Apresentamos o caso de um doente com 32 anos que recorreu ao serviço de urgência por tensão arterial elevada, falta de força generalizada e dificuldade de locomoção devido ao aumento dos edemas dos pés. Ao exame físico observa-se obesidade centrípeta, com aumento de peso de aproximadamente 30 kg nos últimos 12 meses, bossa cervical, plétora facial com fácies lunar, estrias violáceas largas e hematomas dispersos, sem aparente hiperpigmentação da pele e volumosos edemas nos membros inferiores com sinal de Godet positivo. Laboratorialmente com alcalemia (pH 7,59) por alcalose metabólica (HCO3−) 42,2 mmol/L), hipernatremia (Na+ 152 mmol/L), hipocalcemia (cálcio 2,10 mmol/L), hiperglicemia (glicemia 359 mg/dL) e hipocaliemia grave (K+1,8 mmol/L), que necessitou de atenção imediata pelo risco de morte súbita. Realizado estudo com tomografia computorizada toracoabdominopélvica, destacando-se “volumosa massa expansiva, com contornos lobulados, na dependência da glândula suprarrenal esquerda, traduzindo neoplasia da suprarrenal, com evidência de depósitos secundários hepáticos e pulmonares”.
Confirmado cortisol na urina (2976 µg/Tempo, valor de referência (VR) 58-403 µg/Tempo) e sangue aumentados (38,9 µg/dL, VR 6,7-22,6 µg/dL) com corticotrofina (ACTH) suprimida (2,78 pg/mL, VR 6-48 pg/mL). O estudo anatomopatológico sugere o diagnóstico de carcinoma adrenocortical da suprarrenal esquerda do tipo oncocítico.
Trata-se de uma apresentação exuberante da síndrome de Cushing, não ACTH dependente, por raro carcinoma do córtex da suprarrenal esquerda funcionante, com metastização hepática e pulmonar aquando do diagnóstico, consequentemente, inoperável. Doente transferido para serviço de Endocrinologia onde iniciou mitotano. Devido ao agravamento do estado geral associado a refratariedade ao tratamento, doente transferido para unidade de cuidados paliativos.1,2