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Revista Portuguesa de Saúde Pública
versão impressa ISSN 0870-9025
Rev. Port. Sau. Pub. vol.33 no.2 Lisboa dez. 2015
ARTIGO ORIGINAL
Independência funcional de pessoas idosas com perturbações mentais: um estudo num serviço de psicogeriatria em Portugal
Functional independence of old people with mental disorders: a study in a psychogeriatric unit in Portugal
Maria Piedade Brandãoa, b, * , Joana Gonçalvesc , Pedro Sá‐Coutod, e , Liliana Sousab, c
a Escola Superior de Saúde (ESSUA), Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal
b Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde(CINTESIS), Universidade do Porto, Porto, Portugal
c Secção Autónoma das Ciências da Saúde (SACS), Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal
d Centro de Investigação e Desenvolvimento em Matemática e Aplicações, Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal
e Departamento de Matemática (DMAT), Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal
RESUMO
A dependência funcional em pessoas idosas aumenta a necessidade de cuidados sociais e de saúde. Contudo, a vasta literatura sobre independência funcional raramente se tem centrado nas pessoas idosas com perturbações mentais. Este estudo avalia a independência funcional de pessoas idosas (≥ 65 anos) com perturbações mentais. Trata‐se de um estudo transversal e retrospetivo em que os dados foram obtidos a partir de processos clínicos no serviço de psicogeriatria do Hospital Magalhães de Lemos, Porto, Portugal. A amostra compreende 157 participantes. A independência funcional foi avaliada através do sistema de avaliação de pessoas idosas EASYCare e as perturbações mentais obtidas a partir do diagnóstico clínico. Os principais resultados indicam 4 grupos considerando a independência funcional: independentes (44,7%), dependentes ligeiros (36,8%), dependentes moderados (13,2%) e dependentes severos (5,3%). A independência funcional em pessoas idosas com perturbação mental é relevante para os serviços sociais e de saúde planificarem programas de promoção da autonomia e bem‐estar.
Palavras-chave: Pessoa idosa. Independência funcional. Perturbações mentais. Avaliação geriátrica.
ABSTRACT
Functional dependency in older persons increases the need of social and health care. However the vast literature on functional independency has rarely focused on older people with mental disorders. This study examines functional independency in older persons (≥ 65 years old) with mental disorders. This is a cross‐sectional and retrospective study; data were obtained from clinical processes at the psychogeriatric unit of the Hospital Magalhães Lemos, Porto, Portugal. The sample comprises 157 participants. Functional independence was assessed with EASYCare (Elderly Assessment System); mental disorders were obtained from the clinical diagnosis. Main findings suggest four groups according to functional in/dependency: independent (44.7%), light dependent, (36.8%), moderate dependent (13.2%) and severe dependent (5.3%). Functional independence in older persons with mental disorders is relevant for social and health services to plan programs that promote autonomy and well‐being.
Keywords: Older persons. Functional independence. Mental disorders. Geriatric assessment.
Introdução
As perturbações mentais e comportamentais são condições clínicas caracterizadas por «alterações do modo de pensar e do humor (emoções) ou por comportamentos associados com a angústia pessoal e/ou deterioração do funcionamento»1. A mesma fonte refere ainda que «as perturbações mentais e comportamentais não são apenas variações dentro da escala do «normal», mas fenómenos claramente anormais ou patológicos» (p.21). A Organização Mundial de Saúde (OMS) sublinha ainda que para serem classificadas como perturbações é preciso que esses fenómenos anormais ou patológicos ocorram de forma continuada ou recorrente e que impliquem deterioração ou perturbação do funcionamento pessoal numa ou mais esferas da vida1. As perturbações mentais estão associadas a elevada morbilidade e mortalidade, contribuindo para a diminuição dos anos de vida com qualidade2. A OMS recomenda que as perturbações mentais sejam integradas na formulação de políticas para a melhoria da saúde das populações1. Estima‐se que no mundo existam cerca de 450 milhões de pessoas com perturbações mentais. Em Portugal, dados de 2007 indicam que as perturbações mentais atingem 30% da população geral e um terço da população idosa3. Nas pessoas idosas as perturbações mentais mais frequentes são as depressivas e demências, seguindo‐se psicoses e perturbação de abuso de substâncias e álcool3–5. A independência funcional refere‐se à capacidade para executar atividades básicas de vida diária (ABVD) e atividades instrumentais de vida diária (AIVD), que constituem práticas frequentes e necessárias a todos os indivíduos6; a dependência funcional constitui uma desvantagem social e restrição da participação que leva à necessidade de auxílio de terceiros. A literatura sugere que a diminuição da independência funcional, sobretudo quando associada a doenças crónicas, compromete a qualidade de vida e aumenta a probabilidade de recorrer a cuidados sociais e de saúde, incluindo a institucionalização, podendo em casos mais graves conduzir à mortalidade em idade precoce7. A independência funcional tem sido extensamente estudada na população idosa em geral e em populações idosas com problemas respiratórios, artrites, diabetes, hipertensão e doenças circulatórias5,8,9. Os estudos indicam que a dependência funcional em pessoas idosas aumenta com a idade10–12. Além disso, verifica‐se que a comorbilidade compromete a independência funcional, a perceção do bem‐estar e a qualidade de vida e aumenta a complexidade e exigência de cuidados4,12,13. Assim, atualmente, a avaliação da independência funcional é uma prioridade dos serviços de saúde e de ação social, em todo o mundo, incluindo em Portugal9,14,15. Contudo, a literatura tem focado menos a independência funcional em pessoas idosas com perturbações mentais (não foram encontrados estudos na população portuguesa). A escassa literatura neste âmbito sugere que as perturbações mentais em pessoas idosas se associam ao declínio na independência funcional, ameaçando as competências de autocuidado2,5; outros estudos sugerem que a relação entre independência funcional e perturbação mental se caracteriza por reciprocidade, isto é, a perturbação mental pode precipitar a dependência funcional e a dependência pode intensificar a perturbação mental2,16,17. O objetivo geral deste estudo é avaliar a in/dependência funcional de pessoas idosas com perturbações mentais. Em termos específicos irá: a) definir grupos de independência funcional considerando as ABVD e as AIVD; b) caracterizar esses grupos em termos sociodemográficos (género, idade, estado civil, composição do agregado familiar, nível de escolaridade formal); c) caracterizar esses grupos em termos clínicos (diagnóstico principal e avaliação cognitiva). Os resultados são relevantes pois dão orientações aos serviços de saúde e sociais no desenho de programas de intervenção que promovam a independência funcional em pessoas idosas com perturbação mental.
Material e métodos
Desenho do estudo
Realizou‐se um estudo observacional, transversal e retrospetivo de utentes idosos (≥ 65 anos) com perturbação mental, do Serviço de Psicogeriatria do Hospital Magalhães de Lemos (HML), Porto, Portugal. Este hospital pertence à rede do Sistema Nacional de Saúde, sendo especializado em cuidados de psiquiatria e saúde mental; a área de abrangência inclui a região norte de Portugal (concelhos do Porto, Matosinhos, Póvoa de Varzim, Santo Tirso, Trofa e Vila do Conde), servindo cerca de 560 mil habitantes18. O Serviço de Psicogeriatria assegura o diagnóstico e acompanhamento de pessoas idosas com diagnóstico de perturbação mental.
Participantes
Foi constituída uma amostra não probabilística de conveniência, a partir dos processos clínicos de utentes que recorreram à consulta externa de rotina (ou seja, residentes na comunidade) entre janeiro e abril de 2010 (a administração do hospital autorizou a recolha de dados às quartas e quintas‐feiras, por serem dias de menor afluência de utentes e, assim, de maior disponibilidade dos funcionários para colaborar). Os critérios de inclusão foram: ≥ 65 anos; diagnóstico de perturbação mental de acordo com o diagnóstico clínico no processo; ter preenchido o EASYCare na dimensão de relativa à independência funcional.
A recolha dos dados foi realizada pela primeira autora no Serviço de Psicogeriatria (num gabinete com privacidade disponibilizado para o efeito) através do seguinte procedimento: i) o funcionário administrativo selecionava os utentes com ≥ 65 anos com consulta externa nesse dia e realizava uma primeira abordagem a esses utentes e seu(s) acompanhante(s) para questionar a sua disponibilidade para uma breve reunião com a investigadora; ii) aqueles que se mostravam recetivos eram encaminhados ao gabinete onde estava a investigadora, que informava sobre os objetivos e metodologia do estudo e solicitava autorização para consulta do processo, garantindo confidencialidade; além disso esclarecia todas as questões/dúvidas; todos os que concordavam em colaborar assinavam o consentimento informado; iii) os processos eram então trazidos pela funcionária administrativa, consultados e selecionados os que cumpriam os critérios de inclusão; iv) os dados relativos às variáveis em estudo eram extraídos para uma base de dados e os processos devolvidos ao secretariado. No período de recolha de dados foram consultados 346 processos, dos quais 188 foram excluídos por não terem o EASYCare totalmente preenchido e/ou por o diagnóstico clínico não estar claramente definido. Assim, a amostra decorre de 157 processos clínicos.
Este estudo obteve parecer favorável da Comissão de Ética do HML e foi aprovado pelo Presidente do Conselho de Administração e pela Diretora Clínica do Serviço de Psicogeriatria em 2 de dezembro de 2009.
Instrumento
Foram utilizadas as respostas ao instrumento EASYCare dado que este permite avaliar de forma simples as necessidades das pessoas idosas, fornecendo um perfil de necessidades e prioridades relativas aos cuidados19,20, estando validado para a população idosa portuguesa9,21. Este instrumento efetua a caracterização das necessidades das pessoas idosas em 7 dimensões: aspetos sensoriais, perceção do estado de saúde, sensação de solidão, qualidade da habitação, depressão, diminuição cognitiva e independência funcional. Neste estudo apenas se considerou a dimensão independência funcional (tabela 1), em que scores mais elevados indicam mais dependência. A validação portuguesa apresenta uma consistência interna22 muito boa na dimensão global da independência funcional (α Cronbach = 0,94), muito boa no fator AIVD (α Cronbach = 0,92) e boa no fator ABVD (α Cronbach = 0,88)9,21. O EASYcare pode ser administrado por profissionais de saúde ou ação social, com formação específica; no Serviço de Psicogeriatria do HML foi preenchido pelo enfermeiro, membro da equipa multidisciplinar atribuída ao utente, através de entrevista aos utentes e seus cuidadores informais (familiares ou outros responsáveis).
Variáveis
Os processos foram consultados e extraídas as seguintes variáveis:
a) sociodemográficas (género, idade, estado civil, composição do agregado familiar e anos de educação formal);
b) clínicas (diagnóstico principal e avaliação cognitiva);
c) dimensão do EASYCare relativa à independência funcional.
Como variáveis dependentes foram consideradas as variáveis ABVD (9 itens), AIVD (6 itens) e problemas fisiológicos (tem problemas com a bexiga e tem problemas com as fezes); as variáveis sociodemográficas e clínicas constituíram‐se como variáveis independentes.
Análise de dados
Efetuou‐se análise descritiva para as variáveis sociodemográficas e clínicas, análise inferencial e análise de clusters para identificar grupos de independência funcional. Para identificar relações de associação entre variáveis sociodemográficas e género foi utilizado o teste de qui‐quadrado de Pearson sempre que os pressupostos se verificaram ou o teste exato de Fisher. Para avaliar a consistência interna dos fatores foi utilizado o coeficiente alfa de Cronbach23.
Para analisar os participantes de acordo com a sua independência funcional efetuou‐se uma análise de clusters, usando o método de análise particional (não hierárquico). Para estimar o número ótimo de clusters foi calculado o R2 ajustado para o número de clusters obtidos, considerando a linha de corte de 80%, um valor satisfatório para a percentagem de variabilidade explicada pelo número total de clusters23. Os dados em falta (missing data) na análise de clusters corresponderam a 28,6%. Devido a este valor, só registos completos foram considerados válidos, dado que qualquer método de imputação de dados poderia enviesar bastante os resultados. Para identificar diferenças significativas entre os grupos com diferentes níveis de independência funcional nas variáveis quantitativas do estudo foi utilizado o teste de Kruskal‐Wallis. Para as comparações múltiplas foi utilizado o teste Mann‐Whitney com correção de Bonferroni para testes simultâneos e para as variáveis qualitativas utilizou‐se o teste exato de Fisher. Todas as análises utilizaram o programa de software estatístico SPSS para Windows versão 18.0, sendo adotado para os testes inferenciais o nível de significância de 5%.
Resultados
Características da amostra
A amostra (tabela 2) compreende 157 participantes, com média etária de 76,1 (dp = 6,0) anos; a média etária do sexo masculino é 75,6 (dp = 5,7) anos e do sexo feminino é 76,3 (dp = 6,1) anos, não havendo diferenças estatísticas significativas (p > 0,05). A maioria dos participantes é do sexo feminino: 72%. Verifica‐se que 56,1% dos participantes é casado ou vive em união de facto. Observa‐se maior proporção de homens casados ou em união de facto e maior proporção de mulheres no grupo dos viúvos. Cerca de um quarto (24,5%) dos participantes nunca frequentaram o ensino formal. Considerando as variáveis «com quem vive», observa‐se que as mulheres vivem em maior proporção com o cônjuge por comparação com os homens (58,3 vs. 41,7%, p < 0,05). Em relação ao diagnóstico principal, quase metade dos participantes (46,5%) apresentam diagnóstico de demência e 19,4% apresenta perturbações depressivas.
Grupos de independência funcional, variáveis sociodemográficas e clínicas
Os participantes foram agrupados em 4 grupos (R2 ajustado = 0,84), segundo os níveis de independência funcional (tabela 3). O primeiro grupo denominou‐se «independentes» (44,7%), pois os participantes são independentes em todas as tarefas (AIVD e ABVD). O grupo denominado «dependentes ligeiros» (36,8%) apresenta alguma dependência no fator AIVD, mas apresenta‐se independente no fator ABVD. O grupo denominado «dependentes moderados» (13,2%) demonstra alguma dependência em ABVD e AIVD, mais acentuadas nas AIVD. O grupo denominado «dependentes severos» (5,3%) demonstra dependência em ambos os fatores, mais acentuadas nas ABVD. Quando se comparam os grupos em função do nível de independência, observam‐se diferenças: i) no fator AIVD, em que o grupo dos independentes e o grupo dos dependentes ligeiros não apresentam dificuldades, sendo significativamente diferentes dos restantes grupos (p < 0,001); os dependentes severos apresentam dificuldades elevadas nas AIVD, não havendo diferenças significativas entre os dependentes severos e os moderados (p = 0,018); ii) no fator ABVD todos os grupos de independência funcional são significativamente diferentes entre si (p < 0,001), sendo que o grau de dificuldade nas ABVD aumenta do grupo dos independentes até ao grupo dos dependentes severos; iii) a dependência funcional é significativamente diferente entre todos os grupos (p < 0,001).
Nas variáveis sociodemográficas também se observam diferenças significativas entre os grupos de independência funcional: i) na idade observam‐se diferenças significativas entre o grupo dos independentes em comparação com o grupo dos dependentes severos, salientando‐se o grupo dos independentes com uma média etária inferior (72,8 vs. 78,8, p < 0,001); ii) na variável «agregado familiar», salienta‐se maior proporção de indivíduos institucionalizados no grupo dos dependentes moderados em relação aos outros grupos (p < 0,05); iii) relativamente ao «estado civil», observa‐se maior proporção de indivíduos sós (solteiros, viúvos ou divorciados), relativamente aos casados ou em união de facto no grupo dos dependentes severos (p < 0,05).
Quanto às variáveis clínicas também foram observadas diferenças significativas entre os grupos de independência funcional: i) quanto ao «diagnóstico principal», o grupo dos independentes apresenta maior prevalência de perturbações depressivas e de ansiedade quando comparado com o grupo dos dependentes moderados, observando‐se maior prevalência de demências no grupo dos dependentes moderados em relação ao grupo dos independentes (p = 0,01); ii) na «avaliação cognitiva», a proporção de indivíduos sem diminuição cognitiva é mais elevada no grupo dos independentes e a proporção de indivíduos com diminuição cognitiva é mais elevada no grupo dos dependentes ligeiros e no grupo dos dependentes moderados (p < 0,001).
Discussão
Este estudo indica que 44,7% dos participantes idosos com perturbação mental são independentes (média etária = 72,8 anos), indicando que podem desempenhar as atividades de vida diária de forma independente8,24. Estes resultados desafiam alguns estereótipos que retratam as pessoas (idosas) com perturbação mental como dependentes; provavelmente tal acontece devido à redução da sua autonomia (capacidade para tomar decisões) e mesmo à tendência para dar ajuda a pessoas que apresentam perturbações mentais10. Quando comparados estes resultados com os obtidos através do mesmo instrumento na população idosa portuguesa sem perturbação mental25, verifica‐se que o grupo dos independentes apresenta numa proporção aproximada (44,7 vs. 54%); contudo, a proporção de dependentes ligeiros (independentes nas ABVD e com alguma dependência nas AIVD) neste estudo (36,8%) é mais do dobro da percentagem obtida para a população geral (15%). Este dado sugere que a perturbação mental será um precipitante ou agravante em termos de atividades que impliquem participação social16,17,26. Em qualquer das populações a deterioração nas ABVD é mais precoce e significativa do que nas AIVD16,26,27. A idade emerge também neste estudo como determinante da dependência funcional, ou seja, o grupo de independentes apresenta a média etária mais baixa (72,8 anos) e o grupo dos dependentes severos a média etária mais elevada (78,8 anos)25. Contudo, os dados deste estudo, principalmente quando comparados com os resultados do estudo população idosa portuguesa em geral25, sugerem que a dependência tende a emergir em idade mais precoce na população com perturbação mental. No estudo com a população geral8 a média etária dos independentes era de 82 anos e dos dependentes severos era de 83,7 anos. Neste estudo as pessoas independentes e as dependentes ligeiras tendem a viver sozinhos ou com familiares (por norma são casados e vivem com o cônjuge); contudo, esta situação parece exigir algum acompanhamento comunitário, pois estas pessoas apresentam demência e/ou perturbação depressiva. Acresce que neste grupo a maioria dos participantes não apresenta comprometimento cognitivo, mas uma percentagem ainda que diminuta tem comprometimento cognitivo. Os dependentes moderados e os dependentes severos tendem a viver com familiares ou em instituições; contudo, 2 dependentes severos vivem sozinhos. Nestes grupos os participantes tendem a apresentar demência e comprometimento cognitivo.
Limitações e perspetivas de pesquisa
A principal limitação deste estudo centra‐se na amostra de conveniência e pequena dimensão. Estudos futuros deverão ter amostras mais alargadas e representativas da população portuguesa; esses estudos poderão comparar população idosa com e sem diagnóstico de perturbação mental. Além disso, seria importante distinguir as perturbações mentais que ocorreram em fases mais precoces da vida, daquelas que ocorreram na velhice. A comparação destas situações seria relevante em termos de planos de promoção do bem‐estar e dos cuidados na velhice a pessoas com perturbação mental. Estudos qualitativos poderiam ser desenvolvidos para compreender melhor como pessoas com alguma dependência, diminuição cognitiva e diagnóstico de demência vivem sozinhas e que tipo de apoio formal e informal têm necessidade.
Conclusão
Este estudo centra a independência funcional em pessoas idosas com perturbação mental, dando algumas indicações para o apoio a esta população. Destaca‐se que a dependência funcional tende a começar por limitações em AIVD e pela diminuição cognitiva, sugerindo que estes 2 aspetos devem ser prevenidos para possibilitar uma vida independente na comunidade durante o maior tempo possível. As perturbações mentais mais frequentes são a demência e depressão, sendo que a depressão é mais frequente em pessoas independentes e a demência nas pessoas idosas com algum nível de dependência funcional.
Financiamento
Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Bolsa de Doutoramento: SFRH/BD/48778/2008.
Trabalho suportado por fundos portugueses através do Centro de Investigação e Desenvolvimento em Matemática e Aplicações (CIDMA) e a Fundação para a Ciência e Tecnologia através do projeto PEst‐UID/MAT/04106/2013.
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Conflito de interesses
Os autores declaram não haver conflito de interesses.
*Autor para correspondência: Correio eletrónico: mpiedade@ua.pt (M.P. Brandão).
Recebido 4 de Março de 2013. Aceito 11 de Junho de 2015