Introdução
A Atenção Primária à Saúde (APS) apresenta-se como uma estratégia organizada, de forma regionalizada e contínua para atender as necessidades em saúde de um indivíduo e sua coletividade, tendo como base as ações preventivas e estruturando-se como um eixo estratégico do Sistema Único de Saúde (SUS), para alcançar a integralidade da saúde dos brasileiros (Facchini et al., 2018).
Nesse contexto, a atuação do profissional enfermeiro na APS é executada de maneira articulada, com ações gerenciais e assistenciais, tendo seu processo de trabalho pautado em saberes técnicos-científicos, humanísticos, sociais e culturais (Carloni et al., 2021). No âmbito da APS os enfermeiros ampliam os espaços de comunicação e discussão, facilitando a coordenação do cuidado, sendo um elo mediador entre usuários e profissionais de saúde (Peduzzi et al., 2019).
A profissão de enfermagem é voltada para o cuidado e nesse sentido, assume uma elevada importância no cenário da saúde, a qual há uma exigência de alto nível técnico, científico e relacional, com isso resulta aos profissionais enfermeiros elevados níveis de stress crônico, tornando-os particularmente vulneráveis (Gomes, 2021). Nessa lógica, Souza et al. (2021), trazem que as condições de trabalho interferem diretamente nas relações interpessoais, na capacidade do trabalho e também na dinâmica emocional e física do indivíduo.
As cargas de trabalho nas estratégias de saúde da família (ESF), estão relacionadas a problemas relacionados a gestão, sendo agravadas por questões estruturais, recursos humanos e alta demanda de trabalho, o qual há implicação na insatisfação, esgotamento e até mesmo adoecimento dos profissionais (Biff et al., 2020). Assim sendo, um estudo realizado por Trindade e Pires (2013), enfatiza que as condições de trabalho inadequadas podem interferir de forma negativamente na assistência prestada por profissionais da ESF.
Sendo assim, a sobrecarga de trabalho traz como consequências o esgotamento emocional e o estresse emocional crônico, dentre outros, o que pode ocasionar a Síndrome de Burnout, a qual é vista como experiência interior subjetiva que provoca sentimentos e atitudes negativos em relação ao seu local de trabalho (Iliff & Manthorpe, 2019). A Síndrome de Burnout se divide em três dimensões, sendo elas: a exaustão emocional, a despersonalização e a diminuição da realização pessoal (Carloni et al., 2021).
A Síndrome de Burnout na APS, está associada a intensa pressão emocional vivida pelos profissionais, devido a uma jornada desgastante e o desenvolvimento de estrese cotidiano, resultante das funções administrativas, educativas e assistenciais acentuadas, presentes no local de trabalho (Pinto et al., 2022). Esse desgaste da qualidade de vida no local de trabalho, pode ser justificado pelo aumento significativo das demandas relacionadas ao setor saúde, em especial a APS (Pinto et al., 2022; Lima et al., 2018).
Ainda, cabe destacar o agravamento da saúde mental dos profissionais de saúde, em especial os enfermeiros, ocasionados pela Pandemia de Coronavírus, onde esses profissionais tiveram suas jornadas de trabalho mais intensas, em decorrência dos atendimentos, testagem e aplicação de imunizantes.
Diante disso, questiona-se: Quais são as implicações na saúde mental a partir da sobrecarga de trabalho dos enfermeiros da atenção primária?
Assim sendo, o presente artigo objetivou-se identificar a sobrecarga de trabalho dos enfermeiros da atenção primária em saúde e suas implicações para a saúde mental.
Métodos
Utilizou-se como metodologia a revisão integrativa, a qual abrange a inclusão de estudos experimentais e não-experimentais para análise do fenômeno a ser estudado estabelecendo o conhecimento atual sobre uma temática específica, proporcionando uma síntese sobre os resultados, comparando as semelhanças e as diferenças entre eles. Sendo contemplada em seis fases, sendo elas: elaboração da pergunta norteadora do estudo, busca ou amostragem na literatura, coleta de dados, análise crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e, por fim, apresentação da revisão integrativa (Souza et al., 2010). Como análise dos estudos, utilizou-se modelo qualitativo e análise temática de conteúdo (Minayo, 2016). Inicialmente foi realizado uma leitura flutuante os trabalhos, em seguida de uma leitura mais aprofundada destacando-se os tópicos a serem trabalhados, e por fim, foi realizada uma interpretação dos resultados obtidos realizando uma discussão. Fluxograma 1
Como critérios de inclusão, definiu-se para a seleção dos artigos: publicações em português, inglês e espanhol, texto completo disponível online nas bases de dados acima descritas e publicados durante o recorte temporal que abrangem do ano de 2017 a 2022, o qual buscou-se pesquisas mais atualizadas na literatura sobre a temática. No que se refere aos critérios de exclusão, excluiu-se estudos como: teses, dissertação de mestrado, trabalhos de conclusão de curso, resumos e anais de congressos, editoriais e capítulos de livros, assim como aqueles que não responderam à pergunta norteadora da pesquisa. Fluxograma 2
Para dar início à pesquisa, buscou-se artigos nas bases de dados com os descritores mencionados, totalizando 259 publicações científicas que, a partir da leitura do título restaram 150, tivemos 02 artigos repetidos, sendo os mesmos utilizados somente uma vez na base de dados, o que primeiro referenciou o artigo como critério para seleção.
Após foi realizada a leitura dos resumos, onde restaram 14 artigos e verificado se os mesmos respondiam à pergunta de pesquisa com leitura na íntegra, após restaram 7 artigos para análise, os quais, compõem essa revisão integrativa. A busca dos artigos nas bases de dados se deu entre os dias 29 de janeiro a 11 de fevereiro de 2022.
Resultados
Os resultados foram associados a um quadro sinóptico, por meio da leitura dos artigos, buscando uma análise interpretativa dos mesmos. Os tópicos de interesse do quadro sinóptico foram: ano de publicação, periódico de publicação, título da publicação, autores e principais resultados da pesquisa.
Ano / Periódico | Título do Artigo / Autores | Objetivo | Metodologia | Principais Resultados | Principais Conclusões |
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2021 -Escola de Enfermagem da USP | Satisfação, estresse e esgotamento profissional de enfermeiros gestores e assistencialistas da Atenção Primária à Saúde / Garcia, G. P. A., & Marziale, M. H. P. | Correlacionar os indicadores de satisfação no trabalho, fatores de estresse ocupacional e de esgotamento profissional entre os enfermeiros gestores e assistencialistas da Atenção Primária à Saúde. | Estudo de campo, descritivo, de caráter exploratório realizado em 45 unidades da Atenção Primária à Saúde do Brasil. | Participaram 122 enfermeiros (47,5% gestores e 62,5% assistencialistas), 32% apresentaram nível de estresse considerável, indicadores de exaustão emocional, desumanização e decepção no trabalho em níveis moderados a altos. O indicador satisfação com o ambiente físico de trabalho não apresentou significância com as variáveis do esgotamento profissional, mas a satisfação com relações hierárquicas e intrínsecas ao trabalho são fortemente correlacionadas. | Há uma associação entre os problemas organizacionais e as condições de trabalho que dificultam o trabalho dos enfermeiros. Independente da função, a satisfação no trabalho é inversamente proporcional ao esgotamento profissional. |
2021-Journal of the American Association of Nurse Practitioners | Use of multifunctional electronic health records and burnout among primary care nurse practitioners/ Abraham, C. M., Zheng, K., Norful, A. A., Ghaffari, A., Liu, J., Topaz, M., & Poghosyan, L. | Investigar se o uso de EHRs multifuncionais está associado ao esgotamento do NP da atenção primária. | Este estudo é uma análise secundária de dados de pesquisa transversal coletados na Pensilvânia e Nova Jersey, com 396 enfermeiros. | Ao todo, 396 participantes foram incluídos no estudo. A maioria era da Pensilvânia (72,5%) e o restante era de Nova Jersey. A média de idade foi de 49,5, 90,4% eram mulheres, 89,4% brancos, 87,6% tinham o título de mestre como maior escolaridade e 79,5% eram casados. Os profissionais de enfermagem estavam empregados em sua prática atual por uma média de 6,4 anos. Mais de 60% dos participantes relataram trabalhar em consultório próprio. Dos 396 participantes incluídos, 25,3% relataram burnout. O uso de registros eletrônicos multifuncionais não aumentou o esgotamento de enfermeiros da atenção primária. | Embora 25% dos participantes tenham relatado burnout, o uso de registros eletrônicos multifuncionais não foi associado ao burnout do NP. Com 25,3% de participantes esgotados, é imperativo reduzir o esgotamento do NP. No entanto, recursos computadorizados e sistemas de lembretes eletrônicos não contribuíram para sentimentos de esgotamento NP. Pesquisas futuras examinando outros componentes dos registros eletrônicos são necessárias para entender quais recursos do EHR contribuem para o esgotamento do enfermeiro. |
2020 -Healthcare | Influence of Workload on Primary Care Nurses Health and Burnout, Patients Safety, and Quality of Care: Integrative Review / Pérez-Francisco, D. H., Duarte-Clíments, G., del Rosario-Melián, J. M., Gómez-Salgado, J., Romero-Martín, M., & Sánchez-Gómez, M. B. | Identificar relações entre sobrecarga, adoecimento do enfermeiro, desgaste profissional, qualidade e segurança nos serviços; | Revisão estruturada da literatura científica seguindo o método de scoping review descrito por Arksey e O'Malley, utilizando 45 estudos. | Os estudos mostram que há uma alta pressão assistencial para a enfermagem da Atenção Básica, que sofre muitas alterações de sua saúde devido à síndrome de burnout e que essa situação contribui para o comprometimento da qualidade da assistência e segurança do paciente. | A carga de trabalho dos enfermeiros foi relacionada ao burnout e diminuição da segurança e qualidade do cuidado. Sugere-se a implementação de intervenções organizacionais para melhorar os ambientes de trabalho e, consequentemente, a qualidade do atendimento e a satisfação dos pacientes. |
2020 -Nursing Outlook | Elements of the healthy work environment associated with lower primary care nurse burnout / Kim, L. Y., Rose, D. E., Ganz, D. A., Giannitrapani, K. F., Yano, E. M., Rubenstein, L. V., & Stockdale, S. E. | Investigar a relação entre o ambiente de trabalho dos enfermeiros de residenciais médicos centrados no paciente (PCMH) e o burnout. | O estudo incluiu 351 enfermeiras do Equipes de Cuidados Alinhados ao Paciente praticando em 23 práticas dentro de cinco sistemas de saúde no sul da Califórnia e Nevada, utilizando como analise multivariada em modelos separados. | A amostra para este estudo incluiu enfermeiras do Equipes de Cuidados Alinhados ao Paciente - PACT praticando em 23 práticas dentro de cinco sistemas de saúde no sul da Califórnia e Nevada (Rede de Serviços Integrados de Veteranos ou VISN 22), O estresse no trabalho e o burnout são preocupações significativas em enfermagem, uma vez que afetam não só os enfermeiros individualmente e profissionalmente, mas também as organizações em que trabalham e os pacientes que atendem. | O ambiente de prática dos enfermeiros assistenciais da atenção primária está associado ao burnout. Estratégias para promover a colaboração da equipe e o reconhecimento significativo devem ser investigadas para reduzir o esgotamento dos enfermeiros. |
2019 -International Journal of Environmental Research and Public Health | A Multicentre Study of Psychological Variables and the Prevalence of Burnout among Primary Health Care Nurses / Ortega-Campos, E., Cañadas-De la Fuente, G. A., Albendín-García, L., Gómez-Urquiza, J. L., Monsalve-Reyes, C., & de la Fuente-Solana, E. I. | Estimar os níveis de burnout entre enfermeiros da APS | Estudo quantitativo, observacional, transversal e multicêntrico de 338 enfermeiras que trabalham na APS do Serviço de Saúde Pública da Andaluzia (Espanha). | Um total de 40,24% dos enfermeiros estudados apresentou níveis elevados de burnout. As dimensões exaustão emocional e despersonalização estiveram significativamente associadas à ansiedade, depressão, neuroticismo, plantão e antiguidade na profissão e inversamente relacionadas à amabilidade. Além disso, a despersonalização foi significativamente associada ao gênero, e a exaustão emocional se correlacionou inversamente com a idade. | A prevalência de burnout é alta entre os enfermeiros da APS, principalmente os mais jovens, que sofrem de ansiedade e depressão e apresentam altos níveis de neuroticismo e baixos de amabilidade, responsabilidade e extroversão. |
2018 - Annals of Agricultural and Environmental Medicine | Existential attitudes as predictors of burnout in Polish nurses employed in rural primary healthcare settings / Mazur, A., Czarkowska, M., Goś, A., & Humeniuk, E. | Examinar quais atitudes existenciais determinam o burnout em enfermeiras empregadas em ambientes rurais de cuidados primários de saúde na Polônia | A amostra do estudo compreendeu 120 enfermeiras empregadas em ambientes rurais de cuidados primários de saúde na Polônia. Foram utilizados na pesquisa o Life Attitude Profile - Revised (LAP-R) adaptado por R. Klamut e The Link Burnout Questionnaire (LBQ) adaptado por A. Jaworowska. | Quanto mais forte for a crença dos enfermeiros pesquisados sobre os objetivos de vida que possuem e quanto mais coerentes internamente forem, menor será o desgaste psicofísico que vivenciam. Já o esgotamento psicofísico aumenta com o aumento da necessidade de introduzir mudanças na vida. A deterioração do relacionamento e a desilusão diminuem com o nível de engajamento na busca de novos objetivos na vida. A sensação de ineficácia profissional diminui se a crença dos enfermeiros de que possuem objetivos de vida se fortalecer. Além disso, quanto mais forte se torna o sentido da vida, mais forte é a ineficácia profissional dos enfermeiros. | As análises realizadas comprovaram que algumas atitudes existenciais são preditoras de burnout em enfermeiras empregadas em áreas rurais. Os resultados da pesquisa podem ser aplicados no desenvolvimento de programas de prevenção e auxílio para melhorar a qualidade do desempenho pessoal e profissional do enfermeiro. |
2018 -Revista Brasileira de Enfermagem | Esgotamento profissional, qualidade e intenções entre enfermeiros de saúde da família / Lorenz, V. R., Sabino, M. O., & Corrêa Filho, H. R. | Analisar como enfermeiros de saúde da família avaliam qualidade do cuidado; verificar se têm intenção de deixar o trabalho atual e a enfermagem; estimar prevalência de esgotamento profissional e correlacionar variáveis. | Estudo transversal e correlacional com 198 enfermeiros. Foi utilizado Maslach Burnout Inventory, questões para caracterizar os enfermeiros. | Considerando os pontos de corte obtidos, 28,0% dos enfermeiros de saúde da família apresentaram escores elevados para exaustão emocional, 32,1% para despersonalização e 38,7% apresentaram escores baixos para realização pessoal, o que configura esgotamento profissional. Verificou-se que 37,5% dos enfermeiros apresentaram escores moderados para exaustão emocional, 33,9% para despersonalização e 33,3% para realização pessoal. | A maioria dos enfermeiros de saúde da família são do sexo feminino, avaliam a qualidade do trabalho como boa ao mesmo tempo em que reconhecem a inadequação de recursos humanos e materiais, apontando para a prática de um modelo predominantemente seletivo de atenção primária à saúde. |
Fonte: Elaborado pelos autores, 2022.
Discussão
No estudo de Lorenz et al. (2018), foi possível identificar que o ambiente de trabalho dos enfermeiros nem sempre oferece condições adequadas à prática da assistência de enfermagem. A atuação do enfermeiro na atenção primária tem múltiplas responsabilidades, havendo uma sobrecarga de trabalho (Ortega-Campos et al., 2019).
Nesse sentido, observa-se que existem vários fatores que contribuem para o esgotamento clínico, incluindo alta carga de trabalho, falta de pessoal, longas jornadas laborais, ambiente de prática insuficiente, alta pressão de trabalho, perda da autonomia e suporte e recursos limitados para fornecer uma assistência adequada ao paciente (Abraham et al., 2021). Corroborando com essa ideia, Garcia & Marziale (2021), trazem que o ambiente de trabalho inadequado pode levar níveis de estresse, relacionados a fatores como falta de comunicação sobre informações organizacionais, conflito de papéis e comunicação interpessoal prejudicada.
Para Pérez-Francisco et al. (2020), a sobrecarga de trabalho está relacionada com o aumento populacional a um número desproporcional de enfermeiros da atenção básica, levando a um desiquilíbrio. Esse desequilíbrio no Brasil deveria ser minimizado pelo dimensionamento do quadro de profissionais de enfermagem, o qual deve relacionar o serviço de saúde, o serviço de enfermagem e o grau de dependência do paciente (Conselho Federal de Enfermagem COFEN, 2017).
No que se refere ao tempo de serviço, relacionado ao esgotamento emocional, não há um consenso, onde no estudo de Garcia & Marziale (2021), realizado em Ribeirão Preto, no Brasil os enfermeiros com menos tempo de atuação tem menor probabilidade de desenvolverem Burnout, pois não tem a sobrecarga de anos de serviço e encontram-se mais motivados Ortega-Campos et al. (2019), realizado na Espanha, a prevalência do esgotamento emocional entre mais jovens é alta, em função de apresentarem maior chance de desenvolver ansiedade, depressão e neuroticismo, por fim o estudo de Abraham et al. (2021), realizado nos estados da Pensilvânia e Nova Jersey, nos Estado Unidos, o dado tempo de serviço não está associado ao Burnout.
Os níveis de Burnout se apresentam de diferentes formas, sendo baixo, moderado e alto, em relação aos fatores de decepção no trabalho, exaustão emocional e desumanização (Garcia & Marziale, 2021), assim sendo, Silva et al. (2022) complementam que os fatores estressores intrínsecos estão relacionados a fatores de risco como exaustão emocional, realização pessoal diminuída e despersonalização. Já no campo extrínseco, o estudo de Mazur et al. (2018) realizado na Polônia, trazem que a exaustão psicofísica é manifestada a níveis reduzidos no indivíduo, estando relacionados a sensação de fadiga e tensão.
Para Kim et al. (2020), o estresse no trabalho e o burnout, trazem danos significativos não somente aos enfermeiros, mas também as organizações em que trabalham, estando associado a uma menor qualidade de atendimento, consequentemente menor segurança e saúde do paciente, levando a quadros de frustações e desmotivação profissional. Afirmando essa ideia, outro estudo realizado em Portugal, afirma que o mal-estar psicológico prejudica a instituição e leva a um círculo vicioso de burnout, uma vez que afastamentos geram sobrecarga de trabalho aos colegas da equipe (Faria et al., 2019).
Algumas atitudes existenciais, tais como propósito de vida, coerência interna, aceitação da morte, vácuo existencial, controle da vida e busca de objetivos, são preditores de burnout em enfermeiros (Mazur et al., 2018). Nesse contexto, Flores et al. (2019) trazem que a questão existencial afeta diretamente o cotidiano da pessoa, alterando sua rotina, seu convívio social e consequentemente alterando sua qualidade de vida.
Seguindo nessa lógica Ferreira et al. (2021) dizem que os profissionais de saúde que apresentam burnout, estão mais propensos a mudar de emprego, devido aos baixos rendimentos, no qual vem de encontro ao estudo de Lorenz et al. (2018), que diz que a autopercepção do esgotamento emocional, por parte de alguns profissionais, gera um aumento da qualidade do autocuidado, levando alguns profissionais a terem a intenção de deixar a enfermagem e seguir outras carreiras.
Ainda se destaca que o esgotamento emocional, teve seu agravamento em decorrência da pandemia de COVID-19, o qual teve impactos diretos aos profissionais de saúde em especial os enfermeiros. A enfermagem foi e está sendo a categoria profissional que teve mais contato com o paciente COVID-19, nesse sentido, Prigol e Santos (2020), destacam que estão mais expostos a fatores estressores, decorrentes de longas jornadas de trabalho e ao medo da disseminação do vírus em seu círculo de convívio social. A crise sanitária impôs aos enfermeiros níveis elevados de ansiedade, comportamento de isolamento, medo, anseios e angústias e depressão, impostos pelo excesso da carga horária de trabalho (Lima & Mendes, 2022).
No estudo de Fernandes et al. (2022) os profissionais durante a pandemia tiveram que se reinventarem e se adaptarem ao cenário de adoecimento coletivo, nesse sentido, destaca-se que o enfermeiro como atuante da linha de frente, deve receber cuidados que minimizem os efeitos psíquicos danosos ocasionados pela pandemia. Complementando, Prigol e Santos (2020), destacam que os cuidados devem ter um olhar multiprofissional, o qual possa possibilitar uma criação de uma certa estabilidade emocional, como estratégia de redução do estresse agudo.
Conclusões
O enfermeiro atuante no campo da APS tem muitas tarefas, havendo uma sobrecarga de trabalho, levando ao esgotamento emocional, sendo este caracterizado como “Síndrome de Burnout”, que é causada por um processo de estresse emocional e interpessoal, o qual torna-se prejudicial na sua relação de trabalho e com a equipe de saúde, consequentemente podendo acarretar problemas na assistência de enfermagem ao paciente. Sendo assim, a Síndrome de Burnout implica diretamente na assistência prestada à população, com efeitos negativos na saúde dos profissionais de saúde.
Nesse sentido, fica evidenciado a importância de serem realizadas intervenções voltadas ao trabalhador da rede de pública de saúde, com a finalidade de construir um ambiente de trabalho saudável e promotor de qualidade de vida. Assim sendo, torna-se imprescindível estratégias que visem o bem-estar desses profissionais, por meio de políticas com intuito de melhorar a satisfação do ambiente de trabalho e também por meio de medidas psicoprofiláticas adequadas, que busquem uma melhor satisfação profissional.