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Forum Sociológico

versão impressa ISSN 0872-8380versão On-line ISSN 2182-7427

Forum Sociológico  no.40 Lisboa jun. 2022  Epub 29-Jul-2022

https://doi.org/10.4000/sociologico.10384 

Dossiê - Envelhecimento, ciclo de vida e desafios societais

Editorial

1iUniversidade de Lisboa, Lisboa, Portugal

2iiUniversidade de Lisboa, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Lisboa, Portugal

3iiiUniversidade Católica Portuguesa, Faculdade de Educação e Psicologia, Porto, Portugal


Ao propor um dossier com o título “Envelhecimento, ciclo de vida e desafios societais” os organizadores tiveram como objetivo atrair o interesse dos investigadores desta área problemática para publicações orientadas para os novos desafios decorrentes do crescimento da longevidade e da dinâmica do envelhecimento demográfico. Efetivamente, a esperança de vida tem vindo a atingir idades próximas do limiar máximo de sobrevivência do organismo biológico. É cada vez mais frequente atingir os 100 anos e a esperança de vida, o género feminino, ronda os 84 anos em muitos países europeus, tal como em Portugal. Também ao nível macrodemográfico, a população portuguesa é das mais envelhecidas do mundo.

Neste enquadramento podemos afirmar que o envelhecimento é uma característica estrutural das nossas sociedades modernas. São muitos os desafios para os governos, as instituições, as organizações, as famílias e os indivíduos. Encontrar novas soluções para responder às dificuldades, individuais e societais, requer a adoção de perspetivas críticas por parte de quem investiga e capacidade para inovar por parte de que intervém, politicamente e ao nível da prestação de cuidados.

Do ponto de vista individual o envelhecimento constitui a meta final de uma trajetória de vida que condiciona o modo como se vai envelhecer. Ao longo do nosso percurso de vida vamos capitalizar ou descapitalizar em várias dimensões. Os patrimónios, os capitais escolares adquiridos, os capitais sociais, o capital familiar são recursos da maior importância na fase final da nossa vida. Também do ponto de vista das condições de saúde, é ao longo da vida que se promove a saúde. Ter boa saúde é essencial para bem envelhecer e reduzir o declínio da funcionalidade.

Do ponto de vista do envelhecimento demográfico os desafios alastram-se para diferentes dimensões da nossa vida social. A insustentabilidade do sistema de pensões como o conhecemos, a redução da população ativa e a carência de mão de obra, o crescimento e a diversidade das necessidades ao nível da prestação de cuidados são alguns dos problemas para os quais se procuram soluções alternativas. A crise pandémica pôs a descoberto tremendas dificuldades no cuidado aos mais velhos, desvendado uma realidade, relativamente oculta, da forma como socialmente se idealiza a solução dos problemas da velhice: a institucionalização.

Este dossier tem início com um artigo de Patrícia Coelho, José de São José e João Eduardo Martins, intitulado “Quando a saúde ficou a perder ou a crise passou ao lado”: Um olhar sociológico sobre os efeitos da crise e da austeridade na saúde autopercebida dos mais velhos. Os autores recorrem a uma abordagem biográfica para analisar os efeitos da crise económica (2008) e da austeridade associada na saúde autopercebida de um grupo de pessoas mais velhas, em Portugal.

Mantendo o objeto de estudo na saúde das populações mais velhas, o artigo seguinte tem como título: Viver com o melhor da saúde. Heterogeneidade e identidade no envelhecimento saudável. Da autoria de Pedro Rocha, este artigo reflete uma investigação etnográfica, que parte do conceito de Healthy Ageing para mergulhar nas vivências quotidianas das pessoas mais velhas ao nível da saúde, doença e cuidados de saúde.

Os desafios inerentes ao envelhecimento demográfico assumem configurações relacionadas com o contexto territorial. Os autores Maria João Guardado Moreira e Vítor Pinheira focam-se nesta dimensão local, ao escrever o artigo intitulado Os planos gerontológicos como instrumentos de apoio a políticas de envelhecimento territorializadas: O caso de Idanha-a-Nova. Esta pesquisa analisa o Plano Gerontológico de um município português, que foi criado numa perspetiva bottom-up, quer ao nível populacional quer organizacional, e que é aqui apresentado como ferramenta capaz de contribuir para a inovação social dos territórios.

O quarto artigo deste dossier é da autoria de Ana Filipa Gonçalves Gago Pacheco e Marisa Isabel Martins Reis e intitula-se (In)sustentabilidade dos mais novos: O preço para as gerações idosas. Através de uma pesquisa qualitativa realizada em Portugal, as autoras debruçam-se sobre o papel da família mais próxima na prestação de apoio às pessoas mais velhas e, por sua vez, a responsabilidade parental inerente ao apoio que pais idosos dão aos seus filhos adultos.

Na mesma temática que situa os efeitos do envelhecimento no seio das famílias portuguesas, a autora Ana Rita Brás apresenta-nos um artigo intitulado E tudo a viuvez levou? O impacto da morte do cônjuge no papel das mulheres nas famílias. A partir de entrevistas em profundidade, a autora analisa os modos de viver a viuvez nas diferentes dimensões da vida de 15 mulheres, incluindo o impacto da viuvez no papel na família.

A problemática do envelhecimento demográfico cruza-se com fenómenos como a mobilidade geográfica, enquanto tendências sociais globais. Escrito por Liliana Azevedo, o artigo Este país é para velhos? Migrações e envelhecimento em Portugal efetua uma relação entre o envelhecimento populacional e as dinâmicas migratórias, nas suas múltiplas e complexas interseções. Num estudo de metodologia mista, a informação reunida a partir de diferentes fontes é canalisada numa análise comparativa dos motivos e condições de fixação em Portugal de migrantes reformados.

A encerrar este número temático, Luís Mendes e Simone Tulumello apresentam um policy brief intitulado: Habitação e dinâmicas sociodemográficas no Portugal contemporâneo: Contributo para uma discussão sobre “Habitação e natalidade: Enquadramento e políticas públicas”. Neste texto, os autores colocam em perspetiva os elementos da demografia da habitação, abordando a dimensão das Políticas Públicas de habitação no contexto demográfico em Portugal.

Através de uma abordagem focada em temas com relevância para o presente e futuro da sociedade portuguesa, este dossier apresenta uma visão envolvente de alguns desafios que hoje se colocam à pesquisa científica sobre a temática do envelhecimento em Portugal, realçando a importância de que essa pesquisa pode revestir-se para o debate social e político e para o desenho de respostas sociais adequadas ao nosso tempo.

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