Scielo RSS <![CDATA[Comunicação e Sociedade]]> http://scielo.pt/rss.php?pid=2183-357520220002&lang=pt vol. 42 num. lang. pt <![CDATA[SciELO Logo]]> http://scielo.pt/img/en/fbpelogp.gif http://scielo.pt <![CDATA[Crime, Justiça e Média: Debates Sobre Representações Mediáticas e Desafios Atuais]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-35752022000200007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt <![CDATA[Estão Representados Mediaticamente, Logo Existem: Protestos de Hong Kong em 2019 no <em>Correio da Manhã</em> e no <em>Jornal de Notícias</em>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-35752022000200027&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Este artigo pretende entender como o Correio da Manhã (CM) e o Jornal de Notícias (JN) representam os protestos de Hong Kong entre 31 de março e 29 de novembro de 2019, conhecendo a agenda que envolve a sua representação e identificando os enquadramentos. Recorrendo à análise de conteúdo, os resultados sugerem uma perspetiva sobretudo neutra de ambos os jornais, denotando-se ligeira inclinação pró-governo do JN e pró-democracia do CM. Também há diferença na seleção de fontes: o JN incluiu fontes em quase 75% das suas notícias, preferindo fontes anti-protesto, ao passo que o CM convocou fontes em quase 60% das suas peças, com tendência para selecionar fontes pró-protesto. Contudo, nota-se, nos dois jornais, a descrição de um cenário violento quer dos manifestantes quer do governo. As causas dos protestos são quase inteiramente atribuídas ao governo ou a indivíduos de Hong Kong, sendo raras as atribuições a elementos externos. É também atribuída a Hong Kong e aos seus cidadãos a responsabilidade pela solução dos protestos. Encontra-se uma descrição tendencialmente negativa tanto do governo como, de forma menos acentuada, dos manifestantes. Apuram-se relações estatisticamente significativas entre jornal e fonte; jornal e menção das causas do protesto; fontes e descrição do comportamento dos manifestantes; descrição do comportamento dos manifestantes e menção das causas do protesto.<hr/>Abstract This article seeks to understand how Correio da Manhã (CM) and Jornal de Notícias (JN) represent the Hong Kong protests between March 31 and November 29, 2019, by understanding the agenda surrounding their representation and identifying framings. Through content analysis, the results suggest a mainly neutral perspective of both newspapers, denoting a slight pro-government bias in JN and pro-democracy bias in CM. There is also a difference in the selection of sources: JN included sources in almost 75% of its news pieces, preferring anti-protest sources, whereas CM named sources in almost 60% of its pieces, with a tendency to select pro-protest sources. However, in both newspapers, there is a description of a violent scenario from both protesters and the government. The causes of the protests are almost entirely attributed to the government or individuals in Hong Kong, with rare attributions to external elements. Hong Kong and its citizens are also blamed for resolving the protests. There is a tendency towards a negative description of the government and, to a lesser extent, the protesters. Statistically significant associations are identified between newspaper and source; newspaper and mention of the protest causes; sources and description of protesters’ behaviour; description of protesters’ behaviour and mention of the protest causes. <![CDATA[A Noticiação de Homicídio Corporativo nos Rompimentos das Barragens da Samarco e da Vale por Sites Brasileiros]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-35752022000200049&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Um dos grandes problemas referentes aos homicídios corporativos é a sua neutralização e justificação perante a sociedade. A mídia tem um papel importante nesse processo, pois pode atuar tanto como mobilizadora da opinião pública, quanto favorecendo supressão desses delitos da agenda pública. O surgimento das mídias digitais fez crescer a expectativa de que, com um maior número de vozes que noticiem esse tipo de delito, haveria uma cobertura com diversidade de abordagens e pontos de vista. Nesse sentido, este artigo teve como objetivo analisar como os sites de notícias brasileiros abordaram o conceito de homicídio corporativo nas tragédias-crime da Samarco e da Vale. Para tanto, 318 matérias sobre esses casos, publicadas por sete sites brasileiros, foram estudados por meio da análise de conteúdo, sendo cinco classificados como alternativos-independentes e dois da mídia mainstream. Verificou-se que houve uma grande frequência de noticiação logo após os ocorridos, mas atualmente os fatos tendem a se perder na espiral do silêncio. Notou-se também uma relutância em reportar os casos como homicídio corporativo, sendo mais frequente o enquadramento como acidente ou tragédia. A mídia alternativa-independente demonstrou uma predisposição maior em enquadrar como homicídio, porém demonstrou pouca envergadura para produzir conteúdo próprio. No geral, observou-se uma abordagem que facilitou a neutralização e a ressignificação dos crimes favorecendo as empresas. Não se verificou nenhum esforço para mobilizar a opinião pública para cobrar dos órgãos de justiça a punição aos responsáveis nem a criminalização das empresas.<hr/>Abstract One of the greatest problems regarding corporate manslaughter is its neutralization and justification by society. The media industry plays an important role in such a process because it can act as a public opinion mobilizer but also favors the suppression of such crimes from the public agenda. However, the advent of digital media brought the expectations that, with a higher number of voices disseminating content about these crimes, people would be more aware of its seriousness. Therefore, this paper aims to analyze how Brazilian news websites have approached the corporate manslaughter concept in the coverage of Samarco’s and Vale’s criminous tragedies. To do so, 318 news reports about these cases published on seven Brazilian websites were studied using the qualitative content analysis method. Five websites, self-classified as alternative-independent, and two mainstream media sites were studied. The study has found a high frequency of news reporting about these cases soon after the tragedies, but nowadays, they are getting lost in a spiral of silence. It was also observed that the sites are reluctant to report the cases as corporate manslaughter, framing the episodes as accidents or tragedies. The alternative-independent media appeared to be more inclined to frame it as a homicide but revealed not to have enough resources to produce their own content. In general, it was observed that the reporting approach neutralized and re-signified the crimes, favoring the companies. No effort to mobilize public opinion was observed to demand that the justice institutions punish the companies. <![CDATA[A Igreja Universal do Reino de Deus em Notícia: Melodrama e Registo Factual]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-35752022000200071&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo O polémico estabelecimento da Igreja Universal do Reino de Deus em Portugal deu ensejo a uma cobertura jornalística durante a década de 1990, em que acusações de crimes graves - de charlatanismo a ligações com o narcotráfico e o rapto de crianças - preencheram as páginas dos jornais (G. M. Dias, 2006; R. A. S. Dias, 2016; Farias, 1999; Farias &amp; Santos, 1999; Júnior, 2013; Machado, 2003). Também se observou no discurso jornalístico do período a associação da Igreja a estereótipos sobre o Brasil e os brasileiros e a referência às telenovelas brasileiras, então bastante populares no país. Com o objetivo de observar se estas características se mantiveram ao longo dos anos, analisámos peças publicadas pelos jornais de referência Público e Expresso no início do século XXI (2001 e 2002), em 2010 e em 2017. Inspirada pela análise crítica do discurso e a análise de enquadramentos, e com o suporte teórico da teoria das representações sociais, tal análise permitiu-nos concluir que se mantém as características identificadas nos anos 1990 na cobertura da Igreja, embora a sua presença mediática se tenha atenuado. Por sua vez, a referência às telenovelas revela-se na tessitura do discurso jornalístico, com uma hibridez entre os géneros melodrama e informativo.<hr/>Abstract The controversial establishment of the Universal Church of the Kingdom of God in Portugal was the subject of many news reports during the 1990s, in which accusations of serious crimes - from charlatanism to connections to drug trafficking and child abduction - filled the pages of newspapers (G. M. Dias, 2006; R. A. S. Dias, 2016; Farias, 1999; Farias &amp; Santos, 1999; Júnior, 2013; Machado, 2003). Many of these news reports linked the Church with stereotypes about Brazil and Brazilians and referenced Brazilian soap operas, which were quite popular in the country at the time. To observe whether these characteristics have been maintained over the years, the author analysed reports published by the influential newspapers Público and Expresso from the early 21st century (2001 and 2002), in 2010 and 2017, respectively. Inspired by critical discourse analysis and framing analysis, and with the theoretical support of the theory of social representations, such analyses allowed the author to conclude that the characteristics identified in the 1990s remained, although the Church’s media presence has since reduced. In turn, the reference to soap operas manifests in the fabric of journalistic discourse, with a hybridisation formed between the melodramatic and informational genres. <![CDATA[Aparições Políticas de Sujeitos Figurantes em Imagens Fotojornalísticas de Chacinas em Duas Favelas do Rio de Janeiro]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-35752022000200093&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo A partir de argumentos teórico-críticos advindos do campo da comunicação e da experiência estética, este texto privilegia a análise de um conjunto de fotografias jornalísticas sobre duas operações policiais realizadas no Rio de Janeiro: uma, no Complexo da Maré, em 2014, e a outra, no Jacarezinho, em 2021. Em todas as imagens notamos que os moradores aparecem como figurantes que atravessam o campo de ação dos agentes de segurança em operações, em geral, midiatizadas. O exercício de análise observa que as aparições dos figurantes acabam por desestabilizar os enquadramentos biopolíticos do fotojornalismo que tentam impedir a percepção e apreensão de sujeitos e formas de vida desconsideradas por condições de reconhecimento hierarquizantes e assimétricas. Assim, refletimos como as condições de visibilidade do contexto jornalístico podem ser alteradas pela presença e pelas aparições de pessoas comuns na imagem fotográfica, advindas pela própria presença dos corpos e das pessoas em seus afazeres cotidianos, pelos gestos e olhares, pelas reações não previstas e que, uma vez registradas, interferem no regime enunciativo das imagens. O texto revela, por fim, como a potência política e estética das aparições nas figurações pode ressaltar as nuances entre o visível e legível, permitindo a abertura de uma fratura nos dispositivos acionados para ler uma determinada situação, corporeidades e gestualidades nas imagens.<hr/>Abstract Based on theoretical-critical arguments from the field of communication and aesthetic experience, this text analyzes a set of journalistic photographs about two police operations in Rio de Janeiro, one at Complexo da Maré in 2014 and the other at Jacarezinho in 2021. In all the images, we noted that the residents appear as extras in the field of action of security agents in operations generally mediatized. The analysis exercise observed that apparitions of the extra end up destabilizing the biopolitical frameworks of photojournalism, which try to prevent the perception and apprehension of subjects and ways of life disregarded by hierarchical and asymmetric recognition conditions. Thus, we reflect on how the visibility conditions of the journalistic context can be altered by the presence and apparitions of ordinary people in photographic images, coming from the presence of bodies and people in their daily chores, through gestures and glances, and unpredicted reactions which, once registered, interfere in the images’ enunciative regime. Finally, the text reveals how the political and aesthetic power of the appearances in the figurations can highlight the nuances between the visible and the readable, allowing the opening of a fracture in the devices activated to read a certain situation, corporealities, and gestures in the images. <![CDATA[“Quebre as Regras, Não a Lei”: A Normalização da Brutalidade e o Reforço da Autoridade Policial nas Séries Estadunidenses]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-35752022000200113&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Desde a década de 1950, as séries institucionais policiais estão entre as produções mais populares da televisão estadunidense. Por meio da reiteração da mentalidade do “nós versus eles”, policiais são ficcionalizados como agentes normativos que defendem o “bem”, enquanto o crime é retratado como uma falha moral e individual do criminoso. Além dessas produções recorrentemente ignorarem problemas sistêmicos da sociedade estadunidense que são utilizados para explicar a criminalidade no mundo real, elas também reforçam a autoridade da instituição como detentora da força para manutenção do status quo. Partindo da perspectiva que essas séries atuam na construção e mediação de sentido sobre o papel desempenhado pelas instituições policiais do mundo real e de seus membros na sociedade, estruturamos o texto em torno de dois principais argumentos: (a) as séries reforçam a autoridade da instituição policial, tratando suas ações como inquestionáveis e, mais importante, abrindo espaço para intervenções das instituições policiais do mundo real nos processos de ficcionalização das mesmas; (b) as séries normalizam a brutalidade policial, com narrativas frequentemente justificando atos violentos como uma ferramenta investigativa eficiente, ilustrando normas e burocracias como grandes empecilhos ao trabalho do policial. Ao enquadrar as violações éticas e de direitos humanos como atos eficientes e necessários essas séries contribuem para normalizar alguns dos aspectos mais sujos da profissão.<hr/>Abstract Since the 1950s, the institutional police series have been among the most popular productions on US television. Through the reiteration of the “us versus them” mentality, police officers are fictionalized as normative agents who uphold “goodness”, while crime is portrayed as a moral and individual flaw of the criminal. Not only do these productions recurrently ignore systemic problems in US society, which are used to explain crime in the real world, but they also reinforce the authority of the institution as the force capable of maintaining the status quo. From the perspective that these series act in the construction and mediation of meaning about the role played by real-world police institutions and their members in society, we structure the text around two main arguments: (a) TV series reinforce the police institution’s authority, treating its actions as unquestionable and, most importantly, allowing real-world institutions to interfere in their fictionalization processes; (b) TV series normalize police brutality, with narratives often justifying violent acts as an efficient investigative tool, illustrating norms and bureaucracies as major impediments to the police officer’s work. By framing ethical and human rights violations as efficient and necessary acts, these series contribute to normalizing some of the dirtiest aspects of the profession. <![CDATA[Crime, Cruzados Encapuzados e Justiça (Privada): <em>Arrow</em> e a Exoneração do Vigilantismo nos Média Populares Contemporâneos]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-35752022000200133&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract As a form of extralegal crimefighting, vigilantism involves relevant questions about crime, justice, and law enforcement, and it is a staple of popular media. In the 1980s, several popular culture products took a critical approach to vigilantism as a part of the deconstruction of the superhero genre, which included a critical reflection on the psychological and political implications of the motivations behind private justice enforcers’ behavior. In this context, this paper focuses on the representation of vigilantism within the popular television show Arrow, and analyzes how it depicts, rationalizes, and ultimately exonerates vigilantism as a response to criminal activity. The empirical analysis focuses on the various rhetorical strategies used by Arrow to justify vigilantism, such as the representation of legal and governmental institutions as corrupt and inefficient, the multiple rationales whereby vigilantism is practiced, and the sanctioning of private crimefighting by institutions. The analysis indicates that the show delivers an apology for the vigilante ethos: Arrow mirrors superheroes’ dark turn in the 1980s and their reflection of societal fears about crime. However, in the show’s worldview, these fears can only be appeased by private vigilantes. By portraying the state as inefficient and/or corrupt, the show boosts ideologies of individualism and anti-government neoliberalism.<hr/>Resumo Como uma forma de combate extrajudicial ao crime, o vigilantismo envolve questões relevantes sobre crime, justiça e o cumprimento da lei, tornando-se um elemento básico dos média populares. Na década de 1980, diversos produtos da cultura popular adotaram uma abordagem crítica ao vigilantismo, como parte da desconstrução do género de super-herói, que incluiu uma reflexão crítica sobre as implicações psicológicas e políticas das motivações por detrás do comportamento dos executores da justiça privada. Nesse contexto, este artigo concentra-se na representação do vigilantismo no conhecido programa de televisão Arrow (Flecha) e analisa a maneira como ele retrata, racionaliza e, em última análise, exonera o vigilantismo como uma resposta justificável à atividade criminosa. A análise empírica se concentra nas várias estratégias retóricas usadas por Arrow para justificar o vigilantismo, como a representação de instituições legais e governamentais como corruptas e ineficientes, as múltiplas razões pelas quais o vigilantismo é praticado e a sanção do combate ao crime privado pelas instituições. Os resultados indicam que o programa oferece uma apologia do éthos do vigilante: Arrow herda a virada sombria dos super-heróis na década de 1980 e o reflexo dos medos da sociedade sobre o crime, no entanto, na visão de mundo do programa, esses medos só podem ser aplacados por vigilantes privados. Ao retratar o estado como ineficiente e/ou corrupto, o espetáculo potencializa ideologias do individualismo e do neoliberalismo antigovernamental. <![CDATA[Redes Sociais em Práticas de Delinquência Juvenil: Usos e Ilícitos Recenseados na Justiça Juvenil em Portugal]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-35752022000200157&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Na atualidade, o forte envolvimento dos jovens em redes sociais suscita o questionamento sobre potenciais efeitos multiplicadores de riscos e oportunidades para práticas de delinquência. Nem sempre é simples distinguir uma ação online inofensiva, parte integrante da experimentação social/relacional típica da adolescência, de um facto que passa a constituir um ilícito passível de intervenção judicial. Este artigo procura conhecer e discutir como o uso de redes sociais se materializa nos factos qualificados pela lei penal como crime praticados por jovens, entre os 12 e os 16 anos, no quadro da justiça juvenil em Portugal. Recorre-se à análise exploratória de informação qualitativa recolhida em Tribunal de Família e Menores, nos processos tutelares educativos de 201 jovens, de ambos os sexos. Pouco mais de terço da população viu provado o envolvimento em ilícitos com recurso a redes sociais, em três níveis diferenciados: planeamento/organização, execução e disseminação. A participação múltipla em redes sociais é dominante. É significativa a sobrerrepresentação das raparigas enquanto autoras de ilícitos, especialmente com elevado grau de violência, num continuum online-offline. A maioria dos factos analisados, de ambos os sexos, tem no epicentro, a perceção de que a honra pessoal foi atingida e requer reparação. Daí ao ato violento é um passo curto, o que pode levar à reconfiguração e troca de papéis entre vítima e agressor, nem sempre fácil de provar. Para ambos os sexos, as relações criadas a partir da escola dominam a interação entre agressores-vítimas. Mais do que o anonimato que o digital pode proporcionar, transparece a necessidade de afirmação no espaço público e/ou semiprivado, constituindo a ação violenta o catalisador para ganhar respeito pela imediata gratificação, que as redes sociais oferecem, num continuum online-offline que dá corpo à “onlife” (Floridi, 2017) que caracteriza a vida dos jovens no presente.<hr/>Abstract Currently, the strong involvement of young people in social media raises questions about potential multiplier effects on risks and opportunities for delinquent practices. It is not always easy to distinguish a harmless online action, an integral part of the social and relational experimentation typical of adolescence, from a fact that will constitute an unlawful act subject to judicial intervention. This article seeks to understand and discuss how the use of social media is materialized in the facts, defined as a crime by the criminal law, perpetrated by young people aged between 12 and 16, in the context of youth justice in Portugal. It is based on an exploratory analysis of qualitative information collected in a Family and Children Court from youth justice proceedings concerning 201 young people of both sexes. Just under a third of this population was proven to have been involved in unlawful acts using social media at three levels: planning/ organization, execution and dissemination. Multiple participation in social media is dominant. There is a significant overrepresentation of girls as perpetrators of unlawful acts, especially those involving a high degree of violence, embodying the online-offline continuum. Most of the analysed facts of both sexes have at their epicentre the perception that personal honour has been attacked and requires reparation. From there, it is a short step to violence, which can lead to a reconfiguration and exchange of roles between victim and aggressor, which is not always easy to prove. For both sexes, the relationships established in school dominate the interaction between aggressors-victims. More than the anonymity afforded by the digital, what stands out is the need for affirmation in public and/or semi-private space, and violent action is the catalyst to gain respect through the instant gratification offered by social media in an online-offline continuum embodying the “onlife” (Floridi, 2017) that characterizes the lives of young people today. <![CDATA[Violência Online Contra as Mulheres: Relatos a Partir da Experiência da Pandemia da COVID-19]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-35752022000200179&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Depois de a pandemia de COVID-19 ter sido declarada pela Organização Mundial de Saúde em março de 2020, um conjunto de medidas sanitárias foram adotadas internacionalmente para controlar a expansão do vírus. De entre estas, os confinamentos e isolamentos tiveram como consequência a adoção generalizada de tecnologias de comunicação como mediadoras em todas as situações quotidianas que implicassem contacto físico, do trabalho ao lazer. Para além das várias situações inéditas que a pandemia trouxe, esta adoção generalizada trouxe um contexto sem precedentes no que diz respeito à violência de género online, com particular enfoque nas mulheres. Este estudo debruça-se sobre a forma como as mulheres experienciam a natureza, a prevalência e os impactos da violência online ocorrida durante a pandemia de COVID-19. Com recurso a uma análise temática crítica, esta abordagem qualitativa resultou de entrevistas em profundidade a 30 mulheres vítimas/sobreviventes de violência online durante a pandemia. Os dados permitiram identificar 10 tipos de modalidades dinâmicas e híbridas de violência online contra mulheres. Os resultados deste estudo contribuem, não só para aprofundar o conhecimento sobre este período específico, mas, sobretudo, para a solidificação e tipificação de um léxico relativo à violência online, ajudando a colmatar uma falha existente em Portugal.<hr/>Abstract After the pandemic of COVID-19 was declared by the World Health Organization in March 2020, a set of health measures were adopted internationally to control the spread of the virus. Among these, the lockdowns and isolations resulted in the widespread adoption of communication technologies as mediators in all daily situations involving physical contact, from work to leisure. In addition to the several unprecedented conditions that the pandemic brought, this widespread adoption brought about an unparalleled context regarding online gender violence, focusing on women. This study focuses on how women experience the nature, prevalence, and impacts of online violence during the COVID-19 pandemic. By using critical thematic analysis, this qualitative approach resulted from in-depth interviews with 30 women victims/survivors of online violence during the pandemic. The data enabled the identification of 10 types of dynamic and hybrid modalities of online violence against women. The results of this study contribute to deepening the knowledge about this specific period and, above all, to the solidification and typification of a lexicon related to online violence, helping to fill an existing gap in Portugal. <![CDATA[Tecnologia de Reconhecimento Facial e Segurança Pública nas Capitais Brasileiras: Apontamentos e Problematizações]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-35752022000200205&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo A partir da identificação e análise de propostas apresentadas por gestores públicos municipais, o presente artigo tece apontamentos sobre a relação entre tecnologias digitais e segurança pública no Brasil. Como corpus de pesquisa, foram selecionados os programas de governo elaborados pelos atuais prefeitos de todas as capitais do país na última eleição municipal (2020) e protocolados no Tribunal Superior Eleitoral. Como principais resultados da análise, apontam-se aqui: a previsão de uso de tecnologias digitais na segurança pública por 15 dos atuais 26 prefeitos de capitais, a pulverização partidária e a diversidade geográfica desses gestores, o ocultamento de potenciais problemas na aplicação dessas tecnologias. Adotando as noções de capitalismo de vigilância (Zuboff, 2018/2020) e racismo algorítmico (Silva, 2019) compreende-se em termos conclusivos que, sobretudo em um país marcado pelo racismo estrutural, as tecnologias digitais aplicadas à segurança pública devem ser pautadas considerando as possíveis implicações éticas, sociais, políticas e culturais, de modo que, na busca pelo combate à criminalidade e por ampliação da segurança, não se perpetue violências contra grupos historicamente discriminados.<hr/>Abstract Based on the identification and analysis of proposals presented by municipal public administrators, this paper notes the relationship between digital technologies and general security in Brazil. The government programs prepared by the current mayors of all capitals of the country in the last municipal election (2020), and filed with the Superior Electoral Court, were selected as a research corpus. As the main results of the analysis, we lay out the following: the forecast of the use of digital technologies in public security by 15 of the current 26 mayors of capital cities, the party pulverization and the geographic diversity of these managers, the concealment of potential problems in the application of these technologies. Adopting the notions of surveillance capitalism (Zuboff, 2018/2020) and algorithmic racism (Silva, 2019), we conclusively understand that digital technologies applied to public security must consider the possible ethical, social, political, and cultural implications, especially in a country marked by structural racism, so that, in fighting crime and expanding protection, violence against historically discriminated groups is not perpetuated. <![CDATA[“Preciso de Munições, Não de Boleia”: A Guerra Cibernética Ucraniana]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-35752022000200221&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract The Russian invasion of Ukraine in February 2022 has shown that cyberwarfare is integral to modern military strategies. Although the Russian army has developed cyber capabilities and capacities over the years, Ukraine has quickly created a new and innovative cyber defence that includes public and private actors. Using online communication platforms to reach out to populations, internally and externally, has been instrumental for military success. Inventive thinking has enabled the actors to utilise the online space and develop new computing tactics to defend the country. The intense online presence of Ukrainian President Zelenskyy stands in clear contrast to Russian President Putin. President Zelenskyy is mastering online communication and is speaking directly to the people. Because of his constant use of virtual communication platforms, new public and private resistance movements have formed based on civic activism and a defiant stance against Russian aggression. Various non-governmental groups of hackers, hacktivists and activists have created a structure of resistance, where each has taken on a role in a nodal system depending on skills and engagement levels. This article will focus on how the Ukrainian leadership has been able to carry out a successful speech act that has activated numerous online users internally and externally. This speech act has enabled a new form of online civic activism where online actors fight with the military forces - but mostly without being employed by the state. Within the first 40 days, this activism has proven beneficial to the existing military force to defend Ukraine. The article investigates Ukraine’s role in the David and Goliath fight and how Ukraine’s initiatives have helped develop its cyber defence. The research is based on secondary sources predominately based on grounded theory, where the data collected are critically compared with theoretical content. All data is theoretically sampled and analysed based on the established socio-political approaches deriving from discourse analysis. The timeframe for this research is the first 40 days of the conflict, starting on February 24 2022.<hr/>Resumo A invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022 demonstrou que a guerra cibernética integra as estratégias militares modernas. Embora o exército russo tenha desenvolvido capacidades e competências cibernéticas ao longo dos anos, a Ucrânia criou rapidamente uma nova e inovadora defesa cibernética que inclui agentes públicos e privados. A utilização de plataformas de comunicação online para chegar às populações, dentro e fora do país, tem sido fundamental para o sucesso militar. O pensamento inventivo permitiu aos agentes utilizar o espaço online e desenvolver novas táticas informáticas para defender o país. A intensa presença online do presidente da Ucrânia, Zelenskyy, contrasta claramente com a do Presidente Putin da Rússia. O Presidente Zelenskyy domina a comunicação online e fala diretamente com as pessoas. A sua constante utilização de plataformas virtuais de comunicação motivou a formação de novos movimentos de resistência públicos e privados assentes no ativismo cívico e numa postura desafiadora contra a agressão russa. Vários grupos não governamentais de hackers, hacktivistas e ativistas criaram uma estrutura de resistência, onde cada um assumiu um papel num sistema nodal, em função das competências e dos níveis de envolvimento. Este artigo abordará como a liderança ucraniana tem desenvolvido um ato de discurso bem-sucedido que tem mobilizado inúmeros utilizadores online interna e externamente. Este ato de discurso permitiu uma nova forma de ativismo cívico online onde os intervenientes online combatem as forças militares - sem serem na sua maioria contratados pelo estado. Nos primeiros 40 dias, este ativismo provou trazer benefícios para a força militar existente defender a Ucrânia. O artigo investiga o papel da Ucrânia na luta de David e Golias e como as iniciativas da Ucrânia têm ajudado a desenvolver a sua defesa cibernética. A investigação assenta em fontes secundárias predominantemente baseadas em teoria fundamentada, onde os dados recolhidos são comparados de forma crítica com o conteúdo teórico. Todos os dados são recolhidos e analisados teoricamente com base nas abordagens sociopolíticas estabelecidas, decorrentes da análise do discurso. Esta investigação tem como horizonte temporal os primeiros 40 dias do conflito, com início a 24 de fevereiro de 2022. <![CDATA[A Arte de Macular: Como É Recebido o Artivismo Descolonizador Feminista Pelos Jornais Italianos? O Caso da Estátua de Montanelli]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-35752022000200245&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract On March 8, 2019, during a demonstration organised on occasion of the International Women’s Day in Milan, members of the feminist collective Non Una Di Meno (not one woman less) Milano threw washable pink paint on the statue that commemorates the Italian journalist Indro Montanelli (1909-2001). The aim of exposing at a visual level the acclaimed writer’s controversial past was crucial to the group’s symbolic action. In fact, despite being a reference figure for many Italian intellectuals, Montanelli participated in the Abyssinian war in 1935 and, as a member of the fascist army, he engaged in a relationship with a 12-year-old local girl who acted as his wife and sexual object. The collective’s action, which can be labelled as a feminist decolonizing performance, has already been read as a form of artivism that manipulated the Italian’s artistic heritage with the objective of criticising the existing narrative on Italy’s colonial past. In this sense, an analysis of the resonance that journalistic coverage assigned to the event proves crucial for understanding the impact that such an action has had on Italian public opinion and the progress towards the country’s mental decolonization. This article presents the findings of a qualitative analysis conducted on a corpus of 10 online newspaper articles published in the aftermath of the artivist performance on Montanelli’s statue. The study employs Foucauldian critical discourse analysis in order to identify the rhetorical strategies used by journalists to criticise or legitimate the feminist collective’s action. Among these strategies, particular attention is paid to those discursive techniques adopted to portray the act as a form of vandalism or, on the contrary, as a form of art. The aim is to show how the discourse on art versus non-art/vandalism is used to confirm (or overcome) the discursive limits imposed by the still dominant narratives on the nation’s colonial history as well as on the disposability of “othered” women’s bodies.<hr/>Resumo No dia 8 de março de 2019, durante uma manifestação organizada no âmbito do Dia Internacional da Mulher em Milão, membros do coletivo feminista Non Una Di Meno (nem uma mulher a menos) de Milão lançaram tinta rosa lavável sobre a estátua em homenagem ao jornalista italiano Indro Montanelli (1909-2001). O objetivo de expor visualmente o passado controverso do aclamado escritor foi crucial para a ação simbólica do grupo. Apesar de ser uma figura de referência para muitos intelectuais italianos, Montanelli participou na guerra abissínia em 1935 e, como membro do exército fascista, manteve um relacionamento com uma menina local de 12 anos que desempenhou o papel de esposa e objeto sexual. A ação do coletivo, que pode ser rotulada como uma performance feminista descolonizadora, já foi lida como uma forma de artivismo que manipulou a herança artística italiana visando criticar a narrativa vigente sobre o passado colonial italiano. Assim, para compreender o impacto que a ação teve na opinião pública italiana e o progresso para a descolonização mental do país, é crucial uma análise da ressonância que a cobertura jornalística atribuiu ao evento. Este artigo apresenta os resultados de uma análise qualitativa realizada sobre um corpus de 10 artigos de jornal online publicados na sequência da performance artivista sobre a estátua de Montanelli. O estudo utiliza a análise crítica do discurso foucaultiano para identificar as estratégias retóricas utilizadas pelos jornalistas para criticar ou legitimar a ação do coletivo feminista. Entre estas estratégias, é dada particular atenção às técnicas discursivas adotadas para retratar o ato como uma forma de vandalismo ou, pelo contrário, como uma forma de arte. O objetivo é mostrar como o discurso sobre arte versus não arte/vandalismo é usado para confirmar (ou superar) os limites discursivos impostos pelas narrativas ainda dominantes sobre a história colonial da nação, bem como sobre a disponibilidade de corpos de mulheres “alheias”. <![CDATA[A Pandemia da COVID-19 e a Potencialização das Desigualdades: Comunidades Ciganas e Meios de Comunicação]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-35752022000200259&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Os povos ciganos são uma minoria historicamente excluída, invisibilizada e perseguida nos diferentes países onde se encontram, especialmente se considerarmos o contexto de sua chegada à Europa e os processos de colonização desenvolvidos por esse continente. Diante disso, trabalhamos neste texto os modos como as comunidades ciganas estão sendo impactadas pela pandemia da COVID-19, a partir de discussões das áreas da comunicação e da saúde, bem como de uma visão crítica dos processos mencionados anteriormente. Refletimos teoricamente sobre como essas etnias são atravessadas por múltiplas opressões que as colocam em situação de desigualdade e qual o papel da comunicação em sua inclusão social ou na manutenção de sua exclusão. Destacamos como sua invisibilidade e estereótipos históricos foram aflorados durante a pandemia, aprofundando as relações de desigualdades. A partir de um olhar crítico sobre as relações discursivas, analisamos duas reportagens jornalísticas publicadas ainda em 2020, uma, no Brasil, do jornal goiano O Popular, e outra, em Espanha, do jornal ABC de circulação nacional. A culpabilização das populações ciganas pela disseminação do vírus e seu silenciamento enquanto sujeitos capazes de articular e de refletir discursivamente sobre suas condições e situações no contexto da pandemia foram alguns dos resultados encontrados, mostrando semelhanças nas representações dos povos ciganos no contexto ibero-americano.<hr/>Abstract The Romani people are a minority that has been historically excluded, neglected, and persecuted in the different countries where they are settled, especially if we consider the context of their arrival in Europe and the colonization processes developed by European nations. Thus, this paper sheds light on how the Romani communities have been impacted by the COVID-19 pandemic from the communication and health perspective and provides a critical view of the above-mentioned processes. We discuss theoretically how these ethnicities are crossed by multiple oppressions that place them in an unequal situation and the role of communication in their social inclusion or the maintenance of their exclusion. We highlight how their invisibility and how historical stereotypes were highlighted during the pandemic, deepening the unequal relations. From a critical perspective on discursive relations, we analyzed two journalistic reports from 2020, the local newspaper O Popular in Brazil and the national newspaper ABC in Spain. Some results suggest that the Romani population has been somewhat held accountable for disseminating the virus. Moreover, they seem to have been silenced as subjects capable of articulating and reflecting on their conditions and situations in the pandemic context, showing similarities in the portrayal of the Romani people in the Ibero-American context. <![CDATA[Para uma História do Jornalismo Literário Português: Repórteres e Escritores ao Longo do Tempo]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-35752022000200275&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo O jornalismo e a literatura mantêm desde sempre uma relação de certa proximidade. Se algumas obras literárias se aproximam do registo jornalístico de relato sobre o presente, também certas reportagens escritas parecem autênticas obras literárias graças a uma narrativa que excede as técnicas do jornalismo convencional. É neste enquadramento que se pode falar de jornalismo literário, um jornalismo escrito por jornalistas (e não jornalismo escrito por escritores ou sobre jornalistas), que, seguindo as regras e exigências que definem a profissão, abre espaço para o uso de técnicas tipicamente associadas à literatura. Portugal possui uma longa história de jornalismo literário e de jornalistas que se distinguem por este estilo. Neste sentido, este estudo procura oferecer uma visão diacrónica do jornalismo literário português através de uma análise do seu desenvolvimento, desde o fim do século XIX e atravessando a Primeira República, o Estado Novo, o pós-25 de Abril, até à atualidade. Ao mesmo tempo, considera-se diferentes exemplos de jornalismo literário internacional de forma a estabelecer uma definição possível para o tema.<hr/>Abstract Journalism and literature have always maintained a close relationship. While some literary works resemble the journalistic style of reporting on the present, some written reports are true literary works thanks to a narrative that exceeds the techniques of conventional journalism. It is within this framework that one can talk about literary journalism, journalism written by journalists (and not journalism written by writers or about journalists), which, following the rules and requirements that define the profession, makes room for the use of techniques typically associated with literature. Portugal has a long literary journalism history, and journalists who are distinguished by this style. This study seeks to offer a diachronic view of Portuguese literary journalism through an analysis of its development, from the end of the 19th century and across the First Republic, the Estado Novo, after April 25, to the present day. At the same time, we will consider different examples of international literary journalism to establish a possible definition for the topic. <![CDATA[A Narrativa Jornalística no Twitter de um (Não) Atentado em Portugal]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-35752022000200293&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Quinta-feira, dia 10 de fevereiro de 2022, “um estudante de 18 anos foi detido esta quinta-feira pela Polícia Judiciária suspeito do crime de terrorismo, já que estaria há meses a planear atacar os colegas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa” (Henriques et al., 2022, para. 1). Um caso sem grande paralelo em Portugal, num contexto mediático caracterizado pelo que é imediato e pela crescente importância das redes sociais e média sociais, como o Twitter, inclusive para a circulação de informação. Parte-se de um entendimento do Twitter como uma plataforma relevante para o jornalismo contemporâneo que conecta fluxos de informação entre partes (Bennett &amp; Segerberg, 2012; Sadler, 2018). Foram extraídos 3.577 tweets no espaço de 1 semana desde o caso, das cinco contas oficiais no Twitter com mais seguidores, de cariz jornalístico/informativo em Portugal. Desses, apenas 104 tweets se focam neste particular caso, destacando-se o facto de o Correio da Manhã apresentar o triplo de tweets do Expresso. Este trabalho utiliza uma abordagem qualitativa para realizar uma análise discursiva, com recurso a nuvens de palavras, que representam visualmente a frequência de termos. A identificação de narrativas, inclusive macro e micronarrativas (Lits, 2015; Motta, 2013), orienta este trabalho, que resulta na identificação da macronarrativa da existência de um ataque numa faculdade da Universidade de Lisboa. A narrativa do terrorismo, apesar de comum no corpus geral, não é central, já que se encontra de forma não uniforme entre as cinco nuvens de palavras, sendo identificada nas nuvens de palavras da SIC Notícias, do Jornal de Notícias e do Correio da Manhã. A análise desenvolvida procura auxiliar o desenvolvimento de entendimentos sobre as narrativas utilizadas para dar e construir sentido à cobertura mediática deste caso específico sem grande comparação em Portugal.<hr/>Abstract Thursday, February 10, 2022, “an 18-year-old student was arrested this Thursday by the Judiciary Police suspect of the crime of terrorism, as he had been planning to attack his colleagues at the Faculty of Science of the University of Lisbon for months” (Henriques et al., 2022, para. 1). A case without parallel in Portugal, in a media context characterised by immediate consumption and the growing importance of social networks and social media, such as Twitter, even in information dissemination. We start from the perception of Twitter as a relevant platform for contemporary journalism that connects information flows between parties (Bennett &amp; Segerberg, 2012; Sadler, 2018). Some 3,577 tweets were extracted within 1 week since the occurrence from the five official Twitter accounts with the most followers of journalistic/information nature in Portugal. Of those, only 104 tweets focus on this particular case, with Correio da Manhã showing three times as many tweets as Expresso. This work uses a qualitative approach to perform a discourse analysis using word clouds, visually representing the frequency of terms. Determining the narratives, including macro and micro-narratives (Lits, 2015; Motta, 2013), serves as guidelines for identifying the macro-narrative of an attack on a faculty of the University of Lisbon. Although common in the general corpus, the terrorism narrative is not central since it is found in a non-uniform way among the five-word clouds, only identified in the word clouds of SIC Notícias, Jornal de Notícias and Correio da Manhã. The analysis seeks to help develop insights about the narratives employed to provide and construct meaning to the media coverage of this unmatched case in Portugal.