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Revista Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia

versão impressa ISSN 1646-2122

Rev. Port. Ortop. Traum. vol.23 no.1 Lisboa mar. 2015

 

CASO CLÍNICO

 

Lipoma arborescente sinovial

 

Eduardo Cruz-FerreiraI; Eunice CarvalhoI; Luís SilvaI; Bruno MaiaI; Filipa PiresI; Jorge CorreiaI

I. Serviço de Ortopedia. Unidade Local de Saúde da Guarda. Guarda. Portugal.

 

Endereço para correspondência

 

RESUMO

O lipoma arborescente da sinovial (LAS) é uma patologia intra-articular rara, benígna e de etiologia desconhecida. A sua clínica cursa com tumefacção articular indolor e derrame articular recorrente devido a uma proliferação vilosa lipomatosa da sinovial.Geralmente, surge na articulação do joelho, com envolvimento da bursa suprapatelar, embora estejam descritos casos noutras articulações. Apresentamos dois casos clínicos tratados do nosso serviço.

Ambos os casos se apresentaram ab initio com queixas de gonalgia inespecífica, derrame articular recidivante e progressivo agravamento da tumefação no joelho.

O diagnóstico foi sugerido pela realização de ressonância magnética (RMN), com confirmação anatomo-patológica posterior, após exérese por mini-artrotomia de um dos casos e biópsia artroscópia do outro caso. O prognóstico é bom, sendo o aspecto clínico o factor primordial para a indicação cirúrgica.

Palavras chave: Joelho, lipoma arborescente sinovial, proliferação lipomatosa sinovial, tratamento.

 

INTRODUÇÃO

O LAS é uma patologia benigna caracterizada pela substituição de tecido sinovial por adipócitos maduros que se organizam de forma vilomatosa, com maior frequência no sexo masculino, durante a 5ª ou 6ª década de vida, apresenta dois critérios essenciais para diagnóstico: apresentação como uma lesão difusa ou apresentação com carácter proliferativo, típico da hiperplasia sinovial vilosa lipomatosa1,2,3.

Clinicamente, pode cursar com tumefação do joelho, de começo insidioso e progressão durante meses ou anos, podendo ser acompanhada de dor ou derrame articular1,3,4.

A maioria dos casos reportados revelaram ausência de antecedentes patológicos relevantes, o que também se verifica nos casos descritos.

 

CASO CLÍNICO 1

Apresentamos um doente do sexo masculino, 72 anos, referenciado com gonalgia de características mistas, com cerca de 1 ano de evolução. Ao exame objectivo apresentava aumento de volume do joelho, sem sinais inflamatórios, com derrame e dor localizada à face posterior do joelho, dificuldade de marcha e com limitação de 15º à flexão, quando comparado com membro contralateral.

O estudo radiológico foi inespecífico, evidenciando alterações degenerativas.

Realizou RMN que revelou uma formação vilonodular difusa, com hipersinal T2 para gordura, na dependência do recesso supra patelar externo (com cerca de 60 mm) e com suspeição de metaplasia sinovial, suportando a hipótese diagnóstica de LAS (Figura 1). A opção terapêutica foi a biópsia excisional por via artroscópica onde é possível observar o aspecto multi-lobulado da lesão (Figura 2). O exame histológico de biópsia revelou uma lesão com aspecto compatível com lipoma arborescente da sinovial (Figura 3).

 

 

 

 

Devido à idade do doente e bom estado funcional, a exérese da lesão foi diferida até ser clinicamente justificável.

 

CASO CLÍNICO 2

Apresentamos um doente do sexo masculino, 57 anos, referenciado por edema do joelho e gonalgia de características mecânicas com cerca de 2 anos de evolução. O exame objectivo apresentava um joelho globoso, sem sinais inflamatórios, com derrame moderado, queixas álgicas localizadas na face lateral do joelho, sem dificuldade de marcha, embora com desconforto e limitação de 10º de flexão versus joelho contralateral.

A radiologia convencional, não revelou alterações significativas. A artroscopia diagnóstica revelou lesão com cerca de 2 centimetros de diâmetro, amarela, lobulada.

Após excisão da lesão realizou-se estudo anatomopatológico que revelou o diagnóstico de LAS (Figura 4).

 

 

Após 12 meses o doente encontra-se sem queixas álgicas e melhoria de mobilidade.

Actualmente, não houve recidiva da lesão excisada.

 

DISCUSSÃO

A LAS é uma lesão rara, caracterizada pela proliferação vilolipomatosa do tecido sinovial. Está descrita na literatura a sua associação com trauma, lesões degenerativas, Artrite Reumatóide e Diabetes Mellitus5,6. À semelhança destes casos clínicos, nos casos descritos de LAS, existe um atingimento monoarticular, mais frequentemente no recesso suprapatelar, podendo existir, no entanto, afeção de outras articulações ou, mais raramente, um envolvimento poliarticular3. Apesar de descritos, casos de LAS com afecção extraarticular são extremamente raros5-7.

Clinicamente, a apresentação do LAS é insidiosa, apresentando um desafio no diagnóstico. Pode existir dor de características mecânicas, com limitação de mobilidade, bloqueio ou ressalto, com exacerbação quando associadas a quadros degenerativos6.

O recurso a técnicas de imagiologia mais diferenciadas, sendo consensual a importância da RMN, muitas vezes é suficiente para realizar diagnóstico de LAS. Uma imagem de massa sinovial com disposição arborescente, sinal de gordura e eventual derrame articular, são característicos3,4,7.

Não existe, actualmente, consenso ou guidelines para o tratamento específico desta patologia, prevalecendo o senso clinico e a especificidade do doente o factor primordial para a tomada de decisão terapêutica2.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Finotti L. Lipoma arborescente da Sinovial. actareumatolport. 2011; 36: 171-175        [ Links ]

2. Bernardo A. Lipoma arborescente da Sinovial. acta médica port. 2004; 17: 325-328        [ Links ]

3. Beija I. Lipoma arborescens afecting multiple joints. Skeletal Radiol. 2005; 34: 536-538        [ Links ]

4. Martin S. Diagnostic imaging of lipoma arborescens. Skeletal Radiol. 1998; 27: 325-329        [ Links ]

5. Robert E. The arthroscopic appearance of lipoma arborescens of the knee. The Journal of Arthroscopic and Related Surgery. 1995; II (5): 623-627        [ Links ]

6. Kloen P. Lipoma arborescens of the knee. J Bone Joint Surg Br. 1998; 80-B: 298-301        [ Links ]

7. Hermann G, Hochberg F. Lipoma arborescens; arthrographic findings. Orthopedics. 1980; 3: 19-21        [ Links ]

 

Conflito de interesse:

Nada a declarar

 

Endereço para correspondência

Eduardo Cruz-Ferreira
Unidade Local de Saúde da Guarda
Parque da Saúde
Av. Rainha Dona Amélia
6300-858 Guarda
Portugal
cruzferreira_em@hotmail.com

 

Data de Submissão: 2015-02-13

Data de Revisão: 2015-03-15

Data de Aceitação: 2015-03-15

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