1. Introdução
O fenômeno denominado bullying aumenta a cada dia em nossa sociedade, e tem sido um tema reiteradamente investigado tanto no Brasil como em outros países. O bullying escolar tem ganhado destaque após algumas escolas apontarem o aumento de práticas de violências ocorridas no ambiente escolar (Fante e Pedra, 2008).
Diante dessa realidade, as vítimas de bullying podem desenvolver sérios problemas de se relacionar, autoestima, insegurança, agressividade, entre outras. Muitas vezes, o ambiente escolar constitui-se como um local propício para a ocorrência de comportamentos agressivos, sofrimento e medo, os quais podem ocasionar graves consequências individuais e sociais, principalmente para os jovens envolvidos (Neto, 2005).
Existem diversos relatos de pesquisas que têm evidenciado os fatores que motivam o fenômeno do bullying e com o perfil dos sujeitos (Carvalho, Trufem & Paula, 2009). Nessa direção Tortorelli, Carreiro e Araujo (2010) apresentam uma associação entre a violência doméstica e a violência escolar.
Em relação ao perfil dos envolvidos, Lisboa, Braga e Ebert (2009), Cristovam, Osaku, Gabriel e Alessi (2010) e Nikodem e Piber (2011) apontaram que o bullying está imergido em meninos e meninas e que é necessário que os docentes e demais profissionais da educação fiquem atentos ao que acontece no ambiente escolar. Moura, Cruz e Quevedo (2011), Diorio e Oliveira (2011) e Gomes e Rezende (2011) evidenciaram que a maioria dos agressores é menino e as agressões mais frequentes são as verbais.
Ao relacionarem gênero e bullying, Kuhn, Lyra e Tosi (2011) reforçam que meninos estão mais relacionados com o bullying direto e meninas com o bullying indireto. O primeiro é caracterizado, sobretudo, por agressões físicas, e o segundo envolve agressões mais sutis, manifestando-se geralmente de forma verbal. Sendo assim, o bullying pode estar presente nas relações de modo explícito ou de modo mais sutil, podendo ser associado a brincadeiras típicas da idade. Nesse sentido, é importante que os profissionais da educação saibam identificar para intervir adequadamente (Francisco & Libório, 2009; Silva, 2010).
Destacamos a relevância da ciência e da construção do conhecimento para o combate do fenômeno bullying na escola, por isso pesquisas de mapeamento são significativas, procurando superar o desafio de conhecer o já construído e produzido, para depois buscar o que ainda não foi feito. Destacamos algumas pesquisas realizadas, com intuito de elencar mapeamento da produção acadêmica.
Aproximando com o tema dessa pesquisa, temos o trabalho de Manegotto, Pasini e Levandowski (2013), que realizaram uma revisão de artigos científicos sobre o bullying escolar. As pesquisadoras encontraram 37 trabalhos, entre 2009 e 2011 e elas identificaram que o fenômeno vem ganhando cada vez mais destaque nas áreas da psicopedagogia, direito e educação física, mas ainda há poucos trabalhos ressaltando a importância do psicólogo no combate ao bullying.
Nesse sentido, esta pesquisa teve como objetivo realizar um mapeamento da produção científica do Instituto Federal do Mato Grosso - IFMT, com intuito de identificar, quais pesquisas têm em seu cerne o bullying no âmbito escolar como objeto de estudo, buscando em suas singularidades novas nuances sobre esse fenômeno. Para tanto, o corpus documental, constitui-se nos anais disponíveis nos seguintes eventos: IV WORKIF, V WORKIF, VI WORKIF, III CEPEX, X Jornada de Ensino Pesquisa e Extensão do IFMT Campus Confresa, III Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão do IFMT Campus Confresa (JENPEX), III Jornada de Ensino Pesquisa e Extensão do IFMT Campus Cáceres (JENPEX). Além dos eventos supracitados, O corpus documental analisado, também foi composto pelas dissertações produzidas no Programa de Pós-graduação em Ensino (PPGEn/IFMT) e do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT/IFMT). As dissertações foram encontradas na Plataforma Sucupira1.
As palavras-chaves utilizadas para a seleção dos trabalhos analisados foram “bullying”, “violência escolar” e “conflitos”. Após selecionados, os trabalhos foram classificados em resumos expandidos, artigos completos ou dissertações de mestrado e foram também quantificados o gênero da autoria da pesquisa (masculino ou feminino).
2. Algumas Considerações sobre o Fenômeno Bullying
A Lei nº 13.185, em vigor desde 2015, classifica o bullying como intimidação sistemática, quando há violência física ou psicológica em atos de humilhação ou discriminação. A classificação também inclui ataques físicos, insultos, ameaças, comentários e apelidos pejorativos, entre outros. Art. 1º Fica instituído o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (bullying) em todo o território nacional (Brasil, 2015).
De acordo com os estudos de Dan Olweus (1993), o bullying é definido como um subtipo de comportamento agressivo que gera atos violentos e, na maioria das vezes, ocorre dentro das escolas. Esses podem ser: Verbais; Físicas; Inexistência de palavras ou contato físico; Exclusão intencional de um grupo; Obrigação de cumprir a vontade de outra pessoa.
A classificação também inclui ataques físicos, insultos, ameaças, comentários e apelidos pejorativos, entre outros. É avultado citar, que nem toda violência pode ser considerada bullying, mas todo ato de bullying é considerado uma violência (Silva, 2019) ainda conforme a autora, “o bullying se difere por seus aspectos específicos, por sua repetição, intencionalidade, por não ter motivação aparente e por haver desequilíbrio de poder, pois normalmente a vítima não tem condições para se defender” (Silva, 2019, p. 35).
Quanto aos alvos dessa violência, geralmente possuem diferenças em relação ao grupo como: obesidade, deficiência física ou mental, inteligência acima da média, ou déficit de aprendizagem. Lopes (2008) ressalta algumas dicas para identificar os alvos do bullying na escola, sendo essas:
No recreio, encontram-se frequentemente isoladas do grupo ou perto de algum adulto que possa protegê-las: professor, inspetor, cantineiro;
Na sala de aula, apresentam postura retraída. Têm extrema dificuldade em perguntar algo ao professor ou emitir sua opinião para os demais alunos. Deixam explícitas suas inseguranças e ansiedades;
Apresentam faltas frequentes às aulas, com o intuito de fugir das situações de exposição, humilhação e/ou agressões psicológicas e físicas;
Mostram-se comumente tristes, deprimidas ou aflitas;
Nos jogos ou atividades em grupo, sempre são as últimas a serem escolhidas;
Aos poucos vão se desinteressando das atividades e tarefas escolares - “isso também inclui perdas constantes de seus pertences, especialmente materiais didáticos. Dificuldade e deterioração de desempenho, seja em que idade for”. (Lopes, 2008, p.91)
De acordo com as autoras Abramovay e Rua (2003) a violência escolar é um fenômeno antigo em todo problema social podendo ocorrer, conforme já classificado pela ciência e adotado pelo senso comum, como indisciplina, delinquência, problemas de relação professor-aluno ou mesmo aluno-aluno.
A escola surge como um ambiente propício para a ocorrência da violência, por ser contexto de manifestação de muitas diferenças, pois abrange pessoas advindas de diferentes contextos sociais, com diferentes hábitos, formações, constituições, e pela forma como lida com essas diferenças e por ser espaço de “tensões entre o sistema escolar e a expectativa dos jovens” (Abramovay, 2005, p.28).
3. Percurso Metodológico
O trabalho consiste em uma pesquisa qualitativa que, segundo Chizzotti (2003), recobre um campo transdisciplinar envolvendo as ciências humanas e sociais, assumindo diversas formas de análise, e buscando encontrar os sentidos dos fenômenos humanos e entender seus significados.
No trabalho não desconsideramos as críticas já colocadas por autores em relação à falsa dicotomia quantidade/qualidade (Bauer, Gaskell, 2002; Minayo, 2001). No decorrer da pesquisa, quando se considera importante, os dados quantitativos são explorados e utilizados.
É necessário levar em consideração que os dados quantitativos traduzem a grandeza com que um fenômeno se manifesta, consequentemente, sendo uma qualificação dessa grandeza, mas esses dados necessitam ser interpretados qualitativamente (Gatti, 2002). Neste trabalho os dados quantitativos serão considerados, mas em nenhum momento substituirá os qualitativos. Os aspectos sugeridos por estes autores foram considerados para a construção da coleta, análise dos dados e organização do trabalho.
3.1 Procedimentos de Coleta de dados
No presente trabalho foi realizado um levantamento bibliográfico da produção acadêmica do Instituto Federal do Mato Grosso (IFMT). O corpus documental consistiu nos anais dos eventos disponíveis no site de Publicações do IFMT2, que consistem nos seguintes eventos: IV Workshop de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação do IFMT Campus Cuiabá (WORKIF3) , V Workshop de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação do IFMT Campus Cuiabá (WORKIF)4 , VI Workshop de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação do IFMT Campus Cuiabá (WORKIF5) , III Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão do IFMT Campus Rondonópolis (CEPEX) 6, X Jornada de Ensino Pesquisa e Extensão do IFMT Campus Confresa 7, III Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão do IFMT Campus Confresa (JENPEX) 8e do III Jornada de Ensino Pesquisa e Extensão do IFMT Campus Cáceres (JENPEX9).
O corpus documental analisado também foi composto pelas dissertações produzidas no Programa de Pós-graduação em Ensino (PPGEn/IFMT) e do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT/IFMT). As dissertações foram encontradas na Plataforma Sucupira10.
As palavras-chaves utilizadas para a seleção dos trabalhos analisados foram “bullying”, “violência escolar” e “conflitos”. Após selecionados, os trabalhos foram classificados em resumos expandidos, artigos completos ou dissertações de mestrado (figura 1) e foram também quantificados o gênero da autoria da pesquisa (masculino ou feminino), (gráfico 1).
Foram também classificados de acordo com o contexto escolar (educação infantil, ensino fundamental I, ensino fundamental II, ensino médio ou ensino superior) e a natureza da pesquisa realizada (qualitativa ou quantitativa).
4. Resultados e Discussão
Aqui apresentaremos os dados do mapeamento realizado a partir das publicações do IFMT. No Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT/IFMT) não foram encontrados trabalhos relacionados com a temática desta pesquisa, já no Programa de Pós-graduação em Ensino (PPGEn/IFMT) foram identificadas 4 dissertações de mestrado. No IV WORKIF não foi encontrado trabalhos relacionados, no V WORKIF foi encontrado 1 trabalho, no VI WORKIF foram identificados 2 trabalhos, no III CEPEX foi encontrado apenas 1 trabalho, na X Jornada de Ensino Pesquisa e Extensão do IFMT Campus Confresa, na III JENPEX Campus Confresa e na III JENPEX Campus Cáceres não foram encontrados trabalhos sobre o tema desta pesquisa. Ao total, foram identificados 8 trabalhos para a análise nesta pesquisa.
4.1 Dados gerais sobre a produção do IFMT
O quadro 1 apresenta os dados gerais dos trabalhos que compõem o corpus documental deste artigo. O Programa de Pós-graduação em Ensino (PPGEn/IFMT):
Tem por finalidade um trabalho interdisciplinar que agrega as diversas áreas do conhecimento, a fim de atender essa demanda específica e responder às expectativas dos candidatos das diversas áreas de formação (bacharelado, licenciatura e tecnólogos) com interesse em investigar ensino nas suas respectivas áreas de conhecimento (IFMT, s/d).
Nesse sentido, o PPGEn possui um potencial para pesquisas relacionadas ao bullying no ambiente escolar, mas sua primeira turma teve início em 2016, ou seja, é um programa recente, isso pode justificar a quantidade pequena de trabalhos. Em relação aos demais trabalhos, tivemos 2 artigos completos publicados em eventos do IFMT e 2 resumos (Quadro 1).
O gráfico 1 apresenta a proporção dos trabalhos em relação ao gênero da autoria da pesquisa. Para os artigos completos foram considerados os primeiros autores da pesquisa. Podemos observar uma pequena diferença, tendo uma maior produção feita pelo gênero masculino em relação ao feminino.
É importante reforçar que a presença efetiva das mulheres no espaço oficial da ciência é, em termos históricos, muito recente, alcançando algo em torno de um século apenas. Uma inclusão que exigiu das pioneiras coragem e muita perseverança para se defrontar com a tradição (SBPC, 2019).
Em relação ao contexto escolar, por meio da leitura dos trabalhos, foi identificado um trabalho relacionado ao Ensino Médio, 5 pesquisas relacionadas à Educação Profissional e Tecnológica11 e 2 com Abordagem Genérica do Contexto Educacional12.
Quanto à natureza dos trabalhos, identificamos 6 pesquisas com percurso metodológico relacionado a pesquisa qualitativa, como podemos observar nos excertos abaixo:
“O estudo, de viés qualitativo, investigou [...]” (Tr01)
“Trata-se de uma investigação qualitativa que parte de uma diversidade de instrumentos de coleta de dados e informações [...]” (Tr03)
“Tem como eixo metodológico a pesquisa qualitativa” (Tr06)
A Pesquisa qualitativa propicia em sua interioridade, a compreensão do lócus investigado, bem como seu contexto e sujeitos, dispondo em sua transversalidade uma diversidade de técnicas para alcançar o objeto da pesquisa. Seu foco está no contexto subjetivo dos objetos analisados, tentando descrevê-los em suas singularidades e experiências individuais, entre outros aspectos. “As pesquisas qualitativas possuem um caráter compreensivo e interpretativo, sua capacidade de generalização estendendo-se apenas às situações e aos fenômenos similares e possuem caráter descritivo e narrativo” (Mota et al., 2017, p. 6).
A predominância da abordagem qualitativa nos manuscritos supracitados nessa pesquisa, pode-se justificar pelas temáticas pautadas por um contexto sociológico investigativo de violência sistêmica e simbólica, atreladas ao ambiente escolar.
5. Conclusões
O fenômeno denominado bullying aumenta a cada dia em nossa sociedade, tem ganhado destaques pois a prática dessas violências tem aumentado no ambiente escolar. Conforme revisão bibliográfica, Fante e Pedra (2008) e Neto (2005), o ambiente escolar tornam um lugar propício para a ocorrência de comportamentos agressivos, sofrimento e medo, os quais podem ocasionar graves consequências sociais e individuais, como: de se relacionar, autoestima, insegurança, agressividade, medo, sofrimento, entre outras.
O mapeamento dessa pesquisa o corpus documental dos anais dos eventos disponíveis no site de Publicações do IFMT, revelou uma quantidade pequena de trabalhos publicados na temática de bullying escolar, de modo que tal discussão aponta para um campo fértil para a realização de estudos sobre o fenômeno, pois vem ganhando cada vez mais destaque nas áreas da psicopedagogia, direito e educação física, mas ainda poucos trabalhos ressaltando a importância do psicólogo no combate ao bullying.
Observou -se que, em relação ao gênero da autoria da pesquisa uma pequena diferença, tendo uma maior produção feita pelo gênero masculino em relação ao feminino.
Contudo, vale salientar a importância de a escola estar atenta às manifestações dessa violência, trabalhando em políticas de prevenção, uma vez que esse fenômeno tem sequelas psicológicas e físicas dos envolvidos.