Apresenta-se o caso de uma mulher, 52 anos, com história de infeções do trato urinário (ITU) de repetição e previamente submetida a correção de fístula vesicovaginal que culminou na realização de cistoplastia de aumento. Foi seguida em consulta de Urologia, tendo indicação para realização de cateterismo vesical intermitente, prática que abandonou anos depois.
Por quadro de febre, disúria, vómitos e diminuição do débito urinário, recorreu ao serviço de urgência. Ao exame objetivo apresentava-se confusa, febril, taquipneica e sem sinal de Murphy renal bilateralmente. Na avaliação analítica realçava-se a presença de lesão renal aguda, elevação dos parâmetros inflamatórios e acidemia metabólica grave.
Para exclusão de ITU complicada, realizou tomografia computorizada abdomino-pélvica que mostrou múltiplas formações cálcicas na bexiga (a maior com 53 mm), em relação com litíase vesical maciça (Fig. 1). A doente foi submetida a cistolitotomia (Fig. 2), com melhoria clínica, tendo alta reencaminhada à consulta de Urologia.
A incidência de urolitíase apresenta relação com a ocorrência de ITU de repetição.1 Embora os cálculos vesicais perfaçam 5% das urolitíases, é incomum a ocorrência de cálculos múltiplos e maciços devido à sua deteção e intervenção precoces.2 A cistoplastia de aumento é fator de risco para desenvolvimento de litíase vesical, sendo que, no presente caso, o não seguimento médico, a suspensão do cateterismo vesical e as ITU de repetição culminaram na apresentação exuberante documentada.
Não obstante a sua raridade, este caso alerta para a necessidade de avaliação médica regular dos utentes com causas identificadas para urolitíase, prevenindo assim complicações graves associadas à mesma.