Introdução
A cirurgia de ambulatório (CA) tem revolucionado a prestação de cuidados perioperatórios no século XXI, tendo sido observado um crescimento marcado em todo o mundo desta modalidade de cuidados cirúrgicos. De facto, procedimentos cirúrgicos e anestésicos, cada vez mais complexos, são realizados em CA (Nunes et al., 2018).
Diversas razões estão na base do sucesso crescente da CA. Por um lado, a evolução de técnicas anestésicas e surgimento de novos fármacos, assim como o desenvolvimento da cirurgia minimamente invasiva. Por outro lado, a CA é, por definição, centrada no doente, uma vez que permite estadias hospitalares mais curtas, é altamente eficaz a nível organizacional, tem várias vantagens económicas e está associada a reduzidas taxas de complicações pós-operatórias e de infeção associada aos cuidados de saúde (Organisation for Economic Co-operation and Development, 2021; Pinto et al., 2020).
Apesar das vantagens associadas à CA, pouco se sabe sobre a qualidade dos cuidados prestados neste contexto ou sobre quais os indicadores de qualidade que são sensíveis às intervenções de enfermagem.
É imperativo compreender de que forma os enfermeiros influenciam a qualidade dos cuidados prestados em CA para, posteriormente, projetar estratégias de gestão e liderança para melhorar os cuidados de enfermagem prestados à pessoa em situação perioperatória.
Com este estudo procurou-se o consenso entre peritos com o objetivo de criar um perfil de indicadores de qualidade sensíveis às intervenções de enfermagem (IQSIE) em CA.
Enquadramento
Os IQSIE são a base para a monitorização da qualidade dos cuidados de enfermagem, podendo ser importantes para a realização de benchmarking, fornecer evidência sobre o custo-efetividade dos cuidados de enfermagem e planear projetos de melhoria da qualidade. Estes indicadores são baseados no domínio da disciplina e da prática, para os quais existe evidência empírica que relaciona as intervenções de enfermagem com os resultados. Ou seja, IQSIE, são os critérios para a mudança no estado de saúde de uma pessoa que o cuidado de enfermagem pode diretamente influenciar (Afaneh et al., 2021).
Os IQSIE têm alguns atributos essenciais. Em primeiro lugar, estes indicadores medem a qualidade de pelo menos um dos domínios do modelo teórico de Donabedian. Isto é, os recursos necessários para estabelecer um sistema de enfermagem (estrutura), as intervenções de enfermagem (processo) e o efeito das intervenções de enfermagem (resultado). Por outro lado, os IQSIE estão relacionados com pelo menos um dos seis eixos para a qualidade em saúde descritos pelo Institute of Medicine em 2001: segurança, efetividade, cuidados centrados no doente, cuidados prestados atempadamente, eficiência dos cuidados e equitabilidade. Finalmente, os IQSIE são aplicáveis a todos os intervenientes, como por exemplo enfermeiros, pessoa alvo dos cuidados, familiares e administração hospitalar (Afaneh et al., 2021).
O objetivo dos IQSIE é medir os aspetos da prática de enfermagem que são claramente identificados como metas de qualidade.
É necessário reforçar que os cuidados de enfermagem representam cerca de 90% dos cuidados de saúde (David, 2012). No contexto de CA, o papel do enfermeiro está em destaque, pois tem uma presença transversal a todo o percurso perioperatório do doente (Pinto et al., 2020). Avaliar a qualidade dos cuidados é absolutamente imprescindível e a contribuição dos cuidados de enfermagem não deve ser discriminada nas tomadas de decisão ao nível da gestão (Aiken et al., 2002).
Apesar da influência considerável das intervenções de enfermagem na qualidade dos cuidados de saúde, medir a qualidade dos cuidados de enfermagem e os seus efeitos nos resultados dos doentes e no próprio sistema de saúde continua um desafio (Afaneh et al., 2021). A medição de resultados é o fundamento para a prática baseada na evidência e monitorização da qualidade dos cuidados.
É essencial reconhecer a natureza multidisciplinar dos cuidados de saúde, enfatizando que os resultados em saúde refletem as contribuições dos diversos elementos da equipa, e não apenas de uma disciplina integrante dessa mesma equipa (Doran & Pringle, 2011). Efetivamente, é difícil identificar indicadores que reflitam apenas a contribuição da enfermagem. Ainda que os indicadores possam não ser exclusivos à enfermagem, eles podem refletir os contributos únicos da enfermagem para a qualidade.
De forma a dar resposta ao crescente volume cirúrgico em ambulatório e evitar um aumento proporcional da morbilidade perioperatória, devem ser implementados e analisados sistemas de monitorização da qualidade.
A monitorização da qualidade em CA deveria ser uma preocupação efetiva para o planeamento de políticas em saúde, sendo este um processo dinâmico que pretende avaliar os resultados e subsidiar o crescimento desta modalidade cirúrgica.
Atualmente, em Portugal, estão em uso os indicadores da Entidade Reguladora da Saúde (ERS). Na literatura consultada, é referido que apesar destes indicadores estarem alinhados com os indicadores utilizados em CA numa escala global, estes não avaliam os resultados dos cuidados, uma vez que são indicadores de processo (Nunes et al., 2018).
A Ordem dos Enfermeiros, nos padrões de qualidade dos cuidados especializados em Enfermagem Médico-Cirúrgica, na área da pessoa em situação perioperatória, refere que esses enunciados devem servir de referencial na definição de indicadores que permitam identificar o contributo para ganhos em saúde sensíveis aos cuidados de Enfermagem Perioperatórios (Ordem dos Enfermeiros, 2017).
A correta definição, monitorização e interpretação de indicadores de qualidade em CA sensíveis às intervenções de enfermagem irá subsidiar um incremento na qualidade dos cuidados prestados neste contexto cirúrgico.
Questão de investigação
Quais os indicadores de qualidade em CA sensíveis às intervenções de enfermagem?
Metodologia
O presente estudo foi desenvolvido com recurso à metodologia de Delphi, tendo sido seguidos os passos e recomendações descritos por Beiderbeck et al. (2021) e Borel et al. (2021). A técnica de Delphi é um método científico para organizar e gerir a comunicação e a discussão entre um grupo de peritos com o objetivo de obter insights sobre assuntos sobre os quais não existe consenso ou existe conhecimento limitado (Beiderbeck et al., 2021). Pretende-se, assim, fomentar a comunicação anónima entre indivíduos com perícia num determinado tópico, procurando a sua opinião de forma interativa e estruturada, com o objetivo de encontrar uma posição consensual (Borel et al., 2021).
Recorreu-se a uma técnica de e-Delphi modificada para a consecução deste estudo. Na fase preparatória foi realizada uma revisão de literatura (RL; Pinto et al., 2022) e um grupo focal para discussão e validação do primeiro questionário a utilizar no estudo, justificando assim a designação de técnica modificada. Optou-se pela realização de duas rondas via eletrónica (online) pela facilidade de utilização, rentabilização de tempo, facilidade na organização e tratamento dos dados e garantia da anonimidade dos participantes (Nasa et al., 2021).
Relativamente aos critérios de amostragem, foram consideradas as propostas metodológicas de Keeney et al. (2010) e Borel et al. (2021) que recomendam a constituição de painéis de especialistas com diferentes níveis de perícia. Esta composição garante um maior espectro de opiniões (collective wisdom), devendo dar preferência a indivíduos com conhecimento e experiência prática do assunto em estudo, não sendo imperativa a existência de qualificações académicas diferenciadas para todos os peritos. A inclusão de vários intervenientes, com diferentes pontos de vista sobre a qualidade dos cuidados enriquece os resultados do estudo (Boulkedid et al., 2011). Foi, desta forma, constituído um painel de peritos heterogéneo quanto à profissão e tempo de serviço. O painel inicialmente proposto era constituídos por médicos, enfermeiros (enfermeiro diretor, enfermeiros coordenadores, enfermeiros especialistas e enfermeiros), professores de enfermagem, gestores hospitalares e diretor de departamento da ERS. A seleção destes peritos foi realizada através de amostragem intencional.
Não existe um consenso na literatura em relação ao número de peritos a integrar no painel, contudo os autores consultados aconselham um painel com 10 a 30 peritos (Beiderbeck et al., 2021; Borel et al., 2021; Nasa et al., 2021; Keeney et al., 2010). Foram selecionados 27 peritos, tendo estes recebido o convite eletrónico para participar em ambas as rondas.
Com base no trabalho preparatório realizado, foi construída uma versão do questionário para a primeira ronda que contemplava três secções: 1) consentimento informado para participar no estudo; 2) caracterização sociodemográfica do participante; 3) indicadores de qualidade em CA sensíveis às intervenções de enfermagem. Na secção 3 foram disponibilizados campos de resposta de texto livre para que os peritos pudessem deixar comentários, opiniões e/ou sugestões acerca da temática em estudo. Foi utilizada uma escala de likert de 5 pontos, em que 1 = Nada sensível; 2 = Pouco sensível; 3 = Moderadamente sensível; 4 = Sensível e 5 = Muito sensível.
A fase preparatória do presente estudo decorreu no período de novembro de 2021 a maio de 2022, tendo-se iniciado com a conceptualização inicial e a definição dos objetivos a atingir com o painel de Delphi. Definiu-se como estrutura conceptual de enfermagem o Nursing Role Effectiveness Model e a técnica de Delphi a utilizar (colheita de dados via eletrónica e de forma sequencial, isto é, em várias rondas). Foi realizada uma RL de forma a mapear os indicadores de qualidade utilizados em CA (Pinto et al., 2022). Posteriormente, foram realizadas entrevistas semiestruturadas a cinco peritos. O painel selecionado para estas entrevistas iniciais teve como objetivo ser representativo dos profissionais envolvidos no processo subjacente à realização de uma cirurgia eletiva em regime de ambulatório. As entrevistas foram analisadas e os seus principais achados resumidos de forma a complementar os resultados da RL e ajudar na formulação das questões para a primeira ronda.
A segunda fase do estudo decorreu no período de abril de 2022 a dezembro de 2022, correspondendo à condução do estudo com a metodologia de Delphi e a análise dos dados de cada ronda. Inicialmente procedeu-se à seleção do software a utilizar, tendo-se optado pela plataforma Qualtrics, e programação do questionário. Foi endereçado um convite aos peritos através de correio eletrónico para participar no estudo, juntamente com o link de acesso ao questionário, sendo este válido por 4 semanas. No final deste tempo foi realizada a análise qualitativa e quantitativa das respostas.
Uma vez que foi fornecida aos peritos a possibilidade de resposta através de texto livre, procedeu-se à análise de conteúdo dos comentários efetuados, tendo sido criadas categorias de maneira a identificar contributos para o estudo (Bardin, 2014).
A análise quantitativa dos dados foi realizada no programa IBM SPSS Statistics, versão 28.0. Para cada um dos itens de resposta foi calculada a média, a mediana, o desvio padrão, o coeficiente de variação (CV), o índice de validade de conteúdo (IVC) e o percentual de respostas 1 e 2. O CV permite determinar a estabilidade das respostas de cada item e é calculado dividindo o desvio padrão pela média (Gracht, 2012). Esta medida é reportada sob a forma de percentagem, considerando-se que existe consenso quando há baixa dispersão nos resultados (baixa dispersão se CV ≤ 15%, média dispersão de CV está entre 15% e 30% e alta dispersão de CV ≥ 30%). O IVC mede a percentagem de concordância de cada item e foi calculado somando o número de respostas “3”, “4” e ”5”, dividindo pelo número total de respostas, sendo também reportando sob a forma de percentagem. Definiu-se que haveria consenso se o IVC ≥ 80%.
A equipa de investigação considerou que caso algum dos peritos realizasse comentários que expressassem dúvidas ou incompreensão de qualquer item, independentemente da sua análise estatística, esse item passaria para a ronda seguinte. Os critérios de consenso definidos para incluir ou excluir os itens foram definidos tal como se encontra na Tabela 1.
Critérios para consenso | |
---|---|
Consenso para incluir item (critérios cumulativos) | 80% das respostas com classificação ≥3 (IVC x 100 ≥ 80%) Mediana ≥ 3; Não foi referida nenhuma dúvida ou incompreensão do item pelos peritos. |
Consenso para excluir itens (não cumulativos) | 80% das respostas com classificação ≤ 2; Mediana ≤ 2. |
Sem consenso | Todos os itens que não se enquadram nas classificações anteriores. |
Nota. IVC = Índice de validade de conteúdo.
Foi feita a análise dos dados do painel completo e outra análise só com os dados relativos ao subgrupo dos enfermeiros, sendo comparada a estatística referente às respostas do painel versus apenas dos enfermeiros. Desta forma, quando se observou alta dispersão dos resultados recorreu-se à comparação dos dois grupos de forma a apoiar a decisão de incluir, passar a segunda ronda ou não incluir itens (Gracht, 2012).
Os resultados da primeira ronda foram analisados e compilados num relatório, com o objetivo de dar aos peritos feedback dessa ronda. O segundo questionário resultou da eliminação dos itens que obtiveram consenso para incluir e excluir itens, mantendo os que não obtiveram consenso e os que suscitaram dúvidas nos peritos. Manteve-se a opção de resposta de texto livre no final de cada secção do questionário. O relatório da primeira ronda e o link para o segundo questionário foram enviados para o mesmo grupo de peritos, estando o link acessível durante 4 semanas. Os resultados da segunda ronda foram analisados da mesma forma descrita para a primeira ronda. Os indicadores que não obtiveram consenso foram discutidos no seio da equipa de investigação de forma a decidir sobre a sua inclusão no perfil de indicadores, fundamentando-se a mesma com a pesquisa bibliográfica e análise estatística efetuadas. O painel de peritos foi informado dos resultados da segunda ronda.
Após o protocolo de investigação ter sido estruturado e revisto pela equipa de investigação, este foi apresentado à Comissão de Ética para a Saúde da Universidade Católica Portuguesa, tendo sido emitido um parecer favorável do mesmo.
Todos os participantes tiveram acesso ao formulário de consentimento livre e esclarecido na primeira página do questionário, sendo a sua leitura obrigatória, assim como este ser aceite para poder avançar para o questionário.
Resultados
Relativamente ao painel de peritos, na primeira ronda participaram 17 peritos (taxa de resposta de 62,9%) com uma idade média de 46,53 anos e tempo médio de experiência profissional de 22,88 anos. A segunda ronda do painel de Delphi contou com a participação de 22 peritos (taxa de resposta de 81,4%), sendo que a média de idades se situou em 47,18 anos e a média do tempo de experiência profissional em 23,27 anos.
Relativamente à profissão dos inquiridos, em ambas as rondas a maioria da amostra era enfermeiro (n = 11 na primeira ronda e n = 17 na segunda), cinco dos participantes da primeira ronda eram médicos e na segunda apenas 4, tanto na primeira ronda como na segunda um participante era gestor.
Na primeira ronda houve sete participantes com licenciatura, seis com mestrado e quatro com doutoramento. Já na segunda ronda, metade dos participantes tinham licenciatura, oito mestrado e três doutoramento. As características socioprofissionais dos peritos estão apresentadas na Tabela 2.
A recolha de dados incluiu profissionais dos seguintes locais: Centro Hospitalar de Leiria, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Centro Hospitalar e Universitário do Porto, Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Central, Hospital Arcebispo João Crisóstomo, Hospital da Luz Coimbra, Hospital Senhora da Oliveira, ERS e Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
Na segunda ronda 72,7% dos peritos tinham participado na ronda anterior (n = 16) e os restantes não tinham participado.
Variáveis | Ronda 1 | Ronda 2 |
---|---|---|
Idade (média) | 46,53 | 47,18 |
Tempo de experiência profissional (média) | 22,88 | 23,27 |
Profissão | ||
Enfermeiro (%) | 64,7 | 77,3 |
Gestor (%) | 5,9 | 4,5 |
Médico (%) | 29,5 | 18,2 |
Grau académico | ||
Doutoramento (%) | 23,5 | 13,6 |
Mestrado (%) | 35,3 | 36,4 |
Licenciatura (%) | 41,2 | 50,00 |
Na RL foram identificados 42 indicadores de qualidade em CA, tendo estes sido revistos e agrupados em indicadores de estrutura, de processo e de resultado, de acordo com o modelo de Donabedian (1992). Das reuniões da equipa de investigação e entrevistas iniciais a peritos, percebeu-se que havia necessidade de esclarecer alguns dos indicadores encontrados, passando a haver 58 indicadores para análise.
Na primeira ronda não houve consenso entre o painel de peritos e os enfermeiros relativamente aos indicadores “Existência de protocolos relativos a informação clínica cedida ao doente”, “Taxa de ocorrência hipertensão arterial pós-operatória”, “Taxa de Infeção do local cirúrgico” e “satisfação dos profissionais”, pelo que passaram para a segunda ronda. Foi identificada incompreensão de três itens, pelo que foram prestados os devidos esclarecimentos no relatório da primeira ronda e estes passaram para a ronda seguinte (“Skill mix dos profissionais”, “Ambientes de prática favoráveis” e “Taxa de realização de consulta pré-operatória de enfermagem”). Assim, houve consenso para incluir ou excluir 35 indicadores, passando 23 para a segunda ronda.
Na segunda ronda, o indicador de estrutura “Taxa de cumprimento da vacinação da gripe entre os profissionais de saúde” não obteve consenso entre o painel de peritos. O indicador de processo “Cedência de fármacos na alta” também não obteve consenso entre os peritos, assim como os indicadores de resultado “Taxa de ocorrência hematoma pós-operatório”, “Taxa de ocorrência isquemia no período pós-operatório”, “Taxa de ocorrência hipertensão arterial pós-operatória”, “Taxa de ocorrência hipoxemia no período pós-operatório” e “Tempos de espera após entrada na UCA”. Estes indicadores e as respostas dos peitos foram analisadas individualmente pela equipa de investigação para determinar a sua inclusão ou exclusão no perfil de indicadores.
Tendo em conta a análise das duas rondas e a sua análise pela equipa de investigação, foi estabelecido um painel de 45 indicadores de qualidade sensíveis às intervenções de enfermagem em CA.
Na Tabela 3 pode observar-se a análise realizada na ronda 1 e na Tabela 4 a análise realizada na segunda ronda do painel de Delphi.
Indicador | Média | Mediana | Desvio padrão | CV (%) | IVC (%) | Respostas 1 ou 2 (%) | Decisão |
---|---|---|---|---|---|---|---|
Indicadores de estrutura | |||||||
Existência de protocolos relativos a informação clínica cedida ao doente e acompanhante | 4,00 | 4,00 | 1,118 | 27,951 | 82,35 | 17,6 | Incluir |
Taxa de cumprimento da vacinação da gripe entre os profissionais de saúde | 2,71 | 3,00 | 1,359 | 50,206 | 52,94 | 47,1 | Sem consenso |
Existência de plataforma de registos uniformizada | 4,18 | 5,00 | 1,131 | 27,083 | 94,12 | 5,9 | Incluir |
Existência de orientações para a segurança dos profissionais | 4,12 | 4,00 | 1,166 | 28,325 | 88,24 | 11,8 | Incluir |
Skill mix dos profissionais | 3,82 | 4,00 | 1,074 | 28,101 | 76,47 | 11,8 | Sem consenso |
Existência de manual de qualidade | 4,12 | 4,00 | 0,993 | 24,106 | 94,12 | 5,3 | Incluir |
Ambientes de prática favoráveis | 4,29 | 5,00 | 0,920 | 21,414 | 94,12 | 5,3 | Sem consenso |
Indicadores de Processo | |||||||
Número de atrasos e incidentes pré-operatórios | 3,71 | 3,00 | 1,312 | 35,395 | 76,471 | 23,5 | Sem consenso |
Cedência de fármacos na alta | 3,12 | 3,00 | 1,219 | 39,091 | 70,588 | 23,4 | Sem consenso |
Ensino e orientação na alta | 4,82 | 5,00 | 0,529 | 10,959 | 100,000 | 0 | Incluir |
Avaliação pós-operatória nas 24 horas após a alta | 4,35 | 5,00 | 1,057 | 24,287 | 94,118 | 5,3 | Incluir |
Taxa cancelamentos no próprio dia | 2,94 | 2,00 | 1,435 | 48,785 | 41,176 | 58,5 | Não incluir |
Seleção do doente para administração da profilaxia das náuseas e vómitos | 2,76 | 3,00 | 1,251 | 45,266 | 52,941 | 47,1 | Sem consenso |
Seleção da profilaxia das náuseas e vómitos | 2,65 | 2,00 | 1,320 | 49,870 | 17,647 | 52,9 | Não incluir |
Registos regulares da intensidade da dor em cirurgia de ambulatório | 4,71 | 5,00 | 0,849 | 18,039 | 94,118 | 5,9 | Incluir |
Dor moderada a máxima em doentes submetidos a cirurgia de ambulatório | 3,94 | 5,00 | 1,197 | 30,382 | 88,235 | 11,8 | Incluir |
Remoção dos pelos no local da cirurgia | 3,18 | 3,00 | 1,185 | 37,308 | 76,471 | 23,5 | Sem consenso |
Cumprimento das orientações para a segurança dos profissionais | 3,82 | 3,00 | 1,074 | 28,101 | 94,118 | 5,9 | Incluir |
Taxa de realização de consulta pré-operatória de enfermagem | 4,47 | 5,00 | 1,007 | 22,532 | 94,118 | 5,9 | Sem consenso |
Taxa de utilização da Lista de Verificação Cirúrgica nos momentos adequados | 4,24 | 4,00 | 1,091 | 25,769 | 94,118 | 5,9 | Incluir |
Taxa de incidência de eventos de segurança | 4,18 | 5,00 | 1,015 | 24,293 | 100,000 | 0 | Incluir |
Taxa de reporte de eventos de segurança | 4,18 | 5,00 | 1,185 | 28,375 | 88,235 | 11,8 | Incluir |
Taxa de incidência erros de medicação | 4,35 | 5,00 | 1,057 | 24,287 | 94,118 | 5,9 | Incluir |
Taxa de doentes a quem é administrada a antibioterapia profilática endovenosa atempadamente | 3,88 | 5,00 | 1,364 | 35,131 | 82,353 | 17,6 | Incluir |
Indicadores de Resultado | |||||||
Taxa de ocorrência hemorragia pós-operatória | 2,88 | 2,00 | 1,453 | 50,350 | 35,294 | 64,7 | Não Incluir |
Taxa de ocorrência hematoma pós-operatório | 3,06 | 3,00 | 1,197 | 39,220 | 58,824 | 41,2 | Sem consenso |
Taxa de ocorrência deiscência de sutura | 2,82 | 2,00 | 1,380 | 48,940 | 47,059 | 52,9 | Não Incluir |
Taxa de ocorrência isquemia no período pós-operatório | 3,12 | 3,00 | 1,576 | 50,640 | 58,824 | 41,2 | Sem consenso |
Taxa de ocorrência hipertensão arterial pós-operatória | 2,53 | 2,00 | 1,375 | 54,150 | 41,176 | 58,8 | Não Incluir |
Taxa de ocorrência hipoxemia no período pós-operatório | 2,76 | 3,00 | 1,480 | 53,620 | 52,941 | 47,1 | Sem consenso |
Taxa de ocorrência Síndrome Tóxica do Segmento Anterior | 2,41 | 2,00 | 1,004 | 41,490 | 47,059 | 52,9 | Não Incluir |
Taxa de incidência de eventos tromboembólicos | 3,53 | 3,00 | 1,375 | 38,810 | 76,471 | 23,5 | Sem consenso |
Taxa de Infeção do local cirúrgico | 3,88 | 5,00 | 1,269 | 32,730 | 82,353 | 17,6 | Incluir |
Taxa de Morbilidade a 30 dias | 2,82 | 3,00 | 1,237 | 43,970 | 58,824 | 41,2 | Sem consenso |
Taxa de mortalidade a 30 dias | 2,71 | 2,00 | 1,263 | 46,490 | 47,059 | 52,9 | Não Incluir |
Número de re-operações não planeadas | 3,00 | 2,00 | 1,620 | 54,000 | 47,059 | 52,9 | Não Incluir |
Taxa de Readmissão hospitalar não planeada | 3,29 | 3,00 | 1,611 | 48,940 | 64,706 | 35,3 | Sem consenso |
Número de transferências de hospital | 2,76 | 2,00 | 1,393 | 50,360 | 41,176 | 58,8 | Não Incluir |
Número de admissões no próprio dia com internamento superior a 24 horas | 3,12 | 3,00 | 1,364 | 43,590 | 58,824 | 41,2 | Sem consenso |
Número de pernoitas não planeadas | 3,18 | 3,00 | 1,334 | 41,820 | 64,706 | 35,3 | Sem consenso |
Experiência do doente na UCA | 3,82 | 5,00 | 1,380 | 36,130 | 82,353 | 17,6 | Incluir |
Incidência de queimaduras | 3,82 | 3,00 | 1,185 | 31,150 | 88,235 | 11,9 | Incluir |
Incidência de quedas | 4,12 | 5,00 | 1,111 | 26,940 | 94,118 | 5,9 | Incluir |
Incidência de lesões relacionadas com posicionamento cirúrgico | 3,94 | 3,00 | 1,029 | 26,140 | 100,000 | 0 | Incluir |
Incidência de cirurgia com local errado | 4,53 | 5,00 | 0,874 | 19,210 | 100,000 | 0 | Incluir |
Incidência de cirurgia com lateralidade errada | 4,41 | 5,00 | 0,939 | 21,320 | 100,000 | 0 | Incluir |
Incidência de cirurgia com doente errado | 4,29 | 5,00 | 0,985 | 23,080 | 100,000 | 0 | Incluir |
Incidência de cirurgia com procedimento errado | 4,12 | 5,00 | 1,111 | 26,940 | 94,118 | 5,9 | Incluir |
Incidência de cirurgia com implante errado | 4,18 | 5,00 | 1,185 | 28,470 | 88,235 | 0 | Incluir |
Taxa de Retenção urinária | 3,29 | 3,00 | 1,213 | 36,780 | 70,588 | 29,4 | Sem consenso |
Número de idas ao Serviço de Urgência nos 30 dias seguintes à cirurgia | 2,47 | 2,00 | 1,179 | 47,770 | 41,176 | 58,8 | Não Incluir |
Número de idas ao Centro de Saúde nos 30 dias seguintes à cirurgia | 2,59 | 2,00 | 1,37 | 52,90 | 47,059 | 52,9 | Não Incluir |
Número de idas não planeadas a consulta da especialidade cirúrgica nos 30 dias seguintes à cirurgia | 2,47 | 2,00 | 1,18 | 47,77 | 41,176 | 58,8 | Não Incluir |
Satisfação dos profissionais | 3,76 | 5,00 | 1,48 | 39,36 | 82,353 | 17,6 | Incluir |
Tempos de espera após entrada na UCA | 3,12 | 3,00 | 1,41 | 45,19 | 64,706 | 35,3 | Sem consenso |
Número de dias até o doente retomar as suas atividades de vida diária após a cirurgia | 3,24 | 3,00 | 1,30 | 40,12 | 70,588 | 29,4 | Sem consenso |
Manutenção da normotermia | 3,88 | 3,00 | 1,11 | 28,61 | 94,118 | 5,9 | Incluir |
Qualidade de vida relacionada com a saúde | 3,65 | 3,00 | 1,22 | 33,42 | 82,353 | 17,6 | Incluir |
Indicador | Média | Mediana | Desvio padrão | CV (%) | IVC (%) | Respostas 1 ou 2 (%) | Decisão |
---|---|---|---|---|---|---|---|
Indicadores de estrutura | |||||||
Existência de protocolos relativos a informação clínica cedida ao doente e acompanhante | 4,55 | 5 | 0,858 | 18,873 | 95,455 | 4,5 | Incluir |
Taxa de cumprimento da vacinação da gripe entre os profissionais de saúde | 2,68 | 3 | 1,323 | 49,343 | 54,545 | 45,5 | Sem consenso |
Skill mix dos profissionais | 4,55 | 4,5 | 0,800 | 17,610 | 100 | 0 | Incluir |
Ambientes de prática favoráveis | 4,36 | 5 | 0,727 | 16,654 | 100 | 0 | Incluir |
Indicadores de processo | |||||||
Número de atrasos e incidentes pré-operatórios | 4,23 | 4,5 | 0,973 | 23,007 | 90,909 | 9,1 | Incluir |
Cedência de fármacos na alta | 3,64 | 4 | 1,329 | 36,547 | 77,273 | 22,7 | Sem consenso |
Seleção do doente para administração da profilaxia das náuseas e vómitos | 3,55 | 4 | 1,184 | 33,404 | 81,818 | 18,2 | Incluir |
Remoção dos pelos no local da cirurgia | 4,05 | 4 | 0,722 | 17,853 | 100 | 0 | Incluir |
Taxa de realização de consulta pré-operatória de enfermagem | 4,77 | 5 | 0,612 | 12,821 | 100 | 0 | Incluir |
Indicadores de resultado | |||||||
Taxa de ocorrência hematoma pós-operatório. | 3,32 | 3 | 1,211 | 36,482 | 72,727 | 27,3 | Sem consenso |
Taxa de ocorrência isquemia no período pós-operatório | 3,36 | 3 | 1,217 | 36,174 | 72,727 | 27,3 | Sem consenso |
Taxa de ocorrência hipertensão arterial pós-operatória | 3,09 | 3 | 1,269 | 41,056 | 59,091 | 40,9 | Sem consenso |
Taxa de ocorrência hipoxemia no período pós-operatório | 3,50 | 3,5 | 1,185 | 33,864 | 72,727 | 27,3 | Sem consenso |
Taxa de incidência de eventos tromboembólicos | 3,73 | 4 | 1,077 | 28,898 | 86,364 | 13,6 | Incluir |
Taxa de Infeção do local cirúrgico | 4,36 | 4,5 | 0,790 | 18,094 | 95,455 | 4,5 | Incluir |
Taxa de Morbilidade a 30 dias | 3,86 | 4 | 0,990 | 25,629 | 86,364 | 13,6 | Incluir |
Taxa de Readmissão hospitalar não planeada | 3,95 | 4 | 1,133 | 28,649 | 86,364 | 13,6 | Incluir |
Número de admissões no próprio dia com internamento superior a 24 horas | 3,77 | 4 | 1,152 | 30,532 | 81,818 | 18,2 | Incluir |
Número de pernoitas não planeadas | 3,68 | 4 | 1,211 | 32,878 | 81,818 | 18,2 | Incluir |
Taxa de Retenção urinária | 3,95 | 4 | 0,999 | 25,260 | 90,909 | 9,1 | Incluir |
Satisfação dos profissionais | 4,41 | 5 | 0,734 | 16,651 | 100 | 0 | Incluir |
Tempos de espera após entrada na UCA | 3,50 | 4 | 1,225 | 34,993 | 68,182 | 31,8 | Sem consenso |
Número de dias até o doente retomar as suas atividades de vida diária após a cirurgia | 3,91 | 4 | 1,019 | 26,075 | 90,909 | 9,1 | Incluir |
Discussão
A utilização da técnica de Delphi neste estudo permitiu a elaboração de um perfil de indicadores sensíveis aos cuidados de enfermagem em CA.
Até ao momento apenas tinha sido mapeado o conhecimento relativo a quais os indicadores de qualidade são utilizados nesta modalidade cirúrgica (Pinto et al., 2022), sendo que este estudo evidencia quais desses indicadores são sensíveis às intervenções de enfermagem.
Inicialmente foram apresentados 58 indicadores aos peritos, distribuídos pelas três dimensões do modelo de Donabedian (1992). Na primeira ronda houve consenso para incluir ou excluir 35 itens, havendo necessidade de esclarecer os peritos sobre 3. Na segunda ronda, os peritos avaliaram 23 indicadores, sendo que aqueles para os quais não houve consenso foi feita a análise pela equipa de investigação para decidir sobre a sua inclusão ou exclusão no perfil de indicadores.
Relativamente aos indicadores de estrutura, na primeira ronda os peritos referiram incompreensão dos itens “Skill mix dos profissionais” e “Ambientes de prática favoráveis”. No relatório enviado aos peritos com os resultados da primeira ronda do estudo foram feitos os esclarecimentos relativamente aos indicadores que suscitaram dúvidas, revelando ambiguidade ou incompreensão dos itens. Skill mix refere-se ao número, preparação académica dos enfermeiros e à sua experiência profissional num determinado contexto de prática clínica. O Skill mix indica que o número adequado de enfermeiros com diferentes níveis de habilitações académicas, competências e experiência, estão presentes ao longo de todo o período de cuidados ao doente, garantindo que todas e quaisquer necessidades são satisfeitas (Kushemererwa et al., 2020).
O termo ambientes de prática é definido como as características organizacionais que facilitam ou limitam a prática profissional de enfermagem. Por exemplo, o tipo de relação que os enfermeiros estabelecem com os gestores e médicos, ou a posição que ocupam dentro da hierarquia hospitalar (Lake, 2002). Os ambientes de prática podem ser avaliados através da versão portuguesa do Practice Environment Scale of the Nursing Work Index (Amaral et al., 2012).
Na segunda ronda ambos os indicadores cumpriram os critérios para serem incluídos no perfil de indicadores.
O indicador “Taxa de cumprimento da vacinação da gripe entre os profissionais de saúde” não obteve consenso em nenhuma das rondas. Foi também analisada a estatística referente a este indicador comparando os resultados o painel de especialistas e os resultados apenas dos enfermeiros pertencentes ao painel, não cumprindo os critérios definidos para incluir ou excluir o item. Deste modo, por decisão da equipa de investigação retirou-se o indicador do perfil de indicadores.
No que diz respeito aos indicadores de processo, o indicador “Cedência de fármacos na alta” não cumpriu os critérios para consenso em nenhuma das rondas do painel, nem entre o subgrupo dos enfermeiros em nenhuma das rondas. Este indicador de qualidade é um dos indicadores em uso em Portugal, definido pela ERS (ERS, 2022), no entanto, a cedência de medicação foi entendida pela equipa de investigação como uma questão mais burocrática ao invés de uma intervenção do enfermeiro. A intervenção do enfermeiro vai além da cedência de medicação e do “ensino e orientação na alta”. O que qualifica a intervenção autónoma do enfermeiro é a reconciliação da medicação e a capacitação do doente e/ou cuidador para efetuar uma gestão adequada do regime terapêutico que lhe é instituído após a CA. Assim, por decisão da equipa de investigação, sugere-se a inclusão da reconciliação da medicação como indicador de qualidade (de processo) sensível às intervenções de enfermagem em CA, transformando os critérios descritos na Norma n.º 018/2016 da Direção-Geral da Saúde nas métricas para a sua avaliação.
Também o indicador “Seleção do doente para administração da profilaxia das náuseas e vómitos” é um dos indicadores definidos pela ERS (ERS, 2022) e apesar de ter cumprido os critérios para consenso na segunda ronda da técnica de Delphi, a equipa de investigação optou pela não inclusão deste indicador. Considerou-se que a sua avaliação é dicotómica (sim/não) e é redundante com o indicador de processo “Taxa de utilização da Lista de Verificação Cirúrgica nos momentos adequados”, pois já está aí incluído. Por outro lado, não houve estabilidade nas respostas do painel a este indicador que diz respeito a uma intervenção interdependente de enfermagem.
Finalmente, em relação aos indicadores de resultado, os itens “Taxa de ocorrência hematoma pós-operatório”, “Taxa de ocorrência isquemia no período pós-operatório”, “Taxa de ocorrência hipertensão arterial pós-operatória” e “Taxa de ocorrência hipoxemia no período pós-operatório” não cumpriram os critérios para inclusão ou exclusão do perfil de indicadores, sendo os resultados do painel de peritos e do subgrupo dos enfermeiros sobreponíveis. Fica a reflexão relativa às intervenções autónomas de enfermagem para mitigar estas possíveis complicações pós-operatórias e a sua visibilidade perante os intervenientes da CA e os próprios enfermeiros. Está descrito nos Padrões de Qualidade dos Cuidados Especializados em Enfermagem Médico-Cirúrgica, na área de Enfermagem à pessoa em situação Perioperatória, que o enfermeiro deve adotar uma postura profissional proativa face à prevenção de complicações, gerindo protocolos terapêuticos complexos em todo o período perioperatório e implementando mecanismos de monitorização e intervenção adequados (Ordem dos Enfermeiros, 2017). Também faz parte das Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica - Enfermagem à pessoa em situação Perioperatória, de acordo com o Regulamento n.º 429/2018, monitorizar sinais e sintomas, analisar os resultados e intervir com base no conhecimento especializado, evidência científica e experiência profissional. Desta forma, a equipa de investigação considerou que as complicações pós-operatórias são influenciadas pela intervenção autónoma do enfermeiro, devendo estes indicadores ser incluídos no perfil de indicadores.
O indicador “Tempos de espera após entrada na UCA” ainda que seja um indicador de qualidade válido e bastante útil, citado várias vezes na literatura (Brökelmann & Bäcker, 2010; Lemos et al., 2009; Williams et al., 2003) , neste estudo não foi considerado como um indicador de qualidade sensível às intervenções de enfermagem. Este indicador não obteve consenso entre o painel de peritos em nenhuma das rondas, nem entre o subgrupo dos enfermeiros, havendo um elevado percentual de respostas 1 e 2, assim como CV superiores a 30%, revelando alta dispersão das respostas. Neste sentido, decidiu-se que este indicador seria eliminado do perfil de indicadores.
É necessário considerar algumas limitações do presente estudo. Em primeiro lugar, foi utilizada uma amostra não randomizada. Apesar de o painel de especialistas constituído ser heterogéneo, nenhum dos peritos participou na qualidade de pessoa em situação perioperatória, pelo que, apenas o ponto de vista dos participantes formais, em todo o processo de CA, foi tido em conta.
Além disso, toda a análise de dados e subsequente interpretação foi baseada em critérios definidos pela equipa de investigação, uma vez que não existe na literatura uma definição clara dos critérios para consenso, do tamanho e características do painel de especialistas, assim como do número de rondas a realizar. Por outro lado, houve peritos que não participaram em ambas as rondas, pelo que se considera que teria havia um maior contributo da sua participação para a obtenção do consenso caso todos tivessem participado em ambas as rondas do estudo.
Conclusão
O estudo apresentado permitiu elaborar um perfil de indicadores de qualidade em CA sensíveis às intervenções de enfermagem. A monitorização da qualidade dos cuidados de enfermagem é um pré-requisito para a melhoria da qualidade do sistema de saúde, sendo que os IQSIE devem ser vistos como uma prioridade na prática diária de enfermagem. Para medir a qualidade dos cuidados de enfermagem é necessária uma abordagem conceptual que utilize IQSIE relevantes no contexto clínico.
Na tomada de decisões clínicas, de gestão e financeiras adequadas e com vista ao incremento da qualidade em CA, é necessário compreender que métricas existem para a avaliar e que constrangimentos precisam de ser abordados. A medição e avaliação de indicadores de qualidade em CA mostra um compromisso para a melhoria da qualidade nas Unidades de Cirurgia de Ambulatório e são de importância primordial para a segurança dos doentes.
Os resultados deste estudo poderão subsidiar a construção de um instrumento de medida para avaliar os indicadores de qualidade em CA sensíveis às intervenções de enfermagem. Assim, será dada visibilidade aos cuidados de enfermagem neste contexto, permitindo cuidados cada vez mais eficientes, com mais qualidade e centrados no doente