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Relações Internacionais (R:I)

versão impressa ISSN 1645-9199

Relações Internacionais  no.74 Lisboa jun. 2022  Epub 30-Jun-2022

https://doi.org/10.23906/ri2022.74a09 

Artigos

A ascensão eleitoral do Rassemblement National de Marine Le Pen

The Electoral Rise of Marine Le Pen’s Rassemblement National

João Carvalho1 

1 CIES-ISCTE, Sala 2W10, Edifício Sedas Nunes, Av. das Forças Armadas 1649-026 Lisboa, Portugal; joao.miguel.carvalho@iscte-iul.pt


Resumo

Em abril de 2022, Marine Le Pen apurou-se pela segunda vez consecutiva para a segunda volta das eleições presidenciais contra o Presidente incumbente Emmanuel Macron. Vinte anos antes, o seu pai, Jean-Marie Le Pen, tinha provocado um terramoto político com repercussões ao nível europeu depois de ter alcançado a segunda volta da eleição presidencial de 2002. Em comparação com os 17,8% dos votos obtidos pelo seu pai em 2002, Marine, em 2022, teve mais do dobro dos votos: 41,45% na segunda ronda eleitoral. Esta diferença expressa o crescimento impressionante da extrema-direita francesa, que se apresentou como a família partidária mais votada na primeira volta das eleições presidenciais. Este artigo aborda o desenvolvimento do Front National sob a liderança de Le Pen, a ascensão eleitoral e o programa político de Marine que motivou a refundação do nome do partido para Rassemblement National.

Palavras-chave: Marine Le Pen; Rassemblement National; Front National; França

Abstract

In April 2022, Marine Le Pen passed for the second consecutive time to the second round of the presidential elections against the incumbent president Emmanuel Macron. Twenty years early on, her father, Jean-Marie Le Pen, caused a political earthquake at the European level after attaining a similar presence in the second round of the presidential ballot. In comparison to the 17.8 per cent of the vote obtained by Le Pen in the second round, Marine’s electoral support in 2022 more than doubled this figure, as she collected 41.45 per cent of the popular vote in 2022. This trend demonstrated an impressive growth of electoral support of the French far right, which was the party family with most electoral support at the presidential ballot. This research will review the Front National development under Le Pen’s leadership, as well the electoral ascension and political programme of Marine that led to the rebranding of the party into Rassemblement National.

Keywords: Marine Le Pen; Rassemblement National; Front National; France

No final de abril de 2022, o candidato do partido En Marche, Emmanuel Macron, obteve a sua reeleição para cumprir o segundo mandato presidencial. Tal como em 2017, a principal derrotada na segunda ronda eleitoral foi Marine Le Pen, a candidata do partido de extrema-direita denominado Rassemblement National (RN). Curiosamente, em 2002 a França tinha sido o epicentro dum terramoto político com repercussões ao nível europeu, após a passagem do candidato do partido Front National (FN) - Jean-Marie Le Pen - à segunda volta das eleições presidenciais. Este evento originou a emergência duma barreira republicana envolvendo a mobilização do eleitorado de centro-esquerda a favor do Presidente incumbente de centro-direita, Jacques Chirac. Esta mobilização eleitoral resultou numa derrota esmagadora de Le Pen. Vinte anos mais tarde, Marine participou na segunda volta da eleição presidencial de forma consecutiva e superou a fasquia dos 40% dos votos válidos nessa ronda eleitoral demonstrando o enfraquecimento da barreira republicana.

Ademais, a ausência de um terramoto político após a primeira ronda da eleição presidencial de 2022 demonstra a crescente normalização da extrema-direita francesa ao nível doméstico e no plano europeu. Tanto na França como na sede da União Europeia (UE) o comentário mais repetido pelas elites políticas consistia no sentimento de alívio perante o fracasso de Marine. Uma vez que o combate ao extremismo político tinha sido uma das suas principais prioridades políticas após a vitória do Presidente Macron em 2017, os resultados eleitorais de 2022 indicam um extraordinário fracasso. Na atualidade, o apoio eleitoral a favor de Marine nunca tinha atingido um nível tão elevado, bem como o peso eleitoral da família partidária da extrema-direita francesa no sistema político nacional.

Neste contexto, esta investigação irá analisar o desenvolvimento da extrema-direita francesa, tanto em termos ideológicos como em termos de resultados eleitorais observados nas eleições presidenciais que tiveram lugar depois de 2000. Ao longo desta análise, este estudo irá abordar o processo de transição na liderança do FN de Le Pen para Marine, bem como o seu projeto político de combater a diabolização da extrema-direita entre o eleitorado que resultou na refundação do partido em 2017 com a nova designação de Rassemblement National (RN). Sobre a liderança de Marine, o RN afirmou-se como a maior força política no espectro político de direita no início da década de 2020, tendo sido um dos principais responsáveis pela reestruturação do sistema partidário francês. Antes de avançarmos para a análise da fundação e implantação eleitoral do FN na década de 2000, a próxima secção irá abordar sucintamente o sistema eleitoral das eleições presidenciais francesas para contextualizar as regras que enquadram esta competição eleitoral.

O Sistema Eleitoral das Eleições Presidenciais Francesas

O poder executivo em França é partilhado pelo Presidente da República, eleito por sufrágio universal, e pelo primeiro-ministro, o qual é designado pelo Presidente e confirmado pela Assembleia Nacional. As eleições presidenciais, bem como as eleições legislativas, decorrem com base num mapa eleitoral composto por círculos eleitorais uninominais e num sistema eleitoral baseado no sufrágio com duas rondas eleitorais1. A segunda volta tem lugar quando nenhum dos candidatos presentes na primeira ronda consegue obter uma maioria dos votos válidos, ou seja, mais de 50% dos votos válidos. Nas eleições presidenciais, a competição eleitoral nesta segunda ronda é limitada aos dois candidatos mais votados na ronda anterior. Nas eleições legislativas, a participação na segunda ronda do plebiscito nos círculos eleitorais uninominais engloba todos os candidatos que obtenham mais de 12,5% dos votos válidos na primeira volta2.

No geral, o sistema eleitoral francês estimula padrões bipolares de competição política dado os incentivos para a formação de coligações políticas entre os partidos de esquerda e direita na segunda volta das eleições. Estes incentivos favoreciam os partidos moderados versus os partidos extremistas, que possuíam menos potencial de se coligarem com outros competidores na segunda ronda devido ao radicalismo das suas propostas políticas. Estas características institucionais constituíam um desincentivo para os eleitores apoiarem um partido extremista, o qual poderia ser um eventual desperdício devido às poucas hipóteses desse partido obter uma maioria na segunda volta num círculo eleitoral uninominal3. Apesar dos constrangimentos impostos pelo sistema eleitoral, a crescente capacidade de mobilização eleitoral de Marine indica que a influência do contexto institucional sobre o comportamento eleitoral tem sido bastante limitada, como iremos ver adiante. Em contrapartida, a incapacidade da líder da RN em obter apoios eleitorais na segunda volta das eleições presidenciais para além do espectro político de direita ajuda a explicar o seu fracasso face a Macron em 2017 e 2022.

A Evolução do Voto do FN sob a Liderança de Jean-Marie Le Pen

Fundado em 1972 sob a liderança de Jean-Marie Le Pen, o FN adotou inicialmente um programa político caracterizado pela prevalência do neoliberalismo e pelo discurso de xenofobia cultural contra os imigrantes. Contrariamente ao racismo biológico do passado, o FN defendia a defesa da identidade nacional francesa da suposta ameaça existencial imposta pelas culturas dos imigrantes, sobretudo as provenientes de países islâmicos. Desta forma, o FN propunha a redução da intervenção do Estado na economia e dos impostos, enquanto defendia a repatriação de todos os imigrantes e a anulação dos processos de naturalização concedidos depois de 1974. O primeiro sucesso eleitoral do FN ocorreu nas eleições municipais de 1983 na cidade de Dreux, quando Jean Pierre Stirbois foi eleito para o concelho municipal. Nas eleições europeias de 1984, o FN recolheu 10,95% do total dos votos, demonstrando a sua implantação a nível nacional4. No início da década de 1990, o programa político do FN começou a ser moderado relativamente às propostas anti-imigração, bem como em termos do programa económico neoliberal em favor de medidas de carácter protecionista.

Ao longo da década de 1990, o FN consolidou o seu eleitorado, tendo contribuído diretamente para a vitória do Partido Socialista nas eleições legislativas de 1997. Através da passagem de 133 candidatos do FN à segunda volta, o partido de Le Pen dividiu o voto do eleitorado de direita em benefício dos candidatos de centro-esquerda. A cooperação do FN tornou-se indispensável para a eleição de governadores dos partidos de centro-direita nas eleições regionais de 1998, levando à cisão entre Le Pen e o número dois do partido, Bruno Mégret, sobre a estratégia do partido. Le Pen recusava qualquer moderação do programa político em favor da acomodação do FN no sistema partidário francês, tal como era proposto por Mégret, que acabou expulso do partido5. Este evento suscitou dúvidas sobre a capacidade do FN em manter o seu crescimento eleitoral e a sua própria sobrevivência a curto prazo. Porém, essas dúvidas foram dissipadas com o terramoto político provocado pela passagem de Le Pen à segunda volta das eleições presidenciais de 2002, com 16,2% do total de votos, representando o apoio de 4 804 713 eleitores na primeira volta6.

As eleições presidenciais de 2002 marcaram o ponto mais alto da carreira política de Le Pen, mas também demonstram os seus limites quando apenas obteve 17,8% dos votos válidos na segunda volta7. A incapacidade do candidato da FN em expandir o seu eleitorado na segunda volta foi associada à observação da barreira republicana entre o eleitorado de centro-esquerda. Ao nível interno, este fracasso incitou a identificação dum défice de credibilidade derivada da falta de imagem dum estadista associada a Le Pen. No congresso do FN em 2003, Le Pen deu um sinal sobre a sua sucessão na liderança do FN ao designar a sua filha Marine para a direção do partido. Nesta altura, Marine já gozava de elevada popularidade entre os militantes do FN pela sua hostilidade perante o islão e a defesa da feminização do partido, distanciando-se da oposição do FN ao aborto ou à utilização de meios contracetivos. No entanto, estas posições provocavam a desconfiança da fação católica do partido liderada por Bruno Gollnisch8.

As eleições presidenciais de 2007 constituíam a quinta candidatura de Le Pen à Presidência da República Francesa, agora com 78 anos de idade, frente a um jovem candidato de centro-direita9 - Nicolas Sarkozy. Contrariamente ao passado, Sarkozy assumiu publicamente pretender captar o eleitorado do FN e acomodou o discurso anti-imigração de Le Pen no seu projeto político10. Sob a influência da sua filha Marine, Le Pen encetou pela primeira vez a estratégia de suavizar a diabolização do FN perante a opinião pública francesa através da republicanização do seu programa eleitoral. Contrariamente à hostilidade demonstrada no passado, Le Pen convidou os franceses de origem estrangeira a apoiar o seu partido enquanto defendia o programa de preferência nacional como uma das suas principais bandeiras políticas. Este programa limitaria o acesso aos direitos sociais exclusivamente a cidadãos franceses, demonstrando o chauvinismo social inerente ao programa do FN11.

Pela primeira vez desde 1980, Le Pen apenas obteve 10,4% do total de votos válidos na primeira volta das eleições presidenciais de 2007. O principal beneficiado desta derrocada eleitoral foi Sarkozy, que obteve 31,2% dos votos e alcançou o melhor resultado dum candidato de centro-direita desde 1974. Os dois candidatos apresentaram um programa eleitoral semelhante, mas Sarkozy era considerado como o candidato mais credível na opinião pública francesa para implementar esse mesmo programa12. Este fracasso eleitoral suscitou um intenso debate sobre o futuro da extrema-direita na França. Tal como Le Pen comentou: «[P]aradoxalmente vencedores em termos ideológicos, perdemos temporariamente nas urnas»13. Apesar de ter assumido a responsabilidade pela derrota, as críticas internas concentraram-se no projeto de republicanização de Marine. Porém, a sua posição dentro do partido ficou consolidada depois de ter passado à segunda volta das eleições legislativas de 2007 no círculo eleitoral de Hénin-Beaumont, contrariamente aos fracassos políticos acumulados pelos seus opositores internos tais como Gollnisch.

A Liderança de Marine à Frente do Front National

Depois de ter sido a candidata do FN mais popular nas eleições europeias de 2009, Marine tornou-se a candidata melhor posicionada para suceder ao seu pai na liderança do partido. Em janeiro de 2011, Gollnisch alcançou 36% dos votos enquanto Marine recolheu o apoio de 64% dos militantes do FN, obtendo a validação do seu projeto envolvendo a republicanização do programa político e o combate à diabolização do partido. Segundo Marine, o FN estava demasiado estigmatizado entre a opinião pública francesa devido às afirmações controversas do seu pai sobre a Segunda Guerra Mundial e as minorias étnicas. O objetivo seria distanciar o FN destas posições políticas e potenciar a normalização do partido entre o eleitorado. Na campanha para as eleições presidenciais de 2012, Marine optou por enfatizar propostas do foro económico, tais como a saída da França da moeda única europeia, a reposição dos controlos fronteiriços e a aplicação de tarifas aduaneiras em sinal de protecionismo económico. Além do patriotismo económico em detrimento do neoliberalismo que caracterizou o FN no passado, Marine defendia ainda os interesses das regiões do interior e meio rural francês contra a arrogância parisiense14.

Numa segunda fase, a campanha eleitoral do FN regressou aos seus temas tradicionais, tais como a imigração, a ordem e a segurança, a identidade nacional e a antiglobalização. Ademais, Marine viria a defender o secularismo republicano perante a ameaça imposta pelo islamismo radical, defendendo a proibição do uso do véu islâmico em público ou a utilização de burkinis. Esta versão de igualdade de género e de defesa dos direitos das mulheres tem sido interpretada como nacionalismo de género. Em paralelo, o projeto chauvinista de preferência nacional continuava a deter amplo destaque no manifesto eleitoral em detrimento das referências à defesa da identidade nacional. Nas urnas, Marine defrontou um Presidente incumbente apostado em repetir a estratégia de 2007 e capturar o eleitorado da extrema-direita. Desta forma, Sarkozy adotou um discurso claramente anti-imigração, afirmando que existiam demasiados imigrantes em França, prometeu reduzir a intensidade dos fluxos imigratórios para metade e alertou para o perigo da imigração sobre a civilização francesa15.

Os resultados eleitorais da primeira volta das eleições francesas de 2012 indicaram a recuperação do FN do seu fiel eleitorado enquanto Sarkozy foi incapaz de repetir o sucesso observado em 2007. Marine obteve 17,9% dos votos e o apoio de mais de 6,4 milhões de eleitores franceses enquanto Sarkozy foi o segundo candidato mais votado com 27,2% dos votos16. Embora tenha apresentado uma agenda política semelhante à do FN, a perceção de Sarkozy como sendo o melhor candidato para implementar esse programa desvaneceu-se em 2012 em comparação com 2007. A capacidade de Sarkozy promover uma rutura política e as suas qualidades pessoais eram percecionadas pela opinião pública como sendo inferiores às de Marine. Desta forma, a estratégia de acomodação do FN por parte de Sarkozy não conseguiu reduzir a mobilização eleitoral promovida por Marine, mas contribuiu significativamente para o enfraquecimento da fronteira ideológica entre o eleitorado de centro-direita e de extrema-direita17. Esta estratégia teria consequências muito significativas a médio prazo, como foi possível observar no início da década de 2020, como veremos adiante.

O Sucesso Pírrico de Marine nas Eleições de 2017

Em 2017, o FN enfrentava a campanha para as eleições presidenciais num contexto político bastante favorável. Primeiro, a Europa observou o desenvolvimento da crise do asilo de 2015 que elevou a pressão migratória sobre as fronteiras da UE. No total, mais de um milhão de requerentes de asilo maioritariamente provenientes da Síria atravessaram as fronteiras europeias. Segundo, a vitória do «Não» no referendo britânico sobre a participação na UE realizado em 2016 demonstrava que as forças políticas eurocéticas podiam alcançar os seus objetivos. Este evento foi sucedido pela eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos, demonstrando que o discurso populista de direita e antiglobalização podia florescer numa das maiores democracias mundiais. Por fim, os diversos atentados terroristas realizados por grupos islamistas desde 2015 reforçavam a saliência das propostas securitárias do FN e do discurso islamofóbico de Marine entre a opinião pública francesa18.

A líder do FN obteve a sua reeleição à frente do partido de extrema-direita no congresso realizado em 2014 com 100% dos votos. Com o objetivo de reforçar a profissionalização do partido, Marine aproveitou o congresso do partido realizado em 2014 para expurgar o seu pai e os membros da velha guarda da direção política do FN devido ao seu antissemitismo e à negação do Holocausto19. Esta opção originou um longo conflito entre Marine e seu pai nos tribunais, o qual ofuscou os sucessos eleitorais do FN em eleições de segunda ordem decorridas antes de 2017. Desta forma, o FN foi o partido mais votado a nível nacional nas eleições europeias de 2014 com 24,26% dos votos, tendo alcançado um sucesso semelhante nas eleições regionais de dezembro de 2015 com 27,73% dos votos. A implantação eleitoral do FN nunca tinha sido tão forte apesar do seu isolamento dentro do sistema partidário francês. Por este motivo, o FN não conseguiu obter nenhuma vitória na segunda volta das eleições regionais e dessa forma falhou o objetivo de controlar o executivo duma única região francesa20.

Neste contexto de crescimento eleitoral, o FN iniciou a sua campanha para as eleições presidenciais de 2017 com a apresentação dum projeto de «144 compromissos presidenciais». Este documento previa a realização de dois referendos: um sobre o programa de «prioridade nacional» e outro sobre a negociação com a UE sobre a recuperação de quatro soberanias (orçamental, legislativa, territorial e monetária). O documento incluía ainda outros temas clássicos do FN, tais como a redução dos fluxos imigratórios através da imposição dum teto máximo de dez mil entradas, um programa de preferência nacional para cidadãos franceses e a limitação do acesso à nacionalidade francesa21.

O manifesto eleitoral continha ainda duas inovações relevantes em termos de discurso e de conteúdo: a primeira consistia na apropriação dos valores da República e do laicismo, os quais seriam as normas sociais disseminadas nas escolas e assimiladas pelos imigrantes como parte da identidade nacional22. Em segundo lugar, o projeto de Marine confirmava a reorientação do FN do discurso neoliberal que predominou durante a liderança de Le Pen para um programa económico baseado na intervenção do Estado na economia e protecionismo económico. Assim, o FN apresentava uma série de medidas, tais como a manutenção do horário semanal de trinta e cinco horas, impostos sobre a riqueza, redução dos custos do gás e de eletricidade, redução da idade da reforma para os 60 anos, e reinvestimento nos serviços públicos23. Esta inovação foi associada à influência de Florian Phillipot em detrimento das propostas neoliberais da sobrinha de Marine, Marion Maréchal-Le Pen, a qual indicava a clivagem interna dentro partido entre a implantação do FN nas zonas desindustrializadas do Norte da França e o Sul do país, onde predomina um eleitorado mais católico e liberal em termos económicos. Esta clivagem era descrita como a oposição da corrente «social-soberanista» versus a fação «liberal-identitária». Dada a incapacidade para priorizar uma das correntes internas, o programa eleitoral do FN continha ainda um conjunto de propostas para atrair eleitores da classe média, tais como a redução de impostos para pequenas e médias empresas, a redução da fraude na assistência social e a introdução de tarifas sobre as importações24.

Em termos eleitorais, Marine obteve 21,3% dos votos registados na primeira volta das eleições presidenciais de 2017, conseguindo passar à segunda ronda da eleição presidencial pela primeira vez. Marine acumulou assim mais 1,25 milhões de votos em comparação com o resultado observado em 2012, e foi a candidata mais votada em 47 dos distritos eleitorais, enquanto o candidato centrista Emmanuel Macron foi o mais votado em 43 desses distritos. Tal como em 2012, a líder do FN conseguiu conquistar o voto feminino e aumentar a atratividade política do seu partido entre as eleitoras francesas. Desta forma, não se verificou qualquer diferença nos padrões de voto dos eleitores masculinos e femininos em 2017, contrariamente à intensa hostilidade das mulheres francesas perante Le Pen observada no passado.

A análise da dispersão geográfica do voto da candidata do FN indicava a sua crescente implantação nas zonas rurais da França e semirrurais em detrimento das populações urbanas. Porém, o apoio eleitoral registado nas urnas era significativamente inferior aos valores de 28% dos votos indicados nas sondagens realizadas nos meses anteriores às eleições, ou mesmo aos resultados observados nas eleições europeias de 2014 e eleições regionais de 2015. Depois destes sucessos eleitorais, Marine teve dificuldade em manter a elevada mobilização eleitoral25. Entre os principais motivos para esta tendência destaca-se a incapacidade de Marine em capitalizar os escândalos em torno do candidato de centro-direita François Fillon, porque o FN estava envolvido num caso judicial de apropriação indevida de fundos do Parlamento Europeu26.

Na campanha para a segunda volta da eleição presidencial de 2017, Marine necessitava de atrair o eleitorado de centro-direita e de esquerda para poder ter hipóteses de vencer o plebiscito. Pela primeira vez na sua história, o FN celebrou um acordo eleitoral com o líder do partido soberanista Debout La France liderado por Nicolas Dupont-Aignan, que atingiu 4,7% dos votos na primeira volta27. Este terá sido talvez o ponto mais alto da campanha eleitoral de Marine antes da segunda volta, o qual foi obliterado pela prestação desastrosa de Marine no debate televisivo com Macron. Neste evento, Marine apresentou-se com uma postura agressiva, tendo sido criticada por falta de preparação em termos técnicos e pela ausência de credibilidade política perante Macron. O projeto do FN em promover a saída da França da UE também não foi bem recebido pelos eleitores franceses, sobretudo devido às dificuldades verificadas no processo de saída do Reino Unido28.

Em termos eleitorais, Macron consagrou-se o vencedor da segunda volta com 66,1% dos votos, enquanto Marine obteve 33,9% dos votos, ou seja, o dobro dos votos obtidos pelo pai em 2002. Desta forma, a candidata do FN apenas conseguiu aumentar a sua fasquia eleitoral em 16% em comparação ao crescimento de 42% observado no apoio eleitoral a Macron. As transferências de votos entre as rondas eleitorais tiveram pouco benefício para Marine, uma vez que apenas atraiu um décimo dos eleitores de centro-esquerda e um quarto dos eleitores de centro-direita. Apesar do acordo eleitoral com Dupont-Aignan, a líder do FN apenas conseguiu captar um quarto dos eleitores deste partido na primeira volta29. Desta vez, a barreira republicana perante o extremismo preconizado por Marine favoreceu o seu opositor, enquanto a sua fraca prestação no debate televisivo gerou uma vaga de críticas internas.

Após a derrota eleitoral, emergiram intensas divergências no seio da liderança do FN, sobretudo sobre a posição do partido relativamente ao euro. Estes conflitos culminaram no afastamento inicial de Phillipot do partido e posteriormente de Marion Márechal, uma vez que a sua proposta de união dos partidos de direita não era bem acolhida por Marine. Neste contexto de intensos conflitos internos, o FN revelou incapacidade para capitalizar o sucesso eleitoral de Marine nas eleições legislativas decorridas dois meses depois. Portanto, a formação de extrema-direita apenas obteve 13,2% dos votos expressos na primeira volta. Contrariamente ao objetivo do FN de formar uma bancada parlamentar, apenas oito candidatos foram eleitos para a Assembleia Nacional na segunda volta das eleições legislativas de 201730.

A Refundação do FN em RN

O fracasso eleitoral em 2017 foi associado por Marine com a necessidade de intensificar o seu projeto de suavizar a diabolização da FN entre o eleitorado francês. Nesse sentido, Marine propôs a refundação do partido em torno da denominação «Rassemblement National» (União Nacional), suscitando uma vaga de críticas internas, sobretudo do seu pai. Segundo Marine, a denominação FN estava demasiado estigmatizada entre o eleitorado e a mudança de marca seria indispensável para se alcançar futuras vitórias políticas. No dia 1 de junho de 2018, a mudança de nome foi consagrada no congresso do partido após um plebiscito interno. Esta mudança de nome foi também acompanhada pela alteração do posicionamento do partido perante o processo de integração europeia, uma vez que a saída do euro foi abandonada em favor da construção de uma «Europa das Nações». Na realidade, as complicações observadas ao longo do processo de retirada do Reino Unido da UE foram um balde de água fria para os projetos soberanistas dos partidos eurocéticos, tais como o RN.

A campanha eleitoral para as eleições para o Parlamento Europeu em 2019 ficou marcada pela elevada tensão social observada na França em resultado da oposição popular às reformas fiscais e estruturais propostas pelo Presidente Macron. No topo desta vaga de contestação política encontrava-se um novo movimento social denominado «Coletes Amarelos», que representava a ansiedade social e económica dos meios populares franceses, tendo contribuído para a forte polarização política antes deste plebiscito. Este contexto potenciou o regresso político de Marine, processo esse que teve o auxílio do Presidente Macron, que insistia em indicar o RN como o principal partido da oposição a nível nacional e a projetar as eleições como um confronto entre os globalistas e os nativistas. Nas urnas, o RN obteve 23,3% dos votos e foi o partido mais votado a nível nacional, tendo alcançado as suas melhores votações nas cidades provinciais e nos meios rurais31.

Porém, o apoio eleitoral diminuiu 1,7% em comparação com o resultado obtido em 2015, suscitando algumas dúvidas sobre o impacto eleitoral do processo de renomeação do partido. As eleições regionais de 2021 tiveram lugar no contexto da epidemia de covid-19, facto que obrigou ao adiamento do escrutínio. Com uma taxa de abstenção na ordem dos 66,7%, o RN obteve 20,6% do total de votos na primeira volta, valores que significam uma redução de 11% relativamente ao apoio eleitoral observado em 2015. O único candidato do RN, Thierry Mariani, presente na segunda volta destas eleições na região de Provence, Alpes e Côte d’Azur, foi facilmente derrotado com 42,7% dos votos contra os 57,3% acumulados pelo candidato de centro-direita. As eleições regionais marcavam assim uma derrota importante para o RN, uma vez que o partido foi incapaz de mobilizar o seu eleitorado com a mesma intensidade que em 2015, o que suscitou dúvidas sobre os efeitos da refundação do partido de extrema-direita.

As Eleições Presidenciais e Legislativas de 2022

No plano político, a pré-campanha eleitoral de 2022 ficou marcada pelo surgimento de um novo partido competidor no polo da extrema-direita - Reconquête -, liderado pelo antigo repórter Eric Zemmour. O principal objetivo desta nova formação consiste em suplantar eleitoralmente o RN. Contrariamente à republicanização promovida por Marine, Zemmour assumia uma posição claramente islamofóbica e preconizava uma teoria da conspiração denominada «grande substituição». Esta teoria indica a existência de um plano secreto das elites europeias para substituir as populações brancas da Europa por indivíduos provenientes do continente asiático e africano através da intensificação das migrações internacionais. Em paralelo, os muçulmanos são vistos como sendo incapazes de assimilar os valores republicanos, recusando-se distinguir islão de islamismo. Por este motivo, Zemmour defendia o retorno de todos os imigrantes aos seus países de origem. Numa fase inicial, a capacidade de Zemmour em atrair quadros do RN para o seu campo teve o efeito de destabilizar a estratégia de Marine, tendo a sua própria sobrinha, Marion Márechal, aderido à nova formação de extrema-direita.

Num contexto de aumento do custo de vida devido à guerra na Ucrânia, a candidata do RN focou a sua campanha em questões sociais e do poder de compra, relegando questões como a imigração, o islão ou a segurança para segundo plano. Em contrapartida, a estratégia de Zemmour nunca se afastou muito dos temas clássicos da extrema-direita, como a identidade nacional, a imigração e a segurança. A médio prazo, o radicalismo do candidato do Reconquête promoveu a suavização da imagem de Marine entre a opinião pública francesa. As sondagens demonstravam que a imagem de Marine nunca tinha sido tão positiva entre a opinião pública francesa, a qual beneficiava ainda da elevada proximidade ideológica entre os eleitores de centro-direita e extrema-direita32. Em fevereiro de 2022, 53% dos inquiridos indicavam que Marine partilhava dos valores democráticos, enquanto apenas 36% desses indivíduos reconheciam essa qualidade a Zemmour33. A nível de imagem política, Marine procurou abandonar a postura de candidata antissistema em favor da união dos cidadãos franceses perante a forte impopularidade do Presidente Macron.

Apesar da suavização da imagem e do discurso de Marine durante a campanha eleitoral de 2022, o programa político do RN continuava a ser classificado como sendo de extrema-direita. O primeiro ato do seu mandato consistiu na realização de um referendo sobre a identidade nacional e a imigração para poder limitar o direito à reunificação e de asilo, bem como impedir o poder de veto do Conselho de Estado sobre leis votadas por referendo. Numa referência indireta à teoria da substituição, o RN propunha inscrever na Constituição a proibição de qualquer política que possibilitasse a fixação de um número de estrangeiros em território nacional com vista a modificar a composição e a identidade do povo francês. O programa de preferência nacional com vista ao estabelecimento de uma política chauvinista de acesso aos direitos sociais continuava a ser uma das prioridades do RN, embora esta proposta violasse a Constituição, bem como os compromissos a nível europeu. A saída da UE foi abandonada, mas diversas propostas - tais como a imposição unilateral de controlos fronteiriços - suscitavam muitas dúvidas sobre o papel da França no projeto europeu.

Nas urnas, Marine recolheu 23,15% dos votos válidos na primeira volta, representando o apoio direto de 8 133 828 cidadãos franceses contra os 27,85% dos votos recolhidos por Macron. Por sua vez, Zemmour apenas obteve 7,07% dos votos, o que representava uma derrota pesada para o líder do Reconquête e a supremacia do RN, o polo de extrema-direita. No entanto, a soma dos votos de Marine e Zemmour indicava que a família partidária da extrema-direita fora a mais votada nas eleições presidenciais de 2022 com um terço do total dos votos, um recorde nunca antes visto. A campanha de Marine para a segunda ronda eleitoral ficou marcada pela falta de novas propostas, tendo acumulado reviravoltas sobre temas como o véu islâmico ou a energia eólica. No debate televisivo entre os dois candidatos mais votados, Marine adotou uma postura passiva que a impediu de explorar as controvérsias observadas durante o mandato presidencial de Macron. A avaliação da sua prestação foi uma vez mais negativa e acompanhada pelo crescimento da perceção de falta de credibilidade política entre o eleitorado francês, tal como em 2017.

Num contexto de elevada abstenção eleitoral (28,01% do eleitorado) na segunda ronda, Marine recolheu 41,45% dos votos enquanto Macron obteve a validação do seu segundo mandato presidencial com 58,55%. Vinte anos depois de o seu pai ter sido o segundo candidato mais votado, os 13 288 686 votos obtidos pela candidata do RN representam um pico histórico para a extrema-direita francesa. Porém, o apoio eleitoral de Marine na segunda ronda é apenas ligeiramente superior à soma dos votos dos candidatos de centro-direita e extrema-direita presentes na segunda volta. Estes dados sugerem que o processo de normalização do RN poderá estar mais consolidado no espectro de direita do que no centro ou na esquerda do eleitorado francês. A barreira republicana perante o extremismo foi enfraquecida na medida em que a diferença de votos entre Marine e Macron foi substancialmente reduzida em 2022 comparativamente a 2017, bem como pela elevada abstenção devido ao desinteresse motivado pelos dois candidatos.

Na campanha para as eleições legislativas de 2022, o RN adotou uma postura discreta tendo alcançado 18,86% dos votos, conseguindo um inédito terceiro lugar a nível nacional, enquanto o partido tradicional de centro-direita Les Républicains apenas obteve 10,42% dos votos. Enquanto o RN conseguiu expandir o apoio eleitoral em 5,5 pontos percentuais relativamente a 2017, o partido de extrema-direita liderado por Zemmour recolheu 4,24% dos votos. Desta forma, o RN afirmou-se como o principal espectro da direita do sistema partidário francês. Na segunda ronda eleitoral, o RN elegeu 89 deputados para a Assembleia Nacional e tornou-se o terceiro partido nacional com maior representação parlamentar. Segundo as sondagens disponíveis, este resultado histórico do RN deveu-se à erosão da barreira republicana e à falta de mobilização dos eleitores de centro-esquerda em favor dos candidatos centristas da coligação Ensemble!, apoiada diretamente pelo Presidente Macron.

Em virtude da forte impopularidade de Macron, os candidatos centristas em duelo com candidatos do RN apenas contaram com um terço dos votos dos candidatos de centro-esquerda desses círculos eleitorais. Em contrapartida, 58% desses eleitores decidiram abster-se, indicando o enfraquecimento substancial da barreira republicana. Uma tendência semelhante foi observada nos círculos eleitorais onde os candidatos do RN defrontaram um candidato de esquerda do Parti Insoubmisse liderado por Mélenchon, uma vez que parte do eleitorado centrista recusou-se a apoiar candidatos deste partido na segunda volta34. Portanto, a impopularidade do Presidente Macron e a diabolização da coligação de esquerda Nova União Ecologista e Popular entre o eleitorado centrista beneficiaram significativamente a reestruturação do sistema partidário francês a favor do RN. Marine poderia assim consolidar a sua liderança neste partido e assumir a liderança da sua bancada parlamentar para projetar uma potencial recandidatura em 2027.

Conclusões

Esta investigação procurou sistematizar a evolução do principal partido de extrema-direita - o FN - o qual foi mais tarde, em 2017, renomeado RN. Desde a sua fundação, a ideologia e o programa político do FN têm evoluído significativamente em vez de ter um carácter estático, tendo o projeto neoliberal no plano económico sido progressivamente suplantado pelo protecionismo social. Em contraponto, a xenofobia cultural continua a ser um traço ideológico do RN. Em termos eleitorais, o FN sob a liderança de Le Pen atingiu o seu pico eleitoral em 2002 quando obteve a passagem à segunda volta das eleições presidenciais com 4,8 milhões de votos. Marine alcançou níveis de mobilização eleitoral durante a década de 2010 e início de 2020 bastante superiores aos registos eleitorais obtidos pelo seu pai Le Pen. Em 2012, Marine conseguiu eliminar a hostilidade do eleitorado feminino perante o FN e reverteu o fracasso eleitoral observado nas eleições presidenciais de 2007. Cinco anos depois, a candidata do FN apurou-se para a segunda ronda das eleições presidenciais com 21,3% dos votos.

Face ao risco de divisão do seu eleitorado em resultado da candidatura de Zemmour, Marine conseguiu ainda assim aumentar o seu eleitorado (+1,85%) na primeira volta das eleições presidenciais de 2022 em comparação com 2017. Em paralelo, a extrema-direita francesa nunca teve uma expressão eleitoral tão elevada considerando a votação de Marine e Zemmour nessa primeira volta. Nas eleições legislativas de 2022, o RN tornou-se o terceiro maior partido a nível nacional, resultado que confirma o sucesso do projeto político de Marine. Os resultados de 2022 sugerem que a suavização da imagem de Marine promovida pela candidatura de Zemmour, a forte impopularidade do Presidente Macron entre eleitores de centro-esquerda e a desafeição do eleitorado centrista perante os candidatos de esquerda constituíram fatores determinantes para ajudar a compreender o resultado histórico do RN. Dado o elevado sucesso observado em 2022, a quarta recandidatura de Marine nas eleições presidenciais de 2027 tornou-se uma forte probabilidade, contrariamente às dúvidas observadas anteriormente.

João Carvalho Investigador principal convidado no CIES-ISCTE. Doutorado em Ciência Política pela Universidade de Sheffield (Reino Unido). Autor e coautor de diversos artigos publicados em revistas internacionais, tais como: Journal of Common Market Studies, Party Politics, Government and Opposition, Parliamentary Affairs, Citizenship Studies, Comparative European Politics. Tem como interesses de investigação a política das migrações internacionais e os partidos de extrema-direita.

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Notas

1 CARVALHO, João - Impact of Extreme Right Parties on Immigration Policy. Comparing Britain, France and Italy. Abingdon: Routledge, 2016.

2ELGIE, Robert - «France: stacking the deck». In GALLAGHER, M.; MITCHELL, P., ed. - The Politics of Electoral Systems. Oxford: Oxford University Press, 2005, pp. 119-136.

3Ibidem

4CARVALHO, João - Impact of Extreme Right Parties on Immigration Policy….

5SHIELDS, James - The Extreme Right in France: From Pétain to Le Pen. Oxon: Routledge, 2007.

6CARVALHO, João - Impact of Extreme Right Parties on Immigration Policy….

7Ibidem

8Ibidem

9Do partido denominado Union por Majorité Presidentielle.

10CARVALHO, João - «Mainstream party strategies towards extreme right parties: the French 2007 and 2012 presidential elections». In Government and Opposition. Vol. 54, N.º 2, 2019, pp. 365-386.

11CARVALHO, João - Impact of Extreme Right Parties on Immigration Policy….

12CARVALHO, João - «Mainstream party strategies towards extreme right parties…».

13CARVALHO, João - Impact of Extreme Right Parties on Immigration Policy…, p. 123.

14SHIELDS, James - «Electoral performance and policy choices in the Front National». In Parliamentary Affairs. Vol. 71, N.º 3, 2017, pp. 538-557.

15CARVALHO, João - «Mainstream party strategies towards extreme right parties…».

16Ibidem

17Ibidem

18PERRINEAU, Pascal - Le vote disruptif: Les élections présidentielle et législatives de 2017. Paris: SciencesPo, 2017.

19SHIELDS, James - «Electoral performance and policy choices in the Front National».

20PERRINEAU, Pascal - Le vote disruptif….

21144 Engagements Présidentiels, Au Nom du Peuple, Marine Présidente. 2017.

22SHIELDS, James - «Electoral performance and policy choices in the Front National».

23Ibidem

24Ibidem

25Ibidem

26DUROVIC, Anja - «The French elections of 2017: shaking the disease?». In West European Politics. Vol. 42, N.º 7, 2019, pp. 1487-1503.

27PERRINEAU, Pascal - Le vote disruptif….

28DUROVIC, Anja - «The French elections of 2017…».

29SHIELDS, James - «Electoral performance and policy choices in the Front National».

30Ibidem

31GOODLIFFE, Gabriel - «Macron versus the RN? The battled lines of French politics following the 2019 European Elections». In Journal of Common Market Studies. Vol. 58, 2020, pp. 57-68.

32BRÉHIER, Émeric; BRISTIELLE, Antoine; FINCHELSTEIN, Gilles; JARDIN, Antoine; LLORCA, Raphaël; PELTIER, Jérémie; ROBERT, Max-Valentin - «Le Dossier Le Pen. Idéologie, image, électorat». Paris: Foundation Jean Jaurès, 2021. Disponível em: https://www.jean-jaures.org/publication/le-dossier-le-pen-ideologie-image-electorat/?post_id=32662&export_pdf=1

33IFOP - «Les traits d’image de M. Le Pen et E. Zemmour». Fevereiro de 2022.

34JOHANNÈS, Franck - «Jérôme Fourquet: “Le front républicain s’était un peu effiloché pendant a présidentielle. Il a aujourd’hui explosé”». In Le Monde. 21 de junho de 2022.

Recebido: 05 de Maio de 2022; Aceito: 03 de Junho de 2022

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