SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.31 número1Síndrome VEXAS: O que Sabemos Dois Anos Após a sua Descoberta?Vacinação no Doente Diabético: A Importância de Não Esquecer índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Medicina Interna

versão impressa ISSN 0872-671X

Medicina Interna vol.31 no.1 Lisboa mar. 2024  Epub 31-Mar-2024

https://doi.org/10.24950/rspmi.2364 

PONTOS DE VISTA/ POINTS OF VIEW

Tarde do Jovem Internista: Novas Oportunidades para a Medicina Interna

Afternoon of the Young Internist: New Opportunities for Internal Medicine

Ana Rita Ramalho1  2 
http://orcid.org/0000-0001-7968-8706

Beatriz Castro Silva1  3 
http://orcid.org/0000-0002-5333-0500

Carlos Gonçalves1  4 

Filipa Rodrigues1  5 

Filipe Alfaiate1  6 
http://orcid.org/0000-0003-2130-6298

Flávia Freitas1  7 

Ricardo Ascenção1  8 

Maria Teresa Brito9 

Rita Noversa de Sousa10 
http://orcid.org/0000-0003-0284-6686

Miguel Romano4 
http://orcid.org/0000-0003-2821-867X

Alexandra Esteves4 
http://orcid.org/0000-0001-6572-6417

Patrício Aguiar11  12 
http://orcid.org/0000-0003-2393-3463

1Núcleo de Internos de Medicina Interna, Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, Lisboa, Portugal

2Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal

3Serviço de Medicina Interna, Hospital Beatriz Ângelo, Loures, Portugal

4Serviço de Medicina Interna, Unidade Local de Saúde do Alto Minho, Viana do Castelo, Portugal

5Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar e Universitário do Porto, Porto, Portugal

6Serviço de medicina Interna, Hospital do Espírito Santo de Évora, Évora, Portugal

7Serviço de Medicina, Hospital Santa Maria Maior, Barcelos, Portugal

8Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar de Leiria, Leiria Portugal

9Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar e Universitário de São João, Porto, Portugal

10Serviço de Medicina Interna, Unidade Local de Saúde de Matosinhos, Matosinhos, Portugal

11Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Norte, Lisboa, Portugal

12Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal


No passado 29º Congresso Nacional de Medicina Interna, a Tarde do Jovem Internista procurou, sob o mote “Pontes para o Futuro”, tema da reunião, trazer também à discussão aquelas que se poderão afigurar como pontes para o futuro da nossa especialidade. Para isso, contámos com a participação do Professor Doutor Patrício Aguiar, da Dra. Alexandra Esteves, da Dra. Maria Teresa Brito e da Dra. Rita Noversa de Sousa, assim como de todos os Jovens Internistas que aceitaram o convite de nos juntarmos para refletir sobre quais são os desafios atuais da Medicina Interna e que novas oportunidades decorrem dos mesmos. Este Editorial surge da vontade comum de partilhar a conversa que se gerou.

É reconhecido que a Medicina Interna, pela sua visão abrangente e integradora, possui um papel decisivo na gestão do doente agudo e crónico, com envolvimento multissistémico de uma doença rara ou prevalente, cuja complexidade vai aumentando quer com a evolução da doença, quer com o envelhecimento. Deste modo, a Medicina Interna torna-se numa das especialidades mais capazes para abraçar aqueles que são os principais desafios que a evolução demográfica e do conhecimento médico nos trazem.1-5

Nesse sentido, o primeiro desafio (ou oportunidade) identificado pelo nosso painel de oradores foi se a evolução da Medicina Interna deve passar por manter o carácter generalista ou pela subespecialização do internista. Esta é uma questão antiga, e que é responsável pela distinção entre a Medicina Interna no Sul e no Norte da Europa, onde diferenças na disponibilidade de recursos e nos sistemas de saúde originam diferentes papéis para os internistas.6 Na opinião do painel, a resposta não deve ser entendida como uma dicotomia imposta, mas antes como uma complementaridade, devendo sempre prevalecer o investimento no raciocínio clínico, considerado por todos a principal ferramenta do internista. Esta foi uma questão elencada num posicionamento conjunto entre as Sociedades Portuguesa e Espanhola de Medicina Interna, onde se pode ler que o empenho do internista deve passar pela “preservação da abrangência e da coesão da especialidade, favorecendo a criação consistente de áreas de competência e não de novas especialidades”, mantendo-se como “o médico do doente, mais do que das doenças”.1,5

Não obstante, a Medicina Interna deve, não só acompanhar, mas também ser promotora do desenvolvimento e da diferenciação da Medicina, surgindo a oportunidade do internista se especializar numa área de interesse, da qual decorra uma melhoria dos cuidados prestados, ao permitir que diferentes colegas trabalhem em áreas de intervenção distintas.1,2,5,6Para tal, esforços devem ser dirigidos para a atribuição de tempo dedicado à investigação, à inovação e, se for essa a vontade, à integração em programas doutorais.

Uma das ameaças apresentadas pelo nosso painel foi a burocratização da rotina de trabalho, que diminui o tempo que o internista tem disponível para o doente, e que deveria ser a sua principal atividade assistencial. Para além de constituir uma ameaça, esta é reconhecidamente uma das principais causas do burnout dentro da classe médica.7-9

Deste modo, uma solução possível apresentada poderá passar por reorganizar e assegurar o número de administrativos que permitam garantir que o trabalho burocrático é executado, dispensando o médico da realização do mesmo. Também a otimização dos Sistemas de Informação constitui, simultaneamente, um desafio e uma oportunidade para a Medicina Interna. É do nosso maior interesse acompanhar a inovação científico-tecnológica e usá-la em proveito dos nossos doentes. É igualmente importante que a Medicina Interna se envolva no desenvolvimento do machine learning, que já é uma nova oportunidade inadiável e da qual resultam algoritmos que permitem o reconhecimento automático de patologias, tal como a retinopatia diabética, a confirmação de diagnósticos da Dermatologia e da Radiologia, a deteção de padrões histológicos com impacto prognóstico na doença oncológica, entre outros.9 Não obstante, a sua utilidade clínica permanece incerta, uma vez que a acuidade diagnóstica não determina, necessariamente, um impacto na prestação de cuidados ao doente.9 Neste contexto, é de igual modo crucial o papel da Medicina Interna e do internista na preservação da relação médico-doente e na integração do desenvolvimento científico e tecnológico na prestação de cuidados, com o desenvolvimento de sistemas de apoio à decisão clínica incorporados em registos eletrónicos de saúde, melhorando a eficiência e eficácia do ato médico.2,9

A aquisição de competências de liderança e gestão de equipas também pode constituir uma verdadeira oportu-nidade para a nossa especialidade, por forma a catalisar aquele que é o papel do internista no sistema de saúde, nomeadamente junto dos órgãos técnicos e decisores das políticas de saúde nacional.1,5

De forma resumida, aquela que se afigurou como uma das pontes para o futuro da Medicina Interna foi o reconhecimento de que, atualmente, one size does not fit all e que, por isso, deve ser dado espaço ao internista para que, mantendo a sua percepção holística e integradora, veja o seu papel na inovação e tomadas de decisão não só reconhecido como reforçado, junto dos doentes, dos colegas, e do sistema de saúde.

Queremos desta forma agradecer a todos os participantes na Tarde do Jovem do Internista do 29º Congresso Nacional de Medicina Interna, cujo contributo na discussão permitiu a redação deste Editorial.

REFERÊNCIAS

1. Correia JA, Campos L, Zapatero AG, Huelgas RG, Díez-Manglano J, Barreto JV. Medicina Interna e o seu Futuro nos Sistemas de Saúde: Posicionamento da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e da Sociedade Espanhola de Medicina Interna. Med Interna. 2018; 25:262-3. doi: 10.24950/rspmi/SPMI/SEMI:4/2018 [ Links ]

2. Guimarães M. Valorizar a Medicina Interna. Med Interna. 2018; 25: 83-4. doi: 10.24950/rspmi/Op/2/2018 [ Links ]

3. Veríssimo MT. Os Problemas da Saúde em Portugal. Med Interna. 2015; 22: 183-183. [ Links ]

4. Santos LO. SNS e a sua Circunstância. Med Interna. 2022; 29:180-1. doi: 10.24950/rspmi.919 [ Links ]

5. Santos L. Oportunidades e Desafios da Medicina Interna. Med Interna. 2021; 28:322-3. doi: 10.24950/rspmi.pp.4.2021 [ Links ]

6. Correia JA. Certificação de Internistas em Áreas Específicas do Conhecimento: Razões para o Fazer. Med Interna. 201; 27:297. doi: 10.24950/PP/4/2020 [ Links ]

7. Sá J. O Bem-Estar dos Médicos. Med Interna. 2018; 25:258-9. doi: 10.24950/rspmi/Editorial/4/2018 [ Links ]

8. Sá J. Burnout e Liderança. Med Interna. 2018; 25:7-78. doi: 10.24950/rspmi/Editorial/2/2018 [ Links ]

9. Neves B, Raimundo A, Obermeyer Z. A Revolução Silenciosa do Big Data em Medicina. Med Interna. 2017; 24:262-4. doi: 10.24950/rspmi/Perspective/2017 [ Links ]

4Fontes de Financiamento: Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste artigo.

5Confidencialidade dos Dados: Os autores declaram ter seguido os protocolos da sua instituição acerca da publicação dos dados de doentes.

6Proveniência e Revisão por Pares: Não comissionado; revisão externa por pares.

8Financing Support: This work has not received any contribution, grant or scholarship.

9Confidentiality of Data: The authors declare that they have followed the protocols of their work center on the publication of data from patients.

10Provenance and Peer Review: Not commissioned; externally peer re-viewed.

11© Autor (es) (ou seu (s) empregador (es)) e Revista SPMI 2023. Reutilização permitida de acordo com CC BY. Nenhuma reutilização comercial. © Author(s) (or their employer(s)) and SPMI Journal 2023. Re-use permitted under CC BY No commercial re-use.

Recebido: 11 de Setembro de 2023; Aceito: 17 de Outubro de 2023

Correspondence / Correspondência: Ana Rita Ramalho - anaritaramalho@chuc.min-saude.pt Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal Praceta Professor Mota Pinto, 3004-561 - Coimbra

* Estes autores contribuíram igualmente na redação do artigo.

Declaração de Contribuição ARR - Redação, revisão e aprovação do artigo BCS, CG, FR, FA, FF, RA, MTB, RNS, MR, AE, PA - Revisão e aprovação do artigo Todos os autores aprovaram a versão final a ser publicada Contributorship Statement ARR - Drafting, revising and approving the article BCS, CG, FR, FA, FF, RA, MTB, RNS, MR, AE, PA - Revision and approval of the article All authors approved the final draft

Conflitos de Interesse: Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse na realização do presente trabalho.

Conflicts of interest: The authors have no conflicts of interest to declare.

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons