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Medievalista

versão On-line ISSN 1646-740X

Medievalista  no.36 Lisboa dez. 2024  Epub 30-Set-2024

https://doi.org/10.4000/medievalista.8392 

Artigos

Os Ducas e a recompensa dificilmente dividida: a busca (fracassada) por poder partilhado no governo de Aleixo I (1081-1118)

The Doukai and the hardly apportioned reward: the (failed) quest for shared power under Alexios I (1081-1118)

João Vicente de Medeiros Publio Dias1 
http://orcid.org/0000-0002-2846-0143

1 Universidade Nacional Autônoma do México, Instituto de Investigações Filológicas, 04510 Cidade do México, México; joaov.dias@daad-alumni.de


Resumo

A rebelião que levou os Comnenos ao poder, em 1081, foi bem-sucedida e resultante de vários apoios, o mais importante dos quais foi dado pelos Ducas, uma linhagem que já havia controlado o poder imperial e com a qual Aleixo era ligado por matrimônio. A posição tradicional da historiografia é de que esse foi o início de um governo aristocrático no qual os parentes do imperador desfrutavam de uma parcela do poder. Entretanto, estudos mais recentes contestam a extensão da distribuição de poder sob os Comnenos (1081-1118), alegando que esses imperadores eram mais centralizadores e tradicionais do que se pensava anteriormente. No entanto, de fato, os imperadores distribuíram o poder, principalmente Aleixo I (1081-1118), mas de forma mais restrita e pontual. Assim, em função do papel dos Ducas na rebelião, esperava-se que Aleixo I compartilhasse o poder com essa família, mas preferiu fazê-lo com sua mãe e seu irmão. Os Ducas, sentindo-se melindrados, não pouparam esforços para buscar espaço no regime, resultando em uma série de crises internas que contrapuseram diversos membros desse consorcio familiar que havia tomado o poder. Por fim, não foram bem-sucedidos. Contudo, essa reivindicação por poder partilhado produziu uma identidade paralela dos Ducas e discursos correspondentes, os quais perduraram após a morte de Aleixo I e continuaram existindo durante o reinado de João II (1118-1143). Esta identidade enfatizava o papel desta família na tomada do poder e na legitimação do novo imperador, assim como demandava espaço e poder. Este artigo tratará destes temas.

Palavras-chave: Partilha de poder; Império Bizantino; Aleixo I; Comneno; Ducas

Abstract

The rebellion that brought the Komnenoi to power in 1081 was successful because it had many supporters, the most important of which was the Doukai, a lineage that had already controlled imperial power and with which Alexios was linked by marriage. The traditional position of historiography is that this was the beginning of an aristocratic government in which the emperor’s relatives enjoyed a share of power. However, more recent studies dispute the extent of the distribution of power under the Komnenoi (1081-1118), claiming that these emperors were more centralizing and traditional than previously thought. However, in fact, the emperors did distribute power, especially Alexios I (1081-1118), but in a more restricted and ad hoc way. Thus, given the Doukas’ role in the rebellion, it was expected that Alexios I would share power with this family, but he preferred to do so with his mother and brother. The Doukas, feeling aggrieved, spared no effort to gain a foothold in the regime, resulting in a series of internal crises that pitted various members of the family consortium that had seized power against each other. In the end, they were unsuccessful. However, this claim for shared power produced a parallel identity for the Doukas and corresponding discourses, which lasted after the death of Alexios I and continued to exist during the reign of John II (1118-1143). This identity emphasized the role of this family in seizure of power and the legitimization of the new emperor, as well as demanded space and power. This article will deal with these issues.

Keywords: Power-sharing; Byzantine Empire; Alexios I; Komnenos; Doukas

Introdução: A rebelião de 1081 como um projeto coletivo

O relato vivo e detalhado da tomada de poder por Aleixo I (1081-1118) em abril de 1081, apresentado por sua filha Ana Comnena, chama a atenção por retratar este evento como uma empreitada coletiva que somente teve êxito em função do apoio ativo de diversos grupos e indivíduos1. É interessante que, no momento da deflagração da rebelião, ainda não estava claro quem seria o imperador: Aleixo ou Isaac, seu irmão mais velho. Isaac tinha todas as condições para ser aclamado: superava Aleixo em idade, tinha tanta ou mais experiência e dispunha de partidários. No entanto, Aleixo foi feito imperador pelos soldados de seu exército durante a assembleia em Chiza, perto de Adrianopla, na Trácia, sendo reconhecido como tal por seu irmão. Segundo Ana Comnena, a escolha por Aleixo deveu-se ao esforço conjunto da família de sua esposa, Irene, liderado pelo avô daquela, João Ducas, o kaisar2. Essa contribuição-chave da família Ducas para o sucesso da rebelião e da ascensão de Aleixo é um tema central no relato de Ana Comnena sobre o episódio, servindo de ponto de referência para o futuro relacionamento entre as duas linhagens.

Em função disso, era esperado o reconhecimento tácito desse apoio pelo novo imperador na forma de participação dos Ducas no governo ou mesmo de partilha de poder entre eles e os Comnenos. Porém, Aleixo tinha outras dívidas, em particular com os membros de sua própria família, especialmente com seu irmão, Isaac, que havia abdicado de sua candidatura imperial em favor de Aleixo, de forma que teve que incluí-los no governo, dando-lhes a posição ambicionada pelos Ducas. Este artigo, então, demonstrará que havia um choque de expectativas entre o novo imperador e os parentes de sua esposa. Esse desequilíbrio entre a demanda por espaço pelos diversos apoiadores da usurpação e a oferta de parcela de poder teria gerado descontentamentos por parte dos Ducas, assim como crises e a sensação entre aqueles de urgência em proteger o espaço conquistado. Esta instabilidade também teria resultado no surgimento de uma identidade paralela dos Ducas dentro do regime imperial patrimonial fundado por Aleixo I, a qual teria perdurado após sua morte e continuado a existir durante o reinado de João II (1118-1143). Esta identidade enfatizaria o papel desta família na tomada do poder e na legitimação do novo imperador, assim como demandaria espaço e poder.

Relação Comneno-Ducas na historiografia

Até recentemente, a relação entre Comnenos e Ducas não havia sido problematizada a fundo. Paul Magdalino foi o primeiro a questionar o discurso de unidade familiar, apontando as primeiras fragilidades do que ele denominou “consórcio familiar” que tomou o poder em 1081. Contudo, Magdalino afirma que Aleixo teria demonstrado respeito suficiente aos Ducas e que estes ficaram satisfeitos com o quinhão recebido de participação no governo3. Peter Frankopan se aprofundou nas divisões e crises internas do reinado de Aleixo I. Embora ele questione a lealdade de alguns familiares do imperador, como Adriano Comneno4, seu irmão, e Nicéforo Melisseno5, seu cunhado, não vê problemas na relação com os Ducas, afirmando somente, num trabalho mais recente, que, embora o casamento entre Aleixo e Irene tenha sido chave para sua escolha em vez de Isaac, os Ducas ainda poderiam manter ambições imperiais. Segundo o autor, Miguel VII Ducas (1071-1078), apesar de deposto por Nicéforo III Botaniates (1078-1081), poderia ter tentado retomar o trono. João Ducas poderia ter também mantido ambições. Logo, nomear Constantino Ducas, filho de Miguel VII, como coimperador e noivá-lo com Ana Comnena teriam sido tentativas de aplacar essas aspirações6. Isso, porém, seria entender todos os Ducas como um bloco familiar. Veremos à frente que a linhagem Ducas estava dividida em duas facções com objetivos diferentes e contraditórios. Tal divisão foi plenamente reconhecida no estudo de Larisa Vilimonović sobre a Alexíada de Ana Comnena, no qual, partindo de análises anteriores por Vlada Stanković7, a obra é tratada como uma manifestação de autoridade intelectual e política da autora como herdeira de ambas as ramificações da família Ducas. Segundo Vilimonović, Ana Comnena estaria, em sua obra, reagindo às apropriações da imagem e do reinado de seu pai feitas pela linha imperial da Dinastia Comneno, representada por seu filho mais velho, João II, e por seu neto, Manuel I (1143-1180)8.

Os Comnenos e os Ducas: as origens de uma colaboração conturbada

As famílias Ducas e Comneno entraram definitivamente na história política bizantina em 1057, quando uma rebelião militar liderada por Isaac Comneno depôs Miguel VI (1056-1057). Isaac era apoiado por um grupo de chefes militares insatisfeitos com o tratamento diferenciado dado aos funcionários civis, que, ao contrário dos militares, recebiam promoções. Isaac tentou implementar uma série de reformas econômicas e administrativas, mas sua posição foi enfraquecida em função de frustrações no campo de batalha. Uma doença relativamente grave lhe deu o pretexto para abdicar do trono e adotar a vida monástica. Em vez de passar o poder para um familiar, Isaac I nomeou como seu sucessor Constantino X Ducas (1059-1067), um dos chefes militares que haviam apoiado a rebelião que o levou ao poder9.

Seu irmão, João Comneno, foi apontado por Isaac I ao posto de domestikos das scholai do ocidente, que era oficialmente o comandante supremo das forças militares ocidentais10. Apesar disso, ele não foi considerado para suceder ao irmão, aceitando a decisão sem resistências. No entanto esposa, Ana Dalassena, não admitiu a marginalização de seu marido11. Este evento deu início ao seu antagonismo em relação aos Ducas, cujas consequências políticas reverberaram por décadas. A morte de Constantino X, em 1067, gerou uma crise relacionada à regência que resultou na tomada de poder por Romano IV Diógenes (1068-1071), oficialmente como protetor dos filhos de Constantino X. A consequência foi a emergência de duas facções na corte: a dos apoiadores dos Ducas e a dos apoiadores de Romano IV. Embora supostamente com o mesmo objetivo ‒ proteger os direitos sucessórios dos porfirogênitos ‒ ambos os grupos agiam como adversários e conspiravam uns contra os outros. Ana Dalassena, chefe da família Comnena desde o falecimento de seu marido em 1068, se aproximou de Romano IV através de uma aliança matrimonial entre sua filha Teodora Comnena e Constantino Diógenes, filho de Romano IV12. Como parte da aliança, Manuel Comneno, o filho mais velho de Ana Dalassena, também se casou com uma parente do imperador e recebeu um alto comando militar, mas faleceu pouco tempo depois13. A sorte dos Comnenos sofreu uma outra reviravolta com a derrota militar em Manzikert em 1071, frente aos turcos seljúcidas, e a guerra civil entre Romano IV e os Ducas que se seguiu. Romano IV foi derrotado, cegado e deposto14. Em seu lugar foi entronado Miguel VII Ducas (1071-1078), filho de Constantino X. Acusada de manter correspondência com Romano IV durante a guerra civil, Ana Dalassena foi exilada junto de sua família para Ilha de Prinkipos, no Bósforo, mas acabaram sendo chamados de volta à corte pelo imperador, em busca de uma reaproximação. De acordo com as práticas políticas da época, isso se deu através de alianças matrimoniais. O filho sobrevivente mais velho de Ana Dalassena, Isaac Comneno, casou-se com Irene, prima da imperatriz Maria da Alânia, e Aleixo, o segundo mais velho, casou-se com Irene Ducas, filha do kaisar João Ducas15.

Os Comnenos, então, se ligaram às duas ramificações da linhagem Ducas. A origem dessa divisão está no período conturbado da sucessão de Constantino X. Ao tomar o poder, este imperador nomeou seu irmão, João, kaisar, inicialmente um título imperial, mas que passou a ser cedido a herdeiros presumidos16. Essa concessão simbolizava o status elevado do irmão do imperador na corte e no governo. Com a morte de Constantino X, João Ducas tentou controlar a regência, mas acabou sendo marginalizado com a ascensão de Romano IV. João Ducas se converteu, desse modo, no líder da facção Ducas. O historiador Miguel Ataliates, que era um admirador de Romano IV e crítico dos Ducas, acusa esta família de constantemente conspirar contra o imperador, deixando implícito que a derrota de Manzikert em 1071 foi resultado da traição de Andrônico Ducas, filho do kaisar17. O Continuador Skylitzes dá mais detalhes sobre os membros deste grupo que, de acordo com ele, “preferiam ver o imperador morto”. Estes eram Nicéforo Paleólogo, Miguel Pselo e João Ducas18.

Ao se desfazerem de seu adversário, os Ducas entraram em divisões internas. Miguel VII Ducas era jovem e, de acordo com relatos contemporâneos a ele, incapaz19. Em função disso, João Ducas provavelmente acreditou que se tornaria a eminência parda por trás do trono de seu sobrinho, mas o imperador demonstrou preferência por outra pessoa: o eunuco Nicéforo, o logotheta do dromos20. O afastamento definitivo de João Ducas se deu em função de um episódio confuso no qual, - ao ser enviado para enfrentar o chefe normando rebelde Roussel de Bailleul, ser derrotado e tomado como prisioneiro por ele - , foi aclamado imperador pelas tropas fiéis a Roussel. No entanto, a rebelião foi rapidamente debelada por forças turcas enviadas pelo imperador, e João Ducas adotou o hábito monástico antes de retornar a Constantinopla, a fim de evitar uma punição mais severa.21 Esse episódio marcou o fim de qualquer tentativa de João Ducas de conquistar influência junto ao seu sobrinho. Quando Miguel VII, por sua vez, foi deposto por uma rebelião, João Ducas convenceu o usurpador, o octogenário Nicéforo III Botaniates (1078-1081), a se casar com a imperatriz Maria da Alânia22.

Os Ducas em busca de espaço no novo regime

Na iminência da tomada de poder pelos Comnenos em 1081, observamos que seus principais atores, embora ligados por parentesco e laços de casamento, tinham um histórico de desavenças, ressentimentos e antagonismos. Logo, não surpreende que desentendimentos surgiram desde o primeiro dia do novo regime23. Segundo Ana Comnena, houve uma separação física entre os Ducas e os Comnenos, pois, ao tomarem o poder, todos os Comnenos foram morar no “palácio alto”, enquanto a família de João Ducas, inclusive Irene, a esposa de Aleixo, foi morar no “palácio baixo”. Se isso não bastasse para alienar ambas as famílias, Ana Comnena informa que Maria da Alânia e seu filho Constantino Ducas foram morar junto dos Comnenos, dando início a um boato segundo o qual Aleixo planejaria divorciar-se de Irene para casar-se com a imperatriz Maria. Ana Comnena afirma que teria sido um boato mentiroso24. Ainda assim, muitos dentro do consórcio familiar que tomou o poder em abril de 1081 levaram essa possibilidade muito a sério. Uma delas foi Ana Dalassena, que provavelmente viu nesse plano uma possibilidade de se desvincular de João Ducas e sua família.

Os Ducas naturalmente se preocuparam e agiram em dois fronts. No primeiro, Jorge Paleólogo, um parente por casamento dos Ducas, tentou incitar os marinheiros da frota a aclamar Irene Ducas como imperatriz, mas os partidários dos Comnenos (hoi peri tous Komnenous) tentaram abafar as aclamações. Paleólogo, então, deixou claro que não foi pelos Comnenos que ele se ligou à rebelião, mas por Irene25. No segundo front, João Ducas abordou Cosma, o Patriarca de Constantinopla ‒ apontado ao cargo por Miguel VII, logo, conectado aos Ducas ‒ para convencê-lo a não dar ouvidos a Ana Dalassena. Ele também convenceu Maria da Alânia a abandonar o palácio em troca da coroação de seu filho e outros benefícios26. Ana Comnena não esclarece a que Cosmas não deveria dar ouvidos, mas, ao ficar sabendo que Aleixo queria substituí-lo por Eustrácio Garida, um monge do séquito de sua mãe, o patriarca deixou claro que não abdicaria antes de coroar Irene. Assim, fica evidente que João Ducas o abordou sobre seus temores de que sua neta seria substituída. Os movimentos dos Ducas colocaram os Comnenos em cheque, e, por fim, Irene foi coroada dias depois de Aleixo27.

Essas agitações evidenciam que ambas as famílias tinham concepções destoantes ou mesmo conflitantes sobre a distribuição de espaço e poder no regime recém-estabelecido. Representantes da família da imperatriz receberam posições, principalmente militares, nas províncias, mas na corte a situação era diferente. Os movimentos realizados pelo patriarca da família, o kaisar João Ducas, e o ultimato dado por Jorge Paleólogo ao observar que os partidários dos Comnenos não queriam aclamar sua cunhada eram prova de que esta família teria que ser assertiva na busca por espaço no novo governo. As primeiras decisões de Aleixo como imperador confirmaram essa percepção, uma vez que, ao partir para conduzir campanhas militares contra os normandos, ignorou os Ducas, deixando sua mãe e seu irmão, Isaac, como regentes em Constantinopla. Por ter adotado o hábito monástico, Dalassena não pôde portar nenhum título cortesão, mas sua posição como corregente é definida pelo fato de ser mãe do imperador28. Ela se representa como tal nos selos de chumbo por ela emitidos29. Ana Comnena transcreve na Alexíada um crisóbulo - um edito imperial - em que Aleixo dá poderes amplos e autônomos à mãe30. Já Isaac recebeu o grandioso título de sebastokrator criado por Aleixo especificamente para ele, sendo uma fusão de dois títulos até recentemente reservados ao imperador: autokrator e sebastos31.

Não é difícil imaginar como essas medidas podem ter irritado e preocupado os Ducas. A usurpação de 1081 foi, como apontado, uma iniciativa com a participação de diversos atores, e, se formos dar crédito ao relato de Ana Comnena, os Ducas tiveram um papel chave para o sucesso da empreitada. Dessa forma, todos os envolvidos imaginaram que ganhariam uma porção de poder correspondente ao seu papel. De fato, as primeiras determinações de Aleixo I deixaram claro a todos que ele estava disposto a partilhar poder. Essa era também uma decisão muito prática, pois o Império Bizantino enfrentava diversos desafios internos e externos e ceder poder autônomo a alguns de seus parentes revelou-se uma estratégia inteligente. Contudo, fica igualmente evidente que o imperador somente confiava num círculo muito restrito de familiares próximos para tal, o qual não incluía os Ducas.

A importância de Ana Dalassena como a principal figura feminina na corte, a quem um nível de poder autônomo foi cedido, acrescentava uma camada extra de preocupação devido à animosidade mútua entre ela e os Ducas. Ana Dalassena manteve essa posição até, pelo menos, 1094, quando ordenou o cegamento de um pretendente a porfirogênito que havia se ligado a um exército invasor cumano32. Segundo João Zonaras, Aleixo teria se cansado de ter que partilhar poder com a mãe, e ela, percebendo a impaciência do filho, se retirou ao Monastério de Pantepoptes, onde faleceu alguns anos depois33. A década de 1090 foi particularmente conturbada para Aleixo, uma vez que ele enfrentou uma série de conspirações de assassinato contra ele, que o levou a uma restruturação do seu círculo mais próximo de colaboradores34. A remoção de Ana Dalassena parece ter sido parte deste processo. A controvérsia relacionada a Leão, o Arcebispo de Calcedônia, pode ser compreendida dentro deste contexto. Esse episódio com anos de duração é bastante complexo envolvendo aspectos políticos, teológicos e eclesiásticos35. Aqui trataremos somente dos aspectos políticos, em especial no que tange o relacionamento entre Aleixo I e os Ducas.

Após tomar o poder em 1081, Aleixo I teve que lidar imediatamente com uma invasão normanda, ainda que sem recursos para recrutar um novo exército. A primeira iniciativa foi tentar arrecadar fundos entre seus parentes. Porém, quando isso não se mostrou suficiente, Ana Dalassena e Isaac Comneno, na época regentes em Constantinopla, sugeriram a apropriação de bens eclesiásticos de acordo com antigas leis canônicas da época de Heráclio I (610-641) que autorizavam tal iniciativa com o objetivo de resgatar cristãos que estavam em cativeiro. De acordo com a interpretação criativa dos Comnenos, os bizantinos sob jugo de invasores se enquadrariam nesta definição. Isaac, então, conclamou o synodos endemousa, a assembleia de oficiais do Patriarcado de Constantinopla e bispos presentes na capital, para ratificar a decisão. A maior parte da assembleia subalternamente aceitou a proposta, com a exceção de um pequeno número de clérigos liderado por Leão de Calcedônia. Essa resistência não foi somente apoiada por homens da igreja, mas também por leigos. Ana Comnena afirma que membros da burocracia instigavam Leão a resistir36. Há também sinais de proximidade entre o arcebispo de Calcedônia e os Ducas. Em uma carta de Teofilacto de Acrida, ele cumpre uma solicitação de Maria da Bulgária, a mãe da imperatriz, e pede ao diácono Nicetas, um sobrinho de Leão, que este intervenha junto a imperatriz em favor de Miguel Ducas, seu irmão, que havia desrespeitado um cânone37. Além disso, há um episódio curioso na Alexíada em que Jorge Paleólogo, ao retirar-se do campo de batalha durante a derrota em Dristra contra os petchenegos em 1087, encontra Leão de Calcedônia que lhe cede um cavalo para a fuga38. O episódio tem um tom hagiográfico, uma vez que naquele momento Leão estava exilado em Sozópole, logo teria sido uma visão. Ana Comnena afirma que essa visão era resultado da profunda devoção que Paleólogo tinha por Leão.

Ao analisar a controvérsia em torno de Leão de Calcedônia e o papel dos Ducas, Victoria Gerhold chega à conclusão de que seria uma manifestação de oposição a Aleixo, a qual também encontrou expressão nos conturbados primeiros dias de seu governo e nas tensões relacionadas com a sucessão deste imperador, que teria contraposto João Comneno a sua mãe e a sua irmã39. Contudo, faz mais sentido observar este episódio como uma forma encontrada pelos Ducas de demandar mais espaço no governo, atacando Ana Dalassena e Isaac, os quais ocupavam a posição de corregentes ambicionada pelos parentes da imperatriz. A primeira evidência disso é que o “Partido Calcedoniano” atacou uma política concebida por Isaac e Ana Dalassena; segundo, porque uma das exigências era a deposição do patriarca Eustrácio Garida e o retorno de Cosma40. Eustrácio, de acordo com a Alexíada, era um monge pouco sofisticado que ganhara a posição de liderança da Igreja Bizantina por gozar do favor de Dalassena, e Cosma foi seu antecessor apontado por Miguel VII que havia se comportado de forma tão leal aos seus benfeitores quando insistiu em coroar Irene antes de abdicar de seu posto41. No mais, ao associar a política de apropriação de bens a heresias como Iconoclasmo e Messalianismo, Leão de Calcedônia estava claramente tentando manchar a reputação daqueles que o sugeriram42.

Eustrácio acabou caindo em 1084, mas Cosma não foi trazido de volta. Em vez disso, Nicolau Gramático foi escolhido. Essa solução não satisfez Leão de Calcedônia que rechaçou o novo patriarca e se pôs em cisma com a Igreja, para, por fim, ser exilado em Sozópole em 108643. Ainda assim, o assunto não se resolveu: Leão ainda tinha muitos apoiadores, dentre os quais membros da família Ducas, e a cisão interna da Igreja permanecia. Isso era um problema sério para Aleixo, já que garantir a unidade dentro dela era uma das funções primárias de um imperador. A controvérsia foi somente resolvida em algum momento entre o fim de 1094 e início de 1095 durante o Sínodo de Blaquernes, quando membros da família imperial, outros membros da administração e da Igreja se reuniram para conciliar Leão de Calcedônia com o imperador44.

Irene Ducas e as questões sucessórias

Esse evento foi provavelmente também uma conciliação entre os Ducas e o imperador, que resultou no afastamento de Ana Dalassena e no reconhecimento da posição de Irene como a principal figura feminina na corte. Não é à toa que, a partir dessa data, ela começa a ter mais destaque no relato de sua filha. Irene passou a acompanhar Aleixo em campanhas militares, embora fosse incomum que imperatrizes bizantinas o fizessem e, por pelo menos uma ocasião, houve uma manifestação clara contra sua presença45.

Quando uma conspiração de assassinato foi descoberta no final da década de 1090, Aleixo decidiu poupar seus líderes, os irmãos Anemas, de serem cegados após a imperatriz e sua filha mais velha, Ana Comnena, intervirem pedindo misericórdia46. Mesmo que o episódio tenha sido uma encenação, é relevante que tanto Irene Ducas quanto Ana Comnena tenham participado dela, pois demonstra reconhecimento público de sua relevância e influência, semelhante ao mini panegírico imperial a Ana Dalassena incluído no encômio a Aleixo, composto por Teofilacto de Acrida47.

Zonaras também afirma que o papel de Irene Ducas cresceu no final do reinado de Aleixo. Segundo o autor, Aleixo não dava muita atenção à sua esposa no início do casamento, dedicando-se a casos extraconjugais, mas, com o tempo, a união entre os dois se fortaleceu e Irene findou por ganhar um espaço significativo no governo48. Zonaras assevera que a imperatriz favorecia Nicéforo Briênio, o marido de Ana Comnena, que já exercia um papel de regente no final do reinado de Aleixo, assim como tentava marginalizar João Comneno. Contudo, João garantiu o trono através de juramentos e assegurando o controle do palácio imperial enquanto seu pai estava no leito de morte49. Nicetas Coniates reporta os mesmos eventos que Zonaras, complementando com uma narrativa sobre uma conspiração de assassinato contra João II quando já era imperador em favor de Nicéforo Briênio e Ana Comnena, que não foi bem-sucedida devido à hesitação do primeiro50.

Leonora Neville interpreta esse relato como uma crítica de ambos os autores aos imperadores da Dinastia Comneno51. Ambos desaprovavam o regime por razões distintas e, assim, teriam caracterizado os protagonistas de forma negativa através da reversão de papéis de gênero. Aleixo, cuja masculinidade já havia sido comprometida pela deferência exagerada a sua mãe, teria sua hombridade ainda mais diminuída aos olhos do potencial leitor ao não ser capaz de controlar sua esposa, forçando-a a aceitar sua decisão de nomear João Comneno como seu sucessor. Já a conspiração em favor de Ana Comnena contra seu irmão seria também outro exemplo de uma reversão de papéis de gênero, pois, segundo Coniates, a conjuração não foi bem-sucedida porque Nicéforo Briênio teria hesitado num momento crucial. Mais à frente, Coniates afirma que Ana teria se lamentado que era ela que havia nascido com genitália feminina e seu marido com a masculina, e não o oposto52.

Neville não chega a questionar abertamente a historicidade do evento, mas ao apresentar, baseada no panegírico a Ana Comnena por Jorge Torniques, a relação dos irmãos como harmoniosa e Ana Comnena como desinteressada em política e completamente dedicada à família, ao seu trabalho intelectual e ao patrocínio literário, deixa claro a sua opinião quanto ao assunto53. Embora não discorde da interpretação dada por Neville de que as disputas internas da família imperial pela sucessão tenham sido negativamente caracterizadas por ambos os autores, Zonaras e Coniates, com objetivo de difamar os Comnenos, aqui concordo com Alicia Simpson, ela própria autora de diversos estudos sobre Coniates e sua obra, quando afirma que “Coniates não concebia eventos ficcionais em sua História; ele embelezava eventos muito reais”54.

Há diversos aspectos, dentro e fora da Alexíada, que evidenciam tanto uma relação problemática entre os irmãos, quanto a proximidade entre Ana Comnena e Irene Ducas. A Alexíada não é uma obra dedicada à crítica, mas à construção da imagem de Aleixo como imperador e à ênfase no relacionamento de Ana Comnena com seus pais, principalmente sua mãe. Ainda assim, percebe-se que a forma como Ana Comnena trata os sucessores diretos de seu pai ‒ seu irmão e seu sobrinho ‒ é longe de ser elogiosa. O nascimento de João é relatado com muito menos fanfarra e celebração do que o nascimento da própria autora55. Em certo ponto, ela critica a estupidez dos sucessores diretos de Aleixo - João II e Manuel I - por desfazer a política externa de seu pai56. Neville diz que essa é uma crítica política pontual que não diz muito sobre a relação entre os irmãos57. Se fosse somente isso, com certeza ela poderia ter encontrado formulações mais amenas, ou mesmo subliminares, para expressar este desacordo. A ênfase na estupidez dos sucessores (ἀβελτηρία τῶν διαδεξαμένων τὰ σκῆπτρα) manifesta uma desaprovação mais ampla e profunda. Em outra passagem, Ana Comnena expressa seu amplo desprezo (legitimado pelo de seu pai) pela astrologia, que estava bastante em voga no reinado de Manuel I e possivelmente já no de João II58. Ana Comnena lamenta por não ter acesso a muitos dos amigos de seu pai ainda vivos devido “à mudança da fortuna” e à ridícula posição na qual ela não era mais visível59. Neville afirma que a passagem é confusa e ambígua, interpretando-a como uma tentativa da autora de gerar pena e se afastar do reinado de seu pai ao afirmar que suas fontes eram soldados simples e não pessoas ligadas ao seu governo60. Contudo, se essa fosse a intenção, Ana Comnena poderia ter encontrado outras formas de apresentar a si e as suas fontes sem a evidente conotação política de sua afirmação. Neville está certa quando afirma que Ana Comnena não foi condenada ao encarceramento pelo resto de sua vida, mas essa passagem indica que suas ambições políticas possivelmente a tornaram uma persona non grata na corte de seu irmão e sobrinho. Por fim, em sua narração sobre a morte de Aleixo, infelizmente comprometida por diversas lacunas no texto, Ana Comnena confirma tanto Zonaras quanto Coniates afirmando que João II havia partido para o Grande Palácio, ou seja, abandonado seu pai e sua família nesse momento de profunda tristeza. Enquanto isso, sua mãe, irmãs e o resto família teriam cuidado do imperador moribundo e, após sua morte, manifestado o luto apropriado61.

A oração fúnebre a Ana Comnena por Jorge Torniques, composta pouco depois de sua morte em 1153, repete alguns temas da Alexíada62. Esta obra tem dois objetivos: primeiro, elogiar e justificar Ana Comnena como intelectual, não somente apreciadora das letras clássicas e patrona de intelectuais, mas também como autora; segundo, apresentá-la como boa filha e boa esposa. Segundo Neville, a caracterização de Ana Comnena por Torniques seria um contraponto à narrativa de Coniates, pois ele enfatiza em diversos pontos que ela não teria tido ambições políticas, mas havia dedicado sua vida integralmente à família e às letras63.

Curiosamente, Neville não aplica a Torniques o mesmo aparato crítico dirigido a Zonaras e Coniates. O elogio fúnebre de Ana Comnena é uma obra de natureza retórica, de modo que seu objetivo é retratar o objeto do elogio da forma mais positiva possível. Aspectos negativos de sua vida devem ser ignorados ou, se não for possível, justificados64. A própria Neville percebe que a ênfase dada por Torniques à humildade de Ana Comnena parece forçada, como uma tentativa de contrabalançar seus feitos intelectuais, que não seriam adequados para uma mulher na sociedade bizantina65. Uma reflexão semelhante não é feita para as afirmações por Torniques de que Ana Comnena não teria tido aspirações imperiais. Ele afirma que a morte de Constantino Ducas, o primeiro noivo de Ana Comnena, teria sido obra da Providência Divina, pois ela não nutria ambições políticas. Portanto, o casamento com Nicéforo Briênio teria permitido que ela se dedicasse às letras, a sua real vocação66. Essa afirmação contradiz a própria Ana Comnena que, na Alexíada, narra com orgulho a sua ligação com o jovem imperador e o fato de ambos terem sido aclamados juntos67. Mais importante, contudo, é que, ao narrar o leito de morte de Aleixo, Torniques rejeita rumores de que ela seria rival de seu irmão68. Essa inclusão, que está solta no texto e poderia perfeitamente ser tirada sem que isso comprometesse o argumento apresentado, é evidentemente apologética, demonstrando que tal rivalidade ou o boato sobre uma relação disfuncional entre os irmãos já circulava por volta de 1150, ou seja, quase cinquenta anos antes da composição da história de Coniates e era suficientemente conhecido para que o retórico sentisse a necessidade de rechaçá-lo em seu elogio. É importante recordar que essas obras eram escritas primariamente para um público contemporâneo e muito restrito, a elite letrada envolvida com o governo do império. Um círculo de pessoas muito pequeno, composta por não mais de algumas dezenas de pessoas, que se conhecia e estava familiarizado com os eventos relatados, tendo mesmo os testemunhado. Portanto, panegíricos e histórias primariamente ofereciam uma versão para fatos já conhecidos69. Isso dificulta muito a hipótese de que as disputas interfamiliares dos Comnenos tenham sido invenções completas dos historiadores, pois uma invenção seria imediatamente percebida e teria comprometido sua credibilidade70.

Também dispomos de uma fonte independente e externa à Bizâncio do final do século XII, que corrobora o relato de Zonaras e Coniates: Miguel, o Sírio. Em sua entrada sobre o início do reinado de João II, o cronista afirma que o novo imperador sofreu um complô organizado por seu irmão, irmã e mãe. Provavelmente, ele se enganou, confundindo o cunhado do imperador, Nicéforo Briênio, com um de seus irmãos, uma vez que não temos outra evidência de que João II teve qualquer problema com algum irmão no início de seu reinado71. Considerando a sua distância física e cultural de Constantinopla e o fato de que Miguel, o Sírio, muito provavelmente não lia grego, é improvável que tenha sido influenciado por Zonaras ou tido acesso a uma redação anterior da obra de Coniates72. Seu conhecimento sobre os distúrbios conectados à sucessão de Aleixo são certamente ecos distantes de histórias que já há muito circulavam na capital bizantina.

Ana Comnena provavelmente não odiava seu irmão, logo Neville está correta em tirar esse suposto sentimento do foco da sua interpretação da Alexíada. Porém, a ausência de rancores pessoais não exclui a existência de ambições políticas em conflito. Todas as fontes do período parecem confirmar isso e, ademais, que havia uma proximidade muito grande entre Ana Comnena, Nicéforo Briênio e Irene Ducas, assim como com o resto da família Ducas. Em função disso, Michael Angold sugere que Ana e Nicéforo fossem representantes dos interesses desta linhagem73. Neville discorda dizendo não haver razões para afirmar que Ana Comnena seria mais representante dos Ducas do que João II74. Contudo, ao analisarmos as obras e feitos dos três indivíduos acima mencionados - Ana, Nicéforo e Irene - veremos que todos se conectavam e compartilhavam discursos semelhantes, os quais enfatizavam o papel da família Ducas no governo do império.

O Monastério da Virgem Cheia-de-Graça (Kecharitomene)

Quando Aleixo I ainda estava vivo, Irene fundou dois monastérios para monges, o de Cristo Filantropo, onde Aleixo foi enterrado, e o da Virgem Cheia-de-Graça (Kecharitomene) para freiras75. Seguindo as tendências de patrocínio monástico de sua época, Irene determinou que o Monastério de Kecharitomene, o único dos dois cujo documento de fundação (typikon) sobrevive, seria independente e livre de influências de qualquer autoridade, da própria Irene, do imperador, do patriarca ou de pessoas privadas76. Ainda assim, ela conecta a instituição a sua família ao determinar uma protetora (ephoros, antilambanomene) cuja função era defender os interesses do convento e garantir que as regras estabelecidas pela fundadora fossem seguidas77. Além das obrigações, a protetora do monastério teria direito de habitar apartamentos imperiais construídos de forma anexa à instituição e não seria obrigada a viver de acordo com o regime monástico. A primeira protetora apontada por Irene foi sua filha Eudócia Comnena. Quando esta faleceu prematuramente, Irene aponta Ana Comnena como a protetora da instituição78. Eudócia provavelmente foi escolhida por ser a filha desamparada. Ela havia se casado com o filho de Constantino Iasites, mas a união foi rompida, e Eudócia havia se tornado freira79. Com sua morte, Irene passou os direitos e deveres de protetora a Ana, provavelmente a filha com que teria maior conexão e identificação80, estabelecendo que sua neta e filha de Ana, chamada de Irene Ducas como a avó, seria a herdeira do cargo de protetora. Após sua morte, os apartamentos deveriam ser transmitidos para sua descendência feminina, sendo aberto aos descendentes masculinos caso a feminina se extinguisse81. Vemos aqui Irene querendo assegurar que Ana Comnena e sua descendência possam gozar de conforto e uma alta posição social - protetores de um monastério imperial em Constantinopla - após a sua morte.

Esse gesto deixa clara a decisão da imperatriz de que Ana Comnena seria a herdeira de seu legado, que era da família Ducas82. Isso fica ainda mais evidente ao observar a lista de pessoas cuja memória deveria ser eternamente celebrada no monastério. Monastérios não eram somente monumentos ao prestígio social e riqueza de seus fundadores. Eram também manifestações de piedade individual e temores ligados à salvação da própria alma83. Assim, além de alguns trabalhos caritativos, os monges ou freiras deveriam rezar pela alma do fundador e de sua família para toda a eternidade. Dessa forma, os fundadores concediam parte significativa de seu patrimônio para assegurar o sustento material desses monastérios. A lista de comemorações do monastério da imperatriz diz muito sobre quem ela considerava sua família. Os primeiros na lista são Aleixo I e Irene, depois seu filho João II e sua nora, a também imperatriz Irene, em seguida e em ordem, filhos e genros, filhas e noras, seus pais e os pais de Aleixo e, por fim, os irmãos de Irene84. Ao observarmos a hierarquia e as presenças, assim como as ausências, percebe-se que, na concepção da fundadora, sua família era composta somente de seus filhos, filhas, genros e noras, seus pais e seus irmãos. Dos familiares de Aleixo somente seus pais são mencionados, seus irmãos e irmãs, cunhados e noras, tirando os Ducas, foram excluídos; Ana Dalassena não é citada pelo nome mas somente como “minha sogra”, dando a impressão que Irene parece ter quisto excluí-la da lista, mas não pôde.

Defendendo o legado dos Ducas

Com a morte de Aleixo I e o início do reinado de seu filho, João II, em 1118, entramos num período com menos informações sobre os eventos políticos internos em Bizâncio. Se, por um lado, a política externa deste imperador pode ser analisada através das fontes não bizantinas e a vigorosa produção literária composta durante o seu reinado nos permita estudar os gostos e tendências estéticas na corte imperial, João II não teve sua Ana Comnena, ou seja, um relato histórico focado em seu governo que nos permita analisar outras fontes, algumas delas sem datação definida, dentro de um quadro cronológico claro. Os relatos de João Cínamo e Coniates começam com o reinado de João II, mas o tratando como um prelúdio de reinados posteriores aos quais é dada maior ênfase85. Apesar dessa escassez, foi durante o governo de João II que obras exprimindo o ponto de vista dos Ducas foram compostas. Elas nos permitem esclarecer as ações tomadas e estratégias adotadas no período em que foram escritas e em épocas anteriores, apresentando-nos como esta família imaginava qual deveria ter sido seu papel no governo de Aleixo.

O século XI foi um período de inovações literárias em Bizâncio. Até esse ponto, a historiografia bizantina era composta por monges ou por membros da administração imperial86. Contudo, neste século observamos o surgimento de narrativas aristocráticas, isto é, relatos de eventos políticos compostos por representantes das famílias que aos poucos estavam monopolizando as principais posições de poder no Império. Esse gênero atingiu o seu ápice no século XII, pois, entre os principais historiadores do período, estão uma filha e o cunhado do imperador. Contudo, houve relatos anteriores a esses, mas, com a exceção do chamado Strategikon de Cecaumeno, não sobreviveram em sua maioria. Alguns, porém, foram incorporados a outras obras historiográficas87. Leonora Neville sugere que há um relato desse tipo de autoria de João Ducas, o kaisar e avô de Irene, que Nicéforo Briênio incorporou ao seu Material de História, obra resultante de uma encomenda da própria Irene, a qual, após a morte de Aleixo, pediu ao genro que compusesse uma história do reinado de seu marido. Neville afirma que as passagens nas quais João Ducas aparece são blocos autônomos que oferecem muitos detalhes sobre suas ações, muitos dos quais não são de grande relevância no quadro geral da obra de Briênio. Além do mais, tais trechos possuem características estilísticas, como uma nomenclatura mais arcaizante, que os distinguem do resto do texto. Esses elementos convencem a autora de que estas passagens não foram compostas originalmente por Briênio baseado em relatos orais, mas foram apropriações de um texto mais antigo de autoria de João Ducas ou encomendado por ele88.

Curiosamente, em seu estudo sobre a Alexíada, obra composta por Ana Comnena a partir do trabalho encomendado por Irene Ducas a seu marido, mas nunca terminado, Neville não questiona se o relato apologético sobre João Ducas não pode ter ido além do ponto onde Briênio termina ‒ um pouco antes da rebelião que leva os Comnenos ao poder em 1081 ‒ e continuado até depois da coroação de Aleixo, servindo, assim, também de fonte para Ana Comnena89. Larissa Vilimonović, porém, lança essa possibilidade em seu estudo sobre a Alexíada, que em muitos pontos discorda das conclusões de Neville sobre a mesma obra90.

De fato, os Comnenos não causam boa impressão no relato da Alexíada sobre a rebelião de 1081 e os eventos que se seguiram. O mencionado rumor de que Aleixo planejava divorciar-se de Irene Ducas para casar-se com Maria da Alânia logo após tomar o poder, com amplo suporte dos parentes da primeira, cria a óbvia impressão de que Aleixo e sua família seriam ingratos. Essa impressão fica ainda mais forte quando observa-se que João Ducas e sua família não somente apoiaram Aleixo, mas foram o fator decisivo para o sucesso de sua rebelião e para sua aclamação em vez de seu irmão Isaac: Jorge Paleólogo cede parte de sua fortuna para financiar a insurreição91; João Ducas se apropria dos recursos recolhidos por um coletor de impostos92 e recruta tropas turcas que encontrou;93 e, durante o cerco, é ele que sugere subornar a unidade de mercenários germânicos que guardavam um setor da muralha94. Quando as tropas rebeldes haviam entrado na cidade, os Comnenos aparecem como indecisos e tomando decisões equivocadas, como querendo visitar sua mãe e iniciando negociações com o imperador Nicéforo III. É pela ação decisiva de João Ducas que os Comnenos tomam as decisões corretas e, por fim, conseguem depor o imperador95. A imagem transmitida é bastante clara: os Comnenos seriam iniciantes na política, por isso os Ducas, uma família com larga tradição política, tendo coroado dois imperadores, deveriam governar conjuntamente.

O fato de que tanto Nicéforo Briênio quanto Ana Comnena incorporaram essa versão, ou mesmo o relato propriamente dito, favorável aos Ducas em suas obras, sinaliza que eles estavam ao menos parcialmente de acordo com essa opinião96. Essa era provavelmente a visão da imperatriz Irene Ducas, que originalmente incumbiu a história do reinado de Aleixo a Nicéforo Briênio. Apesar das motivações das obras expressas em seu prefácio sigam o lugar-comum historiográfico de não deixar que eventos relevantes e edificadores não caiam no esquecimento, a intenção de todos os envolvidos nesse projeto de longo prazo que tomou provavelmente mais de uma década para ser terminado foi além da preservação da memória familiar dos Ducas dentro da perspectiva mais ampla da história política recente do império97. Eles queriam sublinhar a importância que essa família teve para o sucesso da rebelião que levou os Comnenos ao poder em 1081, para escolha de Aleixo como imperador e para a estabilização do regime nos complicados primeiros anos de governo.

Conclusão

A linhagem Ducas foi uma dinastia imperial, a primeira a produzir um porfirogênito depois de décadas. Contudo, pela situação política interna e externa da época, acabaram sendo removidos do poder por Nicéforo III em 1078. Sem conseguir produzir um candidato forte para retomar o poder, João Ducas, o líder da família, se associou com Aleixo Comneno, na época um jovem comandante militar com grande potencial e já vitorioso no campo de batalha. O peso do apoio dos Ducas em sua ascensão ao trono é difícil de medir com exatidão, pois a principal fonte para o evento, a Alexíada, adota conscientemente um discurso cujo objetivo é destacar o papel dessa família no desenrolar dos eventos. Ainda assim, é possível assumir que os Ducas tiveram grande importância e que o novo imperador teria tido uma dívida para com eles. A expectativa era que Aleixo partilhasse poder com os familiares da sua esposa, mas ele preferiu fazê-lo com sua mãe e seu irmão. Os Ducas ficaram insatisfeitos. Contudo, não se viraram contra o imperador que ajudaram a entronar, provavelmente porque perceberam que tinham mais a perder com isso do que ganhar. Focaram os seus esforços em atacar indiretamente o irmão e a mãe de Aleixo, apoiando a resistência de Leão, o arcebispo de Calcedônia, contra as apropriações de bens eclesiásticos, política concebida por Isaac Comneno e Ana Dalassena, criando um cisma na Igreja e associando ambos a doutrinas heréticas. Embora um acordo tenha sido arranjado e o cisma entre Leão de Calcedônia e o imperador resolvido em 1095, os Ducas não conseguiram a partilha de poder que esperavam ter recebido em 1081. Contudo, as aspirações imperiais dos Ducas sobreviveram com Nicéforo Briênio e Ana Comnena. Não está claro em que medida ambos tentaram concretizar suas reivindicações. Provavelmente tentaram tomar o poder, visto por eles como parte do legado dos Ducas. Há sinais claros de que Irene Ducas tinha uma ideia clara do papel de sua família no governo do império e de que Nicéforo e Ana eram seus representantes. João II Comneno saiu, contudo, vencedor da disputa, e sua mãe, irmã e genro acabaram por aceitar o status quo, focando seus esforços em empreitadas literárias cujo objetivo era eternizar as memórias familiares e um projeto de poder abortado.

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1ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. Diether R. Reinsch e Athanasios Kambylis, Annae Comnenae Alexias. Pars Prior Prolegomena et Textus. Corpus Fontium Historiae Byzantinae 40, 1. (doravante ed.). Berlim, Nova York: De Gruyter, 2001, pp. 111-119. Trad. Diether R. Reinsch, Alexias Anna Komnene. Colônia: Dumont, 1996, (doravante Trad. Reinsch). pp. 25-141. Além desse relato, há outro significativamente mais curto por João Zonaras, e o Material de História, obra do marido de Ana Comnena, Nicéforo Briênio, que é essencialmente um prelúdio de 1081, pois narra os feitos das duas famílias que organizaram e conduziram a usurpação, os Comnenos e os Ducas, e como elas se relacionavam uma com a outra. Cf. JOÃO ZONARAS ‒ Epítome de Histórias, ed. Theodor Büttner-Wobst, Ioannis Zonarae epitomae historiarum libri xviii. Vol. 3. Corpus Scriptorum Historiae Byzantinae 45. 3. Bonn: Weber, 1897. Trad. Erich Trapp, Militärs und Höflinge im Ringe um das Kaisertum. Byzantinische Geschichte von 969 bis 1118 nach der Chronik des Johannes Zonaras (Byzantinische Geschichtsschreiber 16), Graz, Viena, Colônia: Styria, 1986. NICÉFORO BRIÊNIO - Material de História. Ed. e Trad. Paul Gautier, Nicephori Bryenni Historiarum Libri Quattuor. Bruxelas: Byzantion, 1975.

2ANA COMNENA ‒ Alexíada, ed., vii, pp. 72-75, Trad. Reinsch, pp. 89-92. A obra de referência sobre a prosopografia da família Ducas é o estudo de Demetrios Polemis, a qual iremos utilizar ao longo do presente artigo, cf. POLEMIS, Demetrios ‒ The Doukai. A Contribution to Byzantine Prosopography. University of London Historical Studies 22. Londres: Athlone, 1968. Já sua correspondente para a família Comneno é o estudo prosopográfico de Konstantinos Varzos, a qual também será aqui sistematicamente citado, VARZOS, Konstantinos ‒ Ἡ γενεαλογία τών Κομνηνών, Vol. 1. Tessalônica: Κέντρον Βυζαντινών Ερευνών, 1984.

3MAGDALINO, Paul ‒ The Empire of Manuel I Komnenos, 1143-1180. Cambridge: Cambridge University Press, 1993, pp. 202-203.

4FRANKOPAN, Peter ‒ “Kinship and the Distribution of Power in Komnenian Byzantium”. English Historical Review 123 (2007), pp. 1-34, em especial, p. 19.

5FRANKOPAN, Peter ‒ “The Fall of Nicaea and the Towns of Western Asia Minor to the Turks in the Later 11th Century: The Curious Case of Nikephoros Melissenos”. Byzantion 76 (2006), pp. 153-184, em especial, p. 172.

6FRANKOPAN, Peter ‒ “Re-interpreting the Role of the Family in Comnenian Byzantium: Where Blood is not Thicker than Water”. In LAUXTERMANN, Marc D.; WHITTOW, Mark (eds.) ‒ Byzantium in the Eleventh Century: Being in Between. Papers from the 45th Spring Symposium of Byzantine Studies, Exeter College, Oxford, 24‒6 March 2012. Londres; Nova York: Routledge, 2017, pp. 181-196, especialmente, p. 186.

7STANKOVIC, Vlada ‒ Komnini u Carigradu (1057 - 1185). Evolucija jedne vladarske porodice. Belgrado: Vizantološki in-t SANU, 2006, sumário em inglês, pp. 299-314.

8VILIMONOVIĆ, Larisa Orlov ‒ Structure and Features of Anna Komnene’s Alexiad: Emergence of a Personal History. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2019.

9KALDELLIS, Anthony ‒ Streams of Gold, Rivers of Blood. The Rise and Fall of Byzantium, 955 A.D. to the First Crusade. Nova York: Oxford University Press, 2017, pp. 216-223; POLEMIS, Demetrios ‒ The Doukai, pp. 28-30; VARZOS, Konstantinos ‒ Ἡ γενεαλογία τών Κομνηνών, pp. 41-47.

10VARZOS, Konstantinos ‒ Ἡ γενεαλογία τών Κομνηνών, pp. 49-57.

11CHEYNET, Jean-Claude ‒ “Les Dalassènoi”. in Cheynet, Jean-Claude; Vannier, Jean-François (eds.) ‒ Études Prosopographiques. Byzantina Sorbonnensia 5. Paris: Publications de la Sorbonne, 1986, pp. 75-115, especialmente, pp. 95-100 [reimpr. in: Cheynet, Jean-Claude (ed.) ‒ La société byzantine. L'apport des sceaux, Vol. 2, Paris: Association des amis du Centre d'histoire et civilisation de Byzance, 2008, pp. 413-471, especialmente 438-447]. A agência de Ana Dalassena no contexto das disputas por poder é parte de um momento bastante específico na história política bizantina ao longo do século XI, na qual mulheres puderam ter influência a partir de seu papel de mães de imperadores e, por vezes, portadoras da legitimidade dinástica, cf. Hill, Barbara ‒ Imperial Women in Byzantium, 1025-1204. Power, Patronage and Ideology. Londres; Nova York: Routledge, 1989; Garland, Lynda ‒ Byzantine Empresses. Women and Power in Byzantium, 527-1204, Londres: Routledge, 1999.

12VARZOS, Konstantinos ‒ Ἡ γενεαλογία τών Κομνηνών, pp. 85-86.

13VARZOS, Konstantinos ‒ Ἡ γενεαλογία τών Κομνηνών, pp. 61-64.

14KALDELLIS, Anthony ‒ Streams of Gold, Rivers of Blood, pp. 246-251.

15NICÉFORO BRIÊNIO ‒ Material de História, pp. 128-131, 142-143; 218-223.

16Polemis, Demetrios ‒ The Doukai, pp. 35-36; sobre o título kaisar, GUILLAND, Rodolph ‒Recherches sur les institutions byzantines. Vol. 2. Berlin: Akademie-Verlag, 1967, pp. 25-43.

17Miguel Ataliates - História, ed. Eudoxos Th. Tsolakis, Michaelis Attaliatae Historia. Corpus Fontium Historiae Byzantinae 50. Atenas: Κέντρον Ἐυρἐυνης τῆς Ἑλληνικῆς καὶ Λατινικῆς Γραμματείας, 2011, pp. 124-124. Trad. Anthony Kaldellis e Dimitris Krallis, The History. Michael Attaleiates. Dumbarton Oaks Medieval Library 16. Cambridge, EUA; Londres: Harvard University Press, 2012, p. 293.

18SKYLITZES CONTINUATUS, ed. Eudoxos Th. Tsolakis, Ἡ συνέχεια τῆς χρονογραφίας τοῦ Ἰωάννου Σκυλίτση, Tessalônica: Εταιρεία Μακεδονικών Σπουδών, 1968, p. 141. Trad. Eric McGeer, Byzantium in the Time of Troubles: The Continuation of the Chronicle of John Skylitzes (1057−1079). The Medieval Mediterranean. Peoples, Economies and Cultures, 400-1500 120. Leiden, Boston: Brill, 2020, p. 109.

19Polemis, Demetrios ‒ The Doukai, pp. 42-46.

20Beck, Hans-Georg ‒ “Der byzantinische »Ministerpräsident”. Byzantinische Zeitschrift 48 (1955) [reimpr. in: Ideen und Realitaeten in Byzanz. Gesammelte Aufsatze, London 1972, Art. no. 13], pp. 309-338, sobre a participação do eunuco Nicéforo no governo de Miguel VII, pp. 329-330.

21Polemis, Demetrios ‒ The Doukai, pp. 37-39; KALDELLIS, Anthony ‒ Streams of Gold, Rivers of Blood, pp. 258-259.

22NICÉFORO BRIÊNIO ‒ Material de História, pp. 252-255.

23Os argumentos apresentados ao longo do trabalho destoarão da afirmação feita por Vlada Stanković e Albrecht Berger de que “a confusão das primeiras semanas após a coroação de Aleixo, marcadas principalmente por tentativas da mãe do imperador, Ana Dalassena, de frustrar a influência da família Ducas que os permitiria dominar o novo regime foram rapidamente esquecidas” (The confusion of the first weeks after Alexios’ coronation, chiefly marked by the attempts of the emperor’s mother Anna Dalassene to thwart the influence of the Doukas family that would allow them to dominate the new regime was swiftly forgotten), Stanković, Vlada; Berger, Albrecht ‒ “The Komnenoi and Constantinople before the Building of the Pantokrator Complex”. In Kotzabassi, Sofia (ed.) ‒ The Pantokrator Monastery in Constantinople. Byzantinisches Archiv 27. Boston; Berlim: De Gruyter, 2013, 3-32, para citação p. 18. Veremos que os eventos conturbados do início do reinado de Aleixo moldaram a relação entre os Comnenos e os Ducas nas décadas seguintes, mesmo depois da morte desse imperador.

24ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. pp. 87-89. Trad. pp. 105-108.

25ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. p. 89. Trad. p. 108.

26ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. p. 90. Trad. p. 109. Franz Dölger datou este édito em 8 de abril de 1081, cf. DÖLGER, Franz ‒ Regesten der Kaiserurkunden des oströmischen Reiches von 565-1453, 2: Regesten von 1025-1204. Zweite, erweiterte und verbesserte Auflage bearbeitet von Peter Wirth mit Nachträgen zu Regesten Faszikel 3. Munique: C. H. Beck, 1995, nr. 1064

27ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. p. 92-93. Trad. pp. 111-112.

28ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. p. 100-105. Trad. p. 120-125; TEOFILACTO DE OCRIDA ‒ Discurso ao autokrator senhor Aleixo Comneno. ed. e trad. Paul Gautier, Theophylacti Achridensis Orationes, Tractatus, Carmina. Tessalônica: Association de recherches byzantines, 1980, p. 213-243, sobre Ana Dalassena, pp. 236-241.

29CHEYNET, Jean-Claude ‒ “Les Dalassènoi”, reimpr. pp. 443-447.

30ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. pp. 101-103. Trad. pp. 121-123. Dölger, Franz ‒ Regesten, nr. 1073.

31ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. p. 95. Trad. pp. 114-115.

32ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. pp. 292-293. Trad. p. 330.

33JOÃO ZONARAS ‒ Epítome de História. Ed. p. 746. Trad. p. 170.

34FRANKOPAN, Peter ‒ “Challenges to Imperial Authority in the Reign of Alexios I Komnenos. The Conspiracy of Nikephoros Diogenes”. Byzantinoslavica 64 (2006), pp. 257-274, especialmente, p. 258.

35Para uma abordagem mais ampla desse episódio e bibliografia correspondente, cf. DIAS, João Vicente de Medeiros Publio ‒ The Political Opposition to Alexios I Komnenos (1081-1118). Mainz: Universidade Johannes Gutenberg de Mainz, 2020. Tese de doutorado, pp. 125-131.

36ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. pp. 143-146. Trad. pp. 166-177.

37TEOFILACTO DE OCRIDA ‒ Cartas. Ed. e trad. Paul Gautier, Theophylacti Achridensis Epistulae. Corpus Fontium Historiae Byzantinae 16, 2. Tessalônica: Association de recherches byzantines, 1986. no. 84, pp. 440(443.

38ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. p. 215. Trad. p. 246.

39Gerhold, Victoria Casamiquela ‒ “Le ‘mouvement chalcédonien’. Opposition ecclésiastique et aristocratique sous le règne d’Alexis Comnène (1081-1094)”. Erytheia 33 (2012), pp. 87-104.

40ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. p. 215. Trad. p. 246.

41Grumel, Venance ‒ “Les documents athonites concernant l'affaire de Léon de Chalcédoine”. Studi e Testi 123 (1946), pp. 116-135, sobre a demanda, p. 126.

42RYDER, Judith ‒ “Leo of Chalcedon. Conflicting ecclesiastical models in the Byzantine eleventh century”. In LAUXTERMANN, Marc D.; WHITTOW, Mark (eds.) ‒ Byzantium in the Eleventh Century: Being in Between. Papers from the 45th Spring Symposium of Byzantine Studies, Exeter College, Oxford, 24‒6 March 2012. Society of the Promotion of Byzantine Studies Publications 19. Londres; Nova York: Routledge, 2017, pp. 169-180.

43Gerhold, Victoria Casamiquela ‒ "Le ‘mouvement chalcédonien’”, pp. 89-91.

44“Decretum editum circa unionem synodi cum Leone Chalcedonensi, et circa piam sententiam de adoratione sanctorum imaginum, ab optimo et sancto imperatore nostro domino Alexio Comneno, qui per Dei gratiam pietate conspicuus fuit”, ed. Jacques Paul Migne. Patrologia Graeca 127. Paris: Migne, 1864, pp. 971(984; GAUTIER, Paul ‒ “Le synode des Blachernes (fin 1094). Étude prosopographique” Revue des études byzantines 29 (1971), pp. 213-284.

45ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. p. 215. Trad. pp. 385-387.

46ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. pp. 372-376. Trad. pp. 414-420.

47Cf. nota 28.

48JOÃO ZONARAS ‒ Epítome de História. Ed. p. 747. Trad. p. 171.

49JOÃO ZONARAS ‒ Epítome de História. Ed. pp. 748, 754. Trad. pp. 171-172, 175.

50NICETAS CONIATES ‒ Narrativa cronológica. Ed. Jan-Louis Van Dieten, Nicetae Choniatae Historia. Vol. 1. Corpus Fontium Historiae Byzantinae 11. Berlim: De Gruyter, 1975, pp. 4-8, 10-12. Trad. Franz Grabler, Die Krone der Komnenen. Die Regierungszeit der Kaiser Joannes und Manuel Komnenos (1118 - 1180) aus dem Geschichtswerk des Niketas Choniates. Byzantinische Geschichtsschreiber 7. Graz, Viena, Colônia: Styria, 1958, pp. 36-40, 42-44.

51NEVILLE, Leonora ‒ Anna Komnene. The Life and Work of a Medieval Historian. Oxford: Oxford University Press, 2016, pp. 93-112, 141-151.

52NICETAS CONIATES ‒ Narrativa cronológica. Ed. p. 10. Trad. p. 43.

53Neville, Leonora ‒ Anna Komnene, p. 151

54SIMPSON, Alicia Josephine ‒ “Book Review: Leonora NEVILLE, Anna Komnene: The Life and Work of a Medieval Historian”, Oxford: Oxford University Press, 2016. Byzantina Symmeikta 28 (2018), pp. 381 - 383: Choniates did not conceive of fictitious events in his History; he embellished very real ones, p. 382.

55ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. pp. 183-186. Trad. pp. 211-213.

56ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. p. 438. Trad. p. 489.

57Neville, Leonora ‒ Anna Komnene, p. 146.

58ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. pp. 181-183. Trad. pp. 208-210. Os interesses de Manuel I Comneno (1143-1180) em astrologia são amplamente conhecidos, mas a presença de um horóscopo no piso da igreja do Monastério de Pantokrator, fundado e construído por João II, permite conjecturar que esse imperador, cuja personalidade é menos conhecida do que as de seu pai e de seu filho, também se interessaria no assunto. OUSTERHOUT, Robert ‒ “Architecture, Art and Komnenian Ideology at the Pantokrator Monastery”. In NECIPOĞLU, Nevra ‒ Byzantine Constantinople. Monuments, Topography and Everyday Life. The Medieval Mediterranean. Peoples, Economies and Cultures, 400-1500 33. Leiden; Boston; Colônia: Brill, 2001, pp. 133-150, especialmente, pp. 144-148; MAGDALINO, Paul ‒ “Occult Science and Imperial Power in Byzantine History and Historiography (9th‒12th Centuries)”. In MAGDALINO, Paul; MAVROUDI, Maria ‒ The Occult Sciences in Byzantium. Genebra: Le Pomme d’or, 2006, pp. 119-162, sobre os interesses dos Comnenos em astrologia e outras artes ocultas, pp. 140-151.

59ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. p. 452. Trad. pp. 502-503.

60Neville, Leonora ‒ Anna Komnene, p. 151.

61ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. pp. 501-505. Trad. pp. 555-559.

62JORGE TORNIQUES ‒ Elogio a Ana Comnena. Ed. e Trad. DARROUZÈS, Jean. Georges et Dèmètrios Tornikès. Lettres et Discours. Paris: Éditions du centre national de la recherche scientifique, 1970, pp. 220-323.

63Neville, Leonora ‒ Anna Komnene, pp. 113-131.

64De acordo com Miguel Pselo, intelectual e retórico do século XI que exerceu grande influência em períodos posteriores, “o autor de um encômio rejeita as coisas baixas que pertencem ao elogiado(a) e concebe um elogio a ele (ou a ela) dos aspectos mais excelentes; se não há muito do oposto, basta para o retórico então um assunto, que seja um feito excelente, para um elogio satisfatório, mesmo que lidando com coisas baixas retoricamente, ele as torne em uma fonte para material de elogio. (ὁ μὲν γὰρ ἐγκωμιάζων, ὅσα πρόσεστι φαῦλα τῷ ἐγκωμιαζομένῳ παραιτούμενος, ἐκ τῶν σπουδαιοτέρων ἐκείνῳ πλέκει τὸν ἔπαινον· κἂν πλεῖστα τἀναντία ᾖ, ἀρκεῖ τῷ ῥήτορι καὶ μία ὑπόθεσις, σπουδαίαν τὴν πρᾶξιν ἔχουσα, εἰς εὐφημίαν ἀρκοῦσαν, ὁπότε καὶ τὰ φαῦλα σοφιστικῶς μεταχειρισάμενος εἰς εὐφημίας καταβιάσαιτο ἀφορμήν·)”, Miguel Pselo ‒ Cronografia. Ed. Diether R. Reinsch, Michaelis Pselli Chronographia. Millenium Studies, 51, Berlim, Boston: De Gruyter, 2014, p. 190.

65Neville, Leonora ‒ Anna Komnene, p. 124.

66JORGE TORNIQUES ‒ Elogio a Ana Comnena, pp. 252-253.

67Cf. nota 55.

68JORGE TORNIQUES ‒ Elogio a Ana Comnena, pp. 268-269.

69DENNIS, George T. ‒ “Imperial Panegyric: Rhetoric and Reality”. In MAGUIRE, Henry (ed.) ‒ Byzantine Court Culture from 829 to 1204. Washington D.C: Dumbarton Oaks, 1997, pp. 131-140, especialmente, p. 137.

70O autor do prefácio de Material de História, que não era Briênio, ao exculpar Aleixo do cegamento do rebelde Basilaques, afirma que “todos conhecem esses fatos e estão na boca de todos as coisas referentes a estes eventos; não há ninguém dos que tem bom-senso que não os conheça (Οἴδασι πάντες ταῦτα καὶ ἐν χείλεσι πάντων κεῖται τὰ περὶ τούτων καὶ οὐκ ἔστιν ὅστις τῶν εὖ φρονούντων ἠγνόησε ταῦτα)”. NICÉFORO BRIÊNIO ‒ Material de História, p. 63.

71MIGUEL, O SÍRIO ‒ Crônica, Ed. e trans. J.-B. Chabot, Chronique de Michel le Syrien, patriarche Jacobite d'Antioche (1166 - 1199), vol. 3. Bruxelas: Ernest Leroux, 1905, p. 204.

72WITAKOWSKI, Witold ‒ “Syriac Historiographical Sources”. In WHITBY, Mary (ed.) ‒ Byzantines and Crusaders in Non-Greek Sources, 1025-1204. Oxford: Oxford University Press, 2007, pp. 253-282, sobre Miguel, o Sírio, pp. 255-261.

73ANGOLD, Michael ‒ “Alexios I Komnenos. An Afterword”. In MULLETT, Margaret; SMYTHE, Dion (eds.) ‒ Alexios I Komnenos. Papers of the Second Belfast Byzantine International Colloquium, 14−16 April 1989. Belfast Byzantine Texts and Translations 4,1. Belfast: Priory, pp. 398-417, especialmente, p. 406.

74NEVILLE, Leonora ‒ Anna Komnene, p. 149.

75Typikon de Kecharitomene, ed. e trad. Paul Gautier, “Le typikon de la Théotokos Kécharitôménè”, Revue des études byzantines 43 (1985), pp. 5-165. Trad. Robert Jordan, “Typikon of Empress Irene Doukaina Komnene for the Convent of the Mother of God Kecharitomene in Constantinople”. In Thomas, John; Hero, Angela Constantinides (eds.) ‒ Byzantine Monastic Foundation Documents. A Complete Translation of the Surviving Founders’ Typika and Testaments. Washington: Dumbarton Oaks, 2000, pp. 649-724.

76Typikon de Kecharitomene. Ed. e trad. Paul Gautier, pp. 28-29. Trad. Robert Jordan, p. 667.

77Typikon de Kecharitomene. Ed. e trad. Paul Gautier, pp. 32-33. Trad. Robert Jordan, p. 669.

78Typikon de Kecharitomene. Ed. e trad. Paul Gautier, pp. 136-139. Trad. Robert Jordan, pp. 706-707.

79JOÃO ZONARAS ‒ Epítome de História. Ed. p. 739. Trad. p. 166; VARZOS, Konstantinos ‒ Ἡ γενεαλογία τών Κομνηνών, pp. 254-259.

80Aspecto já percebido em VILIMONOVIĆ, Larisa Orlov ‒ Structure and Features of Anna Komnene’s Alexiad, p. 267.

81Typikon de Kecharitomene. Ed. e trad. Paul Gautier, pp. 144-145. Trad. Robert Jordan, p. 709; Neville, Leonora ‒ Anna Komnene, pp. 133-139.

82Aqui discordamos da opinião de Margaret Mullett, que afirma que o Monastério de Kecharitomene era uma “casa de repouso para membros constrangedores da família imperial (a retirement home for embarrassing members of the imperial family)”, MULLETT, Margaret ‒ “Founders, refounders, second founders, patrons”. In MULLETT, Margaret (ed.) ‒ Founders and refounders of Byzantine monasteries. Belfast Byzantine Texts and Translations, 6.3. Belfast: Pryory, 2007, pp. 1-27, citação está na p. 7.

83As motivações terrenas e preocupações espirituais que levaram os representantes da aristocracia bizantina a fundarem monastérios já foram extensamente discutidas em diversos estudos. Então, podemos aqui indicar uma lista representativa, mas não completa: Morris, Rosemary ‒ “The Byzantine Aristocracy and the Monasteries”. In Angold, Michael (ed.) - The Byzantine Aristocracy: IX to XII Centuries. Oxford: B.A.R, 1984, pp. 112-137; Thomas, John Philip ‒ Private Religious Foundations in the Byzantine Empire. Dumbarton Oaks Studies 24. Washington: Dumbarton Oaks, 1984, passim; Hill, Barbara ‒ Imperial Women in Byzantium, pp. 153-180; Morris, Rosemary ‒ Monks and Layman in Byzantium, 886-1118. Cambridge: Cambridge University Press, 1995, pp. 64-89; Stanković, Vlada ‒ “Comnenian Monastic Foundations in Constantinople: Questions of Method and Historical Context”. Belgrade Historical Review 2 (2011), pp. 47-73. A coletânea MULLETT, Margaret (ed.) ‒ Founders and refounders of Byzantine monasteries contém diversos estudos relevantes sobre o assunto, em especial MULLETT, Margaret ‒ “Founders, refounders, second founders, patrons”, pp. 1-27; KAPLAN, Michel ‒ “Why were monasteries founded?”, pp. 28-42; Dimitropoulou, Vassiliki ‒ “Imperial women founders and refounders in Komnenian Constantinople”, pp. 87-106.

84Typikon de Kecharitomene. Ed. e trad. Paul Gautier, pp. 120-125. Trad. Robert Jordan, pp. 701-702.

85Sobre as fontes para o reinado de João II, STATHAKOPOULOS, Dionysios ‒ “John II Komnenos: a Historiographical Essay”. In BUCOSSI, Alessandra; SUAREZ, Alex Rodriguez (eds) ‒ John II Komnenos, Emperor of Byzantium: In the Shadow of Father and Son. Farnham: Ashgate, 2016, pp. 1-10.

86Treadgold, Warren ‒ The Middle Byzantine Historians. Basingstoke: Palgrave Macmillan, 2013, pp. 457-459

87SYNCLAIR, Kyle James ‒ War Writing in Middle Byzantine Historiography. Sources, Influences and Trends. Birmingham: Universidade de Birmingham, 2012. Tese de doutoramento, pp. 268-278.

88Neville, Leonora ‒ “A history of the caesar John Doukas in Nikephoros Bryennios’ Material for History?”. Byzantine and Modern Greek Studies 32 (2008), pp. 168-188; Neville, Leonora ‒ Heroes and Romans in Twelfth-Century Byzantium. The Material for History of Nikephoros Bryennios. Cambridge: Cambridge University Press, 2012, pp. 49-58. Warren Treadgold discorda dessa hipótese afirmando que não havia razões para escrever histórias sobre João Ducas depois de sua morte. O atual estudo diverge dessa conclusão, cf. Treadgold, Warren ‒ The Middle Byzantine Historians, p. 350 e nota 41 na mesma página.

89Contudo, a autora considera, em seu estudo sobre Nicéforo Briênio e seu Material de História, a possibilidade de que Briênio tenha usado uma fonte originada de Jorge Paleólogo, o qual também foi uma das fontes de Ana Comnena, para a composição da Alexíada. Essa hipótese criaria a possibilidade da existência de um material compartilhado e usado tanto por Briênio quanto por Ana Comnena. Cf. Neville, Leonora ‒ Heroes and Romans in Twelfth-Century Byzantium, pp. 47-48. Em outro estudo, considero a possibilidade de existir um relato pro-Ducas de onde ambos os autores podem ter tirado os episódios nos quais os integrantes dessa família eram protagonistas, tratando de eventos bem anteriores a 1081 até os primeiros anos do reinado de Aleixo I. Cf. DIAS, João Vicente de Medeiros Publio ‒ “Isaac and Alexios I Komnenos (1081-1118): A Reassessment of a Unique Power-Sharing Arrangement between Brothers”. In BOSSELMANN-RUICKBIE, Antje; CHITWOOD, Zachary; PAHLITZSCH, Johannes; VUČETIĆ, Martin Marko (eds.) ‒ Byzanz am Rhein: Festschrift für Günter Prinzing anlässlich seines 80. Geburtstags. Wiesbaden: Harrassowitz, 2024, pp. 43‒64, particularmente em pp. 45‒47.

90VILIMONOVIĆ, Larisa Orlov ‒ Structure and Features of Anna Komnene’s Alexiad, pp. 18.

91ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. pp. 69-70. Trad. pp. 85-86.

92ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. pp. 71-72. Trad. pp. 87-88.

93ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. p. 72. Trad. pp. 88-89.

94ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. pp. 77-79. Trad. pp. 94-96.

95ANA COMNENA ‒ Alexíada. Ed. pp. 84-85. Trad. pp. 101-102.

96 VILIMONOVIĆ, Larisa Orlov ‒ Structure and Features of Anna Komnene’s Alexiad, pp. 180-182

97A encomenda de Irene a Briênio foi feita em algum ponto entre a morte de Aleixo I em 1118 e dela própria antes de 1136 (Gautier, Paul ‒ “L'obituaire du typikon du Pantokrator”. Revue des études byzantines 27 (1969), pp. 235-262, sobre a datação da morte de Irene, pp. 245-247) e Ana Comnena só terminaria a última redação da Alexíada entre o início do reinado de seu sobrinho, Manuel I (1143-1180) e seu falecimento em 1153, Magdalino, Paul ‒ “The Pen of the Aunt. Echoes of the Mid-twelfth Century in the Alexiad”. In Gouma-Peterson, Thalia (ed.) ‒ Anna Komnene and Her Times. Nova York, Londres: Garland, 2000, pp. 14-43, sobre a datação p. 15.

Recebido: 25 de Agosto de 2023; Aceito: 19 de Abril de 2024

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