SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.10TATUADORES: PRINCIPAIS FATORES DE RISCO E RISCOS LABORAIS, DOENÇAS PROFISSIONAIS ASSOCIADAS E MEDIDAS DE PROTEÇÃO RECOMENDADASAVALIAÇÃO DE RISCOS NO SETOR DA TATUAGEM: PODEM-SE UTILIZAR OS MÉTODOS MARAT, WILLIAM FINE E MIAR? índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional online

versão impressa ISSN 2183-8453

RPSO vol.10  Gondomar dez. 2020  Epub 17-Mar-2021

https://doi.org/10.31252/rpso.08.08.2020 

Artigo de Opinião

AVALIAÇÃO ERGONÓMICA DAS TAREFAS EXECUTADAS NO SETOR DA TATUAGEM: PODEM-SE USAR OS MÉTODOS OWAS E REBA?

ERGONOMIC EVALUATION OF TASKS PERFORMED IN THE TATTOO SECTOR- CAN OWAS AND REBA METHODS BE USED?

M Santos1 

1Licenciada em Medicina; Especialista em Medicina Geral e Familiar; Mestre em Ciências do Desporto; Especialista em Medicina do Trabalho e Doutoranda em Segurança e Saúde Ocupacionais, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Presentemente a exercer nas empresas Medicisforma, Servinecra, Securilabor e Medimarco; Diretora Clínica da empresa Quercia; Diretora da Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional on line. Endereços para correspondência: Rua Agostinho Fernando Oliveira Guedes, 42, 4420-009 Gondomar. E-mail: s_monica_santos@hotmail.com


RESUMO

Introdução/ enquadramento/ objetivos

Dado o setor da Tatuagem estar ainda pouco estudado no contexto da Saúde Ocupacional, pretendeu-se com este trabalho avaliar sumariamente o Risco Ergonómico do setor, até porque em Tatuagens complexas e/ ou extensas/ demoradas, o profissional pode ter necessidade de executar o seu trabalho com posturas forçadas/ mantidas e movimentos repetitivos, por períodos prolongados, sendo que, por vezes, nem sempre estão desenvolvidas de forma adequada as medidas de proteção.

Metodologia

Após listagem das principais tarefas genéricas no setor da Tatuagem, aplicaram-se dois métodos para análise ergonómica sumária: OWAS (Ovaco Working Analysis System) e REBA (Rapid Entire Body Assessment).

Conteúdo

Em função do método OWAS verificou-se que as tarefas iniciais (desenhar o padrão em papel ou procurar o padrão no computador e passar tal para folhas de decalque) obtiveram os patamares mais baixos de risco (ou seja, 1); todas as restantes tarefas consideradas obtiveram o Nível de Ação 2, exceto a eventualidade do Tatuador ter de socorrer o cliente e, face à postura/ eventual sustentação de carga, obteve aqui a cotação de 4. Contudo, quando ponderado com o tempo que cada tarefa geralmente ocupa percentualmente, em relação ao turno de trabalho, a situação alterou-se, ou seja, esse Nível de Ação 4 desapareceu (porque o Tatuador conseguiria em alguns segundos ou, quando muito alguns minutos) colocar-se a si e ao cliente em postura menos forçada e sem sustentação de carga. Para além disso, com esse ajuste percentual, cerca de metade dos Níveis de Ação 2 passou para 1, mantendo-se no primeiro valor as tarefas desenhar o padrão a tatuar diretamente na pele, injetar pigmento na pele, limpar o pigmento excedente e a aplicação de outros agentes químicos, bem como a limpeza/ desinfeção/ esterilização das superfícies de trabalho e instrumentos de trabalho (incluindo aqui também a acomodação dos mesmos).

Por sua vez, a metodologia REBA, originou resultados diferentes. Nenhuma das tarefas consideradas ficou com o Nível de Ação 0 e apenas uma ficou com o patamar mais elevado, ou seja, 4 (socorrer o cliente em caso de lipotimia/ síncope). No Nível de Ação 2 ficaram as tarefas depilar, desinfetar/ esterilizar a pele, passar o desenho da folha de decalque para o cliente, colocar agentes químicos na pele durante a Tatuagem para além do pigmento e limpar/ desinfetar/ esterilizar superfícies de trabalho. Por sua vez, no Nível de Ação 3 restaram a tarefa alternativa de desenhar o padrão que se vai tatuar diretamente na pele, inserir os desenhos nas folhas de decalque, preparar a bancada/ tabuleiro de trabalho, injetar o pigmento na pele, limpar da pele o pigmento excedente e limpar/ desinfetar/ esterilizar/ acomodar os instrumentos de trabalho.

Conclusões

Percebeu-se que a metodologia OWAS conseguiu valorizar melhor o risco, ponderando o tempo que essa tarefa ocupa, quando comparada à técnica REBA, ainda que não considerando a probabilidade de tal ocorrer ou não, em ambas as técnicas.

No global, os resultados dispares eventualmente seriam atenuados se estas tarefas major se subdividissem em subtarefas; contudo, tal iria aumentar muito a complexidade destas avaliações ergonómicas, mesmo em postos de trabalho pouco diversificados e com relativamente poucas tarefas major. Para além disso, outra condição poderá ter enviesado os resultados de forma significativa: ou se avalia com rigor apenas e exatamente um momento único (correndo o risco de enviesar por o profissional se ter posicionado aí ou não de forma correta e não considerarmos o risco que outras posturas trariam à mesma tarefa, noutros momentos da Tatuagem e/ ou até com outros Tatuadores) ou, para tentar acautelar tal, consideramos sempre a possibilidade mais gravosa. Como o objetivo era retratar globalmente o setor da Tatuagem (e não um ou outro estúdio em particular), optou-se por abarcar todas as situações e, sendo várias possíveis, considerada sempre a mais gravosa.

Para além disso, ainda que estes métodos permitam atenuar alguma subjetividade na avaliação de Riscos, esta não pode ser eliminada totalmente. Em situações de dúvida entre duas hipóteses da escala será possível que um avaliador menos experiente num momento opte por uma e, noutra tarefa equivalente, escolha a outra ou até que tal aconteça repetindo a avaliação exatamente da mesma tarefa, em momentos diferentes. Ainda assim, estes métodos e seus congéneres constituem uma ajuda preciosa na Avaliação de Riscos em Saúde Ocupacional.

Palavras-chave: avaliação ergonómica; OWAS; REBA; tatuagem; tatuador; saúde ocupacional; medicina do trabalho e segurança ocupacional.

ABSTRACT

Introduction/ background/ objectives

Given that the Tattoo sector is still poorly studied in the context of Occupational Health, the aim of this work was to briefly assess the sector's Ergonomic Risk, special because in complex and/ or extensive/ time-consuming Tattoos, the professional may need to perform his work with forced/ maintained postures and repetitive movements, for prolonged periods and, in some cases, protection measures are not always properly developed.

Methodology

After listing the main generic tasks in the Tattoo sector, two methods for summary ergonomic analysis were applied: OWAS (Ovaco Working Analysis System) and REBA (Rapid Entire Body Assessment).

Content

Due to the OWAS method, it was found that the initial tasks (drawing the pattern on paper or looking for the pattern on the computer and transferring it to decal sheets) obtained the lowest levels of risk (that is, 1); all other tasks considered reached Action Level 2, except for the possibility of the Tattooist having to help the client in the case of syncope/ lipothymia and, in view of the posture/ load bearing, obtained a rating of 4. However, when weighted with the time that each task usually occupies in percentage, in relation to the work shift, the situation has changed, that is, that Action Level 4 disappeared because the Tattoo Artist would be able to put himself and the client, in a few seconds or, at most, a few minutes, in a less forced posture and without load support. In addition, about half of Action Levels 2 went to 1, remaining in that stages the tasks of drawing the pattern to tattoo directly on the skin, injecting pigment, cleaning the excess pigment and applying other chemical agents remaining at the first value, as well as the cleaning/ disinfection/ sterilization of work surfaces and work tools (also including their accommodation).

In turn, the REBA methodology gave rise to different results. None of the tasks considered had Action Level 0 and only one had the highest level, that is, 4 (helping the client in case of lipothymia/ syncope). At Action Level 2, the tasks considered were shave, disinfect/ sterilize the skin, transfer the decal sheet, put chemical agents on the skin during the tattoo and clean/ disinfect/ sterilize work surfaces. On the other hand, at Action Level 3, there remains the alternative task of drawing the pattern that will be tattooed directly on the skin, inserting the designs on the decal sheets, preparing the workbench/ work tray, injecting the pigment into the skin, cleaning the skin of the excess pigment and clean/ disinfect/ sterilize/ accommodate the work instruments.

Conclusions

It was noticed that the OWAS methodology was able to better value the risk, considering the time that this task occupies, when compared to the REBA technique.

Overall, the different results would eventually be attenuated if these major tasks were subdivided into subtasks, considering movement by movement; however, this would greatly increase the complexity of these ergonomic assessments, even in low-diversified jobs and with relatively few major tasks. In addition, another condition may have significantly biased the results- or the investigator assess with rigor only and exactly a single moment (running the risk of biasing whether the professional has positioned himself correctly or not and not considering the risk that other postures would bring the same task, in other moments of the Tattoo and/ or even with other Tattoo Artists) or, to try to guard against such, consider the most serious possibility for each task. As the objective was to portray the Tattoo sector globally (and not one or the other studio in particular), it was decided to cover all situations and, being several possible, always considered the most serious.

In addition, even though these methods allow some subjectivity to be mitigated in the risk assessment, it cannot be eliminated. In situations of doubt between two hypotheses of the scale, it will be possible for a less experienced evaluator at one time to choose one and, in another equivalent task, choose the other or until this happens by repeating the evaluation of exactly the same task, at different times. Even so, these methods constitute a valuable aid in the Occupational Health Risk Assessment.

Keywords: ergonomic evaluation; OWAS; REBA; tattoo; tattoo artist; occupational health; occupational medicine and occupational safety.

INTRODUÇÃO

Dado o setor da Tatuagem estar ainda pouco estudado no contexto da Saúde Ocupacional, pretendeu-se com este trabalho perceber qual o risco ergonómico associado, até porque em Tatuagens complexas e/ ou extensas/ demoradas, o profissional pode ter necessidade de executar o seu trabalho com posturas forçadas/ mantidas e movimentos repetitivos por períodos prolongados, sendo que, por vezes, nem sempre estão desenvolvidas de forma adequada as medidas de proteção que poderiam atenuar o Risco.

METODOLOGIA

Após acompanhar várias tatuagens ao vivo e online, criou-se uma listagem sumária das principais tarefas existentes nas atividades usuais do setor, nomeadamente:

  • ➢ Fazer em papel o desenho para colocar na pele (ou desenhar diretamente na pele)

  • ➢ Em alternativa selecionar o desenho para colocar na pele, a partir do computador

  • ➢ Inserir o desenho em folhas de decalque

  • ➢ Desinfetar/ Esterilizar a pele

  • ➢ Depilar a pele

  • ➢ Passar o desenho da folha de decalque para a pele

  • ➢ Preparar a bancada ou tabuleiro com os utensílios e produtos necessários

  • ➢ Colocar o pigmento na pele usando a máquina de tatuar

  • ➢ Limpar da pele a tinta excedente

  • ➢ Colocar diversos produtos químicos na pele durante a tatuagem (variável entre profissionais)

  • ➢ Socorrer o cliente em caso de lipotimia ou síncope (se necessário)

  • ➢ Limpar/ desinfetar/ esterilizar superfícies de trabalho e

  • ➢ Limpar/ desinfetar/ esterilizar e acomodar instrumentos de trabalho.

Sempre que dentro da cada um dos itens anteriores existissem componentes com potencial de dano diferente, considerou-se sempre o mais grave; para além disso, sempre que o profissional conseguisse executar o movimento de várias formas com risco diferente, valorizou-se sempre a mais afastada da postura neutra.

Posteriormente aplicaram-se dois métodos para análise ergonómica sumária: OWAS (Ovaco Working Analysis System) e REBA (Rapid Entire Body Assessment).

CONTEÚDO

OWAS

A metodologia OWAS poderá ser aplicada de forma prática com a utilização das tabelas descritas nas referências bibliográficas 1 a 2 3 4.

Na tabela 1 está registada a aplicação desta metodologia às principais tarefas existentes no setor da Tatuagem; no início apenas considerando a posição ergonómica da coluna, membros superiores, membros inferiores e carga; nas colunas mais à direita já se levou em conta a percentagem de tempo laboral dessas mesmas tarefas.

Tabela 1 Aplicação da metodologia OWAS ao setor da Tatuagem 

TAREFAS C MS MI CARGA NA C/T MS/T MI/T NA/T
Fazer em papel o desenho para colocar na pele 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Desenhar o padrão diretamente na pele 4 1 2 1 2 4 1 1 2
Ou selecionar o desenho para colocar na pele, a partir do computador 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Inserir o desenho em folhas de decalque 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Depilar a pele 2 1 2 1 2 1 1 1 1
Desinfetar/ Esterilizar a pele 2 1 2 1 2 1 1 1 1
Passar o desenho da folha de decalque para a pele 2 1 2 1 2 1 1 1 1
Preparar a bancada ou tabuleiro com os utensílios e produtos necessários 2 3 7 1 2 1 1 1 1
Introduzir pigmento na pele usando a máquina de tatuar 4 1 2 1 2 4 1 1 2
Limpar da pele a tinta não injetada e excedente 4 1 2 1 2 4 1 1 2
Colocar diversos produtos químicos na pele durante a Tatuagem 4 1 2 1 2 2 1 1 2
Socorrer o cliente em caso de lipotímia ou síncope (se necessário) 4 2 7 3 4 1/2 1 1 1
Limpar/ desinfetar/ esterilizar superfícies de trabalho 4 1 7 1 2 2 1 1 2
Limpar/ desinfetar/ esterilizar/ acomodar instrumentos de trabalho 4 3 7 1 2 2 1 1 2

Legenda: C (coluna), MS (membros superiores), MI (membros inferiores), C/T (coluna/tempo), MS/T (membros superiores/ tempo), MI/T (membros inferiores/ tempo), NA (nível de ação), NA/T (nível de ação/ tempo).

Em função do método OWAS verificou-se que as tarefas iniciais (desenhar o padrão em papel ou procurar o padrão no computador e passar para folhas de decalque) obtiveram os patamares mais baixos de risco (ou seja, 1); todas as restantes tarefas consideradas obtiveram o Nível de Ação 2, exceto a eventualidade do Tatuador ter de socorrer o cliente e, face à postura/ sustentação de carga (única tarefa relevante neste sentido) obteve a cotação de 4. Contudo, quando ponderado com o tempo que cada tarefa geralmente ocupa, percentualmente em relação ao turno de trabalho, a situações alterou-se, ou seja, esse Nível de Ação 4 desapareceu (porque o Tatuador conseguiria em alguns segundos ou, quando muito alguns minutos) colocar-se a si e ao cliente em postura menos forçada e sem sustentação de carga; para além disso cerca de metade dos Níveis de Ação 2 passou para 1, mantendo-se no primeiro valor tarefas como desenhar o padrão a tatuar diretamente na pele, injetar pigmento, limpar o pigmento excedente e a aplicação de outros agentes químicos, bem como a limpeza/ desinfeção/ esterilização das superfícies de trabalho e instrumentos de trabalho (incluindo aqui também a acomodação dos mesmos).

De notar que o 1 reflete uma postura normal, que dispensa medidas corretivas e/ ou efetuar mudanças apenas a longo prazo, sem urgência; sendo que o 2 significa alterações necessárias a médio prazo.

REBA

Das referências bibliográficas 1 e 5 foram retiradas informações para a aplicação prática direta deste método. Na tabela 2 está registada a aplicação da metodologia REBA ao setor da Tatuagem.

Tabela 2 Metodologia REBA aplicada ao setor da Tatuagem 

Tarefas GRUPO A GRUPO B Score final= Score semifinal+ pontos extra Nível de Ação
Tronco Pescoço Pernas Total A Carga/ Força Pontuação A Braço Antebraço Pulso Total B Pega Pontuação B
Fazer em papel o desenho para colocar na pele 1 2 1 1 0 1 3-1=2 1 2+1=3 3 0 3 1+2=3 1
Desenhar o padrão diretamente na pele 4 2 2 6 0 6 3 2 1 4 0 4 7+2=9 3
Ou selecionar o desenho para colocar na pele, a partir do computador 1 2 1 1 0 1 3-1=2 1 2+1=3 3 0 3 1+2=3 1
Inserir o desenho em folhas de decalque 1 2 1 1 0 1 3-1=2 1 2+1=3 3 0 3 1+2=3 1
Depilar a pele 3 2 1 4 0 4 3 1 2 4 0 4 4+2=7 2
Desinfetar/ Esterilizar a pele 3 2 1 4 0 4 3 1 2 4 0 4 4+2=6 2
Passar o desenho da folha de decalque para a pele 3 2 1 4 0 4 3 1 2 4 0 4 4+2=6 2
Preparar a bancada ou tabuleiro com os utensílios e produtos necessários 4 2 1 5 0 5 4+1 2 1 7 0 7 8+1=9 3
Introduzir pigmento na pele usando a máquina de tatuar 4 2 2 6 0 6 3 2 1 4 0 4 7+2=9 3
Limpar da pele a tinta não injetada e excedente 4 2 2 6 0 6 3 2 1 4 0 4 7+2=9 3
Colocar diversos produtos químicos na pele durante a Tatuagem 4 2 2 6 0 6 3 2 1 4 0 4 7 2
Socorrer o cliente em caso de lipotimia ou síncope (se necessário) 4 2 2 6 2 8 4 2 2 6 3 9 10+1=11 4
Limpar/ desinfetar/ esterilizar superfícies de trabalho 2 2 1 3 0 3 3 2 1 4 0 4 3+1=4 2
Limpar/ desinfetar/ esterilizar/ acomodar instrumentos de trabalho 2 2 1 3 0 3 4+1 2 1 7 0 7 6+2=8 3

A metodologia REBA originou resultados diferentes. Nenhuma das tarefas consideradas ficou com o Nível de Ação 0 e apenas uma ficou com o patamar mais elevado, ou seja 4 (socorrer o cliente em caso de lipotímia/ síncope). Não se duvida que se o Tatuador tiver de suportar repentinamente o peso do cliente, tal poderá ser feito com uma postura instável e lesiva mas, além de ser algo razoavelmente pouco frequente (na grande maioria das Tatuagens não acontece) e, mesmo surgindo, à partida poderá ser muito lesiva nos instantes iniciais, mas acredita-se que, passado algum tempo, o Tatuador conseguirá posicionar-se melhor, a si e ao cliente. No Nível de Ação 2 ficaram as tarefas depilar a pele, desinfetar/ esterilizar a pele, passar o desenho da folha de decalque para a pele, colocar agentes químicos na pele durante a Tatuagem para além do pigmento e limpar/ desinfetar/ esterilizar superfícies de trabalho. Por sua vez, no Nível de Ação 3 restam a tarefa alternativa de desenhar o padrão que se vai tatuar diretamente na pele, inserir os desenhos nas folhas de decalque, preparar a bancada/ tabuleiro de trabalho, injetar o pigmento na pele, limpar da pele o pigmento excedente e limpar/ desinfetar/ esterilizar/ acomodar os instrumentos de trabalho.

Neste método o Nível de ação 1 implica baixo Risco e eventualidade de alguma ação; o 2 corresponde a Risco médio e ações necessárias; o 3 significa Risco alto e exigência de alterações breves; por fim, o 4 corresponde a Risco muito alto e correção imediata.

Em função da Avaliação efetuada e das tarefas sinalizadas com patamares mais elevados de Risco, necessitando de ações corretivas, poder-se-iam propor as seguintes medidas:

  • ➢ Uso de cadeiras articuladas para o Tatuador e Cliente estarem na posição mais ergonómica

  • ➢ Se uma tarefa prolongada for passível de ser executada em posturas diferentes (mas equivalentes a nível ergonómico), alternar entre elas

  • ➢ Colocar o cliente em posição que, em caso de lipotimia/ síncope não caia no chão ou por cima do Tatuador, sobretudo levando em conta as situações de primeira Tatuagem ou antecedentes de tal ocorrência em procedimentos equivalentes anteriores; ir perguntando ao longo da Tatuagem se o cliente se está a sentir bem para antecipar ou prevenir lipotimias/ síncopes

  • ➢ Intercalar Tatuagens grandes/ complexas e/ ou demoradas com outras mais breves e/ ou tarefas profissionais que apresentem posturas diferentes

  • ➢ Executar pausas ou micropausas no decorrer de Tatuagens grandes/ complexas e/ ou demoradas

  • ➢ Colocar bancadas de trabalho a níveis ergonomicamente adequados

  • ➢ Possuir locais usados para limpeza/ desinfeção/ esterilização e acomodação dos instrumentos/ materiais de trabalho a níveis adequados, evitando flexões, extensões ou abduções que introduzam posturas muito afastadas da neutra

  • ➢ Ter os materiais/ instrumentos de trabalho armazenados na maior proximidade possível (desde que segura) em relação ao seu local de utilização e com uma organização intuitiva clara, que facilite o seu correto manuseamento e pelo menor período.

Tentou usar-se o método RULA mas a análise de alguns parâmetros/ ângulos pareceu mais complexa perante avaliadores inexperientes, suscitando mais dúvidas, pelo que se optou por não a inserir aqui. Para além disso, o software RULA utilizado apresentava resultados um pouco diferentes dos encontrados na revisão bibliográfica previamente efetuada (e também publicada nesta revista), consequência eventual de diversas adaptações.

DISCUSSÃO/ CONCLUSÃO

Percebeu-se que a metodologia OWAS conseguiu valorizar melhor o risco, ponderando também melhor o tempo que essa tarefa ocupa, quando comparada à técnica REBA.

A disparidade de resultados poderia ser eventualmente atenuada se estas tarefas major se subdividissem em subtarefas; contudo, tal iria aumentar muito a complexidade destas avaliações ergonómicas, mesmo em postos de trabalho pouco diversificados e com relativamente poucas tarefas major. Para além disso, outra condição poderá ter enviesado os resultados de forma significativa- ou se avalia com rigor apenas e exatamente um momento único (correndo o risco de enviesar por o profissional se ter posicionado aí ou não de forma correta e não considerarmos o risco que outras posturas trariam à mesma tarefa, noutros momentos da Tatuagem e/ ou até outros Tatuadores) ou, para tentar acautelar tal, consideramos sempre a possibilidade mais gravosa possível para cada tarefa. Como o objetivo era retratar globalmente o setor da Tatuagem (e não um ou outro estúdio em particular), optou-se por abarcar todas as situações e, sendo várias possíveis, considerada sempre a mais gravosa.

Por isso, ainda que estes métodos permitam atenuar alguma subjetividade na Avaliação de Riscos, esta não pode ser eliminada totalmente. Em situações de dúvida entre duas hipóteses da escala será possível que um avaliador menos experiente num momento opte por uma e, noutra tarefa equivalente, escolha a outra ou até que tal aconteça repetindo a avaliação exatamente da mesma tarefa, em momentos diferentes. Supõe-se que tal se atenue com a experiência. Ainda assim, estes métodos e seus congéneres constituem uma ajuda preciosa na Avaliação de Riscos em Saúde Ocupacional.

AGRADECIMENTOS

Nada a declarar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 Santos J. Desenvolvimento de um guião de Seleção de métodos para Análise de Risco de Lesões Músculo-Esqueléticas Relacionadas com o Trabalho (LMERT). Tese de Mestrado em Engenharia Humana, Escola de Engenharia, Universidade do Minho. 2009, 1-201. [ Links ]

2 Lima P. Análise Ergonômica do Trabalho: utilização dos métodos OWAS e RULA em uma indústria do ramo alimentício na cidade de Mossoró-RN. Revista Gepros. 2019, 14(5), 109-132. [ Links ]

3 Kasper A, Loch M, Pereira V. Análise Ergonómica do Trabalho apoiada na aplicação do método OWAS. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campos Ponta Grossa, Paraná. Revista de Gestão Industrial. 2012, 8(4), 51-68. DOI:10.3895/81808-04482012000400004 [ Links ]

4 Pais F, Azevedo P, Medeiros L, Freitas I, Stamato C. Ergonomic assessment among radiology technologists: a survey in a hospital. Work. 2012, 41, 1821-1827. DOI:10.3233/WOR-2012-0641-1821 [ Links ]

5 Baraogu U, Odebiyi D, Olawale O. Association between postures and work-related musculoskeletal discomforts (WRMD) among beverage bottling workers. Work. 2016, 54, 113-119. DOI:10.3233/WOR-162262 [ Links ]

Recebido: 05 de Agosto de 2020; Aceito: 08 de Agosto de 2020

CONFLITOS DE INTERESSE

Nada a declarar.

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons