Scielo RSS <![CDATA[Vista. Revista de Cultura Visual]]> http://scielo.pt/rss.php?pid=2184-128420240001&lang=es vol. num. 13 lang. es <![CDATA[SciELO Logo]]> http://scielo.pt/img/en/fbpelogp.gif http://scielo.pt <![CDATA[Opening Note: Repairing the Irreparable]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-12842024000101001&lng=es&nrm=iso&tlng=es <![CDATA[What Endures in the Rubble-Image?]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-12842024000102001&lng=es&nrm=iso&tlng=es Resumo Quando uma edificação é demolida, a sua estrutura, unitária e planeada, é desintegrada em incontáveis fragmentos. Heterogéneos e desordenados, estes fragmentos borram os limites entre o que era privado - o espaço doméstico - e o que é público - o terreno antes ocupado. Em 2019, encontrei uma fotografia familiar entre os escombros da demolição das últimas torres do Bairro do Aleixo, no Porto. Este foi um conjunto de habitação pública construído na década de 1970 para realojar famílias da Ribeira-Barredo, deslocadas por uma reabilitação urbana. Ao longo do tempo, as cinco torres abrigaram uma população numerosa e mutável que se apropriou desse modelo de habitação até então incomum. Entre 2011 e 2019, o Aleixo foi alvo de três operações de demolição, politicamente justificadas por sua degradação estrutural e social. As duas primeiras foram implosões espetaculares e televisionadas, enquanto a última, que presenciei, foi uma lenta desconstrução que durou meses. Na fotografia, uma mulher vestida de branco posa numa varanda da Torre 1 do antigo Bairro do Aleixo. Ao fundo, paira o esqueleto fálico da Torre 4, implodida décadas depois. Quando encontrada, a fotografia, arruinada pelo tempo e pelas circunstâncias, sugeria uma afinidade conceptual com os escombros que a cercavam. Neste artigo, detenho-me sobre essa fotografia encontrada, objetivando desvelar os processos e as tensões armazenadas nesse fragmento. Recorro às relações ontológicas entre fotografia e morte, também entre fotografia e ruína, para analisar a imagem espectral desse sítio obliterado. Desenvolvo o que o encontro com ela pode indicar sobre a memória do bairro, a sua imagem pública, assim como o longo e violento processo de remoção dos seus moradores. Chego à noção de “imagem-escombro” como chave de leitura para esse vestígio quase desaparecido que afirma teimosamente a persistência de um lugar dissidente e complexo, pretensamente apagado do espaço público e suprimido da memória urbana pelas sensibilidades dominantes.<hr/>Abstract When a building is demolished, its cohesive and planned structure fractures into countless fragments. These heterogeneous and disorganised fragments blur the boundaries between what was once private - the domestic space - and what is now public - the formerly occupied land. In 2019, I stumbled upon a family photograph amidst the rubble left by the demolition of the last towers of the Bairro do Aleixo in Porto. Constructed in the 1970s, this was a public housing estate designed to accommodate families from Ribeira-Barredo who had been displaced due to urban redevelopment. Throughout the years, the five towers have hosted a sizable and fluctuating population that has adapted and made use of this previously unconventional housing model. From 2011 to 2019, Aleixo underwent three demolition operations, politically supported by arguments citing its structural and social deterioration as justification. The first two were striking implosions broadcasted on television, whereas the final demolition, which I witnessed, unfolded as a slow deconstruction spanning several months. In the photograph, the woman dressed in white poses on a balcony of Tower 1 within the old Bairro do Aleixo. In the background stands the phallic skeleton of Tower 4, which would be imploded decades later. Upon its unearthing, the photograph, weathered by time and circumstance, hinted at a conceptual connection with the debris surrounding it. In this article, my focus centres on this found photograph, aiming to unveil the processes and tensions encapsulated within this fragment. I draw on the ontological connections between photography and death, as well as between photography and ruin, to analyse the spectral image of this obliterated site. I delve into what the encounter with this image might reveal about the memory of the neighbourhood, its public image, and the extensive and violent process of displacing its residents. I reach the concept of a "rubble-image" as pivotal in interpreting this nearly vanished imprint that stubbornly affirms the persistence of a dissenting and complex place, supposedly erased from public space and suppressed from urban memory by dominant sensibilities. <![CDATA[Decolonial Twists and Turns of the Tupinambá Cloak: Three Women Artists and Their Work on the Artefact that Became an Icon of Brazilian Identity]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-12842024000102002&lng=es&nrm=iso&tlng=es Resumo Este trabalho analisa as apropriações artísticas e simbólicas em torno do manto indígena tupinambá por meio do trabalho de três artistas brasileiras: Glicéria Tupinambá, Lívia Melzi e Lygia Pape. A partir da análise visual de suas poéticas, e estabelecendo uma reflexão entre estas criações e a dimensão iconográfica do artefato em determinados marcos históricos, pretendemos entender como as obras destas artistas estão entrelaçadas à lógica da arte contemporânea, levando em conta a contribuição que os estudos interdisciplinares podem ter para a compreensão deste momento em que as artes vêm sendo atravessadas por uma mudança de paradigma associada ao movimento decolonial, o que tem se reverberado na potencialização da natureza política e ativista do campo estético. Para além do debate sobre a repatriação de objetos de interesse etnográfico, apresentamos um estudo de caso envolvendo o percurso destas três artistas, cujas poéticas são analisadas a partir da metodologia da crítica da arte e de uma base teórica multidisciplinar, englobando autores da teoria e da história da arte, além dos estudos culturais e decoloniais. Não há dúvidas que a devolução do manto reacendeu de forma bastante expressiva os debates sobre a devolução de artefatos expropriados durante o período colonial brasileiro. Porém, nossa intenção é apontar para a importância do resgate das técnicas e dos gestos implementados pelas artistas, que permitem que novos mantos sejam realizados e reapropriados simbolicamente, fato congruente com a reflexão acerca do fazer político nos campos da estética e da museologia.<hr/>Abstract This study delves into the artistic and symbolic appropriations of the indigenous Tupinambá cloak through the work of three Brazilian women artists: Glicéria Tupinambá, Lívia Melzi and Lygia Pape. Based on a visual analysis of their poetics and juxtaposing their creations with the iconographic dimension of the artefact in key historical milestones, we intend to understand the interconnectedness of these artists' works with contemporary art practices. In doing so, we seek to recognise the role of interdisciplinary studies in understanding this pivotal moment in art history, characterised by a paradigm shift influenced by the decolonial movement. This movement has notably elevated the political and activist dimensions of the aesthetic field. Besides discussing the repatriation of objects of ethnographic interest, this case study traces the artistic trajectories of these three artists, whose poetics are examined through the lens of art criticism. This analysis is underpinned by a multidisciplinary theoretical framework that draws from various authors from fields such as art theory and history, as well as cultural and decolonial studies. There is no doubt that the return of the cloak has significantly reignited debates about the return of artefacts expropriated during Brazil's colonial period. However, we intend to point out the importance of recovering the techniques and gestures used by the artists to create and symbolically re-appropriate new cloaks, which is congruent with the reflection on political making in the fields of aesthetics and museology. <![CDATA[Armando de Almeida. A Lesson in Resistance in Portuguese Running Culture]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-12842024000102003&lng=es&nrm=iso&tlng=es Resumo Em março de 1913, Armando de Almeida venceu a maratona da “Semana Desportiva” do jornal O Mundo. Em maio do mesmo ano repetiu a proeza ao vencer a maratona dos Jogos Olímpicos Nacionais, na altura, a mais importante competição de atletismo no país. Por essas vitórias, é considerado o campeão nacional da maratona para o ano de 1913 pela Federação Portuguesa de Atletismo. Recordemos que a Federação Portuguesa de Atletismo só existe formalmente desde 1921. É, conjuntamente, num contexto de grande perturbação político-social e num ecossistema elitista, programaticamente desestruturado, que Armando de Almeida se destaca do grupo matricial de atletas que tomavam parte nestas novas formas de lazer e demonstrações de cultura de massas - as corridas pedestres de longa distância. A sua presença ativa na cultura de corrida da metrópole é contemporânea com a origem e constituição do movimento negro (1911-1933) - pioneiro no combate político antirracista em Portugal. Neste texto, que tem como ponto de partida o resgate de fotografias e narrativas dos primórdios da história e da memória do atletismo português, procuramos biografar Armando de Almeida, num exercício simultâneo de empatia e militância como contributo para o debate, contrariando invisibilidades consequentes de negligências historiográficas. Tentamos, também, reconstituir a possibilidade de articulação entre os percursos emancipatórios do atleta com a organização de movimentos políticos e sociais no tumultuoso momento histórico da Primeira República, numa capital de império colonial, com expressiva presença de pessoas afrodescendentes, esse fenómeno histórico plurissecular.<hr/>Abstract In March 1913, Armando de Almeida won the "Semana Desportiva" (Sports Week) marathon organised by the newspaper O Mundo. In May of the same year, he repeated the feat by winning the marathon at the National Olympic Games, then the most important athletics competition in the country. For these victories, he is considered the national marathon champion for 1913 by the Federação Portuguesa de Atletismo (Portuguese Athletics Federation). It is worth noting that the Federação Portuguesa de Atletismo only formally existed in 1921. Against the backdrop of significant political and social upheaval and within an elitist and largely unstructured ecosystem, Armando de Almeida stood out among the core group of athletes participating in these new forms of leisure and mass cultural demonstrations - long-distance pedestrian races. His active involvement in the running culture of the metropolis coincided with the emergence and growth of the Black movement (1911-1933) - which pioneered political activism against racism in Portugal. This text delves into the recovery of photographs and narratives from the early days of Portuguese athletics, aiming to biograph Armando de Almeida. Through an exercise of empathy and activism, it contributes to the debate, counteracting historical oversights and invisibilities. Additionally, it attempts to reconstruct the connections between the athlete's emancipatory endeavours and the organisation of political and social movements during the turbulent period of the First Republic. Set in the capital of a colonial empire with a notable presence of people of African descent, it explores this centuries-old historical phenomenon. <![CDATA[Taypis of Racist Imaginaries and the (Ir)repairable in Denied Narratives of Black Women]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-12842024000102004&lng=es&nrm=iso&tlng=es Resumo A opressão racial e sexual das mulheres negras brasileiras é, como defende Lélia Gonzalez (2020), uma das heranças coloniais mais perceptíveis e mais denegadas no contexto do país. Um dos mitos responsáveis pelo apagamento da história da escravização no Brasil instituiu como história oficial que esta nação seria um paraíso racial. Contudo, ao recorrermos aos registros de feminicídio, violência íntima e abusos sexuais, verifica-se uma repetição das mulheres negras como as mais vitimizadas. Diante da impossível reparação dos danos causados pelo passado de escravização que violentou as mulheres negras das mais variadas formas, cabe, no presente, eliminar todas as condições estruturais que as mantêm como alvo preferencial de violências e desumanização. Neste artigo recorremos ao que Silvia Rivera Cusicanqui (2015) descreve como “taypi”, um “mundo-do-meio” e um espaço intermediário onde é possível observar o contato entre formas opostas sem que os limites entre elas desapareçam. Essas zonas de contato, entretanto, podem ser permeadas por violência quando os opostos colocados em contato foram hierarquizados pelo contexto colonial, como Negres, Indígenas e Branques foram racializades, no Brasil. Inspirados nos deslocamentos de tempos e espaços que se reinformam, a proposta dos taypis de imaginários racistas coloca em contato imagens de apagamentos racistas que, ao serem evidenciados por meio da metodologia sociológica, apontam para o “racismo por denegação” (Gonzalez, 2020) brasileiro, presente em instituições nacionais, incluindo nos jornalismos.<hr/>Abstract The racial and sexual oppression of Black Brazilian women is, as Lélia Gonzalez (2020) argues, one of the most perceptible yet consistently denied colonial legacies in the country. One of the myths perpetuating the erasure of Brazil's history of enslavement has established an official narrative portraying the nation as a racial paradise. However, when examining records of femicide, intimate partner violence and sexual abuse, it becomes evident that Black women are the most victimised. Faced with the impossibility of repairing the damage caused by the historical legacy of enslavement, which subjected Black women to multifaceted forms of violation, it falls upon us to eradicate all the structural conditions that perpetuate them as the primary targets of violence and dehumanisation. In this article, we delve into what Silvia Rivera Cusicanqui (2015) describes as "taypi" a "middle-world" and an intermediate space where it is possible to witness the interaction between contrasting forms without the boundaries between them disappearing. These contact zones, however, can be permeated by violence when the opposites brought into contact are hierarchised by the colonial context, as Blacks, Indig and Whites were racialised in Brazil. Drawing inspiration from the displacements of times and spaces that are reinformed, the proposal of the taypis of racist imaginaries brings into contact images of racist erasures that, when evidenced through sociological methodology, point to Brazilian "racism by denial" (Gonzalez, 2020), present in national institutions, including journalism. <![CDATA[Liberating Minds: The Intellectual Legacy of Angela Davis and Its Images in Film]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-12842024000102005&lng=es&nrm=iso&tlng=es Abstract We propose thinking of Angela Davis's intellectual legacy from a decolonial perspective. We point out that just as the fight for civil rights and the end of racial segregation in the United States helped to consolidate the Black movement in Brazil, the circulation of anti-colonial ideas during the struggles for the decolonization of African countries in the 1950s and 60s was crucial to the circulation of abolitionist ideas and anti-racist movements in the United States and abroad. We will analyze interchanges capable of pointing out "the recognition of multiple and heterogeneous colonial differences, as well as the multiple and heterogeneous reactions of populations and subjects subordinated to the coloniality of power" (Bernardino-Costa &amp; Grosfoguel, 2016, p. 21). Our contribution seeks to analyze Davis as a public and militant intellectual through her images in film. Beyond considering Angela Davis's image in cinema as representation, we also analyze how her intellectual and political activities were involved with the flourishing of a new Black cinema in the United States. This paper analyzes films such as Child of Resistance (1973), Free Angela and All Political Prisoners (2015), and 13th (2016).<hr/>Resumo Propomos pensar o legado intelectual de Angela Davis a partir de uma perspectiva decolonial. Ressaltamos que, assim como a luta pelos direitos civis e o fim da segregação racial nos Estados Unidos ajudaram a consolidar o movimento negro no Brasil, a circulação de ideias anticoloniais durante as lutas pela descolonização dos países africanos, nas décadas de 1950 e 1960, foi crucial para a circulação de ideias abolicionistas e movimentos antirracistas nos Estados Unidos e no exterior. Analisaremos intercâmbios capazes de apontar "o reconhecimento de diferenças coloniais múltiplas e heterogêneas, bem como as reações múltiplas e heterogêneas de populações e sujeitos subordinados à colonialidade do poder" (Bernardino-Costa &amp; Grosfoguel, 2016, p. 21). Nossa contribuição busca analisar Davis como uma intelectual militante por meio de suas imagens no cinema. Além de considerar a imagem de Angela Davis no cinema enquanto representação, também analisamos como suas atividades intelectuais e políticas estiveram envolvidas com o florescimento de um novo cinema negro nos Estados Unidos. Este artigo analisa filmes como Child of Resistance (Filho da Resistência; 1973), Free Angela and All Political Prisoners (Libertem Angela e Todos os Presos Políticos; 2015) e 13th (2016). <![CDATA[There Are Many Possibilities and Impossibilities in This World: A Reflection on Spiral Time and the “35th São Paulo Biennial”]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-12842024000102006&lng=es&nrm=iso&tlng=es Resumo A compreensão epistemológica do tempo espiralar, desenvolvida pela pensadora brasileira Leda Maria Martins (2021), oferece uma perspectiva restitutiva da experiência do tempo em sua forma espiralada e serve como inspiração para a concepção da “35.ª Bienal de São Paulo”, intitulada Coreografias do Impossível. Esta epistemologia, enraizada em práticas, poéticas e pensamentos Negros, traz movimentos desobedientes capazes de criar formas de se soltar das categorias estabelecidas pela matriz hegemônica colonial e de cruzar diferentes estratégias de sobrevivências, ritmos e ruptura. O interesse curatorial e educativo das Coreografias do Impossível em elaborar uma Bienal pensada a partir do tempo que espirala abre espaço para reflexões profundas sobre como propostas curatoriais podem se envolver em tentativas de gestos reparadores, ao mesmo tempo que se encontram cercadas de impossibilidades institucionais. Considerando que as instituições coloniais estão intrinsecamente ligadas a estruturas de poder, privilégio e lógicas de mercado, as tensões e contradições deste contexto informam as impossibilidades de descolonização das instituições. Diante dessas questões, esta escrita procura fazer uma leitura sobre as Coreografias do Impossível, refletindo sobre o trabalho curatorial e educativo da “35.ª Bienal de São Paulo” em articulação com a concepção do “tempo espiralar", ao mesmo tempo que oferece uma análise crítica das tensões e contradições nas tentativas de descolonização do museu.<hr/>Abstract The epistemological understanding of spiral time, developed by Brazilian thinker Leda Maria Martins (2021), offers a restitutive perspective on the experience of time in its spiral form and serves as inspiration for the design of the “35th São Paulo Biennial”, entitled Choreographies of the Impossible. This epistemology, rooted in Black practice, poetry and thought, brings about disobedient movements capable of creating ways of breaking free from the categories established by the colonial hegemonic matrix and of crossing different strategies of survival, rhythm and rupture. The curatorial and educational interest of Choreographies of the Impossible - in creating a Biennial conceived from the point of view of the time that spirals - opens space for deep reflections on how curatorial proposals can be involved in attempts at reparative gestures, while at the same time being surrounded by institutional impossibilities. Considering that colonial institutions are intrinsically linked to structures of power, privilege and market logics, the tensions and contradictions of this context inform the impossibilities of decolonising institutions. Faced with these questions, this article seeks to carry out a reading of the Choreographies of the Impossible, reflecting on the curatorial and educational work of the “35th São Paulo Biennial" in conjunction with the concept of "spiral time", at the same time as offering a critical analysis of the tensions and contradictions in the museum's attempts at decolonisation. <![CDATA[<em>A Tendency to Forget</em>: Repairing (the) Past to Resist Forgetting. Interview With Artist Ângela Ferreira]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-12842024000104001&lng=es&nrm=iso&tlng=es Resumo A compreensão epistemológica do tempo espiralar, desenvolvida pela pensadora brasileira Leda Maria Martins (2021), oferece uma perspectiva restitutiva da experiência do tempo em sua forma espiralada e serve como inspiração para a concepção da “35.ª Bienal de São Paulo”, intitulada Coreografias do Impossível. Esta epistemologia, enraizada em práticas, poéticas e pensamentos Negros, traz movimentos desobedientes capazes de criar formas de se soltar das categorias estabelecidas pela matriz hegemônica colonial e de cruzar diferentes estratégias de sobrevivências, ritmos e ruptura. O interesse curatorial e educativo das Coreografias do Impossível em elaborar uma Bienal pensada a partir do tempo que espirala abre espaço para reflexões profundas sobre como propostas curatoriais podem se envolver em tentativas de gestos reparadores, ao mesmo tempo que se encontram cercadas de impossibilidades institucionais. Considerando que as instituições coloniais estão intrinsecamente ligadas a estruturas de poder, privilégio e lógicas de mercado, as tensões e contradições deste contexto informam as impossibilidades de descolonização das instituições. Diante dessas questões, esta escrita procura fazer uma leitura sobre as Coreografias do Impossível, refletindo sobre o trabalho curatorial e educativo da “35.ª Bienal de São Paulo” em articulação com a concepção do “tempo espiralar", ao mesmo tempo que oferece uma análise crítica das tensões e contradições nas tentativas de descolonização do museu.<hr/>Abstract The epistemological understanding of spiral time, developed by Brazilian thinker Leda Maria Martins (2021), offers a restitutive perspective on the experience of time in its spiral form and serves as inspiration for the design of the “35th São Paulo Biennial”, entitled Choreographies of the Impossible. This epistemology, rooted in Black practice, poetry and thought, brings about disobedient movements capable of creating ways of breaking free from the categories established by the colonial hegemonic matrix and of crossing different strategies of survival, rhythm and rupture. The curatorial and educational interest of Choreographies of the Impossible - in creating a Biennial conceived from the point of view of the time that spirals - opens space for deep reflections on how curatorial proposals can be involved in attempts at reparative gestures, while at the same time being surrounded by institutional impossibilities. Considering that colonial institutions are intrinsically linked to structures of power, privilege and market logics, the tensions and contradictions of this context inform the impossibilities of decolonising institutions. Faced with these questions, this article seeks to carry out a reading of the Choreographies of the Impossible, reflecting on the curatorial and educational work of the “35th São Paulo Biennial" in conjunction with the concept of "spiral time", at the same time as offering a critical analysis of the tensions and contradictions in the museum's attempts at decolonisation. <![CDATA[Repairing Communication. Depatriarchalising, Decolonising and Ecologising Media Culture]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-12842024000105001&lng=es&nrm=iso&tlng=es Resumo A compreensão epistemológica do tempo espiralar, desenvolvida pela pensadora brasileira Leda Maria Martins (2021), oferece uma perspectiva restitutiva da experiência do tempo em sua forma espiralada e serve como inspiração para a concepção da “35.ª Bienal de São Paulo”, intitulada Coreografias do Impossível. Esta epistemologia, enraizada em práticas, poéticas e pensamentos Negros, traz movimentos desobedientes capazes de criar formas de se soltar das categorias estabelecidas pela matriz hegemônica colonial e de cruzar diferentes estratégias de sobrevivências, ritmos e ruptura. O interesse curatorial e educativo das Coreografias do Impossível em elaborar uma Bienal pensada a partir do tempo que espirala abre espaço para reflexões profundas sobre como propostas curatoriais podem se envolver em tentativas de gestos reparadores, ao mesmo tempo que se encontram cercadas de impossibilidades institucionais. Considerando que as instituições coloniais estão intrinsecamente ligadas a estruturas de poder, privilégio e lógicas de mercado, as tensões e contradições deste contexto informam as impossibilidades de descolonização das instituições. Diante dessas questões, esta escrita procura fazer uma leitura sobre as Coreografias do Impossível, refletindo sobre o trabalho curatorial e educativo da “35.ª Bienal de São Paulo” em articulação com a concepção do “tempo espiralar", ao mesmo tempo que oferece uma análise crítica das tensões e contradições nas tentativas de descolonização do museu.<hr/>Abstract The epistemological understanding of spiral time, developed by Brazilian thinker Leda Maria Martins (2021), offers a restitutive perspective on the experience of time in its spiral form and serves as inspiration for the design of the “35th São Paulo Biennial”, entitled Choreographies of the Impossible. This epistemology, rooted in Black practice, poetry and thought, brings about disobedient movements capable of creating ways of breaking free from the categories established by the colonial hegemonic matrix and of crossing different strategies of survival, rhythm and rupture. The curatorial and educational interest of Choreographies of the Impossible - in creating a Biennial conceived from the point of view of the time that spirals - opens space for deep reflections on how curatorial proposals can be involved in attempts at reparative gestures, while at the same time being surrounded by institutional impossibilities. Considering that colonial institutions are intrinsically linked to structures of power, privilege and market logics, the tensions and contradictions of this context inform the impossibilities of decolonising institutions. Faced with these questions, this article seeks to carry out a reading of the Choreographies of the Impossible, reflecting on the curatorial and educational work of the “35th São Paulo Biennial" in conjunction with the concept of "spiral time", at the same time as offering a critical analysis of the tensions and contradictions in the museum's attempts at decolonisation. <![CDATA[Repairing Colonial Violence Against Women: Revisiting <em>Mulheres Sempre Presentes</em>]]> http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2184-12842024000106001&lng=es&nrm=iso&tlng=es Resumo Este ensaio retoma o projeto Mulheres Sempre Presentes, realizado para a exposição “O Impulso Fotográfico. (Des)arrumar o Arquivo Colonial”. A proposta ressignifica fotografias analógicas de antropologia física colonial portuguesa através de procedimentos de descontextualização e recontextualização, tentando interromper a reprodução de estereótipos negativos sobre as mulheres negras fotografadas, os quais abundam no arquivo das missões de antropologia colonial de onde os retratos foram selecionados. A escolha de retratos de mulheres pretende homenagear a sua presença nas longas lutas levadas a cabo pelas populações negras em diversos momentos da história e afirmar o seu papel de agentes do processo histórico, em sociedades patriarcais, tanto europeias como africanas tradicionais, que tendem a relegá-las para segundo plano. O ensaio conjuga, ainda, diferentes vozes e reflexões das suas autoras, sob influência do texto de Spivak (1988/2021) Pode a Subalterna Tomar a Palavra?, que aborda as condições de fala e de escuta das mulheres e interroga a sua condição de subalternidade.<hr/>Abstract This essay resumes the project Mulheres Sempre Presentes (Women Always Present) produced for the exhibition "O Impulso Fotográfico. (Des)arrumar o Arquivo Colonial" (The Photographic Impulse. (Dis)placing the Colonial Archive). The proposal aims to resignify analogue photographs of Portuguese colonial physical anthropology by removing them from their original context and inserting them into a new one. The goal is to stop the reproduction of negative stereotypes about the Black women in these photographs. These stereotypes are prevalent in the archive of colonial anthropology surveys, from which the portraits were selected. The choice of Black women's portraits is intended to honour the enduring struggles undertaken by Black populations throughout history and to underscore their role as agents of historical processes in patriarchal societies, both European and traditional African, where they are often marginalised. The essay also combines the different voices and reflections of its authors, drawing inspiration from Spivak's (1988/2021) essay Pode a Subalterna Tomar a Palavra? (Can the Subaltern Speak?), which addresses the conditions of women when speaking and being heard and interrogates their position of subalternity.