1. Intervenção grupal em período pandêmico
A educação de ensino é um universo que necessita de ações em assistência estudantil de modo urgente. Assim, as ações de assistência estudantil são desenvolvidas de acordo com osobjetivos e diretrizes do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES)a partir do Decreto nº 7.234, de 19 de julho de 2010, que tem por finalidade ampliar as condições de permanência dos jovens na Educação Superior na esferapública federal. Segundo a Associação Brasileira de Estágios (ABRES) em ação em conjunta com o Ministério Público Federal (MPF) para revitalização do sistema empregatício brasileiro, de 2002 a 2020, o número de alunos na educação superior passou de 3,5 para 8,68 milhões. Já o total de concluintes do ano passado subiu 1,12%, apesar do avanço no número de formandos, infelizmente apenas 33,96% dos calouros “pegam o diploma”, sendo 204.174 no setor público e 1.074.448 no privado. Grande parte desses estudantes não conclui ou abandona o curso provavelmente por falta de condições financeiras.
No Brasil, as universidades públicas federais têm passado por transformações na conformação do seu público de estudantes de graduação de modo acentuado desde 2005 com a instituição das cotas e ampliação do número de vagas de graduação. Isto tem por consequência o acesso ampliado, com diversidade, e existência de diferentes vulnerabilidades no território universitário. Nesta direção caminha a Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) de uma universidade do sul do Brasil voltada exclusivamente aos estudantes do período da graduação e ensino prrofissionalizante, constituída por equipes de apoio pedagógico, assistência social e apoio psicológico aos estudantes, com foco na inclusão e permanência de estudantes em condições de vulnerabilidade socioeconômica. Destacamos o projeto de extensão com os estudantes INgressos, Projeto IN, com objetivo de vislumbrar maior capilaridade aos anos iniciais de convivência no ensino superior público, buscando agregar percepção da realidade múltipla desse público e intervenções psicossociais de interação e comunicação mediante reuniões, encontros, oficinas, mensagens midiáticas em redes sociais, englobando Permanência e prevenção em saúde mental. É o imperativo de atenção e cuidados acerca deste público alémdo já evidente déficit econômico, ou seja “Embora o aspecto econômico seja importante para favorecer, ou não, a permanência do estudante em seu respectivo curso, partimos da premissa de quenão seja o único ou o preponderante. Dessa forma, entendemos que as políticasassistencialistas focais são essenciais ao público de baixa renda; contudo, deve-seconsiderar a complexidade da questão que permeia a permanência.” (Maciel, 2016, p.775)
As dificuldades em continuidade no ensino superior é apresentadas recentemente em pesquisa realizada pela SEMESP no “Mapa do Ensino Superior no Brasil” (2016; p. 13) na qual a taxa de permanência em universidades públicas foi de 51,3 %, e com uma taxa de evasão de 18,3 %, sendo esta taxa calculada com base nos alunos desistentes em relação ao total de alunos matriculados, conforme tabela 1.
Segundo os dados do Censo da Educação Superior (2014), o índice de estudantes que não concluem a graduação é expressivo, o que remete à necessidade do fortalecimento de políticas de permanência que levem em consideração as diversas causas da não permanência, como dificuldades de aprendizagem, dificuldade financeira, descontentamento acerca do método didático-pedagógico docente, transferência de domicílio, dificuldade em conciliar jornada de trabalho e horário do curso,cansaço, decepção pelas expectativas frustradas a respeito da instituição ou da profissão escolhida. (RBPAE, 2016, p. 775-776)
Na intenção de se ter intervenção psicossocial de forma coletiva, grupal com os estudantes do ensino superior numa universidade pública federal do sul do Brasil quanto à Permanência universitária, ao se defrontar aindano decorrer de 2022 com o retorno das aulas presenciais no ensino superior público brasileiro, manteve-se a oferta da programação de Oficinas virtuais de modo remoto pelo projeto IN. Em decorrência da pandemia da SARS-COVID-19, ocorreu desenvolvimento de discussões e debates que trouxessem a metodologia presencial e on-line de modo síncrono e assíncrono na universidade enquanto modalidades de ensino e de retomada do convívio social.
Nesta direção, o artigo traz a proposição de explorar de modo qualitativo de análise o olhar sobre as atividades desenvolvidas nas Oficinas IN com estudantes Ingressos em 2022 e repercussão nas atividades pedagógicas de ensino superior. A metodologia da Oficina psicossocial circunscreveu-se em debate de temáticas mediante fragmentos de vida e da realidade pessoal/acadêmica dos participantes, objetivando pois, planejamento e organização semanal de atividades facilitadoras e potencializadoras do desenvolvimento interpessoal dos novos estudantes em contexto universitário e global circundante.A atividade grupal se focalizou numa questão central (IN) enquanto debate de temáticas que o grupo se propôs a elaborar em um contexto social, propiciando aos estudantes espaços de construção do conhecimento e de participação ativa em suas ações.
2. Metodologias em Oficinas criativas on-line
A metodologia criativa em Oficina com estudante universitário Ingresso se caracterizou por participação de estudantes bolsistas em todas as etapas que envolvem esta atividade, o que incluiu portanto, o planejamento de atividades e exercícios grupais que fossem significativos à temática IN de Inclusão e Permanência universitária. Referiu-se a organização da participação dos estudantes INgressos no Registro Geral acadêmico de forma on-line em 2022, ainda no momento de situação pandêmica. Concebemos que Oficinas IN criativas se estruturam nas ações empreendidas com os estudantes por considerarmos que as criatividades dos estudantes se expressam pela composição de confiança em si na medida em que se articula idéias e pensamentos, no movimento de conexão com o outro relacional. Percebe-se inovação e criatividade em debates frutíferos no referencial de produção de conhecimento abordado por Souza e Caixeta
[...] para a potencial cegueira dos engajamentos teóricos, metodológicos, técnico-científico e morais tecidos em séculos de civilização em benefício de uns e detrimento de outros, passíveis de se estabelecerem em nós como preconceitos diversos: científicos, sociais, estéticos, políticos. Para tal, é preciso estar atento às atuações potencializadoras de criatividade pessoal e do outro, possibilitadoras de novos conhecimentos e modos de construí-los e oportunizadoras de respostas para questões novas e respostas mais adequadas para problemas antigos.” (Souza e Caixeta, 2016, p.105)
Significa acompanhamento das Oficinas on-linemediadaspor profissional de Psicologia com participação de estudante bolsista extensionista como facilitadora do processo dialético conduzido, assumindo papel de co-mediação. Oficinas realizadas em edições semanais e/ou quinzenais, objetivando acolhimento e convívio aos estudantes Ingressos (estudantes calouros/calouras) tendo relatoria semanal das Oficinas on-line por meio de metodologia qualitativa fundamentada na Análise de Conteúdo de Bardin em processo deconstrução de categorias pelo Diário de campoperiódico, semanal e/ou quinzenal. A realização em 2022 de 21 Oficinas no modo on-line obteve 78 participações de estudantes Ingressos após sistematização de envio de convites pelo aplicativo Teams. Em seguida, o devido registro em Diário de campo das Oficinas on-line realizadas pela estudante bolsista extensionista com impressões a respeito do processo vivenciado na atividade criativa.
Salientamos a relevância em se ter atenção a esse público INgressante em exploração qualitativa de suas demandas e necessidades, sendo porta-voz desses anseios em ambiente promissor ao acolhimento. Face às 21 Oficinas realizadas as categorias analíticas que foram evidenciadas referem-se a: acolhimento; organização e ritmo da rotina; rendimento; inseguranças; conciliar estudo e trabalho; sobrecarga; conforme interpretação e trechos narrativos apresentados pelos estudantes ingressantes nas Oficinas.
Expõem, portanto, que, junto das novas demandas vindas da pandemia, um ponto chave que foi considerado muito importante se tratou da organização e ritmo da rotina, sobrecarga por rendimento acadêmico que segundo os calouro/as faz toda a diferença quando se consegue repensar sobre isso.
Temáticas quanto a inseguranças iniciais enquanto caloura(o), compartilhamento de momentos positivos que se pode desfrutar e compartilhamento das próprias experiências permitindo expressão espontânea da pessoa. Em nosso entender, oportunizava condição a expressão de vulnerabilidades socioemocionais pelos estudantes além da evidente econômica, em muitos casos, ou seja,
“A criação de serviços de ação social e de apoio psicológico e educacional, munidos de profissionais especializados, é entendida como instrumento necessário na ajuda dos estudantes que experienciam maiores dificuldades na área socioeconômica, pessoal e acadêmica, já que a pressão que estes sentem sobre seu rendimento é algo que merece maior atenção. A universidade tende a condicionar os resultados dos alunos e o seu envolvimento com os estudos.” (Faria, 2021, p. 11)
No intuito de pontuar as possibilidades de atividades reflexivas e vivências em grupo interativas e criativas, apresentamos a seguir trecho de Diário de campo periódico relatado em pormenores pela bolsista extensionista como exemplificação do conjunto de construção de categorias qualitativas constituídas pela participação dos 78 estudantes.
“Esta oficina IN ocorreu em 16 de março de 2022, por meio da plataforma Teams, das 17:00h às 18:30h da tarde; contando com as presenças de: profissional técnico de Psicologia F., estudante D., estudante L. e estudante bolsista extensionista B. Já de início, o cumprimento entre os participantes expressou de muito afeto, nele, as palmas das mãos foram unidas, enquanto juntas, serviram de apoio para a cabeça, que aproveitando deste, se inclinou para o lado num gesto carinhoso. Entre gestos, foi resgatado o da figura Concha, também feito com as mãos.
Na relação dialógica estabelecida nas Oficinas IN, a concha representa o acolhimento, a segurança, o fim e o começo dos ciclos, portanto a transformação. Na sequência da Oficina, todos se apresentaram, contando de si mesmo e do contexto universitário que vivencia, além de também compartilharem das razões próprias paraparticipar do projeto por meio da presença na Oficina IN. Dentre as principais motivações, o acolhimento é uma destas. O estudante L., enquanto contava sobre a importância que oacolhimento tem para si, oriundo de outra cidade, usou do termo “pertencer” para expressar seu desejo de entrar na universidade, não só considerando a aprovação no vestibular, mas o entrar seguido do “fazer parte”, do pertencer.
A estudante D., compartilhou com entusiasmo o fato de continuar mantendo a presença nas Oficinas do projeto; ela discorreu sobre o conceito de afeto, sobre como este se torna fundamental na obra de performer e pesquisadora da UNIRIO que D. admira e gosta, e sobre como este, o afeto, também está, e é um presente das Oficinas IN (D. ainda contou, que a artista ia estar presencialmente na cidade no Festival de Teatro.
Na sequência, a mediadora psicóloga F. enviou três palavras/conceitos no Chat Acolhimento, Fortalecimento e Transformação, buscando que cada um fizesse uma reflexão sobre os sentimentos aflorados pela leitura das palavras:
O estudante L. depois de pensar em silêncio, contou que os termos lhe trouxeram a idéia de casa, de um lugar seguro e confortável para se estar, nisto foi pontuado por todos, o quão tentador pode ser a nossa zona de conforto, na medida que também é necessário muitas vezes deixar a mesma; além da estudante bolsista extensionistaB. ter observado a analogia entre a casa e a concha, retratada por todos no inicio da Oficina.
Na continuidade, D. contou que para ela, dos termos surgiu a idéia de uma borboleta, está, que quando lagarta se acolhe para que com força se transforme.
Em seguida, conforme desenrolar da Oficina IN a proposição pela profissional de Psicologia mediadora F., foi o pensar nos desafios facilitadores e restritivos: D. contou sobre ter se afastadodurante sete anos da universidade, em decorrência de complicações com sua saúde mental, na qual a estudante do curso de Produção Cênica conta que, ao voltar, em 2020, não pode conter as lágrimas e a ansiedade ao estarno Campus de seu curso novamente, desta ocasião, ficou a reflexão de que muitas vezes ela sesentiu sozinha, visto que no momento, apenas uma colega demonstrou apoio, mas que, ela também possui amizades, e amizades que se importam com ela, junto das quais ela já pode estar presente no dia seguinte. L. contou que morar distante da família é um desafio restritivo enquanto também facilitador, pois provoca amadurecimento e transformação, enquanto o estudante também pontuou sobre a dificuldade em se organizar sozinho, além das dificuldades com o conteúdo do curso em si.
O estudante L. finalizou demonstrando felicidade ao contar que tem tido “sucesso” no meio acadêmico.
A respeito dos desafios, a estudante bolsista extensionista B. elencou que ao morar naCasa de Estudantes da cidade do sul do Brasil se revela uma instigação facilitadora. Alega isso pelo motivo de considerar que as moradoras da casa formam uma família, com imensa troca cultural, ao mesmo tempo que a casa também se configura como um desafio restritivo; na medidaem que é um espaço com muitas potenciais distrações, além das dificuldades da convivência que provocam tensões e estresses.
A estudante D. trouxe a sua percepção de como coisas pequenas, citando oexemplo pessoal de louças sujas na pia, por ex, poderem ocasionar em grandes brigas, disto; ela pontua sobre a necessidade de diálogo e afeto.
A oficina IN se encerrou com os participantes se despedindo com expressão de afeto, enquanto foi resgatado o gesto da Concha, além de todos terem tirado capturas de tela do encontro e, compartilhado no Chat conforme figura 1”
Nas Oficinas IN, os estudantes participantes também descreveram algumas narrativas analíticas apontadas a seguir:
Estudante A., 18 anos, curso de Música - “Você precisa ser muito determinado para não parar de estudar, para não sair da universidade, precisa conciliar trabalho e estudo.”
Estudante G., 22 anos, curso de História e Memória - “Temos 09 disciplinas, é difícil e complicado, não deveria ser assim, fica puxado...“
Estudante N., 19 anos, curso de Engenharia Civil- “É difícil ficar sem faltar, às vezes, como repor as aulas que faltamos? Quando o estudante falta, precisa pensar na reprovação, sabe...”
Estudante S., 21 anos, curso de Letras- “É, nós somos flexíveis, mas a regra, normas não é... aí complica muito.”
E fundamentalmente importante no procedimento metodológico qualitativo das Oficinas IN com os estudantes ingressantes, o processo de Acompanhamento/Avaliação dos bolsistas extensionistas nos Diários de Campo obtidos e explorados enquanto problematizações significativas ao debate e ampliação do conhecimento.
Referimos que pode-se ter discussões no tocante a vários aspectos como os relacionados aos debates e discussões teóricas e metodológicas em todo o processo do projeto IN; envio de leituras; procura de referências pertinentes à temática Inclusão e Permanência, elaboração do roteiro de Diário de Campo utilizado nas Oficinas IN; seguimento metodológico a condução dos grupos de estudantes calouros nas Oficinas IN on-line; elaboração das postagens significativas nas mídias sociais de comunicação para adesão e participação.
Todo esse processo em monitoramento contínuo em reuniões semanais com Equipe IN, de no mínimo 1hora e meia a 2 horas de duração, pelo sistema Teams, aplicativo Office da universidade para dirimir dúvidas, alinhar encaminhamentos e rever alternativas propostas em construção no sentido político e comunitário como assinala Aguiar em 2003.
“Nesse sentido, não se trata de substituir a análise de classes por qualquer outra estabelecida a priori, nem por análises que cotejem os movimentos sociais e os diferentes grupos como grupos-em-si ou grupos-para-si, mas considerar os grupos como dispositivos de afirmação de outros modos de subjetivação, realidades abordadas micro e macropoliticamente.” (Aguiar & Souza, 2003, p. 68)
3. Impacto na ação estudantil
A experiência de vivenciar Oficinas IN aos estudantes Ingressantes em período de retorno às aulas presenciais e ainda algumas atividades on-line pode trazer o universo territorial da chegada pessoal mesclada aos impactos na ação estudantil enquanto voltada prioritariamente ao resultado e rendimento acadêmico.
Percebemos pela intervenção qualitativa nas Oficinas IN que, desde o isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus com as tecnologias de educação a distância (EaD) a realização das atividades em Oficinas IN on-line virtuais tem a possibilidade de transformação do meio circundante para minimização da evasão acadêmica e maximização do suporte institucional. Equivale ao favorecimento do crescimento e desenvolvimento acadêmico em pilares de protagonismo e coparticipação social. As atividades acadêmicas por metodologias remotas on-line e/ou presenciais foram alvo de debate e discussão quanto a formas e possibilidades de enfrentamento para obtenção de rendimento na universidade e em proteção subjetiva e coletivamente organizada. Corrobora com a noção de ampliação da investigação qualitativa para explorar a realidade contextualizada dos estudantes como se destaca neste relato de pesquisa “Percebeu-se pela pesquisa que a evasão não tem uma razão unívoca, mas possui múltiplos motivos, dependendo do contexto social, cultural, político e econômico em que a instituição educacional está inserida. Assim, é relevante dar continuidade as investigações sobre as dificuldades, o perfil socioeconômico, psicológico e cultural dos alunos.” (Almeida, 2018, p.116)
As narrativas dos estudantes traduzem de modo exploratório a interação dialógica de natureza qualitativa de investigação. Sobressaia produção de conhecimento ao ter a participação voluntária dos estudantes INgressos no momento do registro geral acadêmico pela plataforma digital Teams da universidade. Refere-se às expectativas, indicadores de vulnerabilidades sociais e dúvidas dos estudantes ingressantes na comunidade universitária, permeando conexões com os estudantes bolsistas extensionistas em intervenções dialogadas com as/os caloura/os.
Torna-se um contínuo repensar reflexivo dialógico na Análise de Conteúdo de Bardin em conexão com o Diário de campo “Na fase de interpretação dos dados, o pesquisador precisaretornar ao referencial teórico, procurando embasar as análises dando sentidoà interpretação. Uma vez que, as interpretações pautadas em inferênciasbuscam o que se esconde por trás dos significados das palavras para apresentarem, em profundidade, o discurso dos enunciados.”(Santos, 2012, p. 386)
O processo de formulação da pesquisa-intervenção aprofunda a ruptura com os enfoques tradicionais de pesquisa e amplia as bases teórico-metodológicas das pesquisas participativas, enquanto proposta de atuação transformadora da realidade sóciopolítica, já que propõe uma intervenção de ordem micropolítica na experiência social. (Rocha, M. L. da & Aguiar, K. F. de, 2003, p.67). Cogitamos que ações interventivas visam prevenção de adoecimento e manutenção de saúde mental dos estudantes num contexto institucional e social que necessita de conhecimento, enfrentamento e integração dialética, ou seja, processual e coparticipativa.
O impacto na ação estudantil de ensino superior relaciona-se ao planejamento de ações interventivas com os estudantes INgressantes objetivando elaboração de políticas públicas condizentes e conectadas a diversidade estudantil da universidade, havendo análise, interveniência e transformação. Refere-se portanto a, aspectos da Inclusão e Permanência estudantil de variedade temática como: condições socioeconômicas de maior ou menor fragilidade; vida e adaptação urbana; iniciação a dependências psicoativas lícitas e ilícitas; grupos sociais de referência; hábitos de alimentação; condições de saúde física como sobrepeso; relacionamento grupal; grupos estudantis e militância política; diversidade étnica e racial; preconceitos e intolerância cultural e religiosa; sexualidade e relações de gênero; dentre demais assuntos temáticos de relevância à política pública estudantil.
A quantidade de pessoas envolvidas refere-se ao público diretamente foco do projeto de intervenção, ou seja: os estudantes calouros; a equipe IN; os diversos setores da universidade; os cursos de ensino superior em que os estudantes estão vinculados; os centros acadêmicos em que os estudantes se vinculam, dentre outros. Além da comunidade interna, inclui igualmente, a comunidade externa no seu entorno referente aos familiars; grupo de amigos; relacionamentos afetivos próximoas; pessoas no grupo de trabalho; estágio em conexão, etc. As observações e reflexões na equipe IN apontam ampla maioria de inscrições de mulheres nas Oficinas IN, dentre a totalidade de participantes, abrindo espaço para indagações e políticas ligadas ao fenômeno de relações de gênero dentre outras possibilidades. Pode-se igualmente, indagar e refletir que no grupo Oficina IN se gere uma rede psicossocial de intercambiação de saberes com o objetivo de proposta de empreendimento ou introdução de possibilidade de articulação de açõescoletivasde forma protagonista e inter-dependente. Nas vivências práticas das Oficinas IN espera-se que o protagonismo e participação ativa dos estudantes seja um modo de estabelecer conexão com suas reais necessidades e conhecimento das demandas existentes. Em investigação qualitativa pode-se arguir entre investigação e o dado empírico propriamente dito, crendo que
“[...] desenvolvimento é transformação, onde processos estão continuamente sendo criados, a metodologia de pesquisa precisa primar por descrever a construção de dados, esta descrição evidenciará os processos de desenvolvimento que estão acontecendo no momento da interação e não apenas o produto deste desenvolvimento. A metodologia qualitativa, neste caso, se estrutura com destaque na construção coletiva do conhecimento e envolve a adoção de posicionamentos que, a nosso ver, constituem condição sinequa non para o processo em si de construção coletiva do conhecimento, marcado pela ética em todas as suas etapas: coleta, processamento, sistematização e distribuição.” (Diriwächter, 2006, p. 01)
Mediante comunicação espontânea e voluntária dos estudantes INgressos pode-se ter conhecimentos atualizados sobre suas condições pessoais e educacionais, nem sempre perspicazes para apreensão de toda irregularidade e complexidade do fenômeno, porém sendo a busca constante como assinala Souza sobre alcance da Educação para promoção da Inclusão “Acreditamos que a Educação, particularmente, quando adota uma metodologia qualitativa e uma pedagogia dialógica, possibilita a tomada de consciência individual e coletiva da insuficiente clareza e precisão dos nossos conceitos, das contradições que eles encerram - de que, às vezes, são inadequados para interpretar novos aspectos da realidade.” (Souza,2016, p. 104)
4. Indissociabilidade em considerações finais
Concebemos que o relato da experiência qualitativa em 21 oficinas IN no decorrer de 2002 apresenta a indissociabilidade entre processos educacionais de ensino e ação prática e, em particular, com estudantes Ingressantes a realidade do ensino superior e seus desafios. Potencializa inclusive, a formação do estudante bolsista extensionista ligada a produção de conhecimento mediante a organização de dados obtidos e publicação das discussões referentes aos registros em Diário de Campo operacionalizada na dinâmica processual do trabalho.
Traz a participação na concepção interativa com os diversos segmentos educacionais da universidade subjaz o caráter de ações interventivas visando prevenção de adoecimento e manutenção de saúde mental dos estudantes num contexto institucional e social que necessita de conhecimento, enfrentamento e integração dialética, ou seja, processual e coparticipativa.
Dentre problematizações significativas, podemos nos indagar sobre qual o impacto na formação universitária; acomunicação em duas vias com as metodologias pedagógica EaD/on-line e suas derivações na capacitação docente e protagonismo estudantil universitário. Igualmente sobre os canais informais no cumprimento em suas funções como meio de disseminação de informação entre você e seus pares e os canais formais como responsáveis pela comunicação oficial dos resultados de uma pesquisa.
Aponta-se indissociabilidade no tocante ao ensino virtual, tecnologia à distância em Educação (EaD), no quanto proporciona controle de qualidade de uma área, conferindo reconhecimento da prioridade ao autor e possibilitando a preservação do conhecimento. “Na educação a distância existe o que pode ser chamado de democratização do saber, em que o aluno se torna ator no processo educativo e não somente espectador passivo do fato. Ele interage com o conteúdo, tutores, professores e outros alunos para propor novos caminhos de aprendizagem.” (Lahan, 2012, p. 02)
Em nosso entender, percebemos o quão é importante apontar indicadores qualitativos da diversidade estudantil de ensino superior, fatores subjetivos integrados a ordem de relação e interação humana universitária ressaltados nas Oficinas IN que trazem, pois, visibilidade à atenção devida ao estudante INgressante em conjunto aos fatores socioeconômicos como modos de posicionamentos que estruturam os contextos e as relações que aí se estabelecem. “Assim, se os problemas para a permanência e os riscos de evasão são reais para qualquer aluno em processo de formação, seja pela incapacidade de conciliar horários de estudo ou pela incompatibilidade entre trabalho e estudo, seja por dificuldades de integração, por reprovações, entre outros fatores, para os ingressantes vindos de camadas populares, em especial alunos pobres e negros, a ma- nutenção no Ensino Superior toma contornos mais dramáticos e específicos.” (Costa, 2020, p.300)
Destaca-se cada vez mais nos debates em Educação no ensino superior público questões ligadas a importância da conexão psicossocial no momento do ingresso universitário e a preparação técnica docente essencial para alcance efetivo de aproveitamento nas modalidades presenciais e virtuais praticadas.