INTRODUÇÃO
A agregação corresponde ao arranjo a diferentes escalas dos agregados do solo, os quais agrupam partículas primárias em resultado de diversas forças, como as de coesão (Six et al., 2004). A qualidade da estrutura do solo associa-se em regra à proporção dos macroagregados presentes e à sua estabilidade, já que ambas favorecem arejamento, infiltração e retenção de água e nutrientes (Freitas, 2018).
O bagaço proveniente da produção de azeite em duas fases possui humidade superior a 60%, o que constitui limitação importante à sua valorização. Todavia, poderá utilizar-se na produção de composto para aplicações em áreas agrícolas como corretivo orgânico (Coelho et al., 2009, Hernández et al., 2021).
A incorporação de compostos orgânicos conduz também a mudanças na agregação, convertendo-os deste modo em condicionadores do solo. A aplicação de composto pode ocasionar aumento significativo da fração de macroagregados do solo (Sodhi et al., 2009; Ma et al., 2019).
O trabalho tem como objetivo apresentar resultados de ensaio experimental realizado para avaliar a influência de condicionador de bagaço de azeitona (CBA) na estabilidade de agregados (EA).
MATERIAL E MÉTODOS
O delineamento experimental comportou dois solos com distinto grau de agregação. O Leptossolo êutrico de xistos (FAO/UNESCO, 1988), antropizado e de textura franco-limosa, proveio de olival localizado em Mirandela (Solo 1). O Solo 2, com textura franco-argilosa e classificado como Fluvissolo êutrico de aluvião (legenda FAO/UNESCO, 1998; Santos et al., 2020), foi coletado em parcela de milho localizada na Quinta do Poulão, Bragança.
Para o ensaio, com delineamento fatorial completo, foram tomados 100g por tratamento de agregados entre 1 e 2 mm. Foram testados 3 condicionadores (A, B, C) à base de bagaço de azeitona (CBA), em três distintas doses, múltiplas da dose de aplicação recomendada (d1 = 10 t/ha, d2 = 20 t/ha, d3 = 40 t/ha, sendo d0 = 0 t/ha, controle ou solo original). Os condicionadores foram obtidos por compostagem de misturas de BA com uma fonte de azoto (FN) e um agente estruturante (AE), nas seguintes proporções volumétricas (BA: FN: AE), A = 4:1:8, B = 4:1:4, C = 4:8:4 (projeto BIOMA). Face à escala reduzida da experiência, os CBA foram incorporados na forma moída, passando um crivo de 0,75 mm de malha. O solo original e as misturas foram submetidas a 30 ciclos de humedecimento e secagem (1 ciclo = 24h) (Figura 1). Com o intuito de avaliar a evolução ao longo do tempo do efeito dos tratamentos, amostras dos agregados foram coletadas nos dias 3, 6, 10, 20 e 30 do período de ensaio.
A determinação laboratorial da estabilidade de agregados foi realizada por crivagem em húmido (wet sieving) em equipamento gerador de movimentos verticais cíclicos de agregados imersos sucessivamente em água destilada e em solução de hexametafosfato de sódio (Figura 2). A malha dos crivos utilizados (0,25 mm) corresponde ao limite distintivo de macro e microagregados (Six et al., 2004).
As determinações foram realizadas em subamostras de 4 g para 100 ml de água destilada e de solução de hexametafosfato de sódio, com 4 repetições por colheita e tratamento (representando combinações de solo, condicionador e dose). O aparelho provoca dispersão progressiva dos agregados colocados no crivo imerso, sendo avaliada a proporção em peso dos agregados estáveis após 3 min de agitação em água destilada e das partículas primárias após 9 min de agitação em solução dispersante (Freitas, 2018).
Os valores obtidos (massa seca a 105ºC) foram utilizados para calcular a proporção de agregados estáveis (EA) (Eq.1) e de partículas primárias (PP) (Eq.2).
Onde:
Pfs - Peso final seco (g) da fração <0,25 mm após agitação na solução dispersante;
PfH2O - Peso final seco (g) da fração <0,25 mm após agitação em água destilada;
Pi - Peso seco (g) da amostra colocada no crivo, calculado com a % Humidade determinada na amostra inicial.
As hipóteses de diferenças na EA no solo tratado e ao longo do tempo foram testadas por meio de Anova a dois fatores (solo e tempo), assim como os efeitos do condicionador e da dose. Quando aplicável, foi usado o teste LSD de separação de médias.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A hipótese de distinta estabilidade da agregação à partida nos dois solos foi confirmada, sendo que o solo 2 revelou EA significativamente superior ao solo 1 (Figura 3). Para o indicador PP, verifica-se o mesmo padrão, com uma diferença ainda mais pronunciada entre os dois solos.
A diferença na EA a priori pode ser associada ao material parental e composição granulométrica e mineralógica de cada um dos solos. Considerando apenas a classe textural, o solo 1 apresenta maiores teores de areia fina e limo e o solo 2 maior teor de argila. Pelo seu caráter coloidal, esta é essencial para a formação de agregados estáveis.
O efeito da adição dos condicionadores foi confirmado no solo 1 (Figura 4). A adição dos condicionadores, indiferentemente da dose, provocou um aumento significativo na EA. O mesmo não foi verificado para o solo 2, onde as diferenças entre as médias de EA no solo original (63 ± 9%) e nos tratamentos com os condicionadores A (54 ± 8%), B (55 ± 5%) e C (59 ± 6%) não se revelaram significativas.
Ao testar o efeito combinado condicionador x dose, o fator dose revelou-se significativo para ambos os solos, enquanto os condicionadores não tiveram efeito significativo. Na Figiura 5 observa-se o incremento de EA no solo 1 nas doses D1, D2 e D3 relativamente a D0 (solo sem CBA). Embora EA seja inferior na maior dose (D3), a diferença não é significativa perante as demais doses testadas. O solo 1 tem à partida uma EA baixa e a adição do condicionador (que evolui no solo no sentido de aumentar a fração coloidal presente) pode permitir ligações promotoras da formação de agregados estáveis.
No solo 2, o efeito dose também é significativo (Figura 6), embora com comportamento distinto do solo 1.
A dose 3 resulta em uma EA significativamente inferior à das demais doses, inclusive à do solo sem condicionador (D0). A elevada PP no solo 2 contribui à partida para a criação de zonas de descontinuidade e rotura potencial na matriz mineral do solo. Tendo em conta o curto tempo de evolução do condicionador no solo, a proporção de material orgânico particulado poderá ser considerável na dose máxima (D3), o que acrescenta zonas de descontinuidade às já derivadas da presença abundante de PP. Este efeito começa a manifestar-se em D2 no solo 2, mas apenas e não significativamente em D3 no solo 1, com muito menor proporção de PP que o solo 1.
CONCLUSÕES
A adição de condicionadores produzidos com base em bagaço de azeitona influencia a estabilidade da agregação do solo, embora os três tipos testados não tenham mostrado diferenças significativas entre si quanto a EA. Pelo contrário, a dose de aplicação interfere significativamente na formação de agregados estáveis. A incorporação destes condicionadores em solos cultivados com olival pode promover agregados estáveis, assim contribuindo para a proteção do solo e, por outro lado, para a economia circular, já que incorpora matéria-prima originada na cadeia oleícola.