Scielo RSS <![CDATA[Revista Lusófona de Estudos Culturais (RLEC)/Lusophone Journal of Cultural Studies (LJCS)]]> http://scielo.pt/rss.php?pid=2184-045820230002&lang=pt vol. 10 num. 2 lang. pt <![CDATA[SciELO Logo]]> http://scielo.pt/img/en/fbpelogp.gif http://scielo.pt <![CDATA[Nota Introdutória: BD Maravilha. Redefinindo o Género nas Narrativas Gráficas Ibero-Americanas]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582023000200007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt <![CDATA[Patrícia Galvão: A Primeira Quadrinista Brasileira]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582023000200021&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Embora muitos nomes masculinos tenham sido reconhecidos na história dos quadrinhos brasileiros, poucas figuras femininas são lembradas. Nesse sentido, este artigo tem por objetivo a análise de dois trabalhos de Patrícia Galvão: o álbum “Nascimento, Vida, Paixão e Morte” e a série de oito tiras publicadas no jornal O Homem do Povo, intitulada “Malakabeça, Fanika e Kabelluda”. Mais conhecida como Pagu, Patrícia Galvão é hoje reconhecida como a primeira mulher a publicar quadrinhos no Brasil. “Nascimento, Vida, Paixão e Morte” foi produzido quando a autora tinha apenas 19 anos e configura-se como uma narrativa gráfica autobiográfica, a qual pode ser considerada como o primeiro quadrinho brasileiro escrito e desenhado por uma mulher. Além disso, Pagu inaugurou a produção de tiras de autoria feminina e com temática feminista no Brasil, ao trazer duas representações femininas diferentes em “Malakabeça, Fanika e Kabelluda”: a esposa tradicionalista e a jovem contestadora e fora dos padrões convencionais. A despeito de sua inovação e importância no cenário cultural brasileiro, Patrícia Galvão foi - e, por vezes, ainda é - frequentemente reconhecida apenas como “musa modernista” ou ainda pelas suas relações pessoais com escritores renomados. Assim, reexaminar a produção de Patrícia Galvão é necessário, uma vez que, enquanto mulher e independente de suas ligações, ela produziu obras de importância significativa na comunicação e na disseminação de mensagens políticas feministas e contra a discriminação e violência de gênero. Portanto, torna-se fundamental reconhecer e repensar o papel de Patrícia Galvão/Pagu na história dos quadrinhos brasileiros.<hr/>Abstract Although many male names have been recognised in the history of Brazilian comics, only some female figures are remembered. As such, this article aims to analyse two works by Patrícia Galvão: the album "Nascimento, Vida, Paixão e Morte" (Birth, Life, Passion and Death) and the series of eight strips published in the newspaper O Homem do Povo, under the title "Malakabeça, Fanika e Kabelluda" (Malakabeça, Fanika and Kabelluda). Better known as Pagu, Patrícia Galvão is now acknowledged as the first woman to publish comics in Brazil. "Nascimento, Vida, Paixão e Morte” was produced when the author was just 19 years old and is an autobiographical graphic narrative, considered the first Brazilian comic written and drawn by a woman. Moreover, Pagu pioneered the production of female-authored, feminist-themed strips in Brazil when she introduced two distinct female representations in "Malakabeça, Fanika e Kabelluda": the traditionalist wife and the young rebellious woman who defied conventional standards. Despite her innovation and prominent presence in the Brazilian cultural scene, Patrícia Galvão was - and sometimes still is - primarily recognised as a "modernist muse" or for her relationships with renowned writers. Thus, it is worth revisiting Patrícia Galvão's production since, as a woman and regardless of her connections, she produced highly relevant works communicating and disseminating feminist political messages and opposing gender discrimination and violence. It is, therefore, essential to acknowledge and reconsider the role of Patrícia Galvão/Pagu in the history of Brazilian comics. <![CDATA[Mulheres, Política e Humor Gráfico na Imprensa do Início do Século XX: Um Breve Olhar Sobre o Caso Brasileiro]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582023000200037&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo O artigo visa refletir sobre a representação e a presença de mulheres no humor gráfico da imprensa brasileira no início do século XX. Tomaremos como fontes principais da análise três exemplos distintos: as caricaturas de mulheres feitas pela artista Nair de Teffé (com o pseudônimo Rian) na década de 1910, as ilustrações que a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino utilizou nas publicações da seção “Feminismo” do jornal O Paiz no final da década de 1920 e, por fim, as tirinhas cômicas “Malakabeça, Fanika e Kabelluda” de Patrícia Galvão (popularmente conhecida como Pagu), publicadas no periódico O Homem do Povo em 1931. Além de analisar as obras dessas mulheres, o artigo propõe uma comparação com os quadrinhos publicados pela revista O Malho, um periódico humorístico massivo do início do século XX. As ilustrações destacadas, de autoria dos caricaturistas J. Carlos e Leônidas, são representativas da produção hegemônica da época, que evocava concepções sexistas das relações de gênero. Nosso objetivo é discutir as particularidades e as similaridades das obras idealizadas pelas mulheres, em que predominaram o olhar crítico e subversivo dessas figuras diante da sociedade de seu tempo. A abordagem histórica e comparativa possibilitará recuperar essas narrativas gráficas pouco conhecidas, bem como lançar luz às relações de gênero e de poder que constituem o universo da imprensa e das publicações humorísticas do período.<hr/>Abstract This article addresses the representation and presence of women in the graphic humor of the Brazilian press in the early 20th century. We take three distinct examples as the main sources of the analysis: the caricatures of women made by the artist Nair de Teffé (under the pseudonym Rian) in the 1910s, the illustrations the Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (Brazilian Federation for Women's Progress) used in the publications of the “Feminismo” (Feminism) section of the newspaper O Paiz in the late 1920s and, finally, the comic strips “Malakabeça, Fanika e Kabelluda” (Malakabeça, Fanika and Kabelluda) by Patrícia Galvão (popularly known as Pagu), published in the periodical O Homem do Povo in 1931. In addition to analyzing the works of these women, the article proposes a comparison with the comics published in the magazine O Malho, a mass humor periodical from the early 20th century. The highlighted illustrations, authored by the caricaturists J. Carlos and Leônidas, are representative of the dominant production of the time, which evoked sexist conceptions of gender relations. Our goal is to discuss the particularities and similarities of the works envisioned by women, in which the critical and subversive gaze of these figures predominated in the face of the society of their time. The historical and comparative approach makes it possible to recover these little-known graphic narratives, and shed light on the gender and power relations that constitute the universe of the press and humorous publications then. <![CDATA[Um Útero com Visão (Política): A Reivindicação dos Direitos Reprodutivos nos Cartoons Feministas Espanhóis]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582023000200063&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract Drawing attention to the ways in which art activism can be mobilized “with the objective of achieving social and or political change” (Serafini, 2018, p. 3), in this article, I attend especially to the image of the womb as a powerful visual metaphor for political intervention. Analyzing the transformative potential of an embodied medium such as political cartoons, the present article focuses on Wombastic, a Tumblr-based initiative organized by the Spanish collective Autoras de Cómic in response to the restrictive abortion bill that the Spanish right-wing Partido Popular approved in the Council of Ministers on December 20, 2013. While right-wing legislators have turned women’s bodies into battlefields in their attempt to reinstate heteropatriarchal gender norms, feminist graphic interventions reclaim the body as a site of resistance to disrupt neoconservative propaganda. Studying the sociopolitical context in which it was launched, this article underlines the connection between the “repoliticization of Spanish social life” (Herrero, 2019, p. 127), and the resurgence of powerful feminist activism, centering on reproductive rights. Steeped in the post 11M social climate, this study reveals the discursive power of political cartoons at a time of renewed politicization of the body, increased social mobilizations, and powerful feminist activism. Socially engaged comics and cartoons such as the ones uploaded to Wombastic display feminist agency, reclaiming women’s creativity and ownership of their own sexuality and reproductive choices.<hr/>Resumo Neste artigo, destaco o uso da imagem do útero como uma metáfora visual poderosa no ativismo artístico, chamando a atenção para as formas como este pode ser mobilizado “com o objetivo de alcançar uma mudança social e/ou política” (Serafini, 2018, p. 3). Este artigo, concentra-se no potencial transformador dos cartoons políticos, com ênfase na iniciativa Wombastic. Esta iniciativa foi criada no Tumblr pelo coletivo espanhol Autoras de Cómic, com o objetivo de contestar um projeto de lei restritivo sobre o aborto aprovado pelo Partido Popular espanhol, a 20 de dezembro de 2013. Enquanto os legisladores de direita tentaram impor normas de género heteropatriarcais usando os corpos das mulheres como campo de batalha, as intervenções gráficas feministas recuperaram o corpo como um local de resistência para desafiar a propaganda neoconservadora. Estudando o contexto sociopolítico em que foi lançado, este artigo sublinha a ligação entre a “repolitização da vida social espanhola” (Herrero, 2019, p. 127) e o ressurgimento de um poderoso ativismo feminista, centrado nos direitos reprodutivos. Mergulhado no clima social pós-11M, este estudo revela o poder discursivo dos cartoons políticos num momento de renovada politização do corpo, aumento das mobilizações sociais e poderoso ativismo feminista. A banda desenhada e os cartoons socialmente empenhados, como os que foram carregados no Wombastic, revelam uma agência feminista que reclama a criatividade das mulheres e a propriedade da sua própria sexualidade e escolhas reprodutivas. <![CDATA[O Potencial de Representação da Narrativa Gráfica: <em>Nódoa Negra</em> e a Dor no Feminino]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582023000200087&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo O sucesso e a popularidade que as narrativas gráficas têm alcançado nestas últimas décadas fazem delas um poderoso objeto mediático de comunicação e expressão. Fortemente associadas à cultura popular e de massas, ao entretenimento e à facilidade de leitura, interessa perceber a sua aptidão para a abordagem de temas complexos, como a representação da dor no feminino, frequentemente negligenciada cultural e cientificamente. Nesse sentido, a análise de Nódoa Negra (Lopes et al., 2018), volume de banda desenhada coordenado por Dileydi Florez e que reúne narrativas gráficas criadas por mulheres em torno da temática da dor, mostra-se aqui particularmente relevante. Neste artigo, propomo-nos a explorar o potencial da narrativa gráfica para representar a dor no feminino, tomando como exemplo várias narrativas incluídas em Nódoa Negra. O duplo código semântico texto-imagem, característico da linguagem das narrativas gráficas, permite a multiplicação de recursos discursivos, promovendo maior amplitude de representações. Ao dizer o que não pode ser mostrado, mostrar o que não pode ser dito, e promover a construção de significados no espaço intersticial entre texto e imagem, a narrativa gráfica permite um maior refinamento e expressividade da dor na sua abstração e concretização, entre o dizível e o indizível. O enquadramento teórico-metodológico adotado incide sobre os estudos de cultura e comunicação, os estudos críticos do discurso e as humanidades médicas.<hr/>Abstract Graphic narratives' success and popularity in the late decades make them powerful communication and expression media objects. Closely associated with popular and mass culture, entertainment and easy reading, it is interesting to realise their ability to address complex issues, such as the representation of pain in women, which is often culturally and scientifically neglected. Thus, the analysis of Nódoa Negra (Bruise; Lopes et al., 2018), a comic book volume curated by Dileydi Florez featuring graphic narratives by women around the theme of pain, is particularly relevant here. This article explores the potential of graphic narratives to represent female pain based on several narratives included in Nódoa Negra. The dual semantic code of text-image, typical of the graphic narrative language, allows for the multiplication of discursive resources, promoting a broader range of representations. By saying what cannot be shown, showing what cannot be said, and encouraging the construction of meanings in the interstitial space between text and image, the graphic narrative allows for greater detail and expressive depiction of pain in its abstraction and materialisation between the sayable and the unsayable. The theoretical-methodological framework adopted focuses on culture and communication studies, critical discourse studies and medical humanities. <![CDATA[Teias do Eu, Teias do Significado. Três Retratos Fragmentários Femininos na Banda Desenhada Impressa Pós-Digital]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582023000200113&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract The present paper analyses the work of three contemporary, independent women artists active in the Portuguese comics scene: Hetamoé, Joana Mosi, and Ana Margarida Matos. It provides a close formal reading of their work by following Peter Wollen's seminal article on counter-cinema. Despite the caveats of adopting whole cloth and in a clearcut manner notions from different media, there are enough commonalities and narratological features that provide stimulating comparisons. As in cinema, comics also have a broadly accepted normative understanding of comics' way of creating meaning, against which these three authors present what one can call, after Wollen, resisting formal strategies. Portuguese comics have had a troubled history, which entails a difficult economic development and the lack of wider social recognition (as a culturally relevant field). However, its most independent realms and sub-cultures have provided ample proof of engaged, informed, and inventive individual creators. Women creators are no exception to this, and this particular group shows three potentialities of opening up the field, both politically and aesthetically. Moreover, these same de/re/constructive strategies broach issues associated with identity, self-portrait, bodily matters, memory, and the very meaning-making processes at the core of their work. The feminist dimensions of their work, albeit quite varied, allow one to detect intense interpretations of the self and the role of womanhood in a broader process of self-actualization and social life. Thus, I will use Sianne Ngai's notions of "cuteness" and "animatedness" to understand the three author's specific manners of doing so, as depicted and constructed within the medium of comics.<hr/>Resumo O presente artigo analisa o trabalho de três artistas contemporâneas, independentes e ativas no panorama da banda desenhada portuguesa: Hetamoé, Joana Mosi e Ana Margarida Matos. Faz uma leitura formal detalhada do seu trabalho, seguindo o artigo fundamental de Peter Wollen sobre contra-cinema. Apesar das ressalvas quanto à adoção de noções absolutas e inequívocas de diferentes media, há suficientes pontos em comum e características narratológicas que proporcionam comparações estimulantes. Tal como no cinema, também na banda desenhada existe um entendimento normativo amplamente aceite do modo de criação de sentido da banda desenhada, contra o qual estas três autoras apresentam aquilo a que se pode chamar, a exemplo de Wollen, estratégias formais de resistência. A banda desenhada portuguesa tem uma história conturbada, que envolve um desenvolvimento económico difícil e a falta de um reconhecimento social mais amplo (como um campo culturalmente relevante). No entanto, os seus domínios e subculturas mais independentes têm dado provas de criadores individuais empenhados, informados e inventivos. As mulheres criadoras não são exceção à regra, e este grupo em particular demonstra três potencialidades para expandir o campo, tanto política como esteticamente. Além disso, estas mesmas estratégias de des/re/construção abordam questões associadas à identidade, ao autorretrato, a questões corporais, à memória e aos próprios processos de criação de significado em que assenta o seu trabalho. As dimensões feministas do seu trabalho, ainda que bastante variadas, permitem detetar interpretações intensas do eu e do papel da mulher num processo mais amplo de autorrealização e vida social. Assim, utilizarei as noções de “cuteness” (fofura) e “animatedness” (animação) de Sianne Ngai para compreender como as três autoras interpretam e constroem o seu eu na banda desenhada. <![CDATA[Tem um Monstro no Meu Espelho: Uma Análise do Romance Gráfico Autobiográfico <em>Monstrans: Experimentando Horrormônios</em>, de Lino Arruda]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582023000200143&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo O presente artigo busca debater a construção de narrativas queer em outras formas de linguagem, como os quadrinhos, através do levantamento de bibliografias dentro dos escopos teóricos dos Estudos de Gênero, História da Arte e Quadrinhos. Uma autobiografia em quadrinhos pode apresentar inúmeras possibilidades de reflexão por se tratar de uma obra que permite que a imagem também seja parte da construção narrativa, pois, quando se trata de uma ilustração autobiográfica, temos a oportunidade de vislumbrar a imagem que o artista tem de si e se propõe a expor. Com o intuito de investigar as possibilidades de interpretação e análise de uma obra autobiográfica queer em quadrinhos, tal debate será construído por meio da análise do romance gráfico Monstrans: Experimentando Horrormônios, de Lino Arruda (2021), que traz, em sua publicação, traços disformes e aquarelados que constroem a narrativa das memórias do autor em seu processo de compreensão de sua identidade de gênero. Propõe-se refletir sobre a temática da monstruosidade presente nesta obra e como ela pode funcionar como recurso estilístico e crítica da autorrepresentação de corpos dissidentes, focando, especificamente, na relação do artista com o espelho, instrumento frequentemente visto em outras obras em quadrinhos de autoria travesti/trans também aqui mencionadas.<hr/>Abstract This article seeks to debate the construction of queer narratives in alternative forms of language, such as comics, by compiling relevant literature within the theoretical scopes of gender studies, art history and comics. Autobiographical comics offer countless possibilities for reflection because they incorporate visual elements into the narrative construction. When it comes to an autobiographical illustration, readers have a glimpse of how the artist views themselves in their memories and what they propose to expose. To explore the potential for interpreting and analysing queer autobiographical comics, this discussion centres on the graphic novel Monstrans: Experimentando Horrormônios (Monstrans: Experimenting with Horrormones) by Lino Arruda (2021). This work features deformed watercolour lines that construct the narrative of the author's memories in his journey to understanding his gender identity. The intention is to reflect on the theme of monstrosity present in this work and how it can be a stylistic resource and a means of critiquing the self-representation of dissident bodies, focussing specifically on the artist's relationship with the mirror, a recurring element in other transvestite/trans comics also mentioned in this article. <![CDATA[Multiplicidades, Narrativas de Vida e Memória Coletiva da Docência na História em Quadrinhos <em>Fessora!</em>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582023000200171&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo O artigo apresenta o quadrinho Fessora!, desenhado e escrito pela brasileira Aline Lemos, publicado de modo independente e por financiamento coletivo em 2021. A história narrada tem como enfoque a experiência pessoal da autora quando foi docente de história no ensino público por um semestre. A autora nos apresenta um conjunto de 15 histórias que abordam suas memórias pessoais com colegas de trabalho, corpo discente e pais. Neste texto, foram selecionadas seis bandas desenhadas, a fim de compreender, a partir das memórias e dos fragmentos de vida narrados, as tensões e confluências entre as vivências de trabalho acionadas pela artista. Retratam sua experiência pessoal como professora, revelando o cotidiano de professores da educação pública no Brasil. Para esta análise, usamos a ótica da narrativa de vida da linguista argentina Leonor Arfuch (2002/2003, 2013), quanto à relação entre narrativas de vida contemporâneas e o espaço biográfico; e a noção de memória coletiva (Halbwachs, 1950/1999; Bosi, 2009) para compreender a multiplicidade de experiências a partir da memória individual. Conclui-se que Aline Lemos apresenta uma obra que evidencia os desafios da educação sobre a valorização do docente e as desigualdades sociais em sala de aula.<hr/>Abstract This article features the comic Fessora!, drawn and written by Brazilian author Aline Lemos, published independently and through crowdfunding in 2021. The narrative focuses on the author's personal experience of teaching one semester of history in a public school. Aline presents a set of 15 stories that address their personal memories with co-workers, students, and parents. Six stories in comic format were selected in order to understand, based on the memories and fragments of life narrated, the tensions and confluences between the work experiences highlighted by the artist. They portray their personal experience as a teacher, the emergence of a collective that reveals to us the daily life of public-school teachers in Brazil. In our analysis, we used the perspective of the life narrative of the Argentine linguist Leonor Arfuch (2002/2003, 2013) on the relationship between contemporary life narratives and the biographical space, plus the notion of collective memory (Halbwachs, 1950/1999; Bosi, 2009) to understand the multiplicity of experiences arising from individual memory. The conclusion reached is that Aline Lemos’s work highlights the challenges of education on the valorization of the teacher and the social inequalities in the classroom. <![CDATA[Análise Transversal da Antologia Ibero-Americana <em>Coordenadas Gráficas: Cuarenta Historietas de Autoras de España, Argentina, Chile y Costa Rica</em>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582023000200195&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Resumo Esta recensão tem como objeto de análise a antologia ibero-americana Coordenadas Gráficas: Cuarenta Historietas de Autoras de España, Argentina, Chile y Costa Rica (Coordenadas Gráficas: Quarenta Bandas Desenhadas de Autoras de Espanha, Argentina, Chile e Costa Rica), publicada em 2020, em acesso digital aberto, por uma equipa de curadoras, no âmbito do programa Ventana da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento. Nela, apresentamos as principais características destas bandas desenhadas, assim como os artigos que introduzem os quatro blocos, examinamos a sua organização e os seus componentes temáticos, estilísticos e ideológicos através dum percurso definido pelos trabalhos selecionados. Destacamos a sua visão panorâmica sobre a produção historietista feminina desde as últimas décadas até o presente e a sua contribuição para visibilizar as problemáticas que, ao longo de 40 anos, as diversas autoras têm enfrentado. Ainda que esta obra apresente uma divisão nacional e, consequentemente, centrada em cada um dos seus contextos, cada secção oferece uma perspetiva interseccional e intergeracional. Definitivamente, este trabalho constitui e define-se como um espaço aberto de mulheres autoras de banda desenhada que procura crescer com futuras propostas para combater o patriarcado heteronormativo.<hr/>Abstract This review analyses the Ibero-American anthology Coordenadas Gráficas: Cuarenta Historietas de Autoras de España, Argentina, Chile y Costa Rica (Graphic Coordinates: Forty Comics by Women Authors from Spain, Argentina, Chile and Costa Rica), published in 2020 in open digital access by a team of curators under the Ventana programme of the Spanish Agency for International Development Cooperation. It outlines the essential characteristics of these comics and the introductory articles for the four sections. It examines their structure and explores their thematic, stylistic, and ideological aspects by following the path laid out by the selected works. It highlights the anthology's portrayal of women's historical contributions from recent decades to the present and its role in raising awareness about the challenges various women authors have encountered and addressed over 40 years. Although this work is organised by country and thus delves into each context, each section offers an intersectional and intergenerational perspective. Ultimately, this review represents an inclusive platform for women comic authors, fostering their growth and presenting future proposals to challenge heteronormative patriarchy. <![CDATA[Coordenadas Partilhadas: A Escrita da <em>Herstory</em> na Banda Desenhada Ibero-Americana]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-04582023000200205&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Abstract This study focuses on the emergence of a transnational sisterhood under three projects originating from the cooperation between groups of female comic book writers in Spain and Latin America. After the 2016 exhibition “Presentes: Autoras de Tebeo de Ayer y de Hoy” and the publication of its catalogue by Autoras de Cómic, there was a shared need to claim back the role of female or non-male authorship, and its involvement in comic book production and business. The Argentinian group Feminismo Gráfico tapped into such endeavors, and in 2019 produced “Nosotras Contamos”, a travelling exhibition and a catalogue, with a thematic and a diachronic approach. When COVID-19 broke out, Spanish and Argentinian cooperation and development institutions (Agencia Española de Cooperación Internacional y Desarrollo and Centro Cultural España Córdoba) engaged in a discussion on the previous experiences. The project resulted in a publication and an online exhibition Coordenadas Gráficas (Graphic Coordinates), highlighting the work of non-male authors from Spain, Argentina, Chile, and Costa Rica. The transnational perspective of this last project extends beyond the previous national experiences and includes a meaningful selection of comic stories that, regardless of the nationality of the author, can be defined as feminist. Sexism, gender discrimination, gender violence, and sexual and reproductive rights are the shared coordinates discussed by this long list of authors, who question gender normativity from its very composition. By introducing the associative experiences that gave life to the projects and analyzing them in the international context, the study will focus on the appropriate practice of sharing knowledge to pursue a similar recognition. Moreover, based on the words of the curators and the creators, the study ultimately seeks to shed light on the production and circulation of works of collective interest, meant to recover the role of women in the history of comics.<hr/>Resumo Este estudo centra-se no surgimento de uma sororidade transnacional através de três projetos que resultam da cooperação entre grupos de autoras de banda desenhada em Espanha e na América Latina. Após a exposição “Presentes: Autoras de Tebeo de Ayer y de Hoy”, em 2016, e a publicação do seu catálogo pelo coletivo Autoras de Cómic, surgiu uma necessidade comum de reivindicar o papel da autoria feminina, ou não masculina, e o seu envolvimento na produção e no negócio da banda desenhada. Este esforço foi rapidamente assumido pelo grupo argentino Feminismo Gráfico que, em 2019, produziu “Nosotras Contamos”, uma exposição itinerante e um catálogo, com uma abordagem temática e diacrónica. Aquando da pandemia de COVID-19, as instituições de cooperação e desenvolvimento espanholas e argentinas (Agencia Española de Cooperación Internacional y Desarrollo e Centro Cultural España Córdoba) iniciaram um diálogo sobre as experiências anteriores. O projeto deu origem a uma publicação e a uma exposição online intitulada Coordenadas Gráficas, que destaca o trabalho de autores não masculinos de Espanha, da Argentina, do Chile e da Costa Rica. A perspetiva transnacional deste último projeto ultrapassa as experiências nacionais anteriores e, mais importante, inclui uma seleção de histórias de banda desenhada que, independentemente da nacionalidade da autora, podem ser definidas como feministas. Sexismo, discriminação de género, violência de género e direitos sexuais e reprodutivos são as coordenadas comuns discutidas por este grupo alargado de autoras, que questionam a normatividade de género desde a sua própria composição. Ao apresentar as experiências associativas que deram vida aos projetos e ao analisá-las num contexto internacional, o estudo centrar-se-á na prática adequada de partilha de conhecimentos para obter um reconhecimento semelhante. Além disso, através das palavras das curadoras e das criadoras, o estudo pretende, em última análise, lançar luz sobre a produção e a circulação de obras de interesse coletivo, destinadas a recuperar o papel das mulheres na história da banda desenhada.