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Análise Social
versão impressa ISSN 0003-2573
Anál. Social v.181 n.181 Lisboa 2006
Ainda há catástrofes naturais?
Jean-Pierre Dupuy*
Com o terramoto de Lisboa de 1 Novembro de 1755, a questão do mal foi formulada em termos completamente novos, estabelecidos por Rousseau: só há mal moral, e este é da inteira responsabilidade dos homens, incluindo os prejuízos causados pelas catástrofes naturais. Contudo, esta solução estilhaçou-se com as catástrofes morais do século XX. Perante as novas ameaças que põem em perigo a sobrevivência da humanidade, é necessário colocar a questão do mal em novos termos.
Palavras-chave: Catástrofes naturais, Risco
Existe-t-il encore des catastrophes naturelles?
Avec le tremblement de terre de Lisbonne du 1er novembre 1755, la question du mal a été résolue en des termes complètement nouveaux, établis par Rousseau: il n’y a de mal que moral, et il est entièrement de la responsabilité des hommes, y compris les dommages que causent les catastrophes naturelles. Cependant, cette solution a volé à son tour en éclat avec les catastrophes morales du 20ème siècle. Face aux nouvelles menaces qui mettent en péril la survie de l’humanité, il convient de reposer la question du mal en termes neufs.
Are there still natural disasters?
The Lisbon earthquake of 1 November 1755 produced a completely new concept of evil, formulated by Rousseau: there is only moral evil, and man is entirely responsible for it, including the damage caused by natural disasters. But this idea splintered with the moral disasters of the twentieth century. With new threats to human survival, we need to look at evil in new terms.
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1 Cit. por Thomas Friedman no seu editorial de 7 de Setembro de 2005 no New York Times, eloquentemente intitulado «Osama e Katrina».
2 Texto de apresentação de um debate organizado pela associação 4D («Dossier et débats pour le développement durable»): «Les catastrophes naturelles balayent-elles aussi le développement durable?», Paris, 27 de Janeiro de 2005.
3 Jean-Pierre Dupuy, Petite métaphysique des tsunamis, Paris, Seuil, 2005. [ Links ]
4 Oeuvres complètes, vol. iv, Bibliothèque de la Pléiade, pp. 1061-1062, itálico do autor.
5 Escrito em colaboração com Terry Grossman (Rodale, 2004).
6 Juntamente com Mihail Roco.
7 Henri Atlan, Les etincelles de hasard, t. 1, Connaissance spermatique, Paris, Seuil, 1999, p. 45.
8 Poème sur le désastre de Lisbonne, ed. Beuchot das uvres de Voltaire, t. XII, retomado em Voltaire, Candide, «Classiques de Poche», p. 190.
9 Ibid., p. 191.
10 Ibid., p. 186.
11 David Brooks, «A time to mourn», in New York Times, 1 de Janeiro de 2005.
12 Referência feita por Bob Herbert, editorialista «liberal» do New York Times, no artigo «Our planet and our duty», in New York Times, 31 de Dezembro de 2004.
13 Eichmann in Jerusalem. A Report on the Banality of the Evil, 2.ª ed., Penguin, 1994 (1965).
14 Hiroshima ist überall (Hiroxima está em todo o lado), Munique, 1982.
15 Hannah Arendt, The Human Condition, The University of Chicago Press, 1958 (trad. francesa: Condition de l'homme moderne, Calmann-Lévy, 1961, pp. 9-10; trad. portuguesa de Roberto Raposo, Relógio d'Água).
16 Com uma presciência extraordinária, Hannah Arendt analisou desde 1958 esta mutação da acção na sua obra maior, The Human Condition (v. pp. 259-261 da trad. francesa).
* École Polytechnique, Paris, e Universidade de Stanford.