O número 20 da GOT é publicado no final de 2020, ano de acontecimentos marcantes. Alguns poderão classificá-lo como o ano da desgraça. Em sentido oposto, os resultados da investigação científica nunca tiveram tanto e tão rápido impacto na vida das pessoas. A ciência mostrou que, como dizia Camus no seu livro A Peste, “os flagelos surgem para desgraça e ensinamento dos homens”. Quando nos preparávamos para riscar do calendário o ano de 2020 (porque matou, empobreceu e gerou, globalmente, crises sanitárias, emocionais e económicas) o trabalho científico, produzido em centenas de laboratórios espalhados por todo o mundo, está a dar resultados, com o arranque daquela que será a mais formidável das campanhas de vacinação jamais realizadas e uma demonstração de solidariedade entre países, como julgávamos não ser já possível. Existem, por isso, ponderosas razões para o otimismo, porque a Ciência parece ter encontrado o caminho para alterar o rumo dos nossos dias e porque a humanidade tem mais uma oportunidade de se reencontrar com os seus valores mais essenciais, permitindo-nos perspetivar o ano de 2021 com esperança.

Enquanto cientistas, os autores da GOT20 (geógrafos, urbanistas, sociólogos, geomorfólogos, engenheiros, gestores e outros) estão a contribuir para “nos preparamos para a próxima epidemia”. Sabemos que a forma como vivemos depende não só de quem se é mas também, e fundamentalmente, do local onde se nasce, envelhece e acaba por morrer. Quando nos obrigaram a confinar à casa/cidade/município pudemos confirmar o que, teoricamente, sabíamos: planear estrategicamente os territórios não é um luxo, é uma necessidade. Não há outra opção!

Os doze textos que compõem este número são exemplo do trabalho que está a ser realizado em Portugal e no Brasil, que permitirá rever agendas políticas, económicas e sociais, com o objetivo de atingir o bem comum. Os autores brasileiros, provenientes de vários Estados (Rio de Janeiro, Ceará, Bahia, Mato Grosso, Sergipe, Goiás, Brasília, Rio Grande do Sul, Minas Gerais), juntam-se aos autores portugueses de várias universidades (Aveiro, Nova de Lisboa, Minho e Coimbra), sendo possível apresentar, com sucesso, o número 20 da GOT.

Aos membros do Conselho Científico e aos revisores, que trabalharam com muito empenho nos 50 textos que foram recebidos e avaliados durante o segundo semestre de 2020, o meu agradecimento devido.