saúde. Métodos de revisão: Revisão de artigos científicos sobre a espécie humana, escritos em língua inglesa ou portuguesa, e publicados entre 01/01/1990 e 30/09/2016. Estes artigos foram pesquisados através de uma query constituída por termos MeSH: Iodine, Thyroid Gland e Pregnancy. Resultados: Foram analisados exaustivamente 107 artigos e incluíram-se, nesta revisão, dados referentes a 70 artigos, selecionados com base na sua relevância científica. Devido ao aumento das necessidades durante a gravidez e amamentação, o défice de iodo é mais prevalente nestas etapas da vida. Mesmo que ligeiro/moderado, o défice materno de iodo pode afetar o neurodesenvolvimento fetal. Neste contexto, as alterações tiroideias, fisiológicas, durante a gravidez podem tornar-se patológicas, verificando-se diminuição das hormonas livres, aumento da TSH e aumento da tiroglobulina e do volume tiroideu maternos e fetais. Por outro lado, a suplementação iodada durante a gravidez parece ser segura e vários estudos sugerem que se associa a um melhor neurodesenvolvimento fetal, à prevenção do aumento da tiroglobulina e do volume tiroideu. Parece ainda melhorar a TSH, porém, com efeito nulo nas concentrações de hormonas tiroideias totais e livres. Conclusões: O aporte inadequado de iodo é deletério para a função tiroideia materna e neurodesenvolvimento fetal, podendo a suplementação durante a gravidez prevenir a deterioração funcional da tiroide. Contudo, existem poucos ensaios clínicos aleatorizados e a evidência disponível nem sempre é concordante, pelo que é necessária mais investigação sobre este tema.<hr/>Aim: To review the published evidence relating iodine intake and thyroid function in pregnancy. Data source: MEDLINE, Scopus, Google Scholar and Scielo databases, as well as official documents from World Health Organization, American Thyroid Association, Iodine Global Network and Direção-Geral da Saúde. Review methods: Review of scientific articles focusing in humans’ species, written in English or Portuguese, and published between 01/01/1990 and 30/09/2016. These articles were searched through a query consisting of the MeSH terms ‘Iodine’, ‘Thyroid Gland’ and ‘Pregnancy’. Results: 107 articles were exhaustively analyzed, and data from 70 of them was included in this review, which were selected based on their scientific relevance. Due to the increased need of iodine during pregnancy and breastfeeding, its deficiency is more common during these periods. Even though mild/moderate, maternal iodine deficiency can affect the fetal neurodevelopment. In face of maternal iodine deficiency, physiological changes of the thyroid during pregnancy can become pathological, with a decrease of free hormones levels, an increase of TSH and an increase of the maternal and fetal thyroglobulin levels and thyroid volume. On the other hand, iodine supplementation during pregnancy appears to be safe, and several studies suggest that it is associated with improved fetal neurodevelopment and the prevention of the increase of both thyroglobulin levels and thyroid volume. Additionally, it appears to improve TSH, despite having no effect on the concentration of total and free thyroid hormones. Conclusions: Inadequate iodine intake is deleterious to maternal thyroid function and fetal neurodevelopment. Supplementation during pregnancy seems to prevent the functional deterioration of the thyroid. However, there are few randomized clinical trials and the evidence available is not always consistent, therefore more research on this topic is needed. <![CDATA[<b>Afinal não era preciso amputar!</b>: <b>Um caso clínico</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732018000500005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Introdução: Apresenta-se um relato de caso sobre doença arterial periférica em que o papel do médico de família é relevante em vários momentos: no controlo dos fatores de risco modificáveis, na coordenação da equipa de cuidados de saúde primários e na avaliação longitudinal do doente que, por sua vez, pode ser fundamental para o diagnóstico, prognóstico e seleção da opção terapêutica ao fornecer informação relevante aos cuidados de saúde secundários. Descrição do caso: Mulher de 82 anos com dislipidemia, hipertensão e diabetes mellitus tipo 2, orientada e autónoma nas atividades de vida diária, iniciou úlceras arteriais de difícil cicatrização que infetaram. No contexto de sepsia foi detetada alteração do estado de consciência e assumido o diagnóstico de demência. Perante o quadro de insuficiência arterial grave bilateral dos membros inferiores foi proposta amputação. Esta foi recusada pela família e a doente teve alta para lar. Com o controlo da infeção recuperou o prévio estado de consciência. Foi reavaliada e proposta revascularização com sucesso. Houve cicatrização completa das úlceras com recuperação da autonomia e qualidade de vida prévia. Avaliando retrospetivamente o controlo dos fatores de risco vasculares detetam-se oportunidades não aproveitadas de otimização do mesmo. Os cuidados de enfermagem continuados durante vários meses não foram adequadamente intercalados por observações médicas, quer nos cuidados de saúde primários quer secundários. No diagnóstico de demência durante o estado de sepsia não foi considerada a informação do médico de família ou da família acerca do estado de consciência prévio da doente. Comentário: Este caso mostra um bom desfecho (manutenção da autonomia e da qualidade de vida), salienta a importância do controlo dos fatores de risco de doença arterial periférica, da articulação entre profissionais nos cuidados de saúde (entre médicos e enfermeiros e entre cuidados de saúde primários e secundários) e das implicações que um adequado diagnóstico diferencial de alterações do estado de consciência tem para o prognóstico.<hr/>Introduction: We present a case report on peripheral arterial disease, in which we highlight the relevance of the role of the family doctor in various moments: management of modifiable risk factors, coordination of the primary care team, and longitudinal evaluation of the patient which, in turn, may be crucial for the diagnosis, prognosis and therapeutic choice, by providing relevant information to secondary care. Case description: An 82- year old woman with dyslipidemia, hypertension and type 2 diabetes, oriented and independent in her daily life activities, developed difficult-to-heal arterial ulcers which became infected. In the context of sepsis, a change in the mental status was detected and the diagnosis of dementia was assumed. Amputation was proposed in the presence of extensive bilateral peripheral arterial insufficiency of the lower limbs. This option was refused by the family and the patient was discharged to a nursing home. Infection control resulted in the recovery of the previous mental status. The patient was reassessed and a successful revascularization was performed. The ulcers healed completely, with recovery of the previous levels of autonomy and quality of life. Evaluating retrospectively the management of vascular risk factors, missed optimization opportunities were detected. For several months, continued nursing care was not adequately coordinated with medical observations, neither in primary nor in secondary care. The diagnosis of dementia during sepsis did not take in account information from the patient’s family, or of her family physician, on her previous mental status. Comment: This case report shows a good ending (maintenance of autonomy and quality of life), stressing the importance of controlling the risk factors for peripheral arterial disease, of the articulation between various health care professionals (between doctors and nurses, and between doctors in primary and secondary care), and the implications of an adequate differential diagnosis of altered mental status in the patient’s prognosis. <![CDATA[<b>“O coração na barriga”</b>: <b>a propósito de um caso clínico</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732018000500006&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Introdução: O aneurisma da aorta abdominal (AAA) constitui um importante problema de saúde pública. Apresenta, na sua história natural, uma fase de expansão assintomática, com oportunidade de tratamento eletivo, que se tem demonstrado efetivo e de baixo risco, comparativamente à fase sintomática. Esta entidade clínica associa-se a uma elevada mortalidade, a qual pode ser reduzida significativamente perante tratamento cirúrgico eletivo. Descrição do caso: Doente do sexo masculino, de 66 anos, licenciado, atualmente reformado, casado e com duas filhas, pertencente a uma família funcional, nuclear, na fase VIII do Ciclo de Duvall e à classe média de Graffar. Com antecedentes pessoais de diversos fatores de risco cardiovasculares, medicado em conformidade, recorre à consulta aberta da Unidade de Saúde Familiar, em dezembro de 2015, por apresentar náuseas desde há dois dias e sensação de peso e palpitações no abdómen com cerca de dois meses de evolução, descrevendo como «parece que tenho o coração na barriga». A única alteração ao exame objetivo diz respeito a uma tumefação abdominal pulsátil com cerca de 7cm de diâmetro. Por suspeita de AAA foi referenciado ao serviço de urgência (SU). No SU foi confirmada a presença de AAA justa-renal, com cerca de 9,9cm de diâmetro. Foi internado para decisão clínica, tendo sido submetido a tratamento cirúrgico do aneurisma. O pós-operatório decorreu com intercorrências, nomeadamente trombose da artéria renal direita e consequente hipoperfusão do rim direito (com tentativa de repermeabilização sem sucesso) e hemorragia digestiva por úlcera duodenal. Em consultas de seguimento pelo médico de família (MF), após a alta, apre-sentava-se muito debilitado física e psiquicamente. Procedeu-se ao acompanhamento, com ênfase no suporte emocional e familiar, à reavaliação das condições clínicas que surgiram durante o internamento, bem como ao reajuste da medicação habitual. Comentário: A possibilidade da deteção precoce do AAA, através de rastreio, surge como uma medida capaz de modificar a sua evolução natural. Assim, este caso pretende refletir sobre a efetividade do rastreio, na presença de fatores de risco. Pretende igualmente realçar a importância do MF no diagnóstico precoce de um problema grave e na gestão das complicações físicas e psicológicas após a alta de um internamento hospitalar.<hr/>Introduction: Abdominal aortic aneurysm (AAA) is an important public health problem. During its natural history, it presents an asymptomatic phase of expansion, in which elective treatment opportunity has proven to be effective and of low risk, compared to being performed during the symptomatic phase. This clinical entity is associated with a high mortality, which may be significantly reduced by elective surgery. Description: 66-year-old male, graduated, currently retired, married and with two daughters, belonging to a functional nuclear family, in phase VIII of Duvall cycle, and middle class of Graffar. Personal history of several cardiovascular risk factors, treated accordingly. The patient went to the Family Health Unit in December 2015, presenting with nausea for two days and a feeling of heaviness and palpitations in the abdomen, that he had been feeling for the past two months, and describing it as «it seems that I have my heart in my belly». The only abnormality in the physical examination was a pulsatile abdominal swelling with approximately 7cm of diameter. Due to suspicion of an AAA, the patient was referred to the Emergency department, and the presence of a justarenal AAA, with a diameter of 9.9cm, was confirmed. He was admitted and underwent surgical treatment of the aneurysm. Postoperative period progressed with complications, including thrombosis of the right renal artery and consequent hypoperfusion of the right kidney (with unsuccessful attempt of permeabilisation), and digestive hemorrhage due to duodenal ulcer. After discharge, during follow-up by the family physician, the patient was very weak, both physically and psychically. Follow-up visits focused on providing emotional and family support, reassessing the clinical conditions that arose during hospital admission, as well as adjusting the usual medication. Commentary: The possibility of early detection AAA through screening appears as a measure capable of modifying its natural evolution. Thus, this is a thought-provoking case on the effectiveness of screening, in the presence of risk factors. It also aims to highlight the importance of the family physician in the early diagnosis of a serious problem, and on the management of physical and psychological complications after hospital discharge. <![CDATA[<b>Meningite bacteriana</b>: <b>complicação inesperada de otite média aguda</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732018000500007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Introdução: A otite média aguda é uma patologia frequente nos cuidados de saúde primários. Raramente apresenta complicações; porém, quando existem revelam-se graves e com importante morbimortalidade. Com este artigo pretende-se descrever um caso de meningite aguda secundária a otite média aguda e as suas implicações para a saúde e qualidade de vida do doente e da família. Descrição do caso: Homem de 42 anos, ativo, pertencente a família nuclear, que recorreu ao médico de família por apresentação inaugural de otite e sinusite agudas, com sintomas de intensidade fruste. Três dias após a instalação do quadro sintomático surgiu agravamento clínico, rapidamente progressivo e degradante do estado geral. O utente deu entrada no serviço de urgência em estado comatoso, pirexia e crise convulsiva. Em contexto de urgência realizaram-se meios complementares de diagnóstico, como punção lombar, tomografia computorizada e angiotomografia, que confirmaram diagnóstico de meningite aguda bacteriana por Streptococcus pneumoniae e acidente vascular cerebeloso direito, ambos em resultado de complicações de otite média aguda. Comentários: A otite média aguda pode ser observada em diferentes fases de apresentação clínica. Quando evolui para mastoidite pode culminar em meningite e trombose dos seios venosos cerebrais. Este caso descreve a evolução clínica de um diagnóstico desfavorável de otite média aguda complicada. Aborda o papel do médico de família como gestor da doença, importante na articulação de cuidados de saúde primários e secundários, na reabilitação do utente e acompanhamento familiar. Alerta ainda para a importância da capacitação do utente para os sinais e sintomas de desvio da evolução clínica esperada.<hr/>Introduction: Acute otitis media is a common pathology in primary care. It rarely presents with complications, but when they occur they are serious and have considerable morbidity and mortality. This article aims to describe a case of acute meningitis secondary to acute otitis media, and its implications for the health and quality of life of the patient and his family. Case description: A 42-year-old male, active, belonging to a nuclear family, who turned to the family physician due to inaugural presentation of acute otitis and sinusitis, with symptoms of low intensity. Three days after the onset of symptoms, rapid clinical deterioration occurred, with worsening of the general health status. The patient was admitted to the emergency department in comatose state, with pyrexia and convulsive crisis. In the emergency department, additional tests were performed, such as lumbar puncture, computerized tomography and angiotomography that confirmed the diagnosis of acute bacterial meningitis caused by Streptococcus pneumoniae and right cerebellar stroke, both secondary to acute otitis media. Comments: Acute otitis media can be observed in different stages of its clinical presentation. When it progresses to mastoiditis, it can culminate in meningitis and cerebral venous sinus thrombosis. This case describes the clinical evolution of a complicated diagnosis of acute otitis media. It addresses the critical role of the family doctor managing disease, enhancing the articulation between primary and secondary health care, and in the rehabilitation of the patient and follow-up of the family. It also warns of the importance of empowering patients on the detection of signs and symptoms that deviate from the expected clinical evolution. <![CDATA[<b>Polineuropatia amiloide familiar de início tardio</b>: <b>o desafio do diagnóstico</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732018000500008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Introdução: A polineuropatia amiloide familiar (PAF) é uma amiloidose hereditária que se manifesta através de uma neuropatia mista (sensitiva, autonómica e motora) de caráter progressivo. Este caso clínico evidencia a importância do médico de família no diagnóstico desta patologia, enquanto realça as principais dificuldades nesse diagnóstico em idades mais tardias e quando não existe história familiar conhecida. Descrição do caso: Mulher de 71 anos, com antecedentes pessoais de carcinoma ductal in situ, síndroma do túnel cárpico e bócio multinodular adenomatoso. Nos últimos cinco anos apresentou múltiplas queixas inespecíficas, como obstipação crónica, dores nevrálgicas e parestesias das mãos e pés, perda progressiva de controlo do esfíncter urinário, deterioração progressiva da capacidade de locomoção, perda de peso. Não havia história familiar de PAF, exceto um irmão de 65 anos com diagnóstico de PAF de início tardio, após apresentar queixas de parestesias das mãos e pés. Esta informação alertou para a hipótese de diagnóstico de PAF, capaz de integrar as suas múltiplas queixas, a qual se veio a comprovar após teste genético. Comentário: Este caso clínico apresenta uma série de particularidades que nos devem alertar para o facto de esta patologia poder surgir com um padrão diferente do que foi descrito por Corino de Andrade: a idade de início, a ausência de progenitores afetados, bem como o atingimento de famílias sem naturalidade na Póvoa de Varzim. Assim, o conhecimento de variantes tardias da PAF, como a apresentada neste caso clínico, é fundamental, de modo a que o médico esteja sensibilizado para formas de apresentação menos típicas, permitindo que o diagnóstico possa ser feito o mais precocemente possível.<hr/>Introduction: Familial amyloid polyneuropathy (FAP) is a hereditary amyloidosis that presents with a progressive, mixed neuropathy (sensory, autonomic and motor). This case shows the importance of the family physician in the diagnosis of this pathology, while highlighting the main difficulties of performing the diagnosis at advanced ages, and when there are no other documented cases in the family. Case report: A 71-year-old woman with a personal history of ductal carcinoma in situ, carpal tunnel syndrome, and adenomatous multinodular goiter. Over the past 5 years, she has had multiple non-specific complaints, including chronic constipation, neuralgia and paresthesias of the hands and feet, progressive loss of control of the urinary sphincter, progressive locomotor activity deterioration, and weight loss. There was no family history of PAF except a 65-year-old sibling diagnosed with late-onset PAF with complaints of paresthesias of the hands and feet. This information alerted to the hypothesis of a diagnosis of FAP, which would justify the multiple complaints of the patient, and which was confirmed by genetic testing. Comment: This clinical case describes a series of particularities that should alert us to the fact that this pathology may arise with a different pattern than the one described by Corino de Andrade: the age of onset, the absence of affected parents, as well as the presence of the disease in families that are not originally from Póvoa de Varzim. Thus, the knowledge of late variants of PAF as the one presented in this case report is fundamental to raise awareness on less typical clinical presentations, thus allowing an early diagnosis. <![CDATA[<b>Hematúria microscópica</b>: <b>abordagem no âmbito dos cuidados de saúde primários</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732018000500009&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Introdução: A hematúria microscópica (HM) é definida pela presença de pelo menos três eritrócitos por campo de alta potência no estudo do sedimento urinário, devidamente coletado e sem evidência de infeção. Este achado laboratorial é muitas vezes detetado acidentalmente pelos médicos de família (MF), pelo que a sua abordagem diagnóstica não deve ser menosprezada. Classifica-se em assintomática/sintomática, transitória/persistente e pode ser de causa benigna ou maligna. Objetivos: Abordar a avaliação do adulto com o achado incidental de HM, criando um algoritmo que assista o MF no diagnóstico diferencial e orientação clínica. Métodos: Pesquisa de meta-análises, artigos de revisão e normas de orientação clínica (NOC) publicados desde 2010 em português e inglês. Bases de dados: PubMed, Cochrane Library, DARE, NICE, UpToDate, Medscape. Termos MeSH: hematuria, microscopic findings e adult. Pesquisa livre na American Urological Association e na European Association of Urology. Resultados: Obtiveram-se 265 artigos na pesquisa. Após remoção de duplicados, exclusão pelo título/resumo e pelo cumprimento dos critérios de inclusão e exclusão pré-definidos, foram selecionados: uma NOC e dois artigos de revisão. Com base nestes artigos foi elaborado um algoritmo que sintetiza, de forma prática, a abordagem da HM no adulto. Após excluída a possibilidade de contaminação da amostra de urina, a história clínica dirigida e o exame físico pode dar pistas para um diagnóstico específico. Se assintomática, a HM deverá ser confirmada através de um novo exame do sedimento urinário, em conjunto com uma urocultura e avaliação da função renal. Caso o novo exame laboratorial seja negativo, estamos perante uma HM transitória, que deverá ser abordada consoante o risco do doente para patologia maligna. Caso a HM seja mantida, o restante exame do sedimento (presença de proteínas, eritrócitos dismósficos, cilindros e/ou coágulos) determina a origem glomerular ou extraglomerular. Perante uma HM extraglomerular, a abordagem será definida em função dos fatores de risco para doença maligna. A HM glomerular obriga à referenciação para consulta de nefrologia. Discussão: A hematúria microscópica é um sinal laboratorial que poderá indiciar patologia renal e/ou urológica. Uma correta avaliação do doente com uma HM prende-se com a necessidade de determinar a sua etiologia, da qual dependerá a subsequente abordagem. Sendo um achado laboratorial frequente na consulta de MGF, o MF deverá estar sensibilizado para as suas principais causas, referenciando para a especialidade hospitalar sempre que indicado.<hr/>Introduction: Microscopic hematuria (MH) is defined by the presence of at least three erythrocytes per high power field in the urine sediment, when properly collected, and without evidence of infection. This laboratory finding is often accidently detected by family physicians (FP), therefore its diagnostic approach should not be overlooked. MH can be classified as asymptomatic/symptomatic, transient/persistent and may be of benign or malignant nature. Objectives: To discuss the clinical evaluation of MH in adulthood, and to create an algorithm to guide FP on the differential diagnosis and clinical management. Methods: Search of meta-analysis, review articles and clinical guidelines (CG) published since 2010, in Portuguese and English. Databases: PubMed, Cochrane Library, DARE, NICE, UpToDate, Medscape. MeSH Keywords: ‘Hematuria’, ‘Microscopic findings’ and ‘Adult’. Free search in the American Urological Association and European Association of Urology. Results: A total of 265 articles were obtained. After duplicates’ removal, title screening, abstract screening and assessment of inclusion and exclusion criteria, one CG and two review articles were selected. Using the selected articles, we created an algorithm that synthesizes, in a practical way, the clinical management of MH in an adult patient. After excluding the possibility of contamination of the urine sample, the medical history and the physical examination of the urine sediment, combined with urine culture and the evaluation of kidney function, can provide clues for a specific diagnostic. In an asymptomatic patient, MH should be confirmed by performing a new urine sediment analysis, combined with urine culture and evaluation of kidney function. If the second laboratory test is negative, it is diagnosed as transient MH, which should be managed according to the patient’s risk for malignant disease. If MH is maintained, further information obtained from the sediment analysis (presence of proteins, dysmorphic erythrocytes, cylinders and/or clots) determines if the cause is glomerular or extra-glomerular. In the presence of extra-glomerular HM, the clinical management will depend on the presence of risk factors for malignant disease. Appointment referral to nephrology is mandatory in case of glomerular HM. Discussion: Microscopic hematuria is a laboratory sign that may indicate the presence of renal or/and urological pathology. A correct evaluation of the patient with MH shall include the determination of its etiology, upon which the subsequent clinical management will depend. As a frequent laboratory finding in primary care, FP should be aware of its main causes, and refer to secondary care whenever indicated. <![CDATA[<b>Solidão, um fator de risco</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732018000500010&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt A solidão constitui um problema social cada vez mais prevalente, devido ao envelhecimento populacional e às mudanças na organização da sociedade e na estrutura e dinâmica das famílias. A solidão é uma fonte de sofrimento significativo, associando-se à redução da qualidade de vida e ao aumento da morbilidade e mortalidade. Têm sido estudadas diversas intervenções dirigidas à redução da solidão, sendo mais eficazes as que abordam as cognições sociais maladaptativas. Torna-se urgente, numa sociedade cada vez mais envelhecida e isolada, a reflexão crítica sobre este tema, a sensibilização dos profissionais que lidam com este problema e o desenvolvimento de soluções que promovam uma sociedade mais integradora.<hr/>Loneliness is a social problem with a growing prevalence, due to population ageing and changes in the organisation of society, and on family structure and dynamics. Loneliness is a cause of significant suffering, associated with a lower quality of life and with higher morbidity and mortality. A number of interventions aimed at reducing loneliness have been studied, and those approaching maladaptive social cognitions seem to be more effective. In an increasingly aging and isolated society, it is urgent to critically discuss this issue, to raise awareness of professionals dealing with this problem, and to develop solutions that promote a more inclusive society. <![CDATA[<b>Declaração de Deli</b>: <b>Alma-Ata revisitada. Tradução portuguesa</b>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-51732018000500011&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt A solidão constitui um problema social cada vez mais prevalente, devido ao envelhecimento populacional e às mudanças na organização da sociedade e na estrutura e dinâmica das famílias. A solidão é uma fonte de sofrimento significativo, associando-se à redução da qualidade de vida e ao aumento da morbilidade e mortalidade. Têm sido estudadas diversas intervenções dirigidas à redução da solidão, sendo mais eficazes as que abordam as cognições sociais maladaptativas. Torna-se urgente, numa sociedade cada vez mais envelhecida e isolada, a reflexão crítica sobre este tema, a sensibilização dos profissionais que lidam com este problema e o desenvolvimento de soluções que promovam uma sociedade mais integradora.<hr/>Loneliness is a social problem with a growing prevalence, due to population ageing and changes in the organisation of society, and on family structure and dynamics. Loneliness is a cause of significant suffering, associated with a lower quality of life and with higher morbidity and mortality. A number of interventions aimed at reducing loneliness have been studied, and those approaching maladaptive social cognitions seem to be more effective. In an increasingly aging and isolated society, it is urgent to critically discuss this issue, to raise awareness of professionals dealing with this problem, and to develop solutions that promote a more inclusive society.