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Relações Internacionais (R:I)

versão impressa ISSN 1645-9199

Relações Internacionais  no.81 Lisboa mar. 2024  Epub 31-Mar-2024

https://doi.org/10.23906/ri2024.81a05 

O 25 de Abril visto de fora

Lições a ter em conta: A revolução portuguesa e os socialistas espanhóis nos meados da década de 1970

Lessons to be learned: the Portuguese revolution and the Spanish socialists in the mid-1970s

Alan Granadino1 

1Investigador de María Zambrano na Faculdade de História Moderna e Contemporânea da Universidade Complutense de Madrid. Doutorado em História e Civilização pelo Instituto Universitário Europeu. Os seus principais interesses de investigação incluem a história contemporânea de Espanha e Portugal, a história da social-democracia europeia, a história da democracia cristã europeia, o modelo nórdico e a história da integração europeia. Edif. B. Calle del Profesor Aranguren s/n, 28040 Madrid, Espanha | agranadi@ucm.es


Resumo

Este artigo explora como o Partido Socialista Operário Espanhol interpretou e reagiu à revolução portuguesa. Com base no jornal do partido,El Socialista, e complementado com fontes primárias de arquivos espanhóis, britânicos e franceses, o artigo mostra a relevância da experiência portuguesa na formação da perspetiva do partido socialista espanhol sobre a transição da ditadura para o socialismo democrático. Além disso, destaca o impacto da revolução nas relações internacionais do partido. A principal hipótese de trabalho é que o desenvolvimento do Partido Socialista Operário Espanhol, imediatamente antes e durante a transição para a democracia em Espanha, não pode ser plenamente compreendido sem prestar atenção à revolução portuguesa.

Palavras-chave: Socialista Operário Espanhol; Revolução dos Cravos; internacionalismo socialista; relações socialistas e comunistas

Abstract

This article examines how the Spanish Socialist Party interpreted and responded to the Portuguese Revolution. Based on the party’s newspaper,El Socialista, and supplemented by primary sources from Spanish, British and French archives, the article shows the relevance of the Portuguese experience in shaping the Spanish Socialist Party’s perspective on the transition from dictatorship to democratic socialism. It also highlights the impact of the revolution on the party’s international relations. The main working hypothesis is that the development of the Spanish socialist party, immediately before and during the Spanish transition to democracy, cannot be fully understood without paying attention to the Portuguese revolution.

Keywords: Socialist Party; Carnation Revolution; socialist internationalism; socialist and communist relations

Este artigo investiga a forma como o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) interpretou e reagiu à revolução portuguesa. Baseado no El Socialista, o jornal do partido, e complementado com fontes primárias em arquivos de Espanha, da Grã-Bretanha e de França1, o artigo demonstrará a relevância da experiência portuguesa na definição da perspetiva do PSOE sobre a transição da ditadura para o socialismo democrático. O artigo considerará ainda o impacto da revolução nas relações internacionais do partido. A principal hipótese é que o desenvolvimento do PSOE imediatamente antes e durante a transição espanhola para a democracia não pode ser inteiramente compreendido sem prestar atenção à revolução portuguesa. Esta revolução constituiu um importante exemplo para os socialistas espanhóis, tendo influenciado a sua estratégia antes e durante a transição para a democracia em Espanha em pelo menos dois sentidos. Em primeiro lugar, mostrou-lhes como foi difícil o entendimento entre socialistas e comunistas em Portugal. A experiência portuguesa reforçou a cautela do PSOE em relação a uma possível coligação com o Partido Comunista Espanhol (PCE). Em segundo lugar, a revolução teve um impacto indireto e crucial no PSOE. Desempenhou um papel fundamental no fortalecimento da importância do partido entre os seus parceiros internacionais, levando a um apoio substancial por parte da social-democracia europeia a partir da primavera de 1975. Este apoio seria decisivo para posicionar o PSOE enquanto principal partido de esquerda em Espanha quando a democracia chegou, e influenciou decisivamente a mudança da sua liderança para uma posição ideológica mais moderada.

Desde a década de 1990, a historiografia reconhece o impacto que a revolução portuguesa teve em Espanha e na transição espanhola para a democracia2. A grande maioria das contribuições têm-se debruçado sobre as reações aos eventos em Portugal por parte de diferentes grupos espanhóis, nomeadamente os militares3, os partidos de extrema-esquerda4 e o PSOE5. Outros trabalhos olham para o impacto que a revolução teve na forma como importantes atores internacionais, nomeadamente os Estados Unidos, abordaram a mudança de regime em Espanha6. Este artigo combina as duas perspetivas, focando-se no partido socialista espanhol.

O trabalho da historiadora Raquel Varela sobre o impacto da Revolução dos Cravos no PSOE é o mais próximo do presente estudo. Este artigo baseia-se no trabalho pioneiro de Varela, embora proponha uma perspetiva diferente e chegue a conclusões mais abrangentes. O ponto de partida é distinto. O artigo de Varela considera que o PSOE de 1974 era um partido que

«pugnava pelo estabelecimento de um regime político [baseado em] liberdade sindical, política, de reunião e associação e uma economia capitalista. [Era] um modelo claramente europeu e ocidental, apadrinhado por Willy Brandt, François Mitterrand e Bruno Pittermann»7.

O presente artigo adota um ponto de partida que difere do acima descrito em dois pontos importantes. Em primeiro lugar, considera que em 1974 o PSOE não defendia uma economia capitalista. O objetivo do partido, como afirmado no seu congresso de Suresnes, era

«a conquista do poder político e económico pela classe trabalhadora, e a transformação radical da sociedade capitalista numa sociedade socialista. Insiste na cada vez mais urgente implantação em Espanha de um regime democrático como meio através do qual [podemos] alcançar estes objetivos»8.

Em segundo lugar, este artigo considera que naquela altura Willy Brandt e François Mitterrand, e os seus respetivos partidos - o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD, na sigla alemã), e o Partido Socialista Francês (PSF) -, não defendiam o mesmo modelo.

Enquanto o partido alemão defendia o que podemos chamar de uma linha social-democrata clássica, o partido francês promovia um tipo de socialismo democrático que visava romper com o capitalismo e estabelecer um socialismo democrático. Para atingir este objetivo, os franceses propunham uma união das forças de esquerda, principalmente entre socialistas e comunistas, e a implementação da autogestão dos trabalhadores. Estas duas linhas colidiram na Internacional Socialista (IS) entre 1972 e 19769, precisamente os anos em que ocorreram a revolução portuguesa e a transição espanhola para a democracia. Além disso, tanto os socialistas franceses como os sociais-democratas alemães tentaram difundir os seus respetivos modelos na Península Ibérica, através do Partido Socialista (PS) e do PSOE10.

Estes pontos de partida divergentes levam a que sejam usadas abordagens diferentes ao objeto de estudo (neste artigo, são tidas em conta as relações internacionais do PSOE) e a conclusões que convergem nalguns aspectos e divergem noutros. O artigo de Raquel Varela parece pressupor que antes da revolução o PSOE tinha abraçado uma agenda social-democrata, mas nas páginas doEl Socialistaeram mobilizados conceitos marxistas11. Por seu lado, este artigo defende que o PSOE não adotou uma agenda social-democrata até ao final da década de 1970. Argumenta que a revolução portuguesa foi, na verdade, um dos vários fatores que influenciaram a viragem ideológica do partido espanhol para uma direção mais moderada.

A receção e interpretação da Revolução dos Cravos por parte do PSOE

Quando a revolução portuguesa começou, Espanha vivia ainda sob a ditadura de Franco. Na altura, o general Franco tinha 81 anos e estava doente, e em Espanha assumia-se que a ditadura não poderia continuar inalterada depois da morte do ditador12. A oposição à ditadura em Espanha tinha semelhanças à portuguesa antes da queda do Estado Novo, mas havia diferenças significativas entre os dois países, principalmente a nível socioeconómico e militar, mas também no que dizia respeito à sua situação internacional.

Tanto em Espanha como em Portugal, os partidos comunistas [Partido Comunista Espanhol (PCE) em Espanha e Partido Comunista Português (PCP) em Portugal] eram as forças dominantes na oposição clandestina às ditaduras. Em ambos os países, os comunistas tinham uma organização mais avançada, tinham mais membros e estavam envolvidos na oposição de forma mais ativa do que os socialistas. No entanto, o PCE e o PCP divergiam nas suas linhas ideológicas. Na década de 1970, e ao contrário do PCP, o PCE adotou uma linha ideológica eurocomunista, enquanto aquele aderiu a uma linha ortodoxa, alinhada com as diretivas do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Ao mesmo tempo, os partidos socialistas nos dois países - o PS e o PSOE - caraterizavam-se pela sua modesta dimensão, pelo número de militantes limitado, e por um ativismo relativamente contido contra as respetivas ditaduras. No início da década de 1970, o PS e o PSOE passaram por um processo de renovação que os aproximou muito em termos ideológicos. A sua evolução ideológica foi influenciada de forma significativa pelas experiências da esquerda no Chile e em França, onde a colaboração entre socialistas e comunistas foi um aspecto importante. Enquanto o primeiro caso serviu de exemplo a evitar, o segundo apresentou um modelo a seguir. A união da esquerda em França, alcançada em 1972 com a assinatura de um programa comum por comunistas, socialistas e radicais de esquerda, demonstrou que, nas situações em que os socialistas eram menos influentes que os comunistas, os primeiros poderiam prosperar e crescer à custa dos segundos. Além disso, esta aliança de esquerda foi uma medida estratégica que visava realizar uma nova forma de socialismo - o socialismo democrático, uma síntese de socialismo e democracia - que tanto o PS como o PSOE apoiavam. A renovação do PSOE no início da década de 1970 originou uma divisão no partido. Em janeiro de 1974, a IS decidiu que a fação que havia liderado a renovação representaria o socialismo espanhol dentro da organização13, e a partir desse momento o PSOE desenvolveu-se à volta da fação ideologicamente mais próxima do PS. Foi este PSOE renovado, liderado por jovens militantes cheios de aspirações, que teve de interpretar a revolução num país vizinho que apresentava a oportunidade de estabelecer o tipo de socialismo democrático que o partido defendia para Espanha.

Assim, quando a ditadura portuguesa foi derrubada a 25 de abril de 1974, o PSOE saudou o acontecimento. A forma como o fez demonstra que este foi um evento muito emotivo e encorajador para os espanhóis, que sentiam que partilhavam um passado semelhante e um laço de irmandade com os portugueses. Pouco tempo depois do golpe do Movimento das Forças Armadas (MFA), o partido espanhol e o sindicato que lhe estava associado, a União Geral dos Trabalhadores (UGT), publicaram uma nota que expressava a sua «felicidade aos nossos irmãos de Portugal e à classe trabalhadora por terem começado uma etapa decisiva no seu caminho para a libertação»14. Também estenderam as suas saudações ao PS, e instaram os militares portugueses a abrir caminho para o povo. Os socialistas espanhóis consideravam que o restabelecimento da liberdade política e dos direitos humanos em Portugal era «inspirador» e um grande «encorajamento para o povo espanhol», e acreditavam que contribuiria para acelerar a decomposição do regime de Franco15.

Espanha e Portugal tinham muitas semelhanças (ambos os países tinham sofrido debaixo de ditaduras de direita, tendo sido ostracizados internacionalmente, ainda que em graus diferentes, e ambos se encontravam subdesenvolvidos economicamente em comparação com os seus vizinhos da Europa Ocidental), mas também diferenças. O PSOE estava ciente delas. A principal diferença nesta altura parecia ser o envolvimento de Portugal nas guerras coloniais e o efeito que isso tinha tido nas Forças Armadas. Se em Portugal os militares tinham sido os principais responsáveis pela queda da ditadura, em Espanha eram um dos principais apoiantes do regime (juntamente com a Igreja Católica e o Movimento Nacional), mas havia membros das Forças Armadas que estavam insatisfeitos com o conservadorismo dentro da instituição e com a falta de perspetivas profissionais. De facto, um grupo de militares espanhóis, inspirados pelo MFA português, criou no verão de 1974 a União Militar Democrática (UDM)16. Os espanhóis estavam céticos em relação à possibilidade de que os militares desempenhassem, na deposição da ditadura espanhola, o mesmo papel que haviam desempenhado em Portugal. Porém, consideravam interessante trabalhar para tornar os militares espanhóis (que, na sua ótica, não disputavam uma guerra colonial mas antes uma guerra contra o seu próprio povo) mais autocríticos e dispostos a renovarem-se17. No mínimo, isto poderia servir de encorajamento para os setores menos reacionários das Forças Armadas. Assim, ainda que o PSOE considerasse os militares responsáveis pela situação que se vivia em Espanha desde 1936, e os visse como um aparelho repressivo ao serviço do fascismo, enviou a seguinte mensagem: «[os militares] podem livrar-se [desta imagem] assim que quiserem, se de facto quiserem». Posicionando-se lado a lado com o povo, os militares espanhóis poderiam recuperar «a imagem de honra que se perdeu». O exemplo tinha sido dado: ao ajudarem o seu povo, os militares portugueses também se tinham salvado18.

A influência do marxismo no pensamento dos socialistas espanhóis pode ser verificada na forma como interpretaram os eventos em Portugal. Avisaram a esquerda portuguesa que depois do golpe a burguesia não tinha desaparecido e que, embora os interesses desta classe no contexto de uma democracia pudessem ocasionalmente coincidir com os da classe trabalhadora, em última instância os objetivos das duas classes eram opostos19. No entanto, as páginas doEl Socialistamostram que também consideravam que Portugal, devido ao seu subdesenvolvimento económico, não estava preparado para experiências revolucionárias20.

Em outubro de 1974, o PSOE realizou o seu último congresso no exílio em Suresnes (França). Neste congresso, o partido escolheu um novo comité executivo, liderado pelo jovem Felipe González, atualizou a sua linha ideológica e abriu a porta a pactos com todas as forças da esquerda, incluindo os comunistas. No contexto da revolução portuguesa e na sequência da deposição da ditadura dos coronéis na Grécia, o congresso do PSOE atraiu uma grande atenção internacional. Entre os observadores encontravam-se representantes do PS, que foram recebidos com «intensa felicidade e com grande entusiasmo» pelos delegados ao congresso21. O PSOE esperava que o exemplo português tornasse mais difícil a sobrevivência da ditadura em Espanha depois da morte de Franco, e os acontecimentos em Portugal continuaram a ser comentados num tom muito emotivo.

Nos primeiros meses da revolução, regista-se no discurso do PSOE uma notável abundância de adjetivos com carga emotiva, refletindo alegria, contentamento e ocasional preocupação. Por exemplo, ao apresentarem a política internacional do partido durante o congresso de Suresnes, membros do PSOE expressaram o seu «encorajamento mais fervoroso ao povo português, sentindo o triunfo das forças antifascistas [em Portugal] como nosso [triunfo]»22. Se compararmos a linguagem usada em relação a Portugal e aos portugueses com a que foi usada em relação à Grécia e aos gregos, torna-se evidente que os socialistas espanhóis se sentiam mais próximos e se identificavam acima de tudo com os seus vizinhos ibéricos. Para ser claro, também saudaram o fim da ditadura grega, mas as referências a este evento foram escassas e a linguagem mais sóbria: «[O PSOE] também saúda o povo grego pela deposição da estrutura militar que sufocava as suas liberdades mais básicas»23.

Porém, não irei ao ponto de sugerir que o PSOE considerava Portugal «não como um país vizinho, mas como parte de um corpo unificado que seria a Península Ibérica»24.

Havia, sem dúvida, uma afinidade especial em relação aos portugueses e ao que tinha acontecido em Portugal, mas as analogias que o PSOE estabeleceu entre as situações dos dois países, e as lições que procurou retirar, estavam relacionadas com o seu contexto específico. Dependendo dos interesses e propósitos do partido num contexto ibérico em transformação rápida, o PSOE identificava-se ou distanciava-se dos eventos em Portugal.

Depois do congresso de Suresnes, Felipe González deu uma entrevista ao jornalEl Correo de Andalucía25. As perguntas que o jornalista lhe colocou refletiam o interesse despertado em Espanha pela renovação ideológica do PSOE, mas também o facto de a posição do partido necessitar de mais clarificações. Estas clarificações tiveram de ser feitas relacionando o partido com os seus parceiros internacionais e com a sua própria história26, uma vez que estes eram os exemplos existentes que possibilitavam imaginar que tipo de partido era este PSOE renovado. Perguntaram a González sobre as suas ligações aos socialistas franceses, e «[e]ntre Soares e Willy Brandt, qual prefere?», ao que González respondeu: «o socialismo em Espanha não é identificável com o socialismo na Alemanha, e não sabemos o que vai acontecer com o socialismo português»27. Isto mostra que, na altura, o tipo de socialismo que o PS propunha para Portugal era visto como uma opção claramente diferente da social-democrata. Restava saber o que acabaria por acontecer no país ibérico, já que os objetivos do PSOE eram muito semelhantes aos do PS.

Em dezembro de 1974, a relação entre socialistas espanhóis e portugueses passou por alguns dias de tensão durante e depois do congresso do PS realizado em Lisboa, um evento de grande importância internacional. O congresso atraiu representantes de quase todos os principais partidos socialistas europeus. Os líderes do PSOE estiveram presentes, mas também o líder de um partido socialista espanhol rival, Enrique Tierno Galván. O congresso realizou-se num contexto de radicalização política crescente em Portugal, à medida que se tornavam mais intensos os desentendimentos entre socialistas e comunistas acerca do curso que a revolução deveria tomar. Esta situação ajuda a entender o facto de o PS ter convidado para o congresso vários partidos comunistas, incluindo o espanhol, o italiano, o romeno e o jugoslavo. Além disso, Santiago Carrillo, o líder do PCE, recebeu um convite para discursar. Esta decisão de Soares foi provavelmente uma resposta estratégica destinada a apaziguar críticas internas ao seu partido, que defendiam que Soares era anticomunista devido à sua relutância em formar uma aliança com o PCP como meio de acelerar o progresso em direção ao socialismo. Poderia também ser interpretada como uma mensagem direcionada ao PCP e ao seu líder, Álvaro Cunhal, visando demonstrar que o PS não se opunha ao comunismo, mas sim à estratégia de vanguarda do PCP. Qualquer que seja a explicação, o PSOE considerou este convite uma humilhação. De tal forma que Felipe González e Alfonso Guerra envolveram-se numa discussão com Mário Soares e chegaram a ameaçar abandonar o congresso. Além disso, alguns dias depois, o PSOE enviou uma reclamação por carta ao PS, alegando que as ações do partido tinham afetado negativamente a sua imagem num evento de grande relevância pública28.

Pouco tempo depois do congresso, o jornal do PSOE publicou um artigo no qual é percetível que a experiência recente tinha influenciado a forma como os espanhóis interpretaram a revolução. Agora que o partido tinha sido diretamente afetado pela luta política em Portugal, efetuou uma interpretação mais crítica do que estava a acontecer neste país, lamentando o egocentrismo excessivo da política portuguesa. Os espanhóis começaram a mostrar preocupação com o que estava a acontecer no país vizinho por causa da crise económica e social que este atravessava, mas também porque a miopia dos partidos políticos portugueses não ajudava a encontrar soluções. O PSOE defendia que o personalismo que existia no PS (o artigo não mencionava nenhum nome em específico, mas provavelmente referir-se-ia a Mário Soares e Manuel Serra) e no PCP (Álvaro Cunhal era mencionado especificamente) tornava a situação em Portugal particularmente difícil porque os líderes da esquerda estavam mais preocupados em assegurar vitórias de curto prazo do que numa estratégia de longo prazo. O exemplo utilizado para demonstrar isto era o convite do PS ao PCE, que fora usado como uma tática contra o PCP. «Desta atitude deriva [uma] consequência que prejudica não só os socialistas portugueses, mas também os socialistas espanhóis, negligenciando uma regra básica do internacionalismo [socialista]»29.

O PSOE também mostrou preocupação com a cisão do PS depois do congresso. O Movimento Socialista Popular, a fação mais esquerdista do PS que era liderada por Manuel Serra, abandonou o partido em janeiro de 1975 e criou a Frente Socialista Popular. Os espanhóis não se atreveram a comentar sobre as razões desta rutura, mas consideraram que a cisão ocorria num momento crucial para Portugal, alguns meses antes das eleições democráticas. A cisão dos socialistas somava-se à divisão da esquerda entre socialistas e comunistas, que poderia prejudicar uma alternativa democrática, especialmente, tendo em conta que os partidos portugueses que se autodenominavam centristas defendiam os interesses da direita30.

A interpretação que o PSOE tinha da revolução portuguesa era coerente com a linha teórica seguida pelo partido na altura. Os líderes do PSOE acreditavam, pelo menos em termos teóricos, que a união da esquerda era crucial para o avanço em direção à democracia, em primeiro lugar, e mais tarde em direção ao socialismo democrático. O PSOE tinha ficado bem impressionado com a união da esquerda francesa, alcançada em 1972, mas a revolução portuguesa ensinava ao PSOE que este tipo de unidade era mais problemático e difícil de alcançar quando se tratava de avançar em direção ao socialismo.

Não encontrei análises abrangentes da revolução portuguesa no arquivo histórico do PSOE, mas o partido continuou a reagir e a analisar os desenvolvimentos políticos em Portugal noEl Socialista. A discussão ocorreu em janeiro de 1975 e debruçou-se sobre a questão da trajetória do movimento sindical, com o PCP a defender a unidade da classe trabalhadora numa central sindical de filiação obrigatória, e o PS a defender a liberdade dos trabalhadores de aderir a um sindicato. O PSOE publicou um artigo a analisar este debate. Os espanhóis consideravam que o debate português não estava muito bem fundamentado. Em primeiro lugar, os comunistas tinham entrado em contradição ao tentarem impor a unidade sindical através da lei, com base no argumento de que esta era a vontade da classe trabalhadora. Ora, se isto era verdade, então não deveria ser necessário impor a unidade através da lei. Por outro lado, o PSOE não entendia a posição dos socialistas portugueses. O que os espanhóis não percebiam era se a defesa do pluralismo sindical por parte do PS se baseava ou não na sua convicção de que esta era a melhor forma de defender os interesses dos trabalhadores. Estes debates, e a experiência que os líderes do PSOE tinham tido em Lisboa em dezembro de 1974, levou a que suspeitassem de que havia «razões ocultas» por detrás dos comportamentos do PS e do PCP que eles não tinham entendido na totalidade31.

A 11 de março de 1975, forças alinhadas à direita, lideradas pelo ex-Presidente Spínola, tentaram um golpe de Estado reacionário. A tentativa falhou, e os elementos mais à esquerda do MFA, apoiados pelo PCP, usaram este evento como argumento para reforçar as suas posições no aparelho de Estado. Criaram o Conselho da Revolução (CR), que se tornou a autoridade máxima do Estado. Passado pouco tempo, o CR aprovou um programa de nacionalizações. Um mês depois, o MFA, uma vez mais com o respaldo do PCP, serviu-se da sua posição reforçada para condicionar a participação dos partidos políticos em eleições à assinatura de um pacto que limitava as competências e a autonomia dos futuros governos. O PS assinou o pacto.

O PSOE interpretou a tentativa de golpe como prova das verdadeiras intenções da direita portuguesa, que consistiam no regresso a uma situação semelhante à do período antes do 25 de Abril. Contra todas as interpretações que circulavam na altura sobre quem era o verdadeiro responsável pelo golpe e a quem beneficiava, o PSOE considerava que «existe uma única interpretação possível […], trata-se de um movimento contrarrevolucionário da direita que, tal como no Chile, teria [liquidado] as liberdades portuguesas emergentes»32. Uma vez que a esquerda estava desunida e a direita conspirava, o PSOE esperava que as eleições democráticas que se aproximavam clarificassem o equilíbrio de poder político em Portugal.

Nesta altura, os espanhóis já não viam a experiência portuguesa como um modelo para Espanha. Reconheciam que a revolução era muito importante para Espanha e tentaram retirar as suas lições. Mas estavam preocupados com uma interpretação que consideravam bastante difundida na Europa, e em geral entre os principais líderes políticos do Ocidente, segundo a qual uma vez que Espanha e Portugal eram países semelhantes, com trajetórias históricas parecidas, a transição espanhola para a democracia seguiria o modelo português. Esta crença do PSOE não era totalmente verdadeira. Por exemplo, quando os líderes dos países da Europa Ocidental se encontraram em Rambouillet em novembro de 1975, iniciando o que mais tarde se tornaria o fórum G-7/G-8, demonstraram consciência das diferenças entre Espanha e Portugal33. Apesar disto, Henry Kissinger, o secretário de Estado norte-americano, expressou publicamente a sua preocupação em relação a Portugal, e começou a considerar a possibilidade de uma intervenção no país caso os comunistas conseguissem alcançar um controlo total34. Isto provavelmente preocupou o PSOE, e levou este partido a procurar um distanciamento entre Espanha e o país vizinho.

Apesar das grandes semelhanças entre os dois países, os socialistas espanhóis consideravam que as diferenças eram ainda maiores. Defendiam que o maior desenvolvimento industrial de Espanha, o nível mais elevado de contestação política e sindical ao regime e a diferente composição dos grupos sociais em Espanha e em Portugal faziam com que qualquer analogia entre os dois países fosse incorreta. As lições de Portugal teriam influência em Espanha, mas naquele momento não era possível saber como seria a transição naquele país, e o PSOE não queria que os eventos em Portugal, cada vez mais tumultuosos, determinassem as atitudes externas em relação a Espanha35.

Eleições democráticas, o verão quente e o fim da Revolução

Depois das eleições para a Assembleia Constituinte em abril de 1975, nas quais o PS foi o partido mais votado com 37,9% dos votos [o Partido Popular Democrático (PPD) teve 26,4% e o PCP 12,5%), o PSOE considerou que os resultados deveriam dar ao PS mais poder do que inicialmente se pensava. Os espanhóis pareciam desconsiderar o pacto assinado entre o MFA e os partidos políticos, defendendo que:

«Agora que a vontade do povo é clara, o MFA deve abandonar […] o poder e dá-lo aos civis. Agora, os partidos [políticos] […] devem aceitar o resultado. Agora, o governo deve ser reestruturado de acordo com os votos obtidos por cada partido. Agora, o socialismo começa a ser construído em Portugal»36.

Esta interpretação refletia as expetativas que o PSOE tinha em relação a Espanha. No mesmo artigo doEl Socialista, era feita a pergunta: «e Espanha? Qual pode ser a influência do sucesso eleitoral [dos socialistas] em Portugal?»37. A resposta era que Portugal provara que qualquer proposta que visasse evitar ou adiar eleições democráticas, com base no argumento de que o povo não estava preparado para elas, estava errada. Além disso, o PSOE afirmava que os espanhóis iriam aprender com Portugal que o único futuro viável era o socialismo38.

Durante a primavera e o verão de 1975, o PSOE e o PS reforçaram as suas relações bilaterais. De 22 a 29 de março de 1975, um grupo numeroso de socialistas espanhóis, entre os quais se encontravam membros do PSOE e da UGT, visitaram diferentes cidades em Portugal, onde «estabeleceram contatos» com os seus congéneres portugueses que possibilitariam «encontros futuros»39.

A partir de maio, as lideranças dos dois partidos estiveram envolvidas na criação da marca «Socialismo da Europa do Sul», com o patrocínio do PSF, e começaram a encontrar-se com maior frequência40. Reuniram-se a 17 e 18 de junho na sede do PS, onde trocaram impressões sobre o futuro do socialismo na Europa e decidiram reforçar as suas relações bilaterais, alargando o âmbito das atividades de solidariedade mútua. Além disso, apoiaram-se publicamente41. Em julho, representantes do PSOE visitaram Lisboa uma vez mais para participar numa conferência internacional sobre a «construção do socialismo» organizada pela Associação António Sérgio, ainda que Felipe González não pudesse estar presente porque as autoridades espanholas tinham confiscado o seu passaporte42. A correspondência entre os dois comités executivos também se intensificou, de acordo com documentação do arquivo histórico do PSOE na Fundação Pablo Iglesias43.

A intensificação das relações bilaterais ocorreu durante o período tumultuoso conhecido como «Verão Quente», que deixou Portugal à beira da guerra civil. A situação em Portugal deteriorou-se nos meses de julho e agosto de 1975. Depois das eleições de abril, socialistas e comunistas tiveram confrontos físicos no 1.º de Maio. Os líderes do PCP e do CR fizeram declarações públicas que minimizavam a importância dos resultados eleitorais, com base no pacto assinado entre os partidos e o MFA. Isto levou a que o PS, que considerava que o resultado eleitoral lhe dava legitimidade para assumir um papel preponderante no governo e no processo revolucionário, organizasse grandes manifestações em Lisboa e no Porto. Mais tarde, a ocupação o jornal socialistaRepública, e a falta de soluções satisfatórias a este problema por parte do CR, fez com que os socialistas suspendessem a sua presença no Conselho de Ministros, e acabassem por sair do governo. Quatro dias depois, os ministros do PPD fizeram o mesmo. Além disso, as contradições no seio do MFA foram expostas de forma evidente entre junho e julho. Ao longo destes meses, o MFA aprovou vários documentos que previam formas diferentes, e até contraditórias, de implementar o socialismo em Portugal. Deve referir-se ainda que a situação ficou ainda mais tensa devido aos ataques a algumas instalações do PCP.

O PSOE viu estes eventos com preocupação. As páginas doEl Socialistaneste período sugerem que a revolução portuguesa ensinou duas lições importantes aos socialistas espanhóis. A polarização favorecera uma dinâmica de Guerra Fria em Portugal, evidente no «apoio apaixonado» que a URSS dava ao governo pró-comunista de Vasco Gonçalves. Esta situação era lamentável, mas um aviso muito importante para Espanha. Ainda que adétentea nível internacional tivesse aberto novas possibilidades para experiências de esquerda na Europa Ocidental, a Guerra Fria não desaparecera. Para evitar uma intervenção internacional e uma dinâmica de Guerra Fria, era imperativo escapar à radicalização e à polarização política. Esta foi uma lição importante para Espanha. O PSOE também observou que se a situação cada vez mais violenta em Portugal não tinha descambado, isso devia-se ao apoio popular ao PS, que manteve viva a esperança de que a crise pudesse ser resolvida sem recurso a medidas drásticas44.

A segunda lição resultou do comportamento dos comunistas portugueses. Segundo a interpretação do PSOE, o PCP era o culpado da crise na revolução. De acordo com os espanhóis, o PCP tinha tentado ocupar o vácuo de poder desde o 25 de Abril de 1974. Fê-lo ocupando lugares importantes na administração central e local, nos sindicatos, nos meios de comunicação social e nas Forças Armadas. Embora o PCP seguisse uma linha diferente do eurocomunismo defendido pelo PCE, o PSOE equiparava algumas das estratégias dos dois partidos. Quando chegou o momento de mudança de regime, os comunistas estavam determinados e consideravam-se a vanguarda da classe trabalhadora45.

Quando o VI Governo Provisório iniciou funções em setembro, o PSOE considerou que o seu objetivo seria consolidar as conquistas da revolução. Havia uma janela de oportunidade, uma vez que as conquistas portuguesas eram «muito mais avançadas que as propostas do Programa Comum da Esquerda em França». Para o PSOE, era urgente organizar a gestão das empresas nacionalizadas, o que devia ser feito seguindo o programa do PS, que propunha a autogestão dos trabalhadores e dava algum espaço à iniciativa privada. A ideia deveria ser continuar a avançar na direção do socialismo democrático, mas lentamente, com a participação do PCP mas sem hierarquias entre socialistas e comunistas. O MFA parecia agora mais disposto a apoiar uma democracia pluralista como passo no caminho português para o socialismo. O sucesso desta experiência poderia ser um exemplo imediato para os restantes países latinos46.

A Revolução dos Cravos e as relações internacionais dos socialistas espanhóis

A partir das fontes disponíveis, é difícil avaliar os impactos concretos que a Revolução

dos Cravos teve no PSOE. No entanto, como foi demonstrado nas páginas anteriores, os eventos em Portugal ensinaram algumas lições importantes aos socialistas espanhóis. Todavia, a Revolução dos Cravos teve certamente um impacto indireto no PSOE que não deve ser subestimado: aumentou a importância do partido para os seus parceiros internacionais. O apoio que a social-democracia europeia daria ao PSOE a partir de 1975 ajudá-lo-ia a tornar-se o principal partido da esquerda espanhola quando a democracia foi instaurada em Espanha47. A experiência que socialistas e sociais-democratas europeus adquiriram em Portugal foi fundamental na sua decisão de apoiar sem reservas o PSOE.

A revolução também teve um impacto indireto no PSOE a nível interno, que consistiu no facto de as autoridades começarem a perceber que seria boa ideia tolerar o partido socialista para minimizar a potencial influência dos comunistas sobre a classe trabalhadora espanhola. Porém, isto é algo já conhecido na literatura e, portanto, não explorado neste artigo.

O partido espanhol tinha sido apoiado pela IS muito antes do início da Revolução dos Cravos. Embora este apoio fosse importante para o partido, era modesto em comparação com o que iria receber a partir de 1975. Em março de 1973, o PSOE queixava-se ao líder do Partido Trabalhista britânico, Harold Wilson, que «a Internacional Socialista limita-se a declarações discretas [contra o regime de Franco]. E a ajuda financeira oferecida por alguns partidos socialistas europeus irmãos aos grupos social-democratas reprimidos em Espanha tem sido de pouca importância»48.

Em janeiro de 1974, a IS criou o Comité de Espanha, que deveria trabalhar em prol da democracia em Espanha e apoiar o PSOE nesta luta. Porém, nesta altura havia partidos, como o SPD alemão, que estavam relutantes em apoiar decisivamente o partido espanhol, liderado por jovens desconhecidos que pareciam ser muito radicais. Esta situação mudaria em 1975. Um fator importante para esta mudança foi a experiência que a social-democracia europeia ganhou durante a Revolução dos Cravos. Examinemos, de forma sucinta, como três dos mais importantes aliados internacionais do PSOE, os trabalhistas britânicos, os socialistas franceses e os sociais-democratas alemães, reconsideraram as suas relações com os socialistas espanhóis à luz dos eventos em Portugal.

No verão de 1975, antes do importante encontro de partidos social-democratas europeus em Estocolmo, no qual foi criado o Comité de Amizade e Solidariedade com a Democracia e o Socialismo em Portugal, o Foreign Office britânico produziu um relatório para James Callaghan e Harold Wilson que analisava as relações entre socialistas e comunistas na Europa. Este documento mostra que os britânicos estavam preocupados com o futuro próximo da Península Ibérica, não apenas por causa de Portugal, mas também porque a situação portuguesa poderia estender-se a Espanha. Mostra também que os britânicos acreditavam que um partido socialista forte e moderado poderia competir à esquerda com os comunistas, vencendo-os em atos eleitorais e fazendo com que estes aceitassem as regras da democracia.

Na altura, a preocupação mais urgente era Portugal, mas os britânicos consideravam a revolução portuguesa «uma lição para nós [britânicos] tendo em conta o prémio muito maior que é Espanha»49. Os britânicos acreditavam que no caso português tinham sido especialmente felizes, já que antes da revolução tinham estabelecido «ligações ao Partido Socialista português e contatos pessoais próximos com Mário Soares, […] não há dúvida que sem ele não teria havido um ponto focal de oposição»50. Os britânicos reconheciam que tinham «respondido de forma lenta e em alguns casos desadequada aos pedidos iniciais de assistência por parte dos portugueses»51. Ainda assim, apesar destas limitações, o apoio da social-democracia europeia ao PS ajudou este partido a vencer as eleições de abril. Isto significava que ajudar o PS era a estratégia acertada.

No que diz respeito a Espanha, o Governo britânico considerava que a evolução política neste país poderia ser mais pacífica e controlada que em Portugal. As principais diferenças entre os dois países estavam no facto de Espanha ter uma classe média de grande dimensão, com muito a perder, que funcionava como o elemento estabilizador que faltava a Portugal, e no facto de as Forças Armadas espanholas serem mais moderadas que as portuguesas, uma vez que, ao contrário destas, não tinham sofrido com uma guerra colonial prolongada e humilhante. Todavia, os britânicos também temiam encontrar em Espanha uma situação semelhante à portuguesa, com um partido comunista bem organizado a receber financiamento da União Soviética. Assim, «não deveriam deixar-se surpreender em Espanha». Para os britânicos, naquele momento não havia em Espanha «um líder indiscutível à esquerda […] com o estatuto de Soares». Porém, já tinham uma ideia de quais poderiam ser os melhores candidatos a receber ajuda em Espanha: «se nos enfrentarmos com um potencial desafio comunista, acredito que o PSOE oferece a melhor oportunidade de crescimento em direção a uma alternativa socialista democrática»52.

Para os socialistas franceses (PSF), as relações com o PSOE também adquiriram uma nova dimensão à luz dos eventos da revolução portuguesa. O PSF mantinha relações próximas com os socialistas espanhóis desde antes da revolução portuguesa. No entanto, com a mudança política em Portugal a partir do 25 de Abril, os socialistas franceses vislumbraram a oportunidade de construir um novo tipo de socialismo, o «Socialismo da Europa do Sul», e de difundir além das suas fronteiras uma linha ideológica e estratégica centrada na união entre socialistas e comunistas. Tal como no caso dos trabalhistas britânicos, a radicalização da revolução depois do golpe falhado de março de 1975 foi um ponto de viragem para os socialistas franceses. Se, naquele momento, os britânicos decidiram concentrar-se e reforçar a sua ajuda ao PSOE, os franceses, que já apoiavam o partido espanhol, viram em Espanha uma oportunidade de alargar a sua estratégia de união da esquerda, já que em Portugal isso parecia inviável.

A 21 de abril, o PSF notava que era «cada vez mais proveitoso para FM [François Mitterrand] reagir a Espanha»53. Em Espanha, o PSOE trabalhava para construir uma plataforma de oposição democrática que permitisse aos socialistas estabelecer relações igualitárias com o PCE e a sua coligação, a Junta Democrática, e os franceses viram isso como uma segunda oportunidade de validar a sua estratégia além-fronteiras.

No caso da social-democracia alemã, o historiador Antonio Muñoz mostrou que, antes da revolução, os alemães não estavam convencidos de que deveriam apoiar sem reservas o PSOE. No entanto, para o partido e governo social-democratas alemães a radicalização da situação portuguesa a partir de março de 1975, juntamente com a situação interna em Espanha, onde o presidente Arias Navarro se mostrou incapaz de liberalizar o regime e onde o PCE agregava parte da oposição na Junta Democrática, foram cruciais para a sua decisão de dar ao PSOE «todo o apoio imaginável». A sua intenção era ajudar o PSOE a tornar-se o principal partido da esquerda espanhola, contrabalançando dessa forma a influência comunista na classe trabalhadora daquele país54. O apoio alemão também aumentaria a tolerância que o Governo espanhol demonstrou para com o PSOE durante a transição em Espanha.

Estes três exemplos mostram que a revolução portuguesa, especialmente depois de se ter radicalizado em 1975, foi um fator crucial que fez com que alguns dos principais partidos social-democratas da Europa Ocidental decidissem dar todo o seu apoio ao PSOE. Este apoio, especialmente o que foi providenciado pelos sociais-democratas alemães, acabaria por ser crucial para o partido, embora esta questão esteja fora do âmbito deste artigo.

Conclusão

A revolução portuguesa foi um evento internacional muito relevante para o PSOE, que ocorreu pouco tempo depois deste partido se ter renovado. Portugal parecia oferecer um cenário onde seria possível implementar o tipo de socialismo democrático que o PSOE defendia. Os socialistas espanhóis seguiram os acontecimentos de muito perto, como o demonstram as páginas do seu jornal oficial, oEl Socialista. Inicialmente, a revolução foi encarada com esperança, como um evento que sinalizava que o fim do regime espanhol estava próximo. No entanto, a radicalização da revolução em 1975 levou os espanhóis a tentarem criar alguma distância entre a sua situação e a portuguesa. O jornal dos socialistas mostra que nos últimos meses da revolução o PSOE retirou duas lições de Portugal. A primeira foi que a polarização política tinha propiciado em Portugal uma dinâmica restritiva de Guerra Fria, algo que deveria ser evitado em Espanha. A segunda foi que o entendimento entre socialistas e comunistas se revelara difícil assim que chegou o momento de caminhar em direção ao socialismo. Esta lição poderia também aplicar-se a Espanha. Finalmente, a revolução teve um impacto indireto e crucial no PSOE. Desempenhou um papel fundamental no aumento da relevância do partido para os seus aliados internacionais, resultando num apoio substancial por parte da social-democracia europeia a partir do verão de 1975.

Tradução: João Reis Nunes Fontes primárias

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Notas

1 O arquivo histórico do PSOE na Fundação Pablo Iglesias, os United Kingdom National Archives (UKNA) e o Centre d'Archives Socialistes, na Fundação Jean-Jaurès.

2 SÁNCHEZ CERVELLÓ, Josep -La revolución portuguesa y su influencia en la transición espanola (1961-1976). Madrid: Nerea, 1995; JIMÉNEZ, Juan Carlos -España y Portugal. Los caminos a la democracia en la Península Ibérica. Madrid: Sílex, 2009.

3 NAVAJAS ZUBELDIA, Carlos - «La transición militar en España y en Portugal, un análisis comparativo». InEl fin de las dictaduras ibéricas (1974-1978). Paço d’Arcos: Edições Pluma; Sevilha: Centro de Estudios Andaluces, 2010.

4 CARRILLO-LINARES, Albert - «Entre el universo simbólico y el mundo real: contactos y recepciones clandestinas de la extrema izquierda hispano-lusa en torno al 25 de abril». InEl fin de las dictaduras ibéricas (1974-1978);CUCÓ I GINER, Josepa - «La izquierda de la izquierda. Um estúdio de antropología política en España y Portugal». InPapeles del CEIC. Vol. 1, N.º 29, 2007, pp. 1-33; ABAD GARCÍA, Eduardo - «Vecinos y camaradas. Portugal en el imaginario colectivo del leninismo español». InAyer. N.º 1, 125, 2022, pp. 267-294.

5 VARELA, Raquel - «O impacto da revolução portuguesa de 1974-1975 no PSOE visto através de El Socialista». InLer História. N.º 57, 2009, pp. 111-124.

6 LEMUS LÓPEZ, Encarnación -Estados Unidos y la Transición española. Entre la Revolución de los Claveles y la Marcha Verde. Madrid: Sílex, 2011.

7 VARELA, Raquel - «O impacto da revolução portuguesa de 1974-1975 no PSOE visto através de El Socialista», p. 117.

8«RESOLUCIÓN POLÍTICA». InEl Socialista. Segunda metade de outubro de 1974, p. 7.

9 FLANDRE, Christelle -Socialisme ou social-démocratie? Regards croises français allemands, 1971-1981. Paris: L’Harmattan, 2006.

10 GRANADINO, Alan -Puños y Rosas. El PSOE, el Partido Socialista portugués y sus relaciones con la socialdemocracia europea en la lucha por la hegemonía de la izquierda (1974-1977).Madrid: Sílex. No prelo; MUÑOZ SÁNCHEZ, Antonio -El amigo alemán. El SPD y el PSOE de la dictadura a la democracia. Barcelona: RBA, 2012; FONSECA, Ana Mónica - «The Federal Republic of Germany and the Portuguese transition to democracy (1974-1976)». InJournal of European Integration History. Vol. 15, N.º 1, 2009, pp. 35-56; FONSECA, Ana Mónica - «O apoio da social-democracia alemã à democratização portuguesa (1974-1975)». InLer História. N.º 63, 2012, pp. 93-107; MUÑOZ SÁNCHEZ, Antonio - «Entre solidaridad y ostpolitik. La socialdemocracia alemana y el socialismo portugués de la dictadura a la democracia». InHispania Nova. N.º 15, 2017, pp. 243-273.

11VARELA, Raquel - «O impacto da revolução portuguesa de 1974-1975 no PSOE visto através de El Socialista», p. 119.

12 PRESTON, PAUL -Franco caudillo de España.Barcelona: Debolsillo, 2004.

13 ORTUNO ANAYA, Pilar -Los socialistas europeos y la transición española (1959-1977). Madrid: Marcial Pons, 2005.

14 LAS COMISIONES E JECUTIVAS DEL PSOE Y DE LA UGT - «Portugal: ahora corresponde al pueblo soberano determinar libremente su destino». InEl Socialista. Segunda metade de maio de 1974, p. 1.

15Ibidem.

16 MUÑOZ BOLANOS, Roberto - «La última trinchera: el poder militar y el problema de la Unión Militar Democrática (UMD) durante el proceso de transición y consolidación democrática (1975-1986)». InHistoria del Presente. Vol. 2, N.º 25, 2015, pp. 151-162.

17«PORTUGAL Y ESPAÑA». InEl Socialista. Segunda metade de maio de 1974, p. 3.

18«¿EJÉRCITO ESPAÑOL o ejército franquista?». InEl Socialista. Primeira metade de junho de 1974, pp. 1-2.

19«PORTUGAL Y ESPAÑA», pp. 1 e 3.

20«¿EJÉRCITO ESPAÑOL o ejército franquista?», pp. 1-2.

21«ESPALDARAZO INTERNACIONAL del socialismo español». InEl Socialista. Segunda metade de outubro de 1974, p. 3.

22«PONENCIA INTERNACIONAL». InEl Socialista. Segunda metade de outubro de 1974, p. 6

23Ibidem.

24VARELA, Raquel - «O impacto da revolução portuguesa de 1974-1975 no PSOE visto através de El Socialista», p. 123.

25Esta entrevista foi reproduzida na sua totalidade noEl Socialista. Primeira metade de dezembro de 1974.

26Santos Juliá defendeu que durante a transição para a democracia o PSOE procurou satisfazer a necessidade de legitimidade através de uma ênfase na história e na teoria; ver, JULIÁ, Santos - «The ideological conversion of the leaders of the PSOE, 1976-1979». InÉlites and Power in Twentieth-Century Spain. Oxford e Nova York: Clarendon Press, 1990, p. 270. Concordando com este autor, acrescento que a teoria na qual o PSOE se baseou precisou de ser relacionada com outros modelos estrangeiros.

27«ENTREVISTA A Felipe González». InEl Socialista. Primeira metade de dezembro de 1974, p. 6.

28MUÑOZ SÁNCHEZ, Antonio -El amigo alemán..., pp. 167-168.

29«PORTUGAL: CONGRESO socialista». InEl Socialista. Segunda metade de janeiro de 1975, p. 11.

30«SOCIALISMO PORTUGUÊS». InEl Socialista. Primeira metade de fevereiro de 1975, p. 9.

31«PORTUGAL: EL difícil camino de la libertad». InEl Socialista. Primeira metade de fevereiro de 1975, p. 9.

32«EL FRUSTRADO golpe de Portugal». InEl Socialista. Segunda metade de março de 1975, p. 4.

33Document 1, Note of an informal meeting of heads of government. Rambouillet, Monday 17 November 1975. UKNA - Prime Minister’s Office records (UK).

34 DEL PERO, Mário, et al.-Democrazie. L’Europa Meridionale e la Fine delle Dittadure. Milão: Le Monnier, 2010, p. 143; SÁ, Tiago Moreira de -Os Americanos na Revolução Portuguesa (1974-1976). Lisboa: Editorial Notícias, 2004, pp. 105-113.

35«PORTUGAL, ESPAÑA, Europa». InEl Socialista. Segunda metade de março de 1975, p. 1.

36«TRIUNFO SOCIALISTA». InEl Socialista. Segunda metade de maio de 1975, p. 2.

37Ibidem.

38Ibidem.

39«SOCIALISTAS ESPAÑOLES en Portugal y Suecia». InEl Socialista. Segunda metade de abril de 1975, p. 8.

40 GRANADINO, Alan - «Possibilities and limits of southern European socialism in the Iberian Peninsula: French, Portuguese and Spanish socialists in the mid-1970s». InContemporary European History.Vol. 28, N.º 3, 2019, pp. 390-408.

41«COMUNICADO CONJUNTO PS de Portugal y PSOE». InEl Socialista. Segunda metade de junho de 1975, p. 3.

42«LA CONSTRUCCIÓN del socialismo. Coloquio internacional en Lisboa». InEl Socialista, segunda metade de julho de 1975, p. 3.

43FUNDAÇÃO PABLO IGLESIAS - Portugal 1976-1979, cx., pasta 2, doc. 1, correspondência e documentação.

44«PORTUGAL EN una hora crucial». InEl Socialista. Segunda metade de agosto de 1975, p. 2.

45«VÍA PORTUGUESA al socialismo». InEl Socialista. Primeira metade de setembro de 1975, pp. 6-7.

46Ibidem.

47ORTUNO ANAYA, Pilar -Los socialistas europeos y la transición española (1959-1977); MUÑOZ SÁNCHEZ, Antonio -El amigo alemán…; GRANADINO, Alan -Puños y Rosas….

48Spanish Socialist Party -The political scene in Spain as the Franco regime bids to integrate into the Common Market. 29 de setembro de 1972. BLP Historical Archive (Labour History Archive and Study Centre, Manchester), cx. 43/7. SDDC Mission to Spain. Março de 1973.

49Paper report from Tom McNally to the Secretary of State for Foreign and Commonwealth Affairs, «Communism and West European Social Democracy». UKNA, PREM 16/1053, The PM’s visit to Stockholm for a meeting of Socialist leaders to discuss Portugal Policy. PM’s meeting in London. Setembro de 1975.

50Ibidem.

51Ibidem.

52Ibidem.

53Telegrama. 21 de abril de 1975. CENTRE D’ARCHIVES SOCIALISTES. FUNDAÇÃO JEAN-JAURÈS - 424 RI3.

54MUÑOZ SÁNCHEZ, Antonio - El amigo alemán…, p. 184.

Recebido: 30 de Novembro de 2023; Aceito: 04 de Janeiro de 2024

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