Introdução
Os benefícios da amamentação para a melhoria do estado de saúde da criança, das mães, das famílias, do ambiente e da sociedade em geral são bem reconhecidos. Para Neto et al. (2015), citado por Galvão et al. (2022, p. 2), “a amamentação é a estratégia isolada mais forte na prevenção da mortalidade infantil, promoção da saúde física e mental da criança e da mulher que amamenta”. Também Marques et al. (2020) referem que a amamentação é uma prática milenar com benefícios aproveitados no seu todo quando praticada por pelo menos dois anos e de forma exclusiva até ao sexto mês de vida da criança em que a mãe propicia ao seu filho todos os nutrientes necessários para um bom desenvolvimento físico, psíquico, emocional e nutricional. Para Eagen-Torkkoet al. (2017) a amamentação é um processo profundo que reúne vários fatores exclusivos de cada mulher e do seu bebé. Neste sentido, a Organização Mundial de Saúde e United Nations Children's Fund (OMS e UNICEF, 1997) recomendam a amamentação exclusiva desde o nascimento até aos 6 meses, e a manutenção do aleitamento materno com alimentos complementares até aos 2 anos de idade ou mais, até que a mãe e bebé o desejem fazer. No entanto, a World Health Organization (WHO, 2017) refere que o que se verifica mundialmente é que somente são amamentadas exclusivamente apenas 40% das crianças com menos de seis meses e que em cada cinco bebés, três não são amamentados na primeira hora de vida. A este propósito a Direção Geral de Saúde (2014) e UNICEF (2019) também referem, respetivamente, que embora a importância da amamentação e os seus benefícios sejam indiscutíveis, em Portugal e noutros países desenvolvidos, a amamentação exclusiva até aos 6 meses de idade fica muito longe do aconselhado, e que apenas duas em cada cinco crianças com menos de seis meses de idade são amamentadas exclusivamente, conforme recomendado. Silva et al. (2016, p. 440) afirmam que “A promoção do aleitamento materno exclusivo até o 6º mês de vida é a intervenção isolada em saúde pública que tem o maior potencial para a diminuição da mortalidade na infância”. Torna-se por isso evidente a necessidade de promover a amamentação e o aleitamento materno. Neste sentido, a OMS (2017) afirma que o apoio às mães deve ser equacionado para as ensinar, orientar e ajudar no processo de amamentação. Porém, Santos et al. (2019, p. 71) advertem que para que a gestante opte pelo aleitamento materno exclusivo, não basta que esteja informada sobre os benefícios e vantagens do aleitamento materno, necessita de estar “inserida em um ambiente favorável à amamentação e contar com o apoio de um profissional da saúde habilitado para ajudá-la”. Também Rocha et al. (2020), mencionam serem fatores determinantes para a adesão, exclusividade e manutenção do aleitamento materno a educação em saúde, o auxílio dos profissionais de saúde e o apoio familiar. Opinião idêntica tem Machado et al. (2014) ao mencionar que “O apoio dos profissionais de saúde, bem como aquele recebido em casa e no trabalho, pode auxiliar nesse processo.” (p.985).
Também Verga e Galvão (2023) são de opinião que os profissionais de saúde possuem um papel singular, na proteção, promoção e apoio da amamentação exigindo-se uma parceria entre todos. Elfgen et al. (2017) referem igualmente que o apoio diferenciado e adequado às necessidades específicas das mulheres durante a gravidez e no período de amamentação, contribui para melhorar a amamentação. Lourenço (2018) adverte que a atuação dos profissionais de saúde deve ter o objetivo de preparar as mães quer para as dificuldades e preocupações quer para as instruir, treinar, ensinar e capacitar a amamentar de modo a aumentar a sua confiança e superar os obstáculos que possam surgir. Ainda Dias et al. (2013) mencionam que os profissionais de saúde são os responsáveis pelo esclarecimento de dúvidas, pela minimização de situações de incerteza e de angústia, que podem conduzir ao abandono do aleitamento, e contribuir para o aumento da autoconfiança e autoestima das mães.
Santos et al. (2022) e Barboza et al. (2020) mencionam que os profissionais de enfermagem detêm uma posição privilegiada na promoção do aleitamento materno ao atuarem na assistência direta às mulheres e crianças, tanto a nível hospitalar, quanto comunitário, pelo que têm de estar preparados para auxiliarem as mães tanto no período pré-natal como após o parto nas suas dificuldades relacionadas com a amamentação, promovendo segurança, fornecendo informações e minimizando as suas dúvidas e ansiedades.
Conhecendo a importância da promoção da amamentação e sendo o enfermeiro o profissional de saúde que atua diretamente na sua promoção (Palheta & Aguiar, 2021), surgiu o interesse por este estudo cujo objetivo consiste em analisar na produção científica o papel do enfermeiro na promoção do aleitamento materno.
Procedimentos metodológicos de revisão
Desenvolveu-se uma revisão integrativa da literatura, de fevereiro a junho de 2023, seguindo a classificação do nível de evidência de Melnyk e Fineout-Overholt (2011) e as seis etapas recomendadas por Sousa et al. (2017): identificação do tema e questão norteadora; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão/amostragem ou pesquisa de literatura; definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados/categorização dos estudos; avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa; análise e interpretação dos dados; apresentação da revisão/síntese do conhecimento. Na primeira etapa, de elaboração da pergunta de pesquisa foi adotado a estratégia PICO (Santos et al., 2007), onde “P” refere-se à População ou Problema, “I” à intervenção ou interesse, “C” Intervenção de comparação ou sem intervenção e “O” desfecho (outcomes). Dessa forma, no presente estudo definiu-se P: Mulheres, Homens, Crianças, População no geral; I: Promoção do aleitamento materno; C: Não intervenção; O: Papel do enfermeiro. Conforme essa estratégia, definiu-se como questão norteadora da pesquisa: qual o papel do enfermeiro na promoção do aleitamento materno?
Na segunda etapa, os critérios de inclusão foram os artigos que abordassem o papel do enfermeiro na promoção do aleitamento materno, classificados como originais de natureza primária, nos idiomas português, inglês ou espanhol, de livre acesso, disponibilizados na íntegra e publicados entre 2019 e 2023. Excluíram-se artigos de revisão. Foi feita pesquisa de artigos por dois pesquisadores, de forma independente, em maio de 2023, acedendo às bases de dados Psychology & Behavioral Sciences Collection, MEDLINE Complete, CINAHL Complete, MedicLatina, Academic Search Complete e Education Resources Information Center (ERIC). Fez-se a pesquisa em títulos e resumos, utilizando-se os descritores em saúde: nurse's role, breastfeeding, health promotion e o operador booleano “and”. Ao todo, foram recuperados nas bases de dados 115 artigos, e após identificação e exclusão, por meio da leitura de título e dos duplicados (93) e do resumo (11), encaminharam-se para avaliação 11 artigos com textos integrais. Nessa fase foram excluídos 03, por se tratarem de revisões, e um (01) por não dar resposta ao objetivo. Assim, sete artigos foram incluídos para a extração de dados (Figura 1).
Resultados
Os resultados com a síntese das características dos estudos incluídos apresentam-se na tabela 1. Quatro estudos foram publicados em inglês, dois em português e um em espanhol, um no ano de 2019, três em 2020, dois em 2021 e um em 2022. Existiu diversidade relativamente ao local de publicação, em termos de continentes e países sendo três no Brasil, um em Espanha, um na Turquia e dois na Austrália. Quanto ao tipo de estudos quatro são qualitativos, um quantitativo, um misto e um observacional. O nível de evidência, enquadram-se todos no nível de evidência VI.
Autor(es) | País/ Ano de publicação | Tipo de estudo | Nível de evidência | População/amostra em estudo |
Sardinha et al. (2019) | Brasil (2019) | Qualitativo/descritivo/relato de experiência | VI | 15 gestantes |
Babuç e Avci (2020) | Turquia (2020) | Quantitativo/fenomenológico | VI | 7 puérperas que tiveram filhos há menos de um ano e 5 consultoras de amamentação |
Silva et al. (2020) | Brasil (2020) | Qualitativo/ Descritivo/ exploratório | VI | 20 puérperas que se encontravam em período de amamentar |
Xiao et al. (2020) | Austrália (2020) | Qualitativo/ exploratório | VI | 22 mulheres que se encontravam nas primeiras 6 semanas após o parto |
Shahrani et al. (2021) | Austrália (2021) | Observacional/prospetivo | VI | Tamanho amostral estimado entre 133 e 292 e que incluiu todas as puérperas que tiveram parto completo de recém-nascidos a termo, únicos, saudáveis e que estavam a amamentar antes da alta. Os dados foram colhidos antes da alta, 2 semanas e 8 semanas pós-parto |
Van Breevoort et al. (2021) | Austrália (2020) | Exploratório/misto/transversal | VI | 194 mães de crianças menores de 24 meses de idade |
Alcázar-París et al. (2022) | Espanha (2022) | Quantitativo/Descritivo/ transversal | VI | Amostra calculada e que incluiu 340 puérperas internadas na Unidade Obstétrica do Hospital Feminino do Hospital Universitário Vall d'Hebron de Barcelona |
Após a leitura dos artigos procedeu-se ao agrupamento das informações mais relevantes de cada artigo (Tabela 2). Assim, foram criados quatro blocos de análise: relato dos momentos de promoção do aleitamento materno desenvolvidos pelos enfermeiros; temas/conteúdos fornecidos às mães nos momentos de promoção do aleitamento materno desenvolvidos pelos enfermeiros; relato de experiências positivas com a promoção do aleitamento materno; relato de experiências negativas com a promoção do aleitamento materno.
Informações disponíveis |
Relato dos momentos de promoção do aleitamento materno desenvolvidos pelos enfermeiros |
Após o parto. (Sardinha et al., 2019; Xiao et al., 2020; Alcázar-París et al., 2022) |
Pré-natal e pós-natal. (Silva et al., 2020; Shahrani et al., 2021; Van Breevoort et al., 2021) |
Temas/conteúdos fornecidos às mães nos momentos de promoção do aleitamento materno desenvolvidos pelos enfermeiros |
Importância do AME para o bebé e para a mãe e as suas propriedades. (Sardinha et al., 2019) |
Aspetos relacionados com os benefícios da amamentação para o binómio, orientação sobre a pega correta e prevenção de problemas durante o aleitamento. (Silva et al., 2020) |
Posicionamento do bebé à mama e benefícios da amamentação para a saúde. (Van Breevoort et al., 2021) |
Como colocar o bebé à mama e identificar uma boa pega, identificação precoce da fome do bebé, reconhecer sinais de satisfação do bebé, número de ingestões mínimas diárias, hábitos saudáveis, extração do leite, benefícios da amamentação, importância da amamentação sob livre procura, necessidade de alojamento conjunto mãe-bebé e informações sobre grupos de apoio à lactação. (Alcázar-París et al., 2022) |
Relato de experiências positivas com a promoção do aleitamento materno |
Os profissionais de saúde influenciam muito o processo de tomada de decisão das mães relativamente à alimentação infantil. (Van Breevoort et al., 2021) |
O profissional de saúde ajudou as mães na amamentação. (Van Breevoort et al., 2021) |
As mães foram influenciadas por um profissional de saúde na prática da amamentação. (Van Breevoort et al., 2021) |
As mulheres indicaram que as enfermeiras influenciaram fortemente as práticas de amamentação, desempenhando um papel importante na decisão das mulheres na gravidez, parto e nos primeiros meses de vida da criança. (Van Breevoort et al., 2021) |
Os fatores facilitadores para a prática da amamentação incluíram mães que receberam apoio durante a primeira mamada, orientações às gestantes sobre os benefícios da amamentação, aconselhamento por enfermeiras e apoio dos maridos. (Van Breevoort et al., 2021) |
Perceções positivas das mulheres sobre a amamentação constituiu uma das suas maiores motivações para iniciar amamentação. (Xiao et al., 2020) |
Relato de experiências negativas com a promoção do aleitamento materno |
Falta de coerência entre o discurso e as informações dos profissionais de saúde e a sua experiência de amamentação. (Babuç & Avci, 2020) |
Pressão dos profissionais de saúde relativamente ao aconselhamento e apoio em aleitamento materno, resultando na alienação da sua própria experiência de amamentação. (Babuç & Avci, 2020) |
Exposição das mães ao discurso moral, a atuar como inspetores e não como consultores, desconsiderando as necessidades psicológicas, emocionais, controle sobre o seu corpo e decisões em relação à amamentação. (Babuç & Avci, 2020) |
Incapacidade de fornecer às mulheres a orientação e apoio ao aleitamento materno que precisavam e de resolver os problemas da amamentação que as mulheres vivenciaram. (Xiao et al., 2020; Shahrani et al., 2021) |
A maioria das enfermeiras que realizaram a visita domiciliar não eram especialistas em amamentação. (Xiao et al., 2020) |
Discussão
A amamentação é um momento desafiador para a maioria das mulheres, mesmo para as que não se encontram a amamentar pela primeira vez, e o período de amamentação é um processo de adaptação a uma nova situação que a mulher se encontra a vivenciar, podendo surgir sentimentos de insegurança e ansiedade (Silva et al., 2020). Capacitar e permitir que as mulheres amamentem deve constituir um dos esforços de todos os países (UNICEF, 2018). Dias et al. (2018), advertem que é o período pré-natal o momento de promoção do aleitamento materno desenvolvidos pelos enfermeiros mais importante para orientar as mães sobre a prática do aleitamento materno. Santos et al. (2019) comungam desta opinião referindo ser fundamental que o acompanhamento das mulheres tenha início no pré-natal devido à existência de diversos fatores que podem favorecer a não adesão à amamentação exclusiva até os seis meses de vida. Nesta revisão, constatamos que o período pré-natal é mencionado nos estudos desenvolvidos por Silva et al. (2020), Shahrani et al. (2021) e Van Breevoort et al. (2021).
Para Santos et al. (2022) embora o pré-natal constitua o momento ideal para a promoção do aleitamento materno, outros momentos não devem ser negligenciados. Na perspetiva destes autores o enfermeiro, profissional fundamental para a promoção do aleitamento materno, deve desenvolver ações de promoção do aleitamento materno em qualquer ocasião. Sardinha et al. (2019), Xiao et al. (2020) e Shahrani et al. (2021) nos estudos que desenvolveram apuraram, respetivamente, que as participantes somente após o parto tiveram, nas consultas de Enfermagem, informações mais válidas sobre aleitamento materno, mas que já haviam inserido o chá na dieta do RN. Embora muitas mães tivessem encontrado dificuldades para amamentar, apenas enquanto permaneceram no Hospital puderam recorrer a enfermeiras para obter ajuda e assim que receberam alta, ficaram ansiosas porque estavam sozinhas a lidar com a amamentação, e que foi apenas durante o internamento que receberam conselhos sobre amamentação das enfermeiras/parteiras (Xiao et al., 2020).
No estudo de Van Breevoort et al. (2021), os autores apuraram que a grande maioria das mães recebeu pelo menos uma vez assistência pré e pós-natal.
Silva et al. (2020) referem que o apoio do enfermeiro é importante para identificar as dificuldades que poderão surgir durante o aleitamento, intervir de acordo com as necessidades e descobrir com a mãe a melhor forma de vivenciar este processo. Os autores acrescentam que na visita puerperal, o enfermeiro pode realizar inúmeras ações para a promoção do aleitamento para além de oferecer o suporte e apoio necessários às mães dado que muitas vezes, as mulheres se encontram fragilizadas, sendo necessário a presença de um profissional competente para as ajudar (Silva et al., 2020). Situação observada no estudo de Silva et al. (2020) em que as mulheres compreenderam a visita puerperal como uma ferramenta que lhes proporcionou maior segurança e conforto durante a amamentação.
Galvão (2006) afirma ser frequente a mulher que amamenta, sobretudo a que se encontra a amamentar pela primeira vez, sentir dúvidas quanto às suas capacidades e ao modo de amamentação dos seus filhos e numerosas são as situações relacionadas quer com a mãe quer com a criança, que poderão estar na base do abandono precoce do aleitamento materno. Neste sentido, Silva et al. (2020) afirmam ser imprescindível que os profissionais, ainda durante o pré-natal, forneçam orientações e esclarecimentos sobre aleitamento materno e a sua importância para a mãe-bebé. Situação observada nos estudos desenvolvidos por Sardinha et al. (2019), Silva et al. (2020), Van Breevoort et al. (2021) e Alcázar-París et al. (2022). Santos et al. (2022) afirmam também, que o enfermeiro no pré e pós-parto deve orientar sobre a pega adequada, possível demora na descida do leite nas primeiras horas, desmistificação de tabus sobre aleitamento materno e procurar a resolução de possíveis intercorrências que possam surgir nos primeiros dias. Esta situação foi corroborada no estudo desenvolvido por Silva et al. (2020), onde observaram que na visita puerperal foram prestadas orientações sobre a pega correta e prevenção de problemas durante a amamentação, o que na perspetiva das mães proporcionou esclarecimento de dúvidas e ansiedades.
Os temas/conteúdos fornecidos às mães nos momentos de promoção do aleitamento materno desenvolvidos pelos enfermeiros foram diversos. Van Breevoort et al. (2021) verificaram que as mães receberam assistência sobre posicionamento do bebé à mama e que durante as entrevistas e discussões de grupos focais, as mães mencionaram ter recebido assistência dos profissionais de saúde para iniciarem precocemente a amamentação. Similarmente Alcázar-París et al. (2022) apuraram que as mães foram orientadas sobre como colocar o bebé à mama, identificar uma boa pega e acerca da extração do leite. No sentido de proteger, promover e apoiar o aleitamento materno, a Iniciativa Amiga dos Bebês, que preconiza a adoção de dez medidas para o sucesso do aleitamento materno, divididas recentemente em dois grupos, procedimentos de gestão clínica e práticas clínicas-chave, recomenda, entre outros passos, informar todas as grávidas e suas famílias sobre as vantagens e a prática do aleitamento materno, promover o contacto físico imediato e mantido entre a mãe o bebé e ajudar as mães a iniciarem o aleitamento materno na primeira meia hora após o nascimento, não dar ao recém-nascido nenhum outro alimento ou líquido além do leite materno, a não ser que seja segundo indicação médica, praticar o alojamento conjunto e permitir que as mães e bebés permaneçam juntos 24 horas por dia, não dar tetinas nem chupetas às crianças amamentadas ao peito até que esteja bem estabelecida a amamentação (Portugal, Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Saúde, 2018; United Nations Children's Fund Portugal, Comissão Nacional Iniciativa Amiga dos Bebés, & Organização Mundial da Saúde, s.d.). Identificação precoce da fome do bebé, reconhecer sinais de satisfação do bebé, número de ingestões mínimas diárias, hábitos saudáveis, importância da amamentação sob livre procura, necessidade de alojamento conjunto mãe-bebé e informações sobre grupos de apoio à lactação foram orientações também veiculadas junto das mães do estudo de Alcázar-París et al. (2022).
Os relatos de experiências positivas e negativas com a promoção do aleitamento materno emergiram dos artigos incluídos e constituíram dois blocos de análise. Para Van Breevoort et al. (2021) e Alcázar-París et al. (2022) os profissionais de saúde influenciam muito o processo de tomada de decisão das mães relativamente à alimentação infantil e no processo de amamentação. Bridges et al., (2018) afirmam que de facto, os estudos demonstram que as intervenções de educação e apoio, principalmente as visitas presenciais, fornecidas por profissionais de saúde podem aumentar a duração e exclusividade do aleitamento materno.
Galvão (2011) adverte que os profissionais de saúde que lidam com mães que estão a amamentar têm de estar conscientes que para o êxito e sucesso da amamentação as mães têm de receber apoio e ajuda centrada nas dificuldades específicas ou nas suas crises de autoconfiança pelo que, é essencial que desenvolvam um conjunto de competências comunicacionais e que o sucesso da amamentação depende mais do bem-estar da mulher, de como ela se sente a respeito de si própria e da sua situação de vida. Também Babuç e Avci (2020) alertam para a necessidade de um sistema de aconselhamento e apoio empático e individualizado. Situação contrária ao estudo que desenvolveram onde observaram que as mães perceberam pressão e vigilância relativamente ao aconselhamento e apoio em amamentação que receberam dos profissionais de saúde. Também Santos et al. (2022) verificaram que as mães procuraram o profissional para solucionar os seus problemas relacionados com o aleitamento materno, porém o profissional impôs normas e regras que não faziam parte da sua realidade. Esta situação foi também observada no estudo desenvolvido por Babuç e Avci (2020) onde observaram que o discurso e as informações médicas sobre o leite materno e a amamentação apresentados nas práticas de aconselhamento e apoio ao aleitamento materno dos profissionais de saúde, não coincidiam totalmente com a imagem exata da experiência de amamentação das mães.
Barboza et al. (2020) advertem que o enfermeiro deve oferecer o apoio ao aleitamento materno, que significa aconselhar, informando de maneira correta, utilizando uma linguagem acolhedora, simples, objetiva e sem julgamentos. Porém, no estudo de Xiao et al. (2020), observaram que as mães afirmaram que não receberam muito apoio sobre aleitamento materno dos profissionais de saúde, pelo que procuraram e aproveitaram apoio ou respostas de amigos, das redes sociais e da internet para obter informações, porém ficavam confusas porque as sugestões eram conflituantes. Xiao et al. (2020) mencionam ainda que quando as mulheres não recebiam apoio dos profissionais de saúde, procuraram a ajuda de um kanaishi (profissional formalmente treinado para oferecer massagens nos seios ou acupressão para promover a produção de leite materno, massoterapeuta especializado em aumentar a quantidade de leite materno). Santos et al. (2019) afirmam que os enfermeiros devem estar suficientemente capacitados, possuírem conhecimentos, habilitados e terem sensibilidade para poderem desenvolver aconselhamento em aleitamento materno. Alude ainda há necessidade de verem a amamentação como um processo complexo. Porém esta visão não foi observada no estudo desenvolvido por Xiao et al. (2020) onde, embora as mães esperassem que a visita domiciliária pós-parto realizada pelos enfermeiros as orientasse sobre amamentação, a maioria das enfermeiras que realizaram a visita domiciliar, não conseguiram resolver os problemas da amamentação que as mulheres vivenciaram, ficando os serviços de apoio à amamentação prestados pelos enfermeiros muito abaixo das expetativas das mães.
Santos et al. (2019) afirmam assim que “Orientar a amamentação é um grande desafio para o profissional de saúde, principalmente para o enfermeiro, uma vez que ele se depara com alta demanda, exigindo sensibilidade e habilidade no seu cuidado” (p.71).
Conclusão
Os enfermeiros, pela posição privilegiada que se encontram ao atuarem na assistência direta às mulheres e crianças, tanto a nível hospitalar, quanto comunitário, ocupam um papel fundamental na promoção do aleitamento materno. Têm de estar preparados para auxiliarem as mães tanto no período pré-natal como após o parto nas suas dificuldades relacionadas com a amamentação, promovendo segurança, fornecendo informações e minimizando as suas dúvidas e ansiedades.
Esta revisão integrativa da literatura permitiu analisar que os enfermeiros promovem ações educativas sobre aleitamento materno desde o período pré-natal, com mais insistência depois do parto na fase inicial da amamentação, mas também a necessidade de um suporte de amamentação de longo prazo dado os desafios posteriores. As mulheres valorizam as ações educativas como momentos importantes para discutir as dúvidas, mitos e medos. Apreciam o apoio empático e uma abordagem empoderadora sobre a capacidade de amamentar prestado pelos enfermeiros. São apontados como aspetos negativos o discurso moral, atuarem como inspetores e não como consultores, desconsiderando as necessidades psicológicas, emocionais, controle sobre o seu corpo e decisões em relação à amamentação.
Amamentar constitui um imperativo de saúde pública e um contributo para o Desenvolvimento Sustentável. Cabe aos enfermeiros estarem mais próximo das mães de modo a identificarem as suas necessidades e dificuldades específicas, estabelecerem estratégias de orientação e ajuda centradas nas necessidades e dificuldades identificadas e promoverem apoio empático, individualizado isento de julgamentos e pressões. Contudo, o papel do enfermeiro na promoção do aleitamento materno não se pode limitar a atuar junto das mulheres sabendo da importância da construção dos valores da amamentação desde idades precoces e da influência da família e dos contextos na prática da amamentação.
Como limitação desta revisão, destaca-se o número limitado de artigos, o que confirma a necessidade de realização de mais estudos sobre o importante papel do enfermeiro na promoção do aleitamento materno.
Relevamos a importância do papel do enfermeiro na promoção do aleitamento materno, o que inclui a habilidade para comunicar de forma empática, assente no modelo centrado na pessoa e nas suas necessidades, respeitando a autonomia e decisão sobre a amamentação.