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Revista de Enfermagem Referência

versão impressa ISSN 0874-0283

Rev. Enf. Ref. vol.serIV no.23 Coimbra dez. 2019

https://doi.org/10.12707/RIV19060 

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)

RESEARCH PAPER (ORIGINAL)

 

Perfil de jovens universitários e as suas perceções face à maternidade e paternidade

Profile of young university students and their perceptions of motherhood and fatherhood

Perfil de los jóvenes universitarios y su percepción de la maternidad y la paternidad

 

Maria da Gloria Aragão Martins Ferreira*
https://orcid.org/0000-0002-4212-0196

Jorge Lopez-Gómez**
https://orcid.org/0000-0002-9823-7422

Helena Maria Scherlowski Leal David***
https://orcid.org/0000-0001-8002-6830

Alba Navalon-Mira****
https://orcid.org/0000-0002-5779-7191

Marisa Afonso de Andrade Brunherotti*****
https://orcid.org/0000-0002-8058-8523

Vicente Gea-Caballero******
https://orcid.org/0000-0001-8607-3195

José Ramon Martinez-Rieira*******
https://orcid.org/0000-0002-4926-6622

 

* MSc., Estudante de Doutoramento, Universidade de Franca, 14404-600, São Paulo, Brasil [gloria.fisio@hotmail.com]. Contribuição no artigo: pesquisa bibliográfica, recolha de dados, discussão e escrita do artigo. Morada para correspondência: Rua Benjamin Carneiro, 30 – Centro, Paracatu – MG, 38.600-000, Brasil.

** Pós-graduação, Enfermeiro, Universidade de Alicante, 03690, Alicante, Espanha [jorge.lopezgomez@hotmail.com]. Contribuição no artigo: Pesquisa bibliográfica.

*** Ph.D., Enfermeira, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Faculdade de Enfermagem, 20551-030, Rio de Janeiro, Brasil [helenalealdavid@gmail.com]. Contribuição no artigo: Discussão e escrita do artigo.

**** Ph.D., Enfermeira, Universidade de Alicante, 03690, Alicante, Espanha [alba.navalon@ua.es]. Contribuição no artigo: pesquisa bibliográfica, tratamento e avaliação estatística e discussão.

***** Ph.D., Fisioterapeuta, Universidade de Franca, 14404-600, São Paulo, Brasil [marisa.brunherotti@unifran.edu.br]. Contribuição no artigo: Pesquisa bibliográfica, discussão e escrita do artigo

****** Ph.D., Enfermeiro, Escuela Universitaria Enfermería La Fe, 46026, Valência, Espanha [vicentegeacaballero@gmail.com]. Contribuição no artigo: tratamento e avaliação estatística; análise de dados e discussão.

******* Ph.D., Universidade de Alicante, 03690, Alicante, Espanha [jr.martnez@ua.es]. Contribuição no artigo: pesquisa bibliográfica; análise de dados e discussão; escrita do artigo.

 

RESUMO

Enquadramento: É necessário refletir sobre os significados sociais, culturais, educacionais e simbólicos da experiência da maternidade e paternidade entre jovens e saber quais são as suas preocupações, desafios, ansiedades e medos.

Objetivo: Analisar as perceções de universitários acerca da maternidade e paternidade.

Metodologia: Pesquisa quantitativa, exploratória. Utilizou-se um questionário sobre maternidade e paternidade como instrumento de colheita de dados. Os dados foram analisados com recurso ao software IBM SPSS Statistics, versão 24.0.

Resultado: Foram aplicados 389 questionários, ao analisá-los, as questões relacionadas a aspetos económicos são a principal preocupação dos estudantes, 93,2% e estes são indiferentes ao apoio institucional oferecido durante o período de graduação. Quanto aos aspetos da maternidade e paternidade que preocupam estes estudantes, quando relacionados com o sexo do participante, tiveram resultados significativos os fatores económicos (p = 0,090) e o seu desenvolvimento pessoal ou profissional (p = 0,020). As demais correlações não foram estatisticamente significativas.

Conclusão: Nota-se uma necessidade de articulação entre diversos setores envolvidos na maternidade e paternidade a fim de educar e empoderar os universitários para estratégias de planeamento como fator de proteção à saúde.

Palavras-chave: maternidades; paternidade; adolescentes; promoção da saúde

 

ABSTRACT

Background: It is necessary to reflect on the social, cultural, educational, and symbolic meanings of the experience of motherhood and fatherhood among young people and to know their concerns, challenges, anxieties, and fears.

Objective: To analyze young university students’ perceptions of motherhood and fatherhood.

Methodology: Quantitative, exploratory research. Data were collected using a questionnaire on motherhood and fatherhood and analyzed using IBM SPSS Statistics, version 24.0.

Results: A total of 389 questionnaires were applied. The analysis showed that students are mainly concerned with the economic issues (93.2%) and indifferent to the institutional support offered during their undergraduate studies. With regard to the most worrying aspects of motherhood and fatherhood, statistically significant associations were found between gender and economic factors (p = 0.090) and personal or professional development (p = 0.020). No other statistically significant associations were found.

Conclusion: There is a need for coordination among the various sectors involved in motherhood and fatherhood in order to educate and empower university students for planning strategies as a health protection factor.

Keywords: maternity; paternity; adolescent; health promotion

 

RESUMEN

Marco contextual: Es necesario reflexionar sobre los significados sociales, culturales, educativos y simbólicos de la experiencia de la maternidad y paternidad entre los jóvenes y conocer cuáles son sus preocupaciones, desafíos, ansiedades y temores.

Objetivo: Analizar las percepciones de los estudiantes universitarios sobre la maternidad y la paternidad.

Metodología: Investigación cuantitativa y exploratoria. Se utilizó un cuestionario sobre la maternidad y paternidad como instrumento para la recopilación de datos. Los datos se analizaron mediante el programa IBM SPSS Statistics, versión 24.0.

Resultados: Se aplicaron un total de 389 cuestionarios y, al analizarlos, las preguntas relacionadas con los factores económicos son la principal preocupación de los estudiantes (el 93,2%) y se muestran indiferentes en cuanto al apoyo institucional ofrecido durante el periodo de graduación. En cuanto a los aspectos de la maternidad y paternidad que preocupan a los estudiantes, cuando se relacionan con el género del participante, los factores económicos (p = 0,090) y su desarrollo personal o profesional (p = 0,020) tuvieron resultados significativos. Las otras correlaciones no fueron estadísticamente significativas.

Conclusión: Es necesaria la coordinación entre los diversos sectores involucrados en la maternidad y la paternidad para educar y empoderar a los estudiantes universitarios en la planificación de estrategias como factor de protección de la salud.

Palabras clave: maternidades; paternidad; adolescente; promoción de la salud

 

Introdução

Os jovens, hoje em dia, em todos os países, encontram-se sobrecarregados tanto por problemas previsíveis e universais para a sua idade, como pelos específicos da época histórica em que vivem. Os jovens enfrentam uma sociedade que sofre uma intensa crise social, económica e cultural, com grandes ruturas, que exigem uma complexa capacidade de adaptação ao mundo social para a construção da sua própria identidade. Este processo de mudança na vida destes jovens dá origem a conflitos pessoais, familiares, educacionais e sociais (Muñoz, Arcos, Acevedo, Lazcano, & Acevedo, 2015).

Na construção desta identidade, os jovens procuram espaços próprios, nos quais se reúnem e buscam apoio mútuo. O processo de globalização cria uma cultura cada vez mais homogénea em termos de valores sociais, culturais e económicos, nem sempre ligados a saúde e bem-estar (Jacques, 2017). É na fase da juventude que se consolidam hábitos de vida, e este grupo populacional está exposto a riscos ligados ao desenvolvimento ou não de hábitos saudáveis, devido a vários fatores, como importantes mudanças que ocorrem tanto a nível fisiológico, como psicológico ou social, e os seus consequentes conflitos, a dificuldade de adaptação a estas mudanças e à influência do meio ambiente nas suas perspetivas futuras (Soares, Moniz, Sousa, Sales, & Alves, 2019). A promoção da saúde constitui um elemento fundamental para a mudança da conceção de saúde que a vê meramente como a ausência de doença, pois visa a criação de mecanismos que reduzam as situações de vulnerabilidade, defesa da equidade com articulação de redes de compromisso e corresponsabilidades na gestação de políticas públicas, com o objetivo de promover a qualidade de vida e a saúde e de prevenir doenças e consequências para a saúde. A conversão de uma política de saúde simplista numa política pública para todos os setores, com compromissos sociais e institucionais em tempos de globalização que não se limita a fronteiras, gera oportunidades na área da cooperação em saúde como mostra a análise de Dal Poz, Couto, e Franco (2016), sobre configuração e tendências das instituições de ensino superior em saúde. A expansão do mercado em educação estimula a competitividade, alterando processos de ensino e propondo novos desafios para as políticas públicas, principalmente no que envolve saúde e sustentabilidade.

Por seu lado, a educação em geral é um fator importante de responsabilidade da sociedade no processo saúde-doença que começa desde o nascimento, no ambiente familiar, e permanece ao longo da vida através da convivência social em diferentes grupos, nas mudanças de comportamentos, atitudes e valores de referência socioeconómica, principalmente para jovens e adolescentes de ambos os sexos (Leite, Bleinat, & Seles, 2015).

Acompanhar e conhecer o pensamento de jovens estudantes e as suas perceções sobre a gravidez e a maternidade/paternidade é essencial para o desenvolvimento de um programa de educação em saúde capaz de promover mudanças e ter um impacto positivo nos fatores sociais e económicos e também em relação à qualidade de vida e promoção da saúde dos jovens, dos futuros pais e do bebé.

O objetivo deste trabalho foi analisar as perceções de jovens estudantes universitários de uma comunidade autónoma de Espanha sobre a maternidade e paternidade, e como estas podem influenciar o desenvolvimento de uma vida saudável.

 

Enquadramento

Na literatura, comummente, são encontrados estudos que tratam a maternidade e a gravidez como acontecimentos semelhantes. Mesmo que estes termos sejam regularmente estudados como sinónimos, reconhecem-se entre eles singularidades.

A maternidade vai muito mais além de um conceito biológico que considera a gravidez, o parto e a amamentação.

A gravidez é uma etapa temporária, que se caracteriza por modificações, principalmente biológicas no caso da mulher, e por grandes experiências psicológicas e sociais tanto para o homem quanto para a mulher. Embora a gravidez seja um evento com uma duração que ronda as 40 semanas entre a conceção e o parto para a mulher, também irá trazer repercussões para a vida do pai, pelo que se deve também incluir a perceção deste.

Já a maternidade, não sendo um evento puramente biológico, é uma experiência com mudanças sociais e históricas na vida da mulher que estabelece responsabilidade e exigências já vislumbradas ou não durante a gravidez. A maternidade exige cuidados, maturidade emocional, e muitas outras exigências próprias da mãe (Jesús Reyes, & González Almontes, 2014).

A respeito da paternidade, esta também não é um fenómeno biológico, mas um marco inserido na dinâmica social e histórica, pelo que também exige responsabilidades e varia conforme o contexto em que se está inserido, estando em constante mudança e transformação.

Sobre a relação da perceção dos(as) estudantes universitários(as) face à maternidade e paternidade e a construção do seu projeto de vida com responsabilidade, qualidade e sustentabilidade, devem considerar-se também, os planos futuros destes jovens que consistem nas pretensões e desejos de realizações que projetam para o seu futuro, que vão desde ter uma profissão, a um trabalho e filhos (Soares et al., 2019).

O programa de intervenção de educação em saúde no ambiente universitário tem o potencial de aumentar o empoderamento dos jovens no que diz respeito a uma maternidade/paternidade saudável, reduzir impactos negativos na saúde e consciencializá-los em prol da promoção da saúde.

Alguns investigadores sugerem que os jovens necessitam de apoio para adquirir habilidades e conhecimentos para um desenvolvimento saudável e sustentável. Programas que incorporam práticas educativas voltadas para a juventude são fundamentais. Acredita-se que uma abordagem liderada pelas universidades é apropriada, uma vez que os jovens têm uma maior propensão para serem influenciados e para aprender neste ambiente (Crocker, Pit, Hansen, John-Leader, & Wright, 2019). No entanto, enquanto a educação em saúde no ambiente universitário parece ser considerada eficaz no aumento do conhecimento e na mudança de atitudes, há uma falta de consenso sobre os seus impactos em termos de resultados (Sanchez et al., 2019).

Os jovens vivenciam um processo no qual as suas crenças, mitos, tabus e formas de se comportar, no que tange à saúde e bem-estar, podem transformar-se, o que influenciará a sua aprendizagem ao longo da vida e favorecerá a autorresponsabilidade na promoção e atenção à saúde, durante a vida adulta e o envelhecimento. Porém, como demostra o estudo realizado por Batista Mainegra, Rojas Hernández, González Aportela, e Hernández García (2015), a maioria dos jovens não detem formação para atingir metas de vida saudáveis, pois tem uma baixa perceção de risco, o que se reflete, por exemplo, em falta de proteção nas relações sexuais, mudança frequente de parceiros e gravidez indesejada.

Nível de escolaridade, fatores socioeconómicos e hábitos e estilos de vida, têm um papel importante no cuidado e promoção da saúde da pessoa e também durante a gravidez e no futuro, no papel de mãe ou pai, pois estes fatores exercem grande influência na perceção da qualidade de vida, principalmente em jovens (Lindstad Løvåsmoen, Nyland Bjørgo, Lukasse, Schei, & Henriksen, 2018).

 

Questão de investigação

Quais são as perceções dos jovens universitários sobre a maternidade e paternidade no que diz respeito a um desenvolvimento saudável?

 

Metodologia

Trata-se de um estudo de natureza quantitativa e exploratória. Utilizou-se como instrumento de colheita de dados um questionário elaborado pelos próprios investigadores sobre dados sociodemográficos, educação em saúde, fontes de informações utilizadas, perceção dos estudantes sobre a maternidade e a paternidade e importância de recursos no contexto universitário. A amostra foi calculada a partir do número total de alunos matriculados segundo o anuário estatístico da instituição (n = 23.941), com margem de erro de 5%, com nível de confiança de 95%. Assim, aplicaram-se 389 questionários de forma aleatória e estratificada por área de conhecimento (curso de graduação), de estudantes matriculados durante o ano letivo 2018-2019, na Universidade de Alicante, em Espanha. Consideraram-se os seguintes critérios de inclusão: ser maior de 18 anos e estar no momento matriculado na instituição. Foram excluídos os estudantes que por qualquer motivo não aceitaram participar na investigação.

Procedimentos

As informações foram recolhidas através de um questionário anónimo e auto administrado durante os meses de abril a junho de 2019 no campus da universidade, sendo os estudantes convidados de forma aleatória por um dos investigadores responsáveis pelo estudo e obtida a prévia autorização dos entrevistados e das autoridades académicas. Este estudo foi submetido à Comissão de Ética da Universidade de Alicante, tendo sido obtido parecer positivo e favorável e sido autorizada a aplicação do questionário.

Não foi registada nenhuma incidência relevante em relação à administração e colaboração dos estudantes universitários durante a realização do estudo. A taxa de resposta foi elevada e a proporção de estudantes que se negaram a completar o questionário foi irrelevante.

Tratamento estatístico

As variáveis quantitativas foram analisadas por meio de estatística descritiva. Todas as variáveis, à exceção da idade, apresentaram distribuição normal e a associação entre elas foi verificada por meio do teste de qui-quadrado. A variável idade exigiu um teste de hipóteses não paramétrico, tendo sido usado o teste de Kruskal Wallis. O nível de significância estatístico adotado neste estudo foi de 5% (p = 0,05) e o intervalo de confiança de 95%. As análises foram obtidas através do software IBM SPSS Statistics, versão 24.0.

As variáveis selecionadas foram: sexo; idade; curso de graduação; ano letivo que frequentam; se o entrevistado é mãe/pai; fontes de informação em relação à promoção de saúde e à maternidade e paternidade; opinião sobre o tema; aspetos mais preocupantes; época mais difícil para a maternidade e paternidade; e se o tema é de interesse para estes jovens estudantes.

 

Resultados

Os resultados encontram-se apresentados em três partes. Primeiramente, apresentam-se os resultados referentes à caracterização da amostra (perfil). Posteriormente, apresentam-se os resultados sobre a perceção destes jovens acerca da maternidade e paternidade onde se demonstra a relação entre as variáveis de fontes de informações, as relativas à promoção da saúde, maternidade e paternidade, autoavaliação sobre conhecimentos em relação à maternidade e paternidade, os fatores que mais preocupam estes jovens, a época mais difícil para a maternidade e paternidade e se este tema é interessante para os entrevistados. Por fim, apresentam-se os resultados referentes à análise correlacional entre as variáveis sexo, idade, área e ano de graduação com os demais temas abordados no questionário.

Dados relacionados com a caracterização da amostra

Dos 389 estudantes participantes, 66,3% (n = 258) eram mulheres e 33,7% (n = 131) homens, com idade média de 21,05 anos (DP = 2,50). As áreas de formação destes alunos são: 53% (n = 206) de Ciências Sociais e Políticas, 21,9% (n = 85) de Ciências (Biologia, Ciencias do Mar, Física, Biologia, Matemática e Química), 10,3% (n = 40) de Ciências da Saúde, 8% (n = 31) de Artes e Humanidades, 4,6% (n = 18) de Engenharias e Arquitetura e 2,3% (n = 9), não responderam a sobre a sua área de formação. Em relação ao tempo de vida universitária, 44,7% (n = 174) estão no primeiro ano, 18,3% (n = 71) no segundo ano; 16,3% (n = 63) no terceiro ano, 19,5% (n = 76) no quarto ano e 1,3% (n = 5) foram omissos nesta resposta. Apenas três estudantes responderam que já são pais, representando 0,8% da amostra, 72,2% ainda não são pais mas afirmam que gostariam de ser, 26,2% não são e não gostariam de ser e 0,8% foram omissos na resposta. Estes dados encontram-se apresentados na Tabela 1.

Dados relacionados com as fontes de informação, autoconhecimento, fatores que preocupam os jovens em relação ao tema, época mais difícil para ser mãe/pai e interesse no tema de maternidade e paternidade

A maioria dos jovens informou que a família era a principal fonte de informação (88,9%; n = 346), seguidas pelos meios de comunicação em massa (57,8%; n = 225), as redes sociais ou sites de internet foram referidas por 18,5% (n = 72), os livros ou revistas por 27% (n = 105), a escola por 27% (n = 105), a universidade por 18,5% (n = 72), os grupos de amigos são responsáveis por 26,5% (n = 103) das informações obtidas para estes jovens, 2,1% (n = 8) afirmam não ter nenhuma informação e 1,5% (n = 5) tem outras fontes de informação mas estas não foram especificadas.

Sobre a importância da educação em saúde para uma maternidade e paternidade saudável, a maioria dos jovens (78,4%; n = 305) está totalmente de acordo com esta afirmação; quando interrogados se têm conhecimentos suficientes sobre estilo de vida e promoção de saúde para uma gravidez e maternidade/paternidade saudável, apenas 4,9% (n = 19) estão totalmente de acordo; a possibilidade de ter um filho durante os estudos causa inquietude para 55% (n = 215) entrevistados; apenas 16,7% (n = 65) acreditam que se pode conciliar os estudos com a maternidade e paternidade. Em relação à universidade exercer alguma influência sobre a maternidade e paternidade, 14,1% (n = 55) estão totalmente de acordo com esta afirmação e, ainda sobre as universidades, se estas devem estar preparadas para receber estudantes que tenham filhos, com recursos que lhes permitam conciliar os estudos e a maternidade/paternidade, 70,4% (n = 274) estão totalmente de acordo que as universidades devem estar preparadas para receber estes alunos.

Relativamente aos aspetos que mais preocupam estes jovens em relação à maternidade e paternidade, encontram-se os fatores económicos, com 92,3% (n = 359), o desenvolvimento pessoal ou profissional com 65,8% (n = 256), a falta de informação (27%; n = 105) e outros motivos (5,1%; n = 20), sendo importante ressaltar que os jovens poderiam indicar mais do que um aspeto.

Os jovens entrevistados consideram que a época mais difícil para a maternidade/paternidade é durante os estudos universitários, com 35% (n = 136), 31,9% (n = 124) acreditam que é mais difícil antes de começarem os estudos universitários, 28,5% (n = 111) consideram qualquer época e apenas 2,3% (n = 9) veem esta dificuldade após terminar os seus estudos. 39,8% (n = 155) dos jovens estão de acordo com o tema: “A maternidade/paternidade é um tema de interesse para os(as) jovens estudantes”.

Dados de análise correlacional entre as variáveis sexo, idade, área e ano de graduação com os demais temas abordados no questionário

Foi obtida a correlação bivariada entre as variáveis sexo e fonte de informação, usadas para temas relacionados com a promoção de saúde e a maternidade e paternidade. Só se obteve diferença estatisticamente significativa na relação entre a variável sexo e as fontes de informação: família (p = 0,027) e livros e revistas (p = 0,005).

Quanto aos aspetos da maternidade e paternidade que preocupam estes jovens, quando relacionados com o sexo dos participantes, obtiveram resultados significativos os fatores económicos (p = 0,09) e o seu desenvolvimento pessoal ou profissional (p = 0,020).

As demais correlações entre sexo, idade, curso de graduação e ano que estão a frequentar na universidade com as fontes de informação, opinião sobre a maternidade e paternidade, época mais difícil para ser mãe/pai e interesse sobre o tema, não foram estatisticamente significativos.

 

Discussão

A amostra do estudo é constituída maioritariamente por jovens do sexo feminino. A mulher conquistou o seu espaço na sociedade e exerce funções anteriormente exclusivas dos homens. Reconhece-se a presença feminina no mercado de trabalho e na busca de qualificação profissional, com mulheres cada vez mais presentes no ensino superior. Segundo o estudo de Barros e Mourão (2018), há mais mulheres que homens de 18 a 24 anos inseridos no ensino superior em todo o mundo.

A idade média dos participantes é comparável com os resultados de outros estudos, como o de Guimarães (2013), demarcando que a maior parte dos jovens universitários apresentam idades entre os 17 e os 24 anos.

Em relação às perguntas sobre fontes de informação, a maioria dos participantes tem a família como base regular para esclarecer as suas dúvidas, não havendo diferença em relação ao sexo do entrevistado. Tal, pode ser justificado por dados apresentados pelo gabinete estatístico europeu e publicados pela European Commission (2017), que destaca que, mais de um terço dos jovens do sexo masculino e um quinto do sexo feminino viviam em casa dos pais. Os jovens espanhóis que ainda vivem com os pais têm, em média, 29 anos de idade. Já os estudos estatísticos sobre gravidez e maternidade de Segovia e Caro (2015), mostraram que os jovens tem as suas dúvidas esclarecidas principalmente por meio da internet no caso dos homens, e através de pais, professores ou amigos, no caso das mulheres.

O presente trabalho apresentou um resultado interessante em relação à época mais difícil para o jovem ter filhos, variável em relação à qual a maioria respondeu que é durante os estudos universitários. Tal, poderia fazer pensar que, apesar de desejarem ser mães ou pais, estes não se sentem apoiados, não apenas a nível pessoal, mas principalmente por meio de instituições públicas, o que dificulta a combinação de ambas as atividades pelos jovens (Hernández-Quirama, Cáceres Manrique, & Linares García, 2019). Talvez, tal possa ser explicado a partir da análise de Jesús Reyes e González Almontes (2014), que considera que a gravidez na juventude pode colocar os pais e o filho numa situação crítica, quer seja por problemas de saúde e/ou socioeconómicos. Assim, os jovens terão menores oportunidades de ingressar o mercado de trabalho e uma alta probabilidade de falta de oportunidades por baixa qualificação profissional, já que lidar com a maternidade/paternidade durante os estudos universitários parece ser um problema.

A partir de uma perspetiva abrangente da situação enfrentada por jovens face à maternidade/paternidade, e de acordo com o estudo de Sierra-Macías, Covarrubias-ermúdez, González-Pérez, e Alfaro-Alfaro, 2019, destacam-se algumas dimensões estruturais: socioeconómicas e culturais principalmente. Este, corrobora os resultados do presente estudo, pois 92,3% dos entrevistados acreditam que o aspeto económico é o fator mais preocupante em relação à maternidade e paternidade entre jovens universitários.

Com relação a variáveis económicas, foi evidente a preocupação dos jovens com a questão da sustentabilidade financeira, o que parece ser um fator primordial para uma maternidade/paternidade saudável. Hill et al. (2018), indicam no seu estudo que quanto maior o capital económico das famílias maior será a exigência por educação de qualidade e de forma sustentável, reafirmando assim os conceitos de capital cultural e económico. Assim, o capital cultural ou os recursos educacionais familiares, que são medidos pela escolaridade, vão favorecer uma educação de qualidade e maior preocupação na criação dos seus filhos.

Em relação às limitações do estudo, importa ressaltar que a amostra provém de uma única região geográfica, sendo essencial evitar generalizações para outros contextos. Por sua vez, por ser um estudo transversal, o contexto temporal das associações apresentadas na pesquisa não pôde ser avaliado e as causas do fenómeno estudado não puderam ser determinadas.

 

Conclusão

Considerando os resultados, os jovens universitários experenciam a maternidade e a paternidade com diferentes perceções, no entanto, nota-se uma necessidade de articulação entre diversos setores envolvidos no processo de maternidade e paternidade a fim de educar e empoderar os(as) estudantes universitários(as) para estratégias de planeamento como fator de proteção à saúde.

Com isto, fez-se notar a importância de continuar a investigar sobre esta temática e a realizar outras análises em conjunto, no âmbito do conhecimento dos medos, inquietudes e anseios dos jovens universitários sobre o futuro da maternidade e paternidade e, que se consolide de forma responsável e sustentável para estes jovens.

Neste sentido, considera-se conveniente que futuros estudos sobre esta perspetiva tenham em conta variáveis psicossociais relacionadas com o contexto académico e na comunidade.

 

Referências bibliográficas

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Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

 

Recebido para publicação em: 01.09.19

Aceite para publicação em: 02.12.19

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