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Medicina Interna
versão impressa ISSN 0872-671X
Medicina Interna vol.27 no.2 Lisboa abr. 2020
https://doi.org/10.24950/CE/74/20/2/2020
CARTAS AO EDITOR / LETTERS TO EDITOR
O Papel da Oxigenoterapia na Doença Crónica em Fase Avançada
The Role of Oxygen Therapy in Advanced Chronic Disease
Lícia Zanol Stanzani1,2 https://orcid.org/0000-0002-6512-1474
Paulo Reis-Pina3,4,5 https://orcid.org/0000-0002-4665-585X
1Pneumologista, Secretaria de Saúde, Brasília-Distrito Federal, Brasil
2Mestranda de Cuidados Paliativos, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, Portugal
3Internista, Casa de Saúde da Idanha, Sintra, Portugal
4Escola de Medicina, Universidade do Minho, Braga, Portugal
5Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, Portugal
Resumo:
O controlo da dispneia engloba medidas farmacológicas e não farmacológicas ajustadas caso a caso, levando-se em conta a sua dimensão multifatorial, sendo complexa a tomada de decisão ético-clínica. Entre as medidas não-farmacológicas, a oxigenoterapia é um recurso terapêutico amplamente discutido.
Palavras-chave: Cuidados Paliativos; Dispneia; Doença Crónica; Oxigenoterapia.
Abstract:
Dyspnoea control encompasses pharmacological and non-pharmacological measures adjusted on a case-by-case basis, considering its multifactorial dimension. Ethical-clinical decision-making is complex. Amongst non-pharmacological measures, oxygen therapy is a widely discussed therapeutic resource.
Keywords: Chronic Disease; Dyspnea; Oxygen Inhalation Therapy; Palliative Care.
O artigo de Frade et al, publicado recentemente nesta revista, propõe recomendações práticas em relação ao uso de oxigenoterapia em pacientes com doença avançada, em período de fim de vida.1
A dispneia é definida como uma experiência subjetiva de desconforto ou dificuldade respiratória, com sensações individuais distintas e de intensidade variável.2 É um sintoma comum, vivenciado por muitos doentes durante a trajetória da sua doença crónica, causando muito sofrimento. Além das alterações físicas, muitas vezes os doentes apresentam problemas em diferentes aspectos da sua vida, de ordem emocional, social, espiritual, sendo esta a base para a compreensãodo conceito de “dispneia total”.3 Nem sempre as intervenções dos profissionais tendem a abranger todas as dimensões da dispneia total.4
O controlo da dispneia engloba medidas farmacológicas e não farmacológicas ajustadas caso a caso, levando-se em conta a sua dimensão multifatorial, sendo complexa a tomada de decisão etico-clínica.5 Os fatores de agravamento potencialmentereversíveis devem ser investigados e adequadamente tratados, segundo o cenário clínico do doente.
Entre as medidas não-farmacológicas, a oxigenoterapia é um recurso terapêutico amplamente discutido. O artigo de revisão de Frade et al discute de forma clara e objetiva os estudos científicos e as recomendações atuais para ouso da oxigenoterapia.1 Muitos profissionais de saúde e doentes têm a percepção de que ooxigénio é útil para aliviar a dispneia, em qualquer circunstância. Os estudos recentes contrariam essa afirmação.
De acordo com a diretriz, publicada em 2020, da European Association For Palliative Care em associação com a European Society of Cardiology, os doentes com insuficiência cardíaca beneficiam da oxigenoterapia para controlar a dispneiacaso se encontrem hipoxémicos, se tiverem uma saturação periférica de oxigénio inferior a 90%, não havendo dados que suportem o uso da oxigenoterapia em pessoas com oximetria normal ou hipoxémia ligeira.2
Numa revisão recente sobre as estratégias de alívio da dispneia em doentes com patologias respiratórias crónicas em fase avançada reporta-se que a oxigenoterapia pode melhorar a tolerância aos exercícios, a saturação de oxigénio e a dispneia de esforço em doentes que apresentam hipoxémia espoletada pelo esforço.6
Na prática, observa-se que os benefícios da oxigenoterapia são superestimados, enquanto os seus possíveis riscos e limitações são subestimados. A suplementação de oxigénio também tem efeitos colaterais, destacando-se a hipercapnia aguda com efeitos centrais, e a lesão pulmonar por stress oxidativo.6 O uso do equipamento pode levar à restrição das atividades e de deslocamento, dificuldade de comunicação comas pessoas ao redor, securadasmucosas (principalmente nasal, oral e conjuntivas) e desconforto pelo uso da interface (cânula nasal ou máscaras faciais).7 As limitações causadas pelo uso da oxigenoterapia devem ser avaliadas criteriosamente por uma equipa de saúde multidisciplinar, visto que algumas delas podem ter um grande impacto na qualidade do fim de vida da pessoa com doença avançada.
Dessa forma, a indicação da oxigenoterapia paliativa requer, além da avaliação das causas passíveis de reversão e dos critérios objetivos de saturação de oxigénio, uma avaliação global das necessidades do doente e de um plano terapêutico individualizado, elaborado emconjunto com a equipa, a pessoa doente e os seus cuidadores.5
REFERÊNCIAS
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Responsabilidades Éticas
Conflitos de Interesse: Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse na realização do presente trabalho.
Fontes de Financiamento: Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste artigo.
Proveniência e Revisão por Pares: Não comissionado; revisão externa por pares.
Ethical Disclosures
Conflicts of interest: The authors have no conflicts of interest to declare.
Financing Support: This work has not received any contribution, grant or scholarship.
Provenance and Peer Review: Not commissioned; externally peer reviewed.
© Autor (es) (ou seu (s) empregador (es)) 2019. Reutilização permitida de acordo com CC BY-NC. Nenhuma reutilização comercial.
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Correspondence / Correspondência:
Paulo Reis Pina paulopina@medicina.ulisboa.pt
Internista, Casa de Saúde da Idanha, Sintra, Portugal
Casa de Saúde da Idanha, Rua Bento Menni, nº 8, 2605-077, Belas
Received / Recebido: 27/04/2020
Accepted / Aceite: 27/04/2020
Publicado / Published: 27 de Junho de 2020