Scielo RSS<![CDATA[Cadernos do Arquivo Municipal]]>
http://scielo.pt/rss.php?pid=2183-317620250002&lang=pt
vol. ser2 num. 24 lang. pt<![CDATA[SciELO Logo]]>http://scielo.pt/img/en/fbpelogp.gif
http://scielo.pt
<![CDATA[Descolonizar e repensar a escrita da história de África nas suas relações com o Ocidente no século XXI]]>
http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-31762025000200201&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
Résumé La présente étude de l’écriture de l’histoire de l’Afrique dans ses rapports avec l’occident revêt une double dimension du point de vue historique et ontologique. L’intérêt principal de cette recherche consiste essentiellement à déconstruire scientifiquement les stéréotypes véhiculés sur l’histoire de l’Afrique par les tenants du discours afro-pessimiste afin de poser un regard pluriel sur les réalités polysémiques de notre continent. La problématique de ce travail repose un triptyque notamment, l’écriture de l’histoire de l’Afrique requiert-t-elle une rationalisation, une nationalisation ou une universalisation du discours ? De cette problématique découle une hypothèse fondamentale à savoir, l’histoire de l’Afrique a longtemps été une discipline dédiée aux sources écrites et l’étude de son passé demeure galvaudée par des interprétations partielles. La grille théorique mobilisée est celle de la démarginalisation qui fait valoir la primauté de la recherche d’une solution africaine de développement de notre continent. Cette approche méthodologique est à la fois heuristique, herméneutique, historique et sociocritique. Comme résultat majeur, repenser l’écriture de l’histoire de l’Afrique permet de sortir des sentiers battus d’une production scientifique et intellectuelle sclérosée susceptible de décloisonner les disciplines et se positionner dans la mondialisation.<hr/>Abstract This study of the historiography of Africa in its relationship with the West has both a historical and an ontological dimension. The main objective of this research is to scientifically deconstruct the stereotypes conveyed about Africa’s history by proponents of Afro-pessimistic discourse, in order to promote a plural perspective on the continent’s polysemic realities. The central problem of this work is structured around a triptych: does the writing of African history require a rationalization, a nationalization, or a universalization of its discourse? From this question emerges a fundamental hypothesis: African history has long been a discipline centered on written sources, and the study of its past continues to be devalued by partial interpretations. The theoretical framework adopted is that of demarginalization, which emphasizes the primacy of seeking African solutions for the continent’s development. This methodological approach is simultaneously heuristic, hermeneutic, historical, and sociocritical. As a major outcome, rethinking the writing of African history allows us to move beyond the beaten path of a sclerotic scientific and intellectual production - towards one capable of breaking down disciplinary boundaries and positioning itself within the dynamics of globalization.<hr/>Resumo Este estudo da escrita da história de África nas suas relações com o Ocidente tem uma dupla dimensão, do ponto de vista histórico e ontológico. O principal foco deste artigo consiste essencialmente na desconstrução científica dos estereótipos veiculados sobre a história de África pelos proponentes do discurso afro-pessimista, de forma a lançar um olhar plural sobre as realidades polissémicas do continente. A problemática deste trabalho assenta num tríptico: a escrita da história de África exige uma racionalização, uma nacionalização ou uma universalização do discurso? Desta questão surge uma hipótese fundamental: a história de África tem sido, desde há muito, uma disciplina dedicada às fontes escritas, e o estudo do seu passado permanece enviezado por interpretações parciais. O quadro teórico utilizado é o da desmarginalização, que afirma a primazia da procura de uma solução africana para o desenvolvimento do continente. Esta abordagem metodológica é, simultaneamente, heurística, hermenêutica, histórica e sociocrítica. Como resultado importante, repensar a escrita da história de África permite-nos ir além dos caminhos já percorridos por uma produção científica e intelectual esclerótica, rumo a uma abordagem capaz de romper fronteiras disciplinares e posicionar-se nas dinâmicas da globalização.<![CDATA[O prelúdio da penetração colonial no espaço magrebino: Oposição e resistência dos sultões alauitas]]>
http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-31762025000200300&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
Resumo Este artigo analisa o prelúdio da intervenção colonial no espaço magrebino e, no caso particular de Marrocos, a oposição e resistência que lhe foi movida pelos sultões alauitas. Contrariando a narrativa dominante elaborada pelas grandes e médias potências europeias que a usavam para justificar a intervenção colonialista e “civilizadora”, recorre-se a outras fontes com origem em enviados de pequenos poderes periféricos sem quaisquer ambições de domínio daquele espaço. Os sultões marroquinos, ao contrário do epíteto de incivilizados que muitas das fontes da época lhes atribuem e da classificação de violentos, xenófobos e isolacionistas com que grande parte da historiografia europeia contemporânea os brinda, vão tentar opor-se ao prenúncio do colonialismo europeu, usando as mesmas armas das potências da margem norte do Mediterrâneo: a via diplomática e a ação militar. Mas sem os mesmos resultados acabarão por protelar a inevitabilidade da intervenção estrangeira.<hr/>Abstract This article analyses the prelude to colonial intervention in the Maghrebi space and, in the particular case of Morocco, the opposition and resistance that was brought to it by the Alawid sultans. Contrary to the dominant narrative elaborated by the great and medium European powers that used it to justify the colonialist and “civilizing” intervention, other sources are used, originating from envoys from small peripheral powers without any ambitions to dominate that space. The Moroccan sultans, contrary to the epithet of uncivilized that many of the sources of the time attribute to them and the classification of violent, xenophobic and isolationist with which much of contemporary European historiography gives them, will try to oppose the prelude of European colonialism, using the same weapons as the powers on the northern shore of the Mediterranean: diplomatic means and military action. But without the same results they will end up delaying the inevitability of foreign intervention.<![CDATA[<em>A Outra Princesa</em>: Uma releitura sobre as escarificações deixadas pela colonização e pela escravização africana]]>
http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-31762025000200301&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
Resumo Este artigo analisa o papel da literatura na reinterpretação de trajetórias de figuras marginalizadas, com foco na história de Sarah Forbes Bonetta. A partir do romance A Outra Princesa, de Denny S. Bryce, discutimos como a ficção histórica preserva memórias pessoais e coletivas, ao mesmo tempo que desafia narrativas coloniais sobre raça, gênero e poder. Abordamos o impacto do tráfico transatlântico de escravizados e as relações entre líderes africanos e potências europeias. A pesquisa se apoia nas teorias de memória de Halbwachs e Nora, e na metaficção historiográfica de Hutcheon e White, refletindo sobre os limites entre história e ficção. Ao integrar Gilroy, Hall e Bhabha, evidenciamos como a literatura pós-colonial resgata vozes silenciadas e questiona as construções identitárias da diáspora africana.<hr/>Abstract This article critically examines literature’s role in reinterpreting the trajectories of marginalised historical figures, with a particular focus on the life of Sarah Forbes Bonetta. Drawing on Denny S. Bryce’s The Other Princess: A Novel of Queen Victoria’s Goddaughter (2023), the discussion interrogates how historical fiction simultaneously preserves personal and collective memories and challenges entrenched colonial narratives concerning race, gender, and power. The study situates the transatlantic slave trade within broader contexts of African-European political interactions, highlighting the complex dynamics between African leaders and European powers. Grounded in the memory theories of Halbwachs and Nora, as well as Hutcheon’s and White’s concept of historiographic metafiction, this research critically reflects on the boundaries between history and fiction. By engaging with the scholarship of Gilroy, Hall, and Bhabha, the analysis demonstrates how postcolonial literature recovers previously silenced voices and interrogates the construction of identity within the African diaspora.<![CDATA[Lugares e formas de convívio em Lisboa nos séculos XVI e XVII]]>
http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-31762025000200400&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
Resumo Este artigo aborda os lugares de Lisboa onde, no século XVI e primeiras décadas da centúria seguinte, a população da cidade mais interagia de modo informal. Partindo de um conjunto de processos inquisitoriais que referem os locais em que surgiram conversas durante as quais foram reveladas infrações aos padrões religiosos ou morais dominantes, o objeto do presente trabalho consiste em identificar os lugares de sociabilidade mais comuns à população, utilizados enquanto cenários daquelas revelações, para cuja escolha concorreram as respetivas condições de acessibilidade, comodidade, privacidade ou outras. Partiu-se do pressuposto de que a condição de cristão-novo ou de suspeito de qualquer infração aos olhos do Santo Ofício não alterava aspetos da vida quotidiana como os locais por onde as pessoas se deslocavam ou onde se cruzavam ocasionalmente.<hr/>Abstract This article explores the spaces in Lisbon where, during the sixteenth century and the early decades of the seventeenth, the urban population engaged most frequently in informal social interaction. Drawing on a set of inquisitorial proceedings that mention the locations where conversations took place - during which transgressions against dominant religious or moral norms were revealed -, this study aims to identify the most common sites of sociability used by the population as settings for such revelations. The selection of these places was influenced by factors such as accessibility, comfort, privacy, or other contextual conditions. The underlying assumption is that being a New Christian or being suspected of any offence in the eyes of the Holy Office did not fundamentally alter everyday aspects of life, such as the places people moved through or where they happened to cross paths.<![CDATA[Entrevista a Lima Carvalho: Arte, agitação e compromisso coletivo no pós-25 de Abril]]>
http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-31762025000200700&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
Resumo Este artigo aborda os lugares de Lisboa onde, no século XVI e primeiras décadas da centúria seguinte, a população da cidade mais interagia de modo informal. Partindo de um conjunto de processos inquisitoriais que referem os locais em que surgiram conversas durante as quais foram reveladas infrações aos padrões religiosos ou morais dominantes, o objeto do presente trabalho consiste em identificar os lugares de sociabilidade mais comuns à população, utilizados enquanto cenários daquelas revelações, para cuja escolha concorreram as respetivas condições de acessibilidade, comodidade, privacidade ou outras. Partiu-se do pressuposto de que a condição de cristão-novo ou de suspeito de qualquer infração aos olhos do Santo Ofício não alterava aspetos da vida quotidiana como os locais por onde as pessoas se deslocavam ou onde se cruzavam ocasionalmente.<hr/>Abstract This article explores the spaces in Lisbon where, during the sixteenth century and the early decades of the seventeenth, the urban population engaged most frequently in informal social interaction. Drawing on a set of inquisitorial proceedings that mention the locations where conversations took place - during which transgressions against dominant religious or moral norms were revealed -, this study aims to identify the most common sites of sociability used by the population as settings for such revelations. The selection of these places was influenced by factors such as accessibility, comfort, privacy, or other contextual conditions. The underlying assumption is that being a New Christian or being suspected of any offence in the eyes of the Holy Office did not fundamentally alter everyday aspects of life, such as the places people moved through or where they happened to cross paths.