INTRODUÇÃO
Informações quanto à composição corporal são de grande importância para se delinear o treinamento dos atletas de forma adequada, pois pode-se realizar a redução do percentual de gordura corporal, ganho de massa muscular para, posteriormente, realizar trabalhos visando a melhora das capacidades físicas necessárias da modalidade a ser praticada (Dourado, 2007). Uma forma para conhecer a composição corporal é a realização do teste de bioimpedância elétrica (BIA), que tem sido amplamente usada nos últimos 30 anos, como método de medição da composição corporal na área clínica, devido às vantagens associadas a este método, incluindo o baixo custo, facilidade de medição como o uso de outros instrumentos que muitas vezes são limitados a ambientes de pesquisa (Lukaski, Kyle & Kondrup, 2017; Tomeleri et al., 2018). Sua análise é baseada na medida da resistência total do corpo em relação a passagem de uma corrente elétrica de baixa /amplitude (800 mA) e alta frequência (50 kHz), mensurando, por meio destas propriedades como impedância, resistência (R), reatância (Xc) e o ângulo de fase (AF) (Horie et al., 2008; Kyle et al., 2004a; Llames, Baldomero, Iglesias & Rodota, 2013).
O AF fornecido pela BIA, é adquirido através da relação entre medidas de R e Xc (AF= arco tangente Xc/R x 180ºπ), onde seu conceito é baseado sobre mudanças na R e Xc com passagens de corrente elétrica alternada através dos tecidos avaliados (Kyle et al., 2004b; Norman et al., 2006; Paiva et al., 2011; Souza et al., 2017). Quanto mais íntegras estiverem as membranas, maior será o armazenamento de energia e, consequentemente, maior será o AF formado (Barbosa-Silva & Barros, 2005; Gonzalez, Barbosa-Silva, Bielemann, Gallagher & Heymsfield, 2016; Kyle, Soundar, Genton & Pichard, 2012). Seus valores têm sido propostos como um índice de aptidão muscular expressando tanto a quantidade quanto a qualidade do tecido mole (Ribeiro et al., 2017), onde pesquisas em humanos mostraram que a relação entre o AF e a saúde celular aumenta quase linearmente (Kyle, Genton, Solsman & Pichard, 2001; Ott et al., 1995), e valores baixos são consistentes com uma incapacidade das células para armazenar energia e uma indicação de quebra na permeabilidade seletiva das membranas celulares.
Já, valores elevados são consistentes com grandes quantidades de membranas celulares intactas e massa celular corporal, refletindo a razão entre a massa celular do corpo e a massa livre de gordura (Bosy-Westphal et al., 2006; Gonzalez et al., 2016).
Ademais, força e potência muscular são características fisiológicas importantes na prática dos esportes, principalmente naqueles que envolvem corridas em alta velocidade e saltos, onde o seu desenvolvimento está diretamente ligado ao bom desempenho dos esportes que precisam destas capacidades físicas em alto nível (Dourado, 2007). Estas capacidades são altamente dependentes da idade, sexo, características morfológicas e do nível de condicionamento físico (Dourado, 2007).
Nos membros superiores, a força de preensão manual é um teste de importante para fornecer um índice objetivo da integridade das funções dos membros superiores. Informações obtidas através das medições contribuem para que o profissional interprete seus resultados e estabeleça as metas adequadas para o treinamento (Moura, Moreira & Caixeta, 2008). Sendo assim, é considerado uma das formas de baixo custo e fácil aplicabilidade para mensuração da força muscular é a realização do teste de preensão manual. É referido como um método clínico confiável, preditor do estado geral da força muscular (Oliveira et al., 2016). Sabendo que a força muscular é reconhecida como um importante componente num programa de exercício físico em adolescentes, sua avaliação torna-se essencial, onde baixos valores de força estão fortemente associados a doenças cardiovasculares e todas as causas de mortalidade precoce.
Referenciando essas premissas, recorre-se à seguinte problematização: Existem relações entre composição corporal, AF e força em adolescentes atletas de diferentes modalidades esportivas nos Jogos da Juventude do Paraná. Assim, o objetivo do presente estudo foi verificar a relação entre a composição corporal, ângulo de fase e a força de membros inferiores e superiores de adolescentes atletas de ambos os sexos, praticantes de diversas modalidades esportivas.
MÉTODOS
O presente estudo caracteriza-se como pesquisa de caráter descritivo transversal sem intervenções na amostra (Thomas, Nelson & Silverman, 2009).
Amostra
A amostra foi constituída por 473 atletas, sendo 285 do sexo masculino e 188 do sexo feminino, com média de idade cronológica de 16.4± 1.2 anos (idade centesimal de 17.1± 1.5), peso 67.8± 11.5 kg (Masculino: 71.47± 10.67 kg; Feminino: 62.31± 10.53), estatura 1.70± 0.10 m (Masculino: 1.75± 0.07 m; Feminino: 1.64± 0.07 m), com tempo de prática no esporte em 5.6± 3 anos e com carga horária semanal de treino de 9± 4.6 horas, praticantes de diferentes modalidades esportivas que compõem seleções de municípios do Estado do Paraná. Nas edições da fase final dos Jogos da Juventude do Paraná em 2017 e 2018 participaram aproximadamente 6 mil atletas, onde o número da amostra do presente estudo representa em torno de 8% do total de participantes, sendo de certa forma considerável, visto que foi realizado o cálculo amostral por meio do G*Power versão 3.1, mostrando uma necessidade de que a amostra contenha no mínimo 250 atletas.
Os critérios adotados para a exclusão de sujeitos que participaram ou não das avaliações do presente estudo foram: (a) algum problema físico que o impeça temporária ou definitivamente de realizar algum dos testes propostos, onde foram excluídos da amostra 47 atletas (25 atletas em 2017 e 22 atletas em 2018), visto que, estes participaram dos testes apenas de forma parcial, não estando incluídos na amostra total de 473 atletas.
Procedimentos
Para participar dos testes, os atletas foram convidados a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido concordando em participar do estudo, onde devido termos no momento de competição um elevado número de atletas com idade inferior a 18 anos, esse termo foi assinado pelo responsável pela equipe. Também, foi encaminhada uma Declaração de Concordância aos organizadores do evento na Secretária de Estado do Esporte e do Turismo do Paraná permitindo o acesso e a entrada dos pesquisadores nas áreas de competição para a coleta de dados. O estudo foi submetido na Plataforma Brasil para aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina, tendo sido aprovada sob o número de parecer 2.788.837.
Coleta de dados
Devido a fase final dos Jogos da Juventude do Paraná ser um evento de período curto e com grande proporção de atletas participantes, a coleta dos dados foi realizada nos locais de disputa (eg., Ginásios, pista de atletismo, estádios, alojamentos), nos períodos matutino, vespertino e noturno, antes que eles participassem das suas referidas competições e considerando que todos estivessem o mínimo de 4 horas em jejum.
A ordem dos testes foi realizada obedecendo uma sequência onde o esforço de um teste não influenciasse no resultado do teste seguinte, sendo realizados da seguinte maneira: 1) Breve questionário; 2) Peso e estatura; 3) Bioimpedância; 4) Preensão manual no dinamômetro; 5) Salto na plataforma SYS JUMP, onde na sequência, seguem as descrições das variáveis coletadas.
Antropometria
Massa corporal
Utilizou-se a balança digital da marca Plenna-Cristalsete, resolução de 50 g. O atleta posicionou-se em pé e de costas para o marcador digital, usando o mínimo de roupas possível e descalço. Manteve-se imóvel durante a medida. O resultado foi anotado em kg.
Estatura
Utilizamos um estadiômetro da marca Cardiomed, com 2,16 m acoplado a uma base metálica de 50 x 50 cm, resolução de 0.1 mm e sob ela, desliza um cursor móvel com ângulo de 90o no vértex. O indivíduo posicionou-se de costas para a trena e descalço, se manteve ereto e na posição anatômica. Realizou-se uma inspiração e, nesse momento, posicionou o cursor no topo da cabeça. A medida foi anotada em cm.
Composição corporal
Foi utilizado o aparelho de Bioimpedância, modelo Biodynamics 450, versão 5.1 e elétrodos da marca Resting Tab ECG. Não é necessário que o indivíduo tire a roupa para fazer um teste, não apresentando efeitos fisiológicos em seu uso. Precisão de 0.1% na Resistência, 0.2% na Reactância e 0.2% no AF (TBW, 2007). Os elétrodos foram colocados em locais preconizados, sendo um elétrodo na superfície dorsal do pulso direito, outro no terceiro metacarpo, outro na superfície anterior do tornozelo direito entre as porções proeminentes dos ossos e outro na superfície dorsal do terceiro metatarso. Os clips pretos do cabo sensor foram colocados nos elétrodos distais e os clips vermelhos nos proximais. Durante o teste, o avaliado ficou em posição de decúbito dorsal, de forma confortável, sem calçados, meias, relógio, pulseiras ou afins. As pernas ficaram afastadas, as mãos abertas e apoiadas na maca. Do mesmo modo, algumas recomendações foram seguidas a fim de minimizar possíveis interferências nos resultados, como, por exemplo: não ingerir bebidas alcoólicas e diuréticas, jejum de alimentos, com no mínimo quatro horas.
Testes motores
Preensão manual
O atleta sentou-se em uma cadeira, segurando nas mãos um dinamômetro da marca North Coast Medical (Precision Instruments), com cotovelos a 90o. A preensão de força envolve segurar um objeto entre os dedos parcialmente flexionados, em oposição à contrapressão gerada pela palma da mão, a eminência tenar e o segmento distal do polegar (Moura et al., 2008). O atleta realizou 3 tentativas com o braço direito e 3 com o braço esquerdo, de forma alternada. Realizou a maior força possível, onde, foram anotados o melhor resultado em kg/f.
Salto vertical com meia flexão de joelhos: squat jump (Bosco, 1993)
Foi utilizado uma plataforma de salto da marca SYS JUMP, acoplada ao computador, onde o resultado foi obtido através do Software Sys Jump (Produzido por Systware). O salto consistiu em o atleta ficar sobre a área de salto, na posição de meio agachamento, mãos apoiadas na cintura e joelho em ângulo de 90 graus, por 5 segundos. Em seguida, o avaliador sinalizou verbalmente para que se realizasse o salto na maior altura possível sem retirar as mãos da cintura, nem recolher os pés ou jogá-los a frente. Foram realizados três saltos, com intervalo de 5 segundos entre eles, anotando-se o melhor resultado.
Salto vertical com contra movimento: CMJ (Bosco, 1993)
Realizado usando mesmo equipamento do teste anterior. O atleta posicionou-se na área de salto em pé, mãos apoiadas na cintura e pernas estendidas. Após o comando verbal, o avaliado realizou um rápido agachamento e em seguida um salto a maior altura que pudesse, sem retirar as mãos da cintura e/ou recolher os pés ou jogando-os a frente. Realizou-se 3 tentativas, com intervalo de 5 segundos entre eles, anotando o melhor resultado.
Salto vertical com contra movimento com auxílio dos braços: CMJL (Bosco, 1993)
Utilizou-se o mesmo equipamento dos testes citados acima. Neste, o atleta se posicionou em pé sobre a área de salto, com as pernas e os braços estendidos. Após o comando verbal, o avaliado realizou um rápido agachamento e em seguida um salto a maior altura que conseguisse, fazendo a extensão dos membros inferiores e utilizando os braços para impulso. Realizaram 3 tentativas, com 5 segundos de intervalo entre elas, anotando o melhor resultado. A escolha de realizar as três formas de saltos (i.e., SJ, CMJ e CMJL) foi devido a amostra existirem várias modalidades diferentes, possibilitando uma análise direcionada de acordo com o gesto técnico específico de cada esporte do presente estudo.
Os valores médios e das principais variáveis do estudo podem ser observados na Tabela 1
Geral | Masculino | Feminino | |||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Média | Dp | n | Média | Dp | n | Média | Dp | n | |
IC | 17.10 | 1.40 | 473 | 17.26 | 1.50 | 285 | 16.87 | 1.21 | 188 |
Altura | 1.71 | 0.09 | 473 | 1.75 | 0.07 | 285 | 1.64 | 0.07 | 188 |
Peso | 67.83 | 11.52 | 473 | 71.47 | 10.67 | 285 | 62.31 | 10.53 | 188 |
MM | 57.37 | 10.49 | 473 | 63.11 | 7.99 | 285 | 48.67 | 7.37 | 188 |
MG | 10.33 | 5.35 | 473 | 8.32 | 4.59 | 285 | 13.37 | 4.99 | 188 |
AF | 7.70 | 0.94 | 473 | 8.01 | 0.83 | 285 | 7.23 | 0.89 | 188 |
R | 503.98 | 74.77 | 473 | 465.37 | 50.11 | 285 | 562.51 | 67.68 | 188 |
Xc | 67.60 | 9.35 | 473 | 65.25 | 8.93 | 285 | 71.16 | 8.86 | 188 |
TMB | 1,794.99 | 317.48 | 473 | 1,970.88 | 242.77 | 285 | 1,528.34 | 215.10 | 188 |
H2OT | 42.25 | 7.67 | 473 | 46.63 | 5.90 | 285 | 35.61 | 4.71 | 188 |
SJ | 36.98 | 8.22 | 473 | 39.15 | 7.56 | 285 | 33.69 | 8.10 | 188 |
CMJ | 42.48 | 9.74 | 473 | 45.15 | 8.58 | 285 | 38.43 | 10.01 | 188 |
CMJL | 49.77 | 11.18 | 473 | 53.57 | 9.91 | 285 | 44.01 | 10.53 | 188 |
PMD | 33.73 | 9.39 | 473 | 37.98 | 8.85 | 285 | 27.27 | 5.82 | 188 |
PME | 30.79 | 9.13 | 473 | 34.65 | 8.82 | 285 | 24.95 | 5.95 | 188 |
Procedimentos estatísticos
Visando analisar e explanar a correlação das variáveis observadas, simplificando os dados por meio da redução do número de variáveis suficientes e necessárias para descrevê-la, foi utilizada a Análise Fatorial com a técnica de Extração das Componentes Principais (ACP), visto ser uma técnica de análise exploratória multivariada que transforma um conjunto de variáveis correlacionadas, num conjunto menor de variáveis independentes, combinações lineares das variáveis originais, sendo encarada como um método de redução da complexidade dos dados (Maroco, 2007; Pestana & Gageiro, 2008). De acordo com Maroco (2007), no caso de experiências em laboratório pode conseguir-se reter 95% ou mais da variabilidade total, com 2 ou 3 componentes principais, mas quando se trabalha com humanos, num grande número de situações, 2 ou 3 componentes não conseguem explicar muito mais do que 50% da variabilidade total, sendo necessário recorrer a 5 ou mais componentes para explicar 70 a 75% da variação total. O software de estatístico utilizado foi o SPSS for Windows 20.0. O nível de significância utilizado foi de 5%.
RESULTADOS
Sabendo que a ACP se realiza com vários testes em conjunto, onde se geram vários resultados e significados específicos, optou-se por apresentá-los seguidamente as tabelas na forma Geral, Masculino e Feminino, visando uma melhor compreensão e comparação das análises realizadas.
Na Tabela 2 expõem-se os valores do teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e de Bartlett's que é um procedimento básico da ACP, onde permite aferir a qualidade das correlações entre as variáveis, possibilitando-nos prosseguir com a ACP.
Geral | Masculino | Feminino | ||
---|---|---|---|---|
KMO | 0.770 | 0.674 | 0.709 | |
Bartlett's | Q-Quadrado | 11,585.818 | 6,997.029 | 3,709.185 |
p | 0.000 | 0,000 | 0,000 |
Para realizar a ACP, os valores da estatística KMO devem ser, no mínimo, maiores que 0.5, pois representam como valores baixos, porém aceitáveis para realizar ACP. Valores entre 0.5 e 0.6, indicam aceitáveis. Valores entre 0.6 e 0.7 são razoáveis e valores entre 0.7 e 0.8 estão classificados como médios. Valores entre 0.8 e 0.9 são classificados como bons e finalizando, valores entre 0.9 e 1 representam valores muito bons (Maroco, 2007; Pestana & Gageiro, 2008).
O teste KMO indicou que a ACP é recomendável para o referido estudo, pois é uma estatística que varia entre zero e um, e compara as correlações de ordem zero com correlações parciais observadas entre as variáveis. Assim, a análise de forma Geral, apresentou um resultado de 0.770, que é considerado na média, no Masculino apresentou o valor de 0.674, que está classificado com razoável e no Feminino o resultado foi de 0.709, que também é considerado na média, visto que, nas três formas de análise, o ACP se torna executável.
Já o teste de Bartlett's tanto a análise Geral, como Masculino e Feminino apresentam valores de p< 0,01, rejeitando a hipótese nula e demonstrando a existência de uma correlação significativa entre algumas variáveis adotadas para a ACP.
Na Tabela 3 verifica-se que cada variável indica a variância total explicada pelos componentes comuns, onde quanto mais próximas os valores destas variáveis estão de 1, melhor serão explicados esses dados originais e, também, maior será o poder de explicação dessa variável pelo ACP em que ela se encontra.
Geral | Masculino | Feminino | ||||
---|---|---|---|---|---|---|
Inicial | Extraído | Inicial | Extraído | Inicial | Extraído | |
IC | 1,000 | 0,342 | 1,000 | 0,300 | 1,000 | 0,365 |
Altura | 1,000 | 0,552 | 1,000 | 0,801 | 1,000 | 0,867 |
Peso | 1,000 | 0,920 | 1,000 | 0,953 | 1,000 | 0,952 |
AF | 1,000 | 0,790 | 1,000 | 0,822 | 1,000 | 0,832 |
R | 1,000 | 0,717 | 1,000 | 0,782 | 1,000 | 0,867 |
Xc | 1,000 | 0,859 | 1,000 | 0,939 | 1,000 | 0,962 |
TMB | 1,000 | 0,972 | 1,000 | 0,978 | 1,000 | 0,981 |
H2OT | 1,000 | 0,969 | 1,000 | 0,959 | 1,000 | 0,962 |
SJ | 1,000 | 0,741 | 1,000 | 0,787 | 1,000 | 0,788 |
CMJ | 1,000 | 0,708 | 1,000 | 0,756 | 1,000 | 0,773 |
CMJL | 1,000 | 0,707 | 1,000 | 0,689 | 1,000 | 0,771 |
PMD | 1,000 | 0,618 | 1,000 | 0,675 | 1,000 | 0,864 |
PME | 1,000 | 0,579 | 1,000 | 0,674 | 1,000 | 0,852 |
MM | 1,000 | 0,951 | 1,000 | 0,964 | 1,000 | 0,921 |
MG | 1,000 | 0,660 | 1,000 | 0,634 | 1,000 | 0,715 |
Após um estudo exploratório com todas as 39 variáveis estudadas, chegou através da ACP em uma quantidade de 15 variáveis, que se despontaram como mais interessantes para realizar monitoramento dos atletas do presente estudo, pois foram confirmados através dos valores na Tabela 3. Na qual, praticamente, todas estas 15 variáveis selecionadas apresentaram valores elevados mostrando-se mais relevantes nesta pesquisa. De modo geral, todas as variáveis apresentaram similaridade nos altos valores (próximos de 1) de suas respectivas comunalidades quando analisados por sexo e geral. Porém, os valores na variável IC mostraram-se baixos nas análises por sexo e geral, onde a variável Altura na comunalidade Geral ficou mais abaixo, comparado a Masculino e Feminino. Os valores das comunalidades em Feminino nas variáveis PMD e PME foram superiores quando comparados com Masculino e Geral.
De seguida, procedeu-se com a ACP, onde os coeficientes referentes às variáveis que formaram os componentes (Geral, Masculino e Feminino) e a percentagem de variação amostral encontram-se descritos na Tabela 4.
Total Variâncias – Geral | |||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
ACP | Auto-valores iniciais | Somas dos pesos extraídos | Rotação das somas dos pesos | ||||||
Total | % da Variância | % Acumulativo | Total | % da Variância | % Acumulativo | Total | % da Variância | % Acumulativo | |
1 | 6.757 | 45.046 | 45.046 | 6.757 | 45.046 | 45.046 | 6.248 | 41.652 | 41.652 |
2 | 2.891 | 19.274 | 64.320 | 2.891 | 19.274 | 64.320 | 3.232 | 21.547 | 63.200 |
3 | 1.438 | 9.585 | 73.906 | 1.438 | 9.585 | 73.906 | 1.606 | 10.706 | 73.906 |
Total Variâncias – Masculino | |||||||||
1 | 5.616 | 37.441 | 37.441 | 5.616 | 37.441 | 37.441 | 4.250 | 28.331 | 28.331 |
2 | 3.070 | 20.470 | 57.910 | 3.070 | 20.470 | 57.910 | 2.921 | 19.475 | 47.806 |
3 | 1.681 | 11.207 | 69.117 | 1.681 | 11.207 | 69.117 | 2.773 | 18.489 | 66.295 |
4 | 1.343 | 8.956 | 78.074 | 1.343 | 8.956 | 78.074 | 1.767 | 11.778 | 78.074 |
Total Variâncias – Feminino | |||||||||
1 | 5.365 | 35.765 | 35.765 | 5.365 | 35.765 | 35.765 | 4.611 | 30.742 | 30.742 |
2 | 2.967 | 19.782 | 55.547 | 2.967 | 19.782 | 55.547 | 2.661 | 17.741 | 48.484 |
3 | 1.603 | 10.688 | 66.235 | 1.603 | 10.688 | 66.235 | 1.920 | 12.797 | 61.281 |
4 | 1.397 | 9.313 | 75.548 | 1.397 | 9.313 | 75.548 | 1.650 | 11.002 | 72.283 |
5 | 1.139 | 7.596 | 83.144 | 1.139 | 7.596 | 83.144 | 1.629 | 10.861 | 83.144 |
Nota-se na Tabela 4 que a ACP para Geral, Masculino e Feminino possuem 3, 4 e 5 componentes principais, respectivamente. ACP Geral explica em 73.9% da variância total das variáveis originais, já no Masculino em 78.07% e no feminino em 83.14%, sendo que de acordo com Maroco (2007) quando se trabalha com humanos, num grande número de situações, 2 ou 3 componentes não conseguem explicar muito mais do que 50% da variabilidade total, sendo necessário recorrer a 5 ou mais componentes para explicar 70 a 75% da variação total. Significando, assim, que os resultados obtidos para a ACP foram bons.
Observamos ainda que todas as variáveis têm uma forte relação com os componentes retidos, conforme valores elevados, considerando que nos fatores retidos, as variáveis em comum formam a primeira componente principal para Geral, Masculino e Feminino, representando pela variância total em 45.04, 37.44 e 35.76%, respectivamente, estando associada as variáveis de composição corporal (Peso, H2OT e MM) e da BIA (TMB e R), onde estas variáveis podem ser verificadas na Tabela 5.
Componente Geral | Componente Masculino | Componente Feminino | ||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
1 | 2 | 3 | 1 | 2 | 3 | 4 | 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | |||
H2OT | 0,957 | -0,227 | -0,038 | TMB | 0,978 | -0,054 | 0,006 | 0,136 | TMB | 0,977 | 0,068 | 0,035 | 0,137 | -0,044 |
TMB | 0,945 | -0,281 | 0,014 | H2OT | 0,972 | -0,008 | -0,078 | 0,088 | H2OT | 0,960 | 0,148 | -0,018 | 0,107 | -0,080 |
MM | 0,933 | -0,281 | 0,027 | MM | 0,971 | -0,055 | 0,017 | 0,132 | MM | 0,938 | 0,051 | 0,084 | 0,178 | -0,023 |
R | -0,837 | -0,018 | 0,127 | Peso | 0,911 | -0,286 | 0,142 | 0,145 | Peso | 0,931 | -0,183 | 0,177 | 0,123 | -0,070 |
PMD | 0,781 | 0,078 | 0,053 | R | -0,696 | -0,216 | 0,163 | 0,473 | MG | 0,616 | -0,475 | 0,314 | 0,064 | -0,085 |
PME | 0,753 | 0,105 | 0,032 | PMD | 0,585 | 0,402 | 0,089 | -0,403 | R | -0,563 | -0,448 | 0,307 | 0,194 | 0,467 |
Peso | 0,741 | -0,590 | 0,152 | PME | 0,555 | 0,449 | 0,111 | -0,390 | SJ | -0,215 | 0,810 | -0,044 | 0,289 | -0,001 |
Altura | 0,729 | -0,128 | -0,072 | SJ | 0,053 | 0,843 | -0,155 | 0,224 | CMJL | -0,157 | 0,798 | 0,124 | 0,305 | 0,005 |
SJ | 0,425 | 0,745 | -0,079 | CMJ | -0,005 | 0,818 | -0,161 | 0,248 | CMJ | -0,193 | 0,771 | -0,058 | 0,361 | 0,089 |
MG | -0,209 | -0,734 | 0,280 | CMJL | -0,038 | 0,785 | -0,151 | 0,220 | Xc | -0,379 | 0,075 | 0,847 | -0,170 | 0,258 |
CMJ | 0,407 | 0,730 | -0,097 | MG | 0,449 | -0,579 | 0,293 | 0,108 | AF | 0,563 | -0,036 | 0,173 | 0,445 | 0,566 |
CMJL | 0,458 | 0,704 | -0,033 | Xc | -0,444 | 0,195 | 0,786 | 0,292 | PMD | 0,482 | 0,366 | -0,125 | -0,549 | 0,424 |
Xc | -0,456 | 0,283 | 0,755 | AF | 0,559 | -0,021 | -0,155 | 0,682 | PME | 0,448 | 0,352 | -0,319 | -0,518 | 0,397 |
AF | 0,490 | 0,311 | 0,673 | IC | 0,269 | 0,092 | 0,464 | 0,063 | IC | 0,078 | 0,279 | 0,330 | -0,196 | -0,366 |
IC | 0,270 | 0,027 | 0,518 | |||||||||||
Método de Extração: ACP | Método de Extração: ACP | |||||||||||||
a. 3 componentes extraídas | a. 4 componentes extraídas | a. 5 componentes extraídas |
Além disso, em Geral e Masculino, ainda contribuem para a formação da primeira componente principal as variáveis de testes motores PMD e PME, onde nesta componente aparecem as variáveis com os maiores coeficientes. Também, foi observado que as variáveis de potência de membros inferiores, que formam a segunda componente principal, foram comuns para Geral, Masculino e Feminino, com coeficientes mais elevados. Em Geral e Masculino ainda compõem nesta componente a variável MG, visto que essas variáveis contribuem para explicar a variância em 19.27, 20.47 e 19.78% para Geral, Masculino e Feminino, respectivamente.
Para os grupos Geral, Masculino e Feminino, somente analisando as duas primeiras componentes, já apresentaram bons percentuais que explicam as variâncias dos dados, conforme discutido e relatado pela literatura, onde estas duas ACPs são formadas em primeiro lugar por variáveis lineares de composição corporal (Peso, H2OT, MM) e da BIA (R e TMB) e na sequência por variáveis de força de membros inferiores (SJ, CMJ e CMJL), onde estas variáveis possuem altos pesos (“loadings”), conforme observado através da Tabela 5.
Já, as variáveis de força de membros superiores (PMD e PME), também, formaram as primeiras ACPs no grupo Geral e Masculino, confirmando uma grande importância para a amostra deste estudo e útil para o monitoramento e acompanhamento do nível físico dos atletas.
Quanto ao AF para o grupo Geral explica, quase que sozinho, 9,58% da variância para a terceira componente. Para Masculino explica 8.95% e Feminino 7.59% da variância. Embora o AF esteja presente na ACP 3, 4 e 5 para Geral, Masculino e Feminino, esta variável mostrou que possui também um “loading” nas primeiras ACPs dos três grupos, mostrando que essa variável possui relação com as respectivas variáveis destas primeiras ACPs.
A participação das variáveis de potência de membros inferiores na segunda componente principal caracteriza a sua importância na estrutura do desempenho esportivo para os atletas adolescentes.
A ACP mostrou por meio da Matriz dos Componentes, os coeficientes ou pesos que correlacionam as variáveis com os fatores. As variáveis com baixos coeficientes afetam os valores, devendo manter-se apenas aquelas que apresentam elevados coeficientes, onde estas variáveis com altos pesos tendem a estar presentes nas primeiras ACPs, justificando suas respectivas forças na explicação das variâncias, mostrando assim maior importância das variáveis no monitoramento dos atletas. A ACP permitiu eliminar sobreposições e escolher formas mais representativas de dados, a partir de combinações lineares das variáveis originais, principalmente as primeiras ACPs.
DISCUSSÃO
O presente estudo teve como objetivo verificar a relação entre a composição corporal, ângulo de fase e a força de membros inferiores e superiores de adolescentes atletas de ambos os sexos, praticantes de diversas modalidades esportivas. De acordo com a hipótese formulada, a mesma foi confirmada quanto à relação entre ângulo de fase, composição corporal e força, em adolescentes atletas de diferentes modalidades esportivas nos Jogos da Juventude do Paraná.
A força de membros inferiores, representada pelos saltos SJ, CMJ e CMJL são variáveis importantes para o monitoramento de força e potência muscular dos membros inferiores, onde estas variáveis são relevantes para grande parte dos esportes individuais e coletivos que envolvam deslocamentos em alta velocidade e, também, onde se realizam saltos verticais. O acompanhamento dos resultados de cada atleta nestas variáveis, permite aos treinadores executarem treinamentos adequados para otimizar e/ou melhorar os rendimentos dos atletas em competições, além de contribuir para a diminuição de lesões musculares e articulares, inclusive em adolescentes atletas que podem estar em fase de maturação.
A escolha de realizar os três tipos de saltos, dentre outros motivos, se deveu ao fato de o presente estudo ter em sua amostra diversas modalidades esportivas, sendo que, em futuros estudos específicos por modalidade, estes testes de saltos podem ser direcionados para cada modalidade a ser analisada, seja com grandes ocorrências de contração isométrica ou dinâmica.
Quanto ao AF, um estudo realizado por Santos et al. (2015), em 407 atletas de alto rendimento (Masculino: 287 e feminino: 120 de 16 modalidades), com idade ≥ 16 anos, que participaram de competições nacionais em Portugal, visava verificar a relação do AF e testes de preensão manual e saltos. Nos homens verificou-se uma associação entre o AF e os testes funcionais (exceto saltos), independentemente da massa muscular. Nas mulheres não foram observadas associações. Além disso, foi construída no referido estudo (através de regressão linear) uma tabela de percentil para a variável AF onde o percentil 50 do AF correspondeu a 7.8º para os homens e 7º nas mulheres, visto que se assemelham com os valores médios para a referida variável do presente estudo, tanto para Masculino quanto para Feminino. Sendo assim, a pesquisa de Santos, Cyrino, Antunes, Santos e Sardinha (2016) se assemelha com os valores de AF achados, pois como pode ser verificado na Tabela 1, no Masculino o AF obteve uma média de 8.01º e no Feminino 7.23º.
Assim, o AF é um importante indicador para a função musculoesquelética de atletas do sexo masculino, independentemente da quantidade de MM, sendo este, uma importante ferramenta para o seu monitoramento, no qual anteveem possíveis danos na integridade celular provenientes de cargas de treino excessivas. Na Tabela 3, o resultado de comunalidade da variável AF se mostrou elevado (0.790), onde esse elevado peso apresenta-se como importante variável para a formação das ACPs e, também, para o presente estudo, pois se mostrou correlacionado com as variáveis de composição corporal e força de PMD e PME, que formam a primeira ACP.
No estudo de Llames et al. (2013), também se assemelha com os valores de AF do presente estudo, pois os valores de AF para Masculino são maiores quando comparados do Feminino, embora neste estudo, seja uma revisão de diversos outros estudos, com amostras em diversas situações, mesmo assim se assemelhando com o presente estudo. Aliás, no estudo de Ribeiro et al. (2017) verificou-se que independente do sexo, um treino resistido progressivo pode induzir o aumento do AF em jovens universitários e no estudo de Santos et al. (2016) foi verificado que o treino resistido proporcionou mudanças no AF em mulheres idosas, visto que com o destreinamento o AF diminui, sendo necessário voltar a treinar para que ocorra novamente o aumento dessa variável, reforçando assim, como no presente estudo, se verifica boa relação da variável AF com a massa muscular em indivíduos que realizam treinamentos de força.
Logo, a variável AF se mostrou uma ferramenta importante para o monitoramento de atletas adolescentes que participaram da fase final dos Jogos da Juventude o Paraná, visto que se mostra maior em Masculino quando comparado com Feminino, talvez em função do grupo Masculino apresentar maior quantidade de MM do que feminino. Assim, de acordo com a literatura, as variáveis da presente investigação podem ser consideradas de grande relevância teórica para a prescrição, monitoramento e controle do treinamento de atletas adolescentes, também a relacionando com a força.
A perspectiva em função do conhecimento profundo sobre as relações entre composição corporal, força e AF em adolescentes atletas que participaram do presente estudo foi o ponto mais relevante para a construção e o desenvolvimento do presente estudo. Assim, os atletas que participaram da referida pesquisa, durante os seus respectivos períodos competitivos, onde seus resultados encontrados permitem estabelecer as seguintes condições:
A importância das variáveis lineares que formam cada ACP devem ser consideradas como critérios para o acompanhamento e monitoramento, considerando as especificidades e características de cada modalidade, sexo e idade, sendo que a técnica das ACP se apresentou como interessante ferramenta para tais análises em atletas adolescentes, pois permitiu reduzir a quantidade de variáveis coletadas, no qual comporta somente variáveis com boa relevância e elimina variáveis que são redundantes para a referida análise, diminuindo a complexidade das suas respectivas interpretações.
CONCLUSÕES
Portanto, sabendo que o ângulo de fase é uma variável relativamente nova ao se avaliar no contexto de desempenho esportivo, onde se apresentou como importante variável, pois apareceu com altos pesos (“loadings”) em todas as componentes principais, ou seja, não sendo redundante, assim mostra-se interessante para o monitoramento da condição física de atletas adolescentes, visto que nas atividades que são solicitadas uma condição muscular mais vantajosa, se faz presente quando é aumentado a massa muscular e diminuído quando ocorre a redução da função muscular, onde além de possuir boa relação com a força, também se relaciona com as variáveis de composição corporal e da bioimpedância que formam a primeira ACP. Assim, além de confirmar a hipótese do estudo quanto à relação entre ângulo de fase, composição corporal e força, em especial, o ângulo de fase revela-se como promissor para avaliar a qualidade muscular em vários grupos de atletas, pois é uma variável em que o avaliador não leva mais de 30 segundos para adquirir, não sendo invasivo, fácil de realizar ou seja, muito ágil e prático para equipes desportivas, que contam sempre com o melhor aproveitamento do tempo em suas respectivas periodizações ao longo de uma temporada. Porém, sugere-se novos estudos com um n ainda maior para a amostra em questão, bem como o acompanhamento progressivo e mais minucioso de equipes desportivas, visando verificar com mais profundidade esta variável que muitos estudiosos estão a investigar.