O envelhecimento demográfico mundial traz múltiplos desafios psicossociais, dos quais destaca-se a ocorrência de violência sobre as pessoas idosas, sendo estimado que quase um sexto dos idosos sofra algum tipo de violência (Yon et al., 2017). Em Portugal, as pessoas idosas vítimas de violência duplicaram desde 2013, sendo assinalados 1600 casos em 2021 (APAV, 2021) e prevê-se que o número de vítimas continue a crescer, acompanhando o envelhecimento da população. Portugal está entre os 3 países mais envelhecidos da Europa, 21% da sua população tem idade superior a 65 anos (INE, 2021), pelo que é imperativo aumentar a atenção desta problemática. A prevalência de violência sobre os idosos poderá ser superior àquela reportada pelos países, pois alguns casos de violência passam sem ser reconhecidos ou reportados. Estas potenciais discrepâncias poderão decorrer da falta de reconhecimento dos comportamentos violentos e negligentes das pessoas mais próximas ou poderão decorrer da má compreensão do conceito de violência (Acierno et al. 2020; Killick et al. 2015).
A violência nos idosos é definida como uma ação ou inação que gera sofrimento a uma pessoa idosa decorrente de um relacionamento onde existe uma expectativa de confiança, podendo ser dividida em cinco tipos: a física, a psicológica, a financeira, a sexual e a violência por negligência (Yon et al., 2019). A definição da violência por negligência não é consensual, mas a mais frequente é que a violência por negligência nos idosos seja definida como a falta ou recusa na satisfação das necessidades pessoais ou das necessidades básicas dos idosos, podendo ser de forma intencional ou não intencional. A recusa total da satisfação destas necessidades por parte de alguém que assumiu essa responsabilidade também é considerado negligência, tal como acontece no abandono de idosos (Rosen et al., 2018).
A violência por negligência é de grande complexidade, sustentada como resultado da interação multifacetada de fatores, desde os níveis mais individuais ou relacionais até aos níveis comunitários e sociais (Rosen et al., 2018). Assim, uma intervenção adequada deve atuar nestes quatro diferentes níveis, considerando os fatores de risco como por exemplo o grau de dependência ou as perdas físicas e cognitivas (Yon et al., 2019). Contudo, as intervenções existentes para a violência por negligência nos idosos são escassas (Fearing et al., 2017; Gil et al., 2015), e dos programas de intervenção criados, ainda existe pouca evidência sobre a sua eficácia.
Para além da diversidade da violência sobre o idoso, surge dificuldade na identificação destes comportamentos, sobretudo quando estes acontecem no meio familiar e são cometidos pelos filhos adultos (Dow et al., 2020). É urgente informar, sensibilizar e combater o estigma associado a estes atos e, por conseguinte, é necessário criar linhas interventivas que possam prevenir a nível dos fatores de risco para a violência dos idosos (Fearing et al., 2017). Pelo que o objetivo desta revisão crítica é explorar os fatores de risco para a violência por negligência nos idosos.
Método
Estratégia de Pesquisa
A pesquisa de artigos foi realizada nas bases de dados EBSCO Host, PubMed, Scopus e Scielo. A chave de pesquisa usada resultou da combinação dos descritores: "violência por negligência", “negligência”, "idosos", “seniores” e "fatores de risco". Todos estes descritores foram utilizados nas secções de título ou resumos nos comandos de pesquisa.
Critérios de inclusão/exclusão
Os artigos incluídos corresponderam cumulativamente aos dois seguintes critérios de inclusão: 1) estudos que incluam amostras com participantes de idade igual ou superior aos 65 anos e 2) estudos que relacionassem a violência por negligência com fatores de risco nos idosos. Relativamente aos limitadores foram considerados estudos entre 2005 e 2022 nas línguas Portuguesa, Espanhola e Inglesa. Os estudos que incluíram: 1) amostras de idosos institucionalizados, 2) amostras de idosos com perda cognitiva previamente identificada foram excluídos desta revisão.
Inicialmente, 73 artigos corresponderam aos critérios de inclusão, contudo, após uma análise mais aprofundada e efetuada a correspondência com os critérios de exclusão foram incluídos 29 artigos finais nesta revisão.
Resultados
A secção de resultados desta revisão narrativa sintetiza as principais descobertas relacionadas aos fatores de risco para a violência por negligência em idosos, com base na análise crítica e na síntese da literatura científica disponível. Foram identificadas cinco categorias de fatores que emergiram constantemente nas investigações que respeitaram os critérios de seleção, contribuindo para uma compreensão mais abrangente deste fenómeno complexo.
As características sociodemográficas dos idosos desempenham um papel crucial na identificação do risco de violência por negligência. Estudos revistos consistentemente relataram que fatores como idade mais avançada (Ananias & Strydom, 2014; Ergin et al., 2012; Lin, 2020; Sethi et al., 2011), género feminino (Acierno et al., 2010; Cardona et al., 2007; Guedes et al., 2015), nível de escolaridade mais baixo (Filipska et al., 2019; Gürsoy & Kara, 2020; Vinueza-veloz et al., 2020) e estatuto socioeconómico desfavorecido (Burnes et al., 2015; Chen & Chan, 2022; Choi et al., 2009), estão associados à vulnerabilidade para a violência por negligência. A análise da literatura revelou que essas características sociodemográficas muitas vezes interagem para criar um perfil de risco único para cada idoso (Vinueza-veloz et al., 2020).
O grau de dependência funcional e de saúde dos idosos emergiu como um fator de risco significativo para a violência por negligência (Rosen et al., 2019). Investigações demonstraram que idosos com maior dependência e que necessitam de assistência significativa para as atividades da vida diária, estão em maior risco de sofrer negligência (Gürsoy & Kara, 2020; Sousa et al., 2021). A negligência sobre os idosos a residir na comunidade pode ocorrer tanto em configurações de cuidados formais quanto informais, e a gravidade da dependência do idoso muitas vezes influencia a natureza e a extensão da negligência (Acierno et al., 2010; Naughton et al., 2012; Sethi et al., 2011).
O suporte social desempenha um papel fundamental na prevenção da negligência, e sua ausência pode deixar os idosos mais vulneráveis, pelo que, um suporte social insuficiente está intimamente associado ao risco de violência por negligência nos idosos (Gil et al., 2015; Rosen et al., 2018). A revisão da literatura destacou que idosos que carecem de apoio emocional, prático ou instrumental das suas redes sociais, incluindo familiares e amigos, enfrentam maior risco de negligência (Awuviry‐Newton et al., 2020; Guedes et al., 2015). Além disso, o histórico anterior de violência familiar também surgiu como um fator de risco relevante, sugerindo que idosos que já experimentaram violência nos seus relacionamentos familiares podem estar em maior risco de sofrer negligência como consequência de pouco suporte social (Chen & Chan, 2022; Crockett et al., 2015).
A falta de um forte sentido de comunidade ou de pertencimento a grupos sociais é outro fator de risco relevante identificado nesta revisão (Cadmus & Owoaje, 2012). Idosos que se sentem isolados, excluídos ou desconectados das suas comunidades locais podem estar mais expostos à negligência, podem apresentar menos recursos e menos oportunidades para procurar ajuda ou denunciar situações de violência (Chang & Levy, 2021; Horsford et al., 2010).
A perceção negativa e os estereótipos sociais associados aos idosos, frequentemente referidos como idadísmo, emergiram como um fator de risco para a violência por negligência (Acierno et al., 2020). A literatura revista salientou que os estereótipos negativos sobre o envelhecimento podem influenciar atitudes e comportamentos prejudiciais para com os idosos, incluindo a negligência (Peri et al., 2009). Além disso, a transição para a reforma (Segel-Karpas et al., 2018) e as perdas físicas/cognitivas frequentemente associadas ao processo de envelhecimento têm sido identificadas como momentos críticos em que a vulnerabilidade à negligência pode aumentar (Penhale, 2010). Estes eventos de vida podem originar um conjunto de mudanças nas dinâmicas familiares e nas interações sociais, tornando os idosos mais dependentes de cuidadores e, por conseguinte, mais suscetíveis a diferentes formas de negligência (Dow et al., 2020).
Além dos fatores previamente mencionados, a saúde mental dos idosos e o acesso aos cuidados de saúde emergiram como fatores críticos de risco para a violência por negligência (Awuviry‐Newton et al., 2020; Cardona et al., 2007). A revisão da literatura revelou que idosos que sofrem de depressão (Mendes et al., 2021) e outros indicadores de saúde mental como a solidão (Gürsoy & Kara, 2020; Segel-Karpas et al., 2018), stresse e sobrecarga do cuidador (Ananias & Strydom, 2014; Lin, 2020) e abuso de substâncias por parte do cuidador (Rosen et al., 2018), enfrentam um risco aumentado de negligência. Ademais, as barreiras de acesso aos cuidados de saúde, tais como escassez de instituições ou falta de recursos financeiros para tratamentos e apoios de saúde, foram consistentemente associadas a um maior risco de negligência (Choi et al., 2009).
Estes principais fatores de risco, identificados nesta revisão narrativa (Quadro 1), lançam luz sobre as complexas interações que contribuem para a violência por negligência nos idosos.
Discussão
Os atos violentos são fenómenos de complexidade elevada, oriundos da interação entre múltiplos fatores, desde os biológicos, relacionais até aos sociais, pelo que não há um único aspeto que elucide a predisposição para uma pessoa ser mais vulnerável aos diversos tipos de violência (Santos et al., 2020; Yon et al., 2019). Alguns fatores de risco podem ser específicos da violência por negligência, contudo o mais frequente é que os cinco tipos de violência partilhem vários fatores de risco, pelo que é necessário estudar as causas da violência por negligência, as suas interações e destacar a prevenção face à violência.
As características sociodemográficas dos idosos desempenham um papel crucial na sua vulnerabilidade à violência por negligência (Filipska et al., 2019; Zang et al., 2022). De acordo com a literatura, a associação entre idade avançada e um maior risco de negligência pode ser explicada pelo declínio físico e cognitivo que frequentemente acompanha o envelhecimento, isto porque idosos mais velhos podem tornar-se mais dependentes de cuidadores, tornando-se mais vulneráveis à negligência (Yon et al., 2019). Ananias e Strydom (2014) acrescentam que para além da vulnerabilidade devida ao aumento da idade estar correlacionada com o grau de dependência, este por conseguinte pode levar ao aumento de stress do cuidador ou sobrecarga.
O grau de dependência funcional e de saúde dos idosos é um fator de risco significativo para a violência por negligência e outros tipos de violência (Gürsoy & Kara, 2020; Sousa et al., 2021). Aquando das dificuldades significativas enfrentadas na realização das atividades da vida diária, os idosos necessitam de ajuda para os cuidados básicos, tais como a alimentação e a higiene pessoal, o que pode criar uma dinâmica de poder desigual com os cuidadores e aumentar o risco de violência por negligência (Storey, 2020). Idosos com problemas sérios de saúde física crónica e que como dificuldade de mobilidade ou de autocuidado, são mais vulneráveis à negligência, pois podem depender de outros para atender às suas necessidades básicas (Gürsoy & Kara, 2020). Pelo que, a gravidade ou grau da dependência influencia a natureza da negligência, isto é, idosos altamente dependentes enfrentam riscos mais elevados (Dow, et al., 2020).
Outro fator de risco relevante para a violência por negligência encontrado na literatura é o género feminino (Dong et al., 2013; Vinueza-Veloz et al., 2020). Ser mulher tem sido associado a um maior risco de negligência, possivelmente devido a desequilíbrios de poder nas relações de cuidado ou pelo facto de apresentarem uma esperança media de vida superior à dos homens, o que aumenta a probabilidade de enfrentarem situações de negligência ao longo de suas vidas (Santos et al., 2020; Zhang et al., 2022).
Níveis mais baixos de escolaridade e um estatuto socioeconómico desfavorável podem criar barreiras no acesso aos recursos e apoio, tornando os idosos mais suscetíveis à negligência, sendo portanto dois fatores de risco a este tipo de violência (Santos et al., 2020). Um baixo nível de educação pode levar a dificuldades na consciencialização do que é a violência por negligência e de como se proteger face a ela (Filipska et al., 2019; Vinueza-Veloz et al., 2020; Zhang et al., 2022). Também, a falta de recursos financeiros pode ser um fator significativo para fornecer cuidados adequados aos mais idosos, desde a compra de medicamentos ao acesso a serviços de saúde, mas também pode afetar a sua capacidade de procurar ajuda (Chang & Levy, 2021; Crockett et al., 2015; Rosen et al., 2019). Santos e colaboradores (2020), apontam para o facto dos agregados familiares com menos dinheiro ou sem emprego terem maior propensão para gerar atos violentos, a pressão financeira pode levar a tensões familiares e aumentar o risco de comportamentos violentos ou negligentes para com os idosos.
Idosos que estão socialmente isolados ou que não têm suporte social adequado podem estar em maior risco de violência por negligência (Rosen et al., 2018; Rosen et al., 2019). A ausência de apoio emocional, prático ou instrumental das redes sociais, incluindo familiares e amigos, pode deixar os idosos mais vulneráveis, pois podem não ter alguém para verificar o seu bem-estar, o que constitui um fator de risco (Gürsoy & Kara, 2020). Quando os idosos carecem de um sistema de suporte adequado, podem ter menos recursos para procurar ajuda ou denunciar os atos violentos que experienciam (Ananias & Strydom, 2014; Santos et al., 2020), para além de o suporte social ser essencial para a prevenção da negligência em idosos (Guedes et al., 2015). Ainda, o histórico anterior de violência familiar é uma preocupação relevante, uma vez que os idosos que já experimentaram outro tipo de violência podem enfrentar dificuldades adicionais devido à falta de suporte social e a uma maior probabilidade de sofrerem outro tipo de violência, nomeadamente a violência por negligência (Gil et al., 2015; Lin, 2020).
A falta de um bom sentido de comunidade ou de pertença a grupos sociais está intimamente correlacionada com um risco elevado de violência por negligência nos idosos (Chang & Levi, 2021; Horsford et al., 2010). O sentido de comunidade, entende-se como o apoio de redes comunitárias, como a família alargada, igrejas, vizinhos e grupos de serviços, que proporcionam um sentido de pertença, suporte social e segurança (Chang & Levi, 2021). Por um lado, a falta de recursos e relações comunitárias pode tornar os idosos mais suscetíveis a situações de violência (Cadmus & Owoaje, 2012; Pillemer et al., 2016). Por outro lado, os idosos que se sentem isolados ou excluídos das suas comunidades locais podem ter menos oportunidades para procurar apoio e proteção contra a negligência já vivenciada (Dong et al., 2013), o que reforça a importância da criação de ambientes promotores de relações sociais como medida preventiva. Isto poderá dever-se às características contemporâneas dos relacionamentos mais próximos, ou seja, relacionamentos menos ancorados em tradições religiosas e com menos valor à família extensa ou à comunidade (Cadmus & Owoaje, 2012; Pillemer et al., 2016; Zhang et al., 2022). Estas mudanças na organização e no propósito dos relacionamentos íntimos pode dar ênfase a agregados familiares menores, à migração para áreas urbanas e a alterações nos valores que estão na forma tradicional de cuidar dos idosos. Todavia, a literatura é escassa e seria fundamental aprofundar as pesquisas neste fator e zona de residência rural dos idosos.
Em acréscimo, o facto de os idosos poderem ser percebidos como dependentes e frágeis leva a estereótipos negativos, o que pode resultar em que as atitudes de violência e negligência se tornem mais permissíveis (Sethi et al., 2011). O idadísmo, ou seja, os estereótipos negativos associados aos idosos, é um fator de risco para a violência por negligência (Acierno et al., 2020; Dow et al., 2020). Ao perpetuar estereótipos negativos sobre o envelhecimento, a sociedade pode influenciar atitudes e comportamentos adversos em relação aos idosos, incluindo comportamentos negligentes (Dong et al., 2013; Zhang et al., 2022). Esta forma de preconceito pode contribuir para a invisibilidade dos casos de negligência e/ou para a falta de intervenção adequada (Penhale, 2010). Um aspeto a questionar e revisitar em estudos futuros, é a diferença entre as sociedades mais ocidentais e as sociedades afro-orientais. O estudo de Horsford e colaboradores (2010), menciona que os idosos afro-americanos são respeitados e valorizados pela sabedoria, honra, resiliência e dignidade, ocupando um papel basilar na família e na comunidade.
A reforma e a perda das capacidades físicas ou cognitivas são apontadas pelos idosos como aspetos centrais do envelhecimento, que por conseguinte, poderá trazer mais tempo livre, mas também poderá trazer mais solidão devido às alterações na rotina e à perda de interações sociais decorrentes do trabalho (Segel-Karpas et al., 2018; Yon et al., 2019). A transição para a reforma e as perdas físicas e cognitivas frequentemente associadas ao envelhecimento podem criar momentos críticos de vulnerabilidade, e estas mudanças na dinâmica familiar e nas interações sociais podem tornar os idosos mais dependentes de cuidadores, constituindo fatores de risco para a violência por negligência (Chang & Levy, 2021; Dong et al., 2013).
Paralelamente ao grau de dependência decorrente das perdas físicas e cognitivas com o avançar da idade, a saúde mental dos idosos é apontada na literatura como um fator de risco significativo para a vulnerabilidade à violência por negligência (Rosen et al., 2019; Vinueza-Veloz et al., 2020). Os idosos com problemas de saúde mental ou cognitiva podem ter uma propensão mais elevada a comportamentos violentos ou negligentes por parte dos cuidadores, especialmente se o cuidador não está preparado para lidar com estes desafios (Rosen et al., 2018). Os indicadores de saúde mental mais apontados nas investigações são a depressão, a solidão e o stress, visto poderem afetar negativamente a capacidade dos idosos de proteger a sua própria segurança e bem-estar (Gürsoy & Kara, 2020; Mendes et al., 2021; Segel-Karpas et al., 2018). É de realçar que o isolamento social em si ou a depressão poderão ser vistos como fatores de risco para a violência por negligência, mas também como consequências de atos violentos já praticados sobre os idosos (Santos et al., 2020). Isto deve-se ao design transversal da maior parte das investigações, e como tal, a sua causalidade não é possível de determinar. Logo, os mais velhos com depressão podem ter vulnerabilidade superior ou podem ser depressivos como consequência da violência por negligência vivida.
Ademais, as barreiras no acesso aos cuidados de saúde podem ser um fator de risco acrescido à violência por negligência (Awuviry-Newton et al., 2020; Cardona et al., 2007). A deficiência nos programas de saúde pública, principalmente em áreas rurais e carentes, origina a falta de serviços acessíveis aos idosos ou famílias com rendimento mais baixo (Chang e Levy, 2021; Choi et al., 2009). Assim, esta falta de recursos pode aumentar o risco de negligência sobre os idosos, como resultado da escassez de cuidados e apoios disponíveis, das condições médicas não tratadas e dos cuidadores sobrecarregados por não terem possibilidade de recorrer a sistemas de apoio (Awuviry-Newton et al., 2020).
A presente revisão narrativa, embora tenha proporcionado insights valiosos sobre os fatores de risco para a negligência em idosos, está sujeita a algumas limitações importantes que merecem consideração. A heterogeneidade dos estudos incluídos é um aspeto a ser destacado, pois abrange uma ampla gama de definições de negligência, amostras de idosos e métodos de recolha de dados. Esta heterogeneidade pode dificultar a generalização dos resultados para além das características específicas de cada estudo, isto é, estudos que analisam os diversos fatores de risco para os diferentes tipos de violência. Além disto, a variabilidade cultural e regional deve ser reconhecida como um fator limitador, já que os fatores de risco para a negligência podem ser influenciados por diferenças culturais e contextos regionais.
Estes resultados ressaltam a necessidade de estudos mais aprofundados aos fatores de risco para a violência por negligência em exclusivo, bem como a urgência na realização de estudos longitudinais e de cariz qualitativo. Estas cinco categorias (as caraterísticas sociodemográficas, o grau de dependência, o baixo suporte social, o baixo sentido de comunidade e os estereótipos sociais) interligadas fornecem um quadro abrangente dos fatores de risco na negligência em idosos, destacando a complexidade do fenómeno e a necessidade de abordagens integradas na prevenção. Intervenções eficazes devem levar em consideração a combinação destes fatores de risco supramencionados e abordar não apenas a deteção, mas também a mitigação desses fatores, através de respostas como: estudo dos fatores de risco individuais, promover a criação de ambientes e relacionamentos familiares saudáveis, monitorizar locais públicos com vista a combater idadísmo e alterar os fatores socioeconómicos no sentido de diminuir a desigualdade de acesso a serviços e oportunidades. Em suma, para que a redução da incidência de violência por negligência sobre os idosos aconteça, é crucial a criação de políticas públicas que promovam o envelhecimento saudável, o suporte social e o combate a qualquer condescendência à violência sobre esta faixa etária.
Contribuição dos autores
Joana Correia Jesus: Concetualização, Análise dos dados, Investigação, Redação do rascunho original, Redação - revisão e edição.
Sofia von Humboldt: Supervisão; Administração do projeto; Recursos; Redação - revisão e edição
Luísa Soares: Supervisão; Redação - revisão e edição
Isabel Leal: Supervisão; Redação - revisão e edição