Mulher, 80 anos, com hipertensão arterial, dislipidemia e patologia osteoarticular, avaliada em consulta de Doenças Autoimunes por derrame pericárdico e alterações analíticas (transaminases 2x limite superior do normal (LSN), anticorpos antinucleares (ANA) 1/2560, padrão homogéneo, anti-dsDNA 57 e anti-KU positivos. Destacava-se “puffy fingers” (Fig. 1), edema das mãos, deformidades das interfalângicas distais com desvio em zigzag, cifose dorsal e lombar. Meses depois, referência a mialgias proximais dos membros inferiores; apresentava sinal do xaile (Fig. 2), espessamento cutâneo nos ante-braços e edema das mãos. De novo, com creatinofosfoquinase (CK) 9xLSN. Depois de suspensa a estatina, realizou eletromiografia compatível com miopatia e biópsia muscular que revelou “acentuação da normal variabilidade do diâmetro das fibras, com fibras atrofiadas de contornos poliédricos dispersas, infiltrado inflamatório composto predominantemente por linfócitos T, localizado ao perimísio, perivascular e endomísio, discreto predomínio de fibras tipo 1, com positividade sarcolémica e sarcoplasmática - caraterísticas sugestivas de dermatomiosite”. Iniciou corticoterapia (0,5 mg/kg) e azatioprina (50 mg), encontrando-se assintomática desde então, com melhoria franca do valor de CK. Realizou estudo endoscópico, tomogra-fia computorizada toraco-abdomino-pélvica, ecografia da tiróide, endovaginal e mamária sem alterações, restante perfil de anticorpos de miopatias autoimunes/paraneoplásicas negativo.
Considerada uma miopatia inflamatória autoimune idiopática, a dermatomiosite carateriza-se pela fraqueza dos músculos proximais e atingimento cutâneo, sendo o seu espectro de manifestações muito vasto.1 O seu diagnóstico exige elevado nível de suspeição, sendo o valor das enzimas musculares, eletromiografia e biópsia muscular fundamentais.2 Sabe-se que o diagnóstico de dermatomiosite, nomeadamente na população mais idosa, está associado a uma maior incidência de neoplasias, podendo mesmo antecipar o seu aparecimento em anos, pelo que se torna imperioso a exclusão de um quadro neoplásico/paraneoplásico e vigilância continuada.1
O caso clínico destaca a importância do exame objetivo na avaliação dos doentes, neste caso, o sinal do xaile, como pista de relevo para o diagnóstico final.