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Revista de Ciências Agrárias

versão impressa ISSN 0871-018X

Rev. de Ciências Agrárias v.33 n.2 Lisboa dez. 2010

 

Teores foliares de nutrientes em mudas do abacaxizeiro ‘smooth cayenne’ em resposta à adubação1

 

Ruimário Inácio Coelho2, Almy Júnior Cordeiro de Carvalho3, Jose Tarcisio Lima Thiebaut3, Matheus Fonseca de Souza4

1Parte da tese de Doutorado do primeiro autor concluída na UENF. Projeto financiado pela FAPERJ. E-mail: martacamposneves@yahoo.com.br

2Professor, D.Sc, Universidade Federal do Espírito Santo - CCA, Alegre –ES, ruimario@cca.ufes.br.

3Professor, D.Sc, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – CCTA, Campos dos Goytacazes – RJ, almy@uenf.br, thiebaut@uenf.br.

4Acadêmico do Curso de Agronomia, CCA/UFES, Bolsistas de Iniciação Científica PIBIC, matheus-ufes@hotmail.com.

 

RESUMO

Mudas do abacaxizeiro ‘Smooth Cayenne’ obtidas por seccionamento de caule foram submetidas à adubação foliar com soluções em diferentes concentrações de uréia, KCl e H3BO3, em pulverizações  semanais, num total de vinte e seis para a uréia e o KCl e aplicações mensais num total de quatro, para o H3BO3.  Todos os tratamentos foram iniciados na nona semana após o plantio das secções. O delineamento utilizado foi fatorial fracionado do tipo (1/5)53, com três tipos de adubo (uréia, KCl e H3BO3) e cinco concentrações num total de 25 tratamentos. Cada parcela constituiu-se de 50 secções. Os tratamentos consistiram nas combinações das seguintes concentrações em g L-1: 0; 2,5; 5; 7,5 e 10 para a uréia e o KCl, e 0; 0,5; 1; 1,5 e 2,0 de H3BO3. Análises das amostras de folhas “D” revelam efeitos da uréia e H3BO3 sobre os teores foliares de S, Cl e B e efeito do KCL sobre K e Cl foliar.  A uréia não apresentou efeito sobre o teor de N foliar, porém influencia significativamente o conteúdo de N nas mudas.  

Palavras chaves: Abacaxi, Ananas comosus, adubação foliar, propagação.

 

Leaf nutrient contents on ´smooth cayenne´ planting material as response to fertilization

ABSTRACT

‘Smooth Cayenne’ planting material obtained through stem sectioning were trea-ted with foliar  fertilization with different concentrations of urea, KCl, in weekly pulverizations, and H3BO4, totalizing twenty-six for urea and KCL pulverizations and four for H3BO3, which was applied monthly The treatments were began nine weeks after planting thestem sections. The experimental scheme was a fractionated factorial (1/5)53 with three types of fertilizers (urea, KCl and H3BO3) and five concentrations in a total of 25 treatments. There were 50 sections per plot. Treatments were a combination of concentrations in g L-1: 0, 2.5, 5.0, 7.5 and 10 of urea and KCl, and 0, 0.5, 1.0, 1.5 and 2,0 of  H3BO3.  Sample analyses of ‘D’ leaves showed urea and H3BO3 effect on  S, Cl and B leaf contents whereas  KCL affected leaf K and Cl contents. Urea did not affect N leaf content, however it strongly influenced N content in planting material.

Key-words: Ananas comosus, foliar fertilization, pineapple, propagation.

 

 

INTRODUÇÃO

A análise foliar é muito usada na diagnose do estado nutricional das plantas e baseia-se no fato de existir uma correlação direta entre a taxa de crescimento e o teor de nutrientes nos tecidos foliares. Neste sentido, o diagnóstico nutricional aliado à análise do solo constitui-se num instrumento eficiente para detectar desequilíbrios e auxiliar no processo de fertilização das plantas.

A correlação existente entre a taxa de crescimento e o teor de nutrientes nos tecidos foliares (Jones et al., 1990), permite estabelecer valores para os teores de nutrientes que correspondem às mudanças em termos de produção. Esses valores representam níveis que delimitam faixas de concentrações relacionadas às deficiências nutricionais, aos níveis adequados ou a toxidez de minerais.

O teor foliar revelado pela análise foliar varia, além de outros fatores, com a disponibilidade de nutrientes, idade da planta, adubação que influenciam a composição mineral dos tecidos vegetais (Martinez et al., 1999).

Adubação com doses crescentes da fórmula NPK (20-05-20) para o abacaxizeiro “Jupi” influenciou positivamente nos teores foliares destes macronutrientes, com resposta linear para concentração de nitrogênio e fósforo e quadrática para potássio (Coelho et al., 2007).

Verawudh (1993), avaliando o efeito dos micronutrientes, Fe, Cu, Zn e B, em seis aplicações foliares a intervalos semanais, com a primeira aplicação aos seis meses após o plantio, sobre o crescimento do abacaxizeiro e teores de nutrientes na folha D, registrou incremento significativo para massa fresca da planta, aos 12 meses após o plantio, com aplicação de 49,7 mg de Cu, 6,1 mg de Fe, 9,5 mg de Zn e 15 mg de B por planta, maiores níveis empregados. O teor de Fe, Cu, Zn e B em tecidos da folha “D” variaram de: 26,5-36,2, 5,6-9,0, 13,8-14,4 e 14,2-19,7 mg kg-1 de matéria seca, respectivamente.

Siebeneichler et al. (2002) não observaram aumento da produtividade do abacaxizeiro ‘Pérola’ em função da adubação foliar com bórax.

Pulverizações semanais com uréia e sulfato de potássio, ambos nas concentrações variando de 0,2 a 1% dos produtos comerciais, e 10 g m-2 de canteiro, de superfosfato triplo, são recomendadas para produção de mudas de abacaxizeiro por Reinhardt & Cunha (1999).

Chalfoun (1983) recomenda, para produção de mudas por seccionamento de talos, adubação com 100 g de superfosfato simples/m2 de canteiro, seguida de duas aplicações de uréia em cobertura após o início da formação de raízes.

Mudas micropropagadas do abacaxizeiro ‘Pérola’ pesando em média 2 g responderam positivamente, quanto ao crescimento, à adubação com NPK, aplicados no início do processo de aclimatização (Moreira, 2001). 

O objetivo deste estudo foi avaliar o teor foliar dos nutrientes em mudas do abacaxizeiro ‘Smooth Cayenne’ em resposta à adubação foliar com uréia, cloreto de potássio e ácido bórico, durante a fase de viveiro, no sistema de multiplicação rápida pelo seccionamento do caule.

 

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi instalado em 29/04/2003, na área da Unidade de Apoio a Pesquisa da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), em Campos dos Goytacazes – RJ, situado a 21º 48’ de latitude sul, e 41º 20’ de longitude W.GR., a uma altitude de 11 m acima do nível do mar, com pluviosidade média anual de 900 mm e temperatura média de 23,7ºC. O terreno de relevo plano, com Neossolo fúlvico Tb, nível baixo em saturação de bases (EMBRAPA, 1999). Foram coletadas amostras de material do solo na camada superficial de 0 a 20 cm de profundidade para análise, cujos resultados encontram-se no Quadro 1.

 

Quadro 1 – Análises químicas do solo da área experimental.

 

Foram utilizados caules de abacaxi cv. Smooth Cayenne, oriundos de uma plantação comercial estabelecida no Município de Campos dos Goytacazes-RJ. A coleta dos caules ocorreu logo após a colheita dos frutos. As plantas selecionadas foram arrancadas e, em seguida, com o auxílio de um facão, tiveram suas folhas eliminadas, com exceção das bainhas. Com uso de uma guilhotina, foram também eliminadas as partes basais com presenças de raízes, e o ápice do caule. Posteriormente, os caules foram seccionados mediante corte transversal ao eixo do talo, em pedaços com comprimento de 10 cm. Em seguida, foram novamente seccionados longitudinalmente, obtendo-se quatro secções. As secções foram tratadas por imersão em solução aquosa contendo o fungicida benomyl na concentração de 375 mg L-1 , e o inseticida parathion methyl, na concentração de 0,90 mL L-1, durante três minutos, e a seguir colocadas para secar à sombra e plantadas no dia seguinte (Reinhardt & Cunha, 1999).

O delineamento empregado foi o fatorial fracionado do tipo (1/5)53, com três níveis de adubos (uréia, KCl, H3BO3) e cinco doses, num total de 25 tratamentos (Conagin & Jorge, 1982). Os tratamentos consistiram das concentrações: uréia (N) (0, 2,5, 5, 7,5 e 10 g L-1 de uréia), KCl (K) (0, 2,5, 5, 7,5 e 10 g L-1 de KCl)  e ácido bórico (B) (0, 0,5, 1, 1,5 e 2,0 g L-1 de H3BO3).

Cada parcela foi representada por 50 secções de caule, plantadas em 5 fileiras, num espaçamento de 15 cm entre fileiras e 10 cm entre secções dentro das fileiras, com 24 secções úteis. Os nutrientes foram fornecidos via foliar; a uréia e o KCl em 24 pulverizações, a intervalos semanais, e o ácido bórico, em quatro pulverizações mensais, durante os quatro primeiros meses após o transplantio. Para todos os tratamentos, a primeira pulverização foi efetuada nove semanas após o plantio das secções. Nas 15 primeiras pulverizações, foram utilizados 6,0 mL planta-1, a partir de então se passou a utilizar 10 mL. As pulverizações foram efetuadas sempre após as 16 horas.

A partir do 30 dias após a primeira aplicação dos adubos, foram realizadas sete avaliações mensais da altura das mudas utilizando uma régua graduada.

Para as análises da composição mineral utilizou-se a folha “D”, coletadas aos nove meses após o enviveiramento das secções, de dez mudas escolhidas aleatoriamente por parcela. No laboratório, as folhas foram limpas com algodão umedecido em água deionizada. A seguir, as folhas foram secas em estufa de circulação forçada de ar, a 70ºC por 72 horas. Depois de secas, as amostras de cada tratamento foram moídas em moinho tipo Wiley com peneira de 20 mesh e armazenadas em frascos hermeticamente fechados.

Para determinação dos nutrientes, do material moído foram pesadas duas amostras, de cada tratamento, para se proceder, respectivamente, à digestão sulfúrica e nitro-perclórica. As amostras oriundas das digestões sulfúricas foram utilizadas nas análises dos teores de nitrogênio (Jackson, 1965), enquanto as amostras preparadas por digestão nitro-perclórica foram usadas nas análises dos teores de P, K, Ca, Mg, S, Fe, Cu, Zn e Mn (Malavolta et al., 1997) . O conteúdo estimado de Nitrogênio foi obtido pelo produto entre os respectivos teores foliares e a massa da matéria seca das mudas de cada tratamento.

O K foi dosado por espectrofotometria de emissão atômica; o P foi determinado, colorimétricamente, pelo método do molibdato; o Ca, Mg, Cu, Fe, Mn e Zn, por espectrofotometria de absorção atômica; o S, por turbidimetria do sulfato (Malavolta et al., 1997). O N orgânico foi dosado pelo método de Nessler (Jackson, 1965). A metodologia utilizada na determinação do B foi a colorimétrica, pela azometina H, após incineração em mufla. A determinação do Cl foi feita por titulação com AgNO3 após a extração em água e mantida em banho-maria (Malavolta et al., 1997).

 As análises estatísticas foram efetuadas por meio de análise de regressão. Para as variaveis avaliadas, foi ajustada a superfície de resposta no modelo: Y = g0 + g1N + g2N2 + g3K + g4K2 + g5B + g6B2 + g7NK + g8NB + g9KB, onde: Y = a variável dependente; g0 a g9 = coeficientes de regressão; N, K e B = concentrações utilizadas da uréia, KCl e H3BO3, respectivamente. Os valores dos diferentes níveis das variáveis independentes foram transformados para polinômios ortogonais, utilizando-se os coeficientes (-2, -1, 0, 1 e 2) para componente de 1º grau e os coeficientes (2, -1, -2, -1 e 2) para componente de 2º grau. Os dados foram discutidos com base na significância da regressão testada pelo teste F e da significância dos coeficientes, testada pelo teste t de Student, considerando um nível aceitável de até 5% de probabilidade.

Foram estimadas equações de regressão, considerando-se um modelo linear com a utilização de variáveis binárias, com o objetivo de quantificar os tratamentos e permitir as comparações de interceptos e declividades.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O crescimento em altura apresentado pelas mudas foi constante, porém, observou-se diferença estatística entre as curvas de crescimento estimadas para alguns tratamentos. Observa-se também que os valores dos interceptos estimados são semelhantes em todos os tratamentos, com exceção do tratamento 412, que constou da aplicação de 7,5 g L-1 de uréia, de 0 g L-1 de KCl e de 0,5 g L-1 de ácido bórico (Figura 1).

 

Figura 1 – Curvas de crescimento apresentadas pelas mudas do abacaxizeiro ‘Smooth Cayenne’ nos diferentes tratamentos. Os tratamentos que não diferem entre si, apresentando a mesma tendência de comportamento, estão representados pela curva “outros”. UENF- Campos dos Goytacazes, RJ, 2005.

 

De acordo com Reinhardt & Cunha (1999) o tamanho adequado das mudas para o plantio no local definitivo varia de 25 a 40 cm, com base nesta recomendação, para alguns tratamentos as mudas já poderiam ser levadas para o campo a partir de 150 dias após o início dos tratamentos (Figura 1). 

As análises dos dados para teores foliares de nutrientes demonstraram efeitos significativos para queda nos teores de K, S e Cl, em função do aumento nas concentrações de uréia e ácido bórico, com o cloreto de potássio apresentando efeito positivo apenas para teores foliares de K e Cl (Quadro 4).

Não houve efeito significativo para teores de N em tecidos da folha ‘D’. O valor médio de 11 g kg-1 (Quadro 2), está bem abaixo da faixa de 20 - 22 g kg-1, considerada adequada por Malavolta et al. (1997). Porém, muito próximo daquele considerado adequado por Haag et al. (1963) 12,9 g kg-1 de matéria seca. Sendo relevante observar, que estes padrões foram definidos utilizando-se folhas ‘D’, colhidas de plantas em estádios fenológicos diferentes daquele no qual se avaliou nesta pesquisa. Segundo Marschner (1995), a idade fisiológica da planta interfere na sua composição mineral.

 

Quadro 2 – Teor foliar de matéria seca (MS) e macro e micronutrientes em mudas do abacaxizeiro ‘Smooth Cayenne’ em função da adubação com uréia. UENF- Campos dos Goytacazes, RJ, 2005.

 

A ausência de efeito significativo para teores foliares de nitrogênio se deve, provavelmente, ao efeito de diluição da concentração devido ao crescimento das mudas (Malavolta, 1982). Fato confirmado pelo efeito significativo para estimativa do conteúdo de nitrogênio apresentado pelas mudas, observando-se uma diferença de aproximadamente duas vezes mais nitrogênio quando se comparam os tratamentos de maior ao de menor conteúdo deste nutriente (Figura 2).

 

Figura 2 – Conteúdo de nitrogênio (CN) e teor foliar de nitrogênio (N) em mudas do abacaxizeiro ‘Smooth Cayenne’ em função da adubação com uréia, aos 9 meses após o plantio das secções do caule. UENF- Campos dos Goytacazes, RJ, 2005.

 

Bartholomew et al. (2003) afirmam que o nitrogênio em níveis inferiores a 10 g kg-1 de matéria seca de tecido foliar limita o crescimento do abacaxizeiro, e que teores foliares acima deste valor são favoráveis ao crescimento de novos tecidos, porém, os resultados observados para as condições desta pesquisa, parece indicarem que este nível seja de 11 g kg-1 de matéria seca.

Os resultados sugerem que a disponibilidade de nitrogênio nesta pesquisa possa ter limitado o crescimento das mudas, mesmo na maior concentração utilizada, e que o constante crescimento expresso pela altura (Figura 1) e pelo teor de matéria seca (Quadro 2) apresentado por estas mudas foi mantido pela freqüência de adubações.

O teor foliar de Boro não foi influenciado pelos tratamentos. A ausência de efeito no teor foliar de B em função da aplicação do ácido bórico (Quadro 3), provavelmente está associada a baixa mobilidade deste nutriente na planta (Siebeneichler, 2002), considerando que a última aplicação ocorreu quatro meses antes da coleta das folhas ‘D’ utilizadas nas análises. O maior incremento no crescimento, expresso pela altura (Figura 1), verificado nos dois últimos meses que antecedeu a coleta, provavelmente contribuiu para este comportamento. Apesar de não significativo, observa-se na Quadro3 uma tendência de aumento no teor foliar de B com o aumento da concentração do H3BO3 na adubação.

 

Quadro 3 – Teor foliar de boro (B) e de enxofre (S) em função da adubação com uréia e ácido bórico (H3BO3) e de potássio (K) em função da adubação com uréia e KCl em mudas do abacaxizeiro ‘Smooth Cayenne’. UENF- Campos dos Goytacazes, RJ, 2005.

 

Verawudh (1993), estudando o efeito dos micronutrientes em seis aplicações foliares a intervalos semanais, sobre o crescimento do abacaxizeiro e teores de nutrientes na folha D, observaram teores de boro variando de 14,2-19,7 mg kg-1 de matéria seca, valores estes semelhantes ou até mesmo abaixo daqueles observados nesta pesquisa (Quadro 3)

De acordo com Siebeneichler et al. (2002) os sintomas de deficiência de B em abacaxizeiro ‘Pérola’ cultivados em solução nutritiva com omissão deste nutrientes, foram observados somente no segundo ciclo reprodutivo.

A superfície de resposta para teores foliares de K, em função da adubação com doses crescentes de uréia, KCl e H3BO3 mostra efeitos significativos com comportamento  linear, sendo este efeito negativo para uréia e H3BO3 (Quadro 4).  Comportamento semelhante foi observado por Spironello et al. (2004), ao qual foi atribuído ao efeito de diluição, devido ao crescimento vigoroso das plantas proporcionado pelas doses crescentes de nitrogênio na adubação.

 

Quadro 4 – Superfície de resposta à adubação com uréia, KCl e H3BO3 expressa pelos teores foliares  de K, S   em g kg-1, de Cl  em  mg kg-1. UENF- Campos dos Goytacazes, RJ, 2005.

 

Os resultados observados nesta pesquisa para teores foliares de potássio em todos os tratamentos (Quadro 3) estão acima de 16 g kg-1 de matéria seca, citado por Hiroce et al. (1977) como teor adequado. Com exceção dos tratamentos que receberam doses mais elevada de nitrogênio, os teores também estão próximos de 22,8 g kg-1, considerado adequado por Haag et al. (1963), e entre 25 e 27 g kg-1, faixa considerada adequada por Malavolta et al. (1997), para estádios fenológicos diferentes daquele no qual se avaliou nesta pesquisa. Os teores foliares de K que pode ser considerado adequado segundo Hiroce et al. (1977) nos tratamentos que não receberam adubação com KCl, provavelmente se deve ao elevado teor deste nutriente na área do experimento (Quadro 1). 

Porém, com base nos resultados obtidos por Coelho et al. (2007) e Hiroce et al. (1977), considera-se que o teor foliar para K de 16 g kg-1 de matéria seca, seja o mais adequado para o estádio de desenvolvimento das plantas avaliadas nesta pesquisa. Malavolta et al. (1967) afirmam que a absorção de potássio pelo abacaxizeiro é tão grande que sugere um consumo de luxo, podendo gerar dúvidas sobre a interpretação dos dados encontrados na literatura.

Os resultados para teores foliares de Ca, Mg, e micronutrientes registrados nesta pesquisa (Quadro 2), se encontram dentro ou muito próximos das faixas consideradas como adequadas para o abacaxizeiro por Malavolta et al. (1992). Souza et al. (2002) também não observaram efeito significativo da adubação potássica sobre os teores foliares de N, P, Mn, Fe, Cu e Zn, nos tecidos foliares do abacaxizeiro ‘Pérola’. Estes resultados, possivelmente, encontram explicação nos níveis dos nutrientes revelados pela análises químicas do solo da área experimental (Quadro 1) cujos valores estão na média ou acima daqueles valores preconizados pelo IAC para interpretação das análises de solo (Raij et al.,1996).

Os teores de S nos tecidos foliares das mudas do abacaxizeiro foram influenciados pelas adubações com uréia e H3BO3, não sendo influenciado pela adubação com KCl (Quadro 4). As maiores concentrações de S nos tecidos foliares (Quadro 3) foram registradas para os tratamentos que não receberam pulverizações com uréia.  Portanto, abaixo da faixa de 2 a 3 g kg-1 de matéria seca, considerada como faixa adequada por Malavolta et al. (1997).

Por outro lado, Bartholomew et al. (2003), ao descrever sobre os sintomas de deficiência de enxofre em abacaxizeiro, vincula sua ocorrência ao nível de 0,6 g kg-1 de matéria seca de tecidos da folha. Teor semelhante ao observado por Hiroce et al. (1977), estudando a composição química inorgânica do abacaxizeiro ‘Smooth Cayenne’, cujo teor está abaixo dos obtidos nesta pesquisa.

Os teores de Cl em tecidos foliares das mudas como resposta à adubação foliar com uréia, KCl e H3BO3, apresentaram efeito significativo para os componentes lineares das três variáveis independentes. Sendo positivo o efeito do KCl, como era de se esperar, e negativo para uréia e H3BO3 (Quadro 4).

Os elementos K, S e Cl cujos teores foliares apresentaram variação em função da adubação com doses crescentes de uréia, os efeitos foram sempre depressivos, e a explicação é que isto estaria associado ao crescimento das mudas promovido pela uréia. De acordo com Usherwood (1982), a adubação com nitrogênio em plantas não leguminosas, como o abacaxizeiro, estimula o crescimento vegetativo, e como conseqüência, aumenta a demanda por outros nutrientes.

 

CONCLUSÕES

Para as condições desta pesquisa, pode-se concluir:

1 – a adubação com uréia influencia negativamente os teores foliares de K, S, Cl, B e não afeta os teores foliares de N, P, Ca, Mg, Zn, Cu, Fe e Mn em mudas do ‘Smooth Cayenne.

2 – a adubação com KCl eleva apenas os teores de K e Cl nos tecidos foliares das mudas.

3 – a aplicação foliar de H3BO4 influencia positivamente o teor foliar de S e negativamente o teor foliar de K e Cl em folhas “D” colhidas aos nove meses após o plantio das secções.

 

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Recepção/Reception: 2009.08.14

Aceitação/Acception: 2010.01.11

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