Introdução
O comportamento motivado e bem-estar
Para melhor compreensão do comportamento desportivo dos indivíduos e para melhor orientação nas suas práticas, é fundamental conhecer as razões pelas quais as crianças e os jovens selecionam determinadas atividades, nelas persistem e a elas se entregam com uma dada intensidade. Começamos assim por questionar os motivos concretos que levam os jovens a aderir a uma prática desportiva que engloba um quadro competitivo. Dentro das atividades desportivas, destacamos uma modalidade individual (natação), como prática de desenvolvimento de capacidades muito ligadas ao esforço, superação e vontade (Weinberg & Gould, 2007; Bento, 2012). Desta forma, a criança e o jovem são motivados para a prática do Desporto através dos vários agentes de socialização: a família, as instituições desportivas oficiais ou privadas, o espaço escolar, grupo de amigos, os media (especialmente os programas desportivos), entre outros, estando assim envolvidas dimensões emocionais, biológicas e sociais responsáveis por estas ações e desejos (Serpa, 2016).
Neste sentido, o organismo tem uma certa necessidade de motivação, bem como de competência percebida (Fonseca & Brito, 2001). Podemos compreender este comportamento como um estado de necessidade interna, processo que incita e estimula o indivíduo para a ação, criando-se de seguida um estado central de motivação, isto é, um estado peculiar de certos centros do sistema nervoso central que só virá a desaparecer se ocorrerem resultados da ação do organismo sobre o meio (Serpa, 2016). Com efeito, por um lado o organismo está sujeito a uma configuração de estímulos dos meios interno e externo e, por outro lado, alguns destes estímulos criam um estado de necessidade interna e um estado central de motivação. Estes implicam uma determinada seleção dos estímulos a que o indivíduo reage preferencialmente, uma seleção dos tipos de comportamento utilizados nessas relações e um critério de satisfação, que direciona o comportamento do organismo para uma determinada ação e inerentes objetivos (Fontaine, 2005).
De modo geral, os indivíduos sentem fascínio em conhecer as suas motivações, pela sua importância nas suas realizações pessoais. Como todo o comportamento humano é motivado, emocionalmente comprometido e sendo a motivação a força geradora desse comportamento, compreende-se assim a importância do seu estudo. Dentro da própria Psicologia Desportiva e em particular na motivação para a prática desportiva, as diferenças psicológicas entre sexos tornaram-se um campo de estudo profícuo pois, à medida que as mulheres começaram a ter um papel mais ativo e participativo no Desporto, maior se tornou o leque de objetivos e fatores interativos que levam à prática desportiva.
Como já referido anteriormente, para se obter o sucesso é necessário estar motivado, tornando-se assim importante compreender os fatores que influenciam os níveis de motivação nos jovens, sendo igualmente necessário perceber como utilizar este conhecimento da melhor forma para que as crianças e os jovens atletas possam refletir acerca da possibilidade de maximizar as suas potencialidades. A Psicologia tem estudado, nos últimos tempos, os fenómenos motivacionais que têm testemunhado uma limitação de controlo dos estímulos pelo comportamento, pois a resposta a um estímulo externo não depende apenas do próprio estímulo, mas também do estado do organismo ou do nível etário do indivíduo. Desta forma, torna-se claro que a motivação depende de indivíduo para indivíduo, assim como do tipo de situações vivenciadas pelos diferentes indivíduos.
Motivação dos jovens para a prática desportiva
A motivação pode ser definida, segundo Fonseca (2000), por um conjunto de fatores que determinam formas de comportamento dirigido a um determinado objetivo, este conceito está associado à intensidade do esforço e direção do comportamento (Weinberg & Gould, 2007). A direção do comportamento indica uma aproximação individual, ou o evitar de uma situação em particular, enquanto a intensidade nos fornece o grau de esforço colocado no acompanhar do mesmo comportamento (Gill, 2000). Corresponde, assim, a um estado orgânico, resultante da interação de fatores internos (personalidade) e externos (situação), onde a intensidade e persistência de cada indivíduo manifestam um determinado tipo de comportamento. Desta forma, o termo motivação é correntemente utilizado como sinónimo de necessidade, tendência, motivo, objetivo, incentivo e reforço. Em concomitância, Bernardes et al. (2015) referem que a motivação corresponde aos fatores e processos que conduzem os indivíduos à ação, no alcance de objetivos.
Estes fatores psicológicos são muito importantes para a aprendizagem e manutenção do rendimento desportivo, a PD analisa as diferenças individuais e os fatores sociais e situacionais que interagem de maneira complexa que influenciam o comportamento humano na atividade desportiva. Pessoas motivadas para determinadas atividades revelam interesse, confiança, entusiasmo, o que leva a um desenvolvimento da performance, persistência e da criatividade, possuindo um bem-estar geral, autoestima elevada, sendo geralmente mais dinâmicas e com mais capacidade de atenção e concentração (Ryan & Deci, 2000).
Um dos aspetos mais importantes da motivação humana é a capacidade de iniciar e manter esforços durante períodos prolongados de tempo. Em algumas áreas da atividade humana, tal como o Desporto, manter a motivação é essencial para a obtenção de sucesso e, nesta perspetiva, os jovens são atraídos por situações que promovam ação contínua e algum risco. Relativamente aos comportamentos desportivos, Gill (2000) diz-nos que a motivação tem sido estudada segundo duas perspetivas: (i) quando a atividade é medida ou operacionalizada em forma de escolha, esforço e comportamento persistente, sendo também considerada o produto da interação entre as diferentes características individuais e fatores sociais provenientes do envolvimento; (ii) quando existe um fator individual e aqui interessa verificar a forma como os indivíduos variam os seus níveis de motivação, diferem entre si relativamente à autoperceção e aos seus comportamentos participativos.
Tendo o Desporto para jovens uma grande componente de recreação e, paralelamente, de organização, depreende-se que este constitui, sem dúvida, uma das poucas reservas de ação pessoal no nosso mundo organizado, regulado e controlado. Neste sentido, o Desporto é uma verdadeira escola de autorrendimento, adquirindo esta atividade pessoal uma importância extraordinariamente séria para o desenvolvimento da personalidade. A motivação dos jovens para a atividade desportiva pode ser constituída de variáveis distintas, pois a potencialização das capacidades pode tornar-se numa situação real, uma vez que a motivação para o rendimento auxilia a concretizar este pressuposto.
Muitos jovens querem participar numa atividade desportiva, muitas vezes ou quase sempre por razões diferentes, pelo que uns permanecem e outros desistem. Contudo, devido à insistência dos pais e treinadores, os jovens poderão querer satisfazer a vontade dos seus superiores ou rejeitar esta pressão. Existem igualmente jovens que estabelecem uma rotina psicológica, tanto para o treino como para a competição, apesar de tudo mantendo o interesse pela atividade. Os que não são desafiados nem realizados devem encontrar, provavelmente, outra atividade que vá ao encontro dos seus interesses e, se tal não acontecer, poderão derivar daí lacunas de formação e realização pessoal. O Desporto não é, na realidade, uma panaceia para todos os indivíduos, contudo, através de atitudes e experiências adequadas, cada vez mais jovens sentem-se realizados ao continuar a prática desportiva, em todas as suas dimensões. Nesta perspetiva, o fenómeno desportivo terá sempre implicações socioculturais, realizando a sua ação dialética de ser transformado e, simultaneamente, transformar o contexto social (Moreira, 2012).
O estudo realizado por Serpa (1992) determinou as principais razões que levam os jovens a envolver-se numa atividade desportiva, as quais se basearam em: manter a boa condição física, aprender novas técnicas, trabalhar em equipa, fazer exercício físico, fazer novas amizades.
Januário et al. (2012) objetivaram analisar a motivação para a prática desportiva de jovens da grande Lisboa, depreendendo que os motivos de prática são bastante diferenciados.
O rendimento, no sentido da pluralidade de toda a práxis humana e à qual pertence a essência da performance, não retira a criatividade mas organiza-a, dando expressão à competência. A ação pessoal e de autorrendimento são critérios de avaliação do desenvolvimento pessoal, expressão de liberdade individual, de personalidade em estado ativo de criação ou formação, através de experiências positivas de aprendizagem social e cultural, cujos resultados advêm de atributos de caráter, transferidos e aplicáveis nas habilidades do quotidiano (Eira, 2014; Marivoet, 2013).
O Desporto torna-se um espaço pedagógico e educativo por excelência, proporcionando oportunidades para ultrapassar obstáculos, desafios e exigências, mas também para experimentar, observar regras e saber lidar com os outros (Bento, 2012). A prática desportiva assume diferentes facetas de acordo com as características peculiares de cada uma das modalidades desportivas existentes. Estas regem-se por regras codificadas que lhes irão conferir a sua especificidade em relação às demais. Assim sendo, os motivos da prática desportiva dos jovens também podem variar de acordo com as diferentes características das modalidades existentes e de acordo com as características físicas e psíquicas de cada jovem. No entanto, todo o Desporto para jovens possui aspetos que promovem a formação pessoal, na medida em que são acumuladas influências e efeitos educativos que advêm do jogo. Os objetivos do jogo dão livre curso a todos os gestos que o corpo humano é capaz de realizar e faz sair o indivíduo de si próprio para o abrir às relações com os outros.
Comportamentos típicos de jovens e experiências de aprendizagem desportivas
O desafio de obter sucesso em qualquer modalidade desportiva fascina jovens praticantes, porém, o Desporto não está sozinho, uma vez existir variedade de atividades que oferecem possíveis experiências compensadoras. Não obstante, o Desporto é a atividade que satisfaz o indivíduo de forma mais abrangente, uma vez que envolve as partes física, psicológica e emocional, esta última de uma forma exaustiva porque os indivíduos criam expectativas, acreditam emocionalmente no que fazem, para persistirem na superação das dificuldades que se lhes vão aparecendo, mantendo-se motivadas para a concretização dos seus objetivos (Schunk, Pintrich, & Meece, 2014). Pese embora o facto de só uma pequena percentagem de indivíduos atingir as suas esperanças e expectativas, as experiências no Desporto são satisfatórias e o esforço pessoal é avaliado e exemplificado no treino e na competição. Como tal, a prática desportiva requer um encontro harmónico entre processos estereotipados, emoções e movimentos.
Associadas à competição estão circunstâncias de stress e, concomitantemente, a necessidade desafiadora de vencer estes sentimentos. Os considerados mais importantes estão relacionados com a procura do desenvolvimento das competências técnicas especificas da modalidade que praticam e para melhorar ou manter a sua forma física. Os motivos relativos à tentativa de aquisição de estatuto, amizade e lazer foram os menos selecionados. Por sua vez, Interdonato, Miarka, Oliveira e Greguol (2008) referem que 61% dos jovens inquiridos considera a aquisição de competências uma das principais razões que os conduz à prática desportiva. Quanto aos motivos de saúde, 67.7% dos jovens considera esse um motivo importante e, por fim, 48.9% considera os fatores relacionados com a amizade e lazer, importantes. Apesar das diferenças entre modalidades e motivos, no geral, as principais razões que levam os jovens a praticarem uma atividade desportiva são semelhantes. Fonseca (2000) defende que a diferença de sexo acaba por influenciar os seus rendimentos e perceções relativamente aos motivos tidos em conta para a prática desportiva.
Motivação para a prática da Natação
Com a prática da natação a aumentar sucessivamente, existem fatores influenciadores da sua escolha, pelo que há autores a referirem-se à natação como uma das modalidades mais completas ao nível desportivo, comportando benefícios físicos, psicológicos e sociais aos seus praticantes, tal como uma melhoria da qualidade de vida. Paralelamente, é uma modalidade que pode ser praticada por qualquer faixa etária ou sexo, independente dos seus objetivos, sejam estes recreativos, competitivos, de aprendizagem ou terapêuticos (Silva, 2014). Estes motivos podem também variar de acordo com fatores de desenvolvimento sustentado das capacidades motoras e dinâmicas de treino e competição, cruciais no processo de organização e evolução dos nadadores (Fernandes, Fonseca & Vilas Boas, 2000). Neste estudo, em que participaram 96 nadadores de ambos os sexos e com idades entre 13 e 15 anos, os nadadores evidenciaram graus elevados de concordância para a tarefa e motivação intrínseca, particularmente nas dimensões: prazer, interesse, importância e esforço. Crespo (2010) estudou as motivações de nadadores juvenis, juniores e seniores, pelo que os principais motivos se prendem com o gosto de pertencer a uma equipa pelo espírito da mesma, assim como pelo gosto de nadar. No escalão de juniores, os principais motivos prenderam-se com o divertimento, gosto pelo exercício físico e espírito de equipa. Já os atletas seniores salientaram a diversão, amizade, o gosto pelo trabalho em equipa e pelos treinadores. De modo geral, estes atletas atribuem importância a fatores como status, competição, cooperação e diversão, apesar de todos enfatizarem fatores físicos como determinantes na prática da natação.
Monteiro (2017), no seu estudo da relação entre nadadores federados e motivação/abandono da prática da natação, concluiu que as principais fontes de motivação para a prática estão relacionadas com o envolvimento nas tarefas, necessidades psicológicas básicas, divertimentos e aspetos técnicos da prática. Refere também que os atletas com maiores níveis de motivação intrínseca têm uma maior motivação para continuar a realizar esta prática desportiva. Após identificar e comparar as motivações para a prática, nas vertentes de competição e lazer em função do género e faixa etária, os motivos mais valorizados são inerentes à forma física e ao desenvolvimento de competências. Os motivos de manutenção da condição física, melhoria de capacidades e aprendizagem de novas técnicas são os mais valorizados. Em contraste, o estatuto e o prestígio são os menos valorizados. No mesmo estudo depreendemos que os fatores mais valorizados pelos rapazes concernem ao desenvolvimento de competências, enquanto as raparigas destacam a melhoria da forma física e demais aspetos relacionadas com a saúde.
Fernandes (2001) menciona que os nadadores mais novos dão significativamente maior valor às questões da afiliação (relação com os outros e com a equipa), face a nadadores mais velhos. Em suma, os fatores de influência variam de acordo com o sexo, idade e tipo de prática. Não obstante, adquirem relevo, neste âmbito, os motivos relacionados com a competência desportiva, forma física e divertimento.
No estudo de Santos, Veloso, Madeira e Cordovil (2011) refere-se que as evidências tendem a sugerir que, ao nível das competências motoras em meio aquático e domínio da natação, não existem diferenças significativas entre géneros. Os estudos de Lätt et al. (2009), Mezzaroba et al. (2014) e Morais et al. (2015) descrevem que os fatores crescimento e maturação biológica influenciam o rendimento na natação pura desportiva. Atualmente, as características antropométricas são indicadas como um dos fatores com maior influência na performance em jovens nadadores (Fernandes et al., 2002; Siervogel et al., 2003; Figueiredo et al., 2016).
Baseados nas linhas de pensamento anteriores, o presente estuda objetiva estabelecer o perfil das motivações dos jovens para a prática desportiva e, paralelamente, compreender o comportamento desportivo dos jovens para os orientar numa modalidade tão exigente como a natação.
1. Métodos
Sendo o presente estudo referente às motivações que conduzem os jovens a praticar uma modalidade desportiva, com todas as implicações que possam existir ao nível da melhoria das capacidades físicas e das relações interpessoais, começamos por inquirir jovens atletas, utilizando para o efeito o Questionário de Motivação para as Atividades Desportivas (QMAD), questionário este que foi validado para a população portuguesa por (Serpa & Frias, 1991). O QMAD parece constituir-se como um meio de fácil aplicabilidade e com fiabilidade para dar a conhecer as principais razões que estão na base das opções feitas pelos jovens ao nível das suas práticas desportivas. Neste sentido, parece-nos importante identificar e perceber os motivos de cada indivíduo, com o intuito de ajudar os treinadores e os professores a orientarem melhor os jovens dentro da modalidade desportiva por nós equacionada, sendo um dos elementos essenciais para traçar o caminho mais correto para planear o futuro dos jovens atletas (Januário et al., 2012). Assim, o recurso ao QMAD justifica-se, em nosso entender, pela possibilidade de obter uma visão mais aprofundada face à riqueza de aspetos relacionados com questões de afiliação, de desenvolvimento de competências, de saúde e forma física, de realização pessoal ou estatuto, de influências exercidas pelos familiares e amigos, que poderão estar de facto na origem do envolvimento dos jovens nas tarefas desportivas.
1.1 Participantes
O grupo de estudo é de conveniência, composto por 86 praticantes de natação pura desportiva, nos níveis de aperfeiçoamento e consolidação das técnicas de nado de um Health Club da cidade de Viseu, cuja piscina possui 10 faixas de 50m. O sexo masculino representa 54.7% dos participantes e o sexo feminino, 45.3%. As idades estão compreendidas entre os 10 e os 18 anos, estando a média de idades situada nos 14 anos, com uma frequência de prática semanal de, no mínimo, duas sessões. Os praticantes possuem, em média, 5 anos de prática da modalidade, sendo que 19.8% pratica natação de competição e 80.2%, pratica natação por lazer. Os atletas federados complementam o treino que realizam nos respetivos clubes com sessões na entidade supracitada.
1.2. Instrumentos de recolha de dados
Para o cumprimento dos objetivos, foi implementado o QMAD, versão traduzida e adaptada (Serpa & Frias, 1991), que por sua vez deriva da versão original Participation Motivation Questioner - PMQ (Gill, Gross & Huddleston, 1983). Com efeito, o instrumento foi adaptado para 20 itens, inicialmente agrupados em quatro dimensões: “competência desportiva” (itens 1, 9, 10, 12, 13, 14, 15, 18 e 20); “saúde” (itens 7, 8 e 19); “amizade e lazer” (itens 2, 3 e 4);“influência social” (itens 5, 6, 11, 16 e 17).
Atribuiu-se uma escala de concordância composta por 4 graus para classificar a importância dos itens, desde “1” (nada importante) até “4” (muito importante). Suprimiu-se um grau da escala de Likert original, composta por 5 graus, para evitar respostas de concordância (e consequente relevância) intermédia. O instrumento foi sujeito a uma prévia fase de validação (por pares), cuja intenção foi a de aumentar a inteligibilidade e compreensão do instrumento (validação de conteúdo), pelo que o mesmo foi sujeito à apreciação por especialistas com intervenção no contexto do Desporto, Doutorados(a) e/ou com currículo relevante na área. Do ponto de vista procedimental e, após obtenção de autorização dos treinadores e respetivos encarregados de educação, efetuou-se a entrega pessoal do questionário, prevalecendo o anonimato do inquirido, a confidencialidade das respostas e a ausência do investigador durante o período de preenchimento para não condicionar as respostas.
1.3. Análise estatística
Procedeu-se à aferição da fiabilidade da escala de avaliação, efetuando-se a análise da consistência interna das dimensões através do coeficiente alfa de Cronbach (α). Paralelamente, efetuaram-se as análises descritiva e inferencial dos dados, através do software IBM Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 25, fixando-se o intervalo de confiança em 95%, definindo assim o nível de significância do estudo (p-value) em 0.05. A utilização de testes de comparação não paramétricos (Mann-Whitney) prendeu-se com o incumprimento dos requisitos para a utilização de testes paramétricos, concretamente a ausência de normalidade nas distribuições (Marôco, 2018).
2. Resultados
Numa primeira fase de análise e após a avaliação da consistência interna, houve necessidade em redefinir as dimensões do estudo, neste caso a supressão da última dimensão (“influência social”), uma vez que o alfa de Cronbach apontou, tal como apresentado na Tabela 1, para um valor inaceitável (Patrício & Pereira, 2006). No que concerne às restantes dimensões, o mesmo referencial indicou bons valores de consistência interna (Patrício & Pereira, 2006).
Alusivo ao processo de análise descritiva, recolheram-se medidas de tendência central e dispersão (média e desvio padrão) das respostas atribuídas a cada um dos itens do questionário (Tabela 2). Os valores apresentados permitem percecionar que todos os itens da escala de concordância foram utilizados e que as respostas atribuídas possuem uma margem de variação estreita.
item | | ± |
---|---|---|
1 - para vencer | 2.15 | 1.07 |
2 - para estar com os amigos | 3.57 | 0.54 |
3 - para fazer novas amizades | 3.35 | 0.70 |
4 - para me divertir | 3.56 | 0.57 |
5 - para trabalhar em equipa/pertencer a um grupo | 2.87 | 0.99 |
6 - para fazer algo que gosto | 3.45 | 0.84 |
7 - para fazer exercício físico | 3.26 | 0.96 |
8 - para manter a saúde | 3.01 | 0.95 |
9 - para aprender novas técnicas/aprender a nadar | 2.92 | 0.98 |
10 - para melhorar as capacidades técnicas | 3.09 | 0.79 |
11 - para não ficar em casa | 1.78 | 0.96 |
12 - para competir | 1.55 | 0.97 |
13 - para ser um atleta | 1.84 | 1.03 |
14 - para ser o(a) melhor na natação | 1.92 | 0.97 |
15 - para ser nadador(a) quando crescer | 1.63 | 0.83 |
16 - por influência da família ou de outros amigos | 2.23 | 0.99 |
17 - por influência dos treinadores | 1.91 | 0.94 |
18 - para ter espírito de equipa | 2.14 | 1.06 |
19 - para estar em boa condição física | 3.27 | 0.99 |
20 - para ultrapassar desafios | 3.06 | 1.04 |
Analisando a perceção subjetiva dos inquiridos através dos graus de concordância das afirmações, na recolha das frequências e percentagens de resposta em cada dimensão verifica-se, no âmbito da “competência desportiva” (Tabela 3), que 34.9% considera vencer como nada importante; a mesma percentagem considera que aprender novas técnicas e/ou aprender a nadar é importante; melhorar a capacidade técnica é apontado por 47.7% como importante; ser o melhor nadador, competir, ser um atleta, são motivos considerados nada importantes para 70.9%, 50%, 41.9% e 54.7% dos participantes respetivamente; 34.9% aponta como nada importante o espírito de equipa; enfrentar desafios é o fator com maior relevo na presente dimensão, apontado como muito importante para 46.5% dos participantes.
Competência desportiva | |||
---|---|---|---|
item | grau de concordância | freq. | % |
para vencer | nada importante | 30 | 34.9 |
pouco importante | 26 | 30.2 | |
importante | 17 | 19.8 | |
muito importante | 13 | 15.1 | |
para aprender novas técnicas/aprender a nadar | nada importante | 9 | 10.5 |
pouco importante | 18 | 20.9 | |
importante | 30 | 34.9 | |
muito importante | 29 | 33.7 | |
para melhorar as capacidades técnicas | nada importante | 3 | 3.5 |
pouco importante | 14 | 16.3 | |
importante | 41 | 47.7 | |
muito importante | 28 | 32.6 | |
para competir | nada importante | 61 | 70.9 |
pouco importante | 10 | 11.6 | |
importante | 8 | 9.3 | |
muito importante | 7 | 8.1 | |
para ser um atleta | nada importante | 43 | 50.0 |
pouco importante | 24 | 27.9 | |
importante | 9 | 10.5 | |
muito importante | 10 | 11.6 | |
para ser o(a) melhor na natação | nada importante | 36 | 41.9 |
pouco importante | 29 | 33.7 | |
importante | 13 | 15.1 | |
muito importante | 8 | 9.3 | |
para ser nadador(a) quando crescer | nada importante | 47 | 54.7 |
pouco importante | 28 | 32.6 | |
importante | 7 | 8.1 | |
muito importante | 4 | 4.7 | |
para ter espírito de equipa | nada importante | 30 | 34.9 |
pouco importante | 27 | 31.4 | |
importante | 16 | 18.6 | |
muito importante | 13 | 15.1 | |
para ultrapassar desafios | nada importante | 9 | 10.5 |
pouco importante | 17 | 19.8 | |
importante | 20 | 23.3 | |
muito importante | 40 | 46.5 |
No referente à dimensão “saúde” (Tabela 4), depreende-se que é um estímulo motivacional relevante, uma vez que a maioria dos participantes considera muito importante, qualquer um dos itens inerente a esta dimensão. Enquanto realizar exercício é apontado por 55.8%, manter a saúde é o motivo para 40.6%. Por fim, possuir uma boa condição física é o objetivo de 58.1%.
Saúde | |||
---|---|---|---|
Grau de concordância | freq. | % | |
Para fazer exercício físico | Nada importante | 5 | 5.8 |
Pouco importante | 16 | 18.6 | |
Importante | 17 | 19.8 | |
Muito importante | 48 | 55.8 | |
Para manter a saúde | Nada importante | 4 | 4.7 |
Pouco importante | 26 | 30.2 | |
Importante | 21 | 24.4 | |
Muito importante | 35 | 40.7 | |
Para estar em boa condição física | Nada importante | 6 | 7.0 |
Pouco importante | 15 | 17.4 | |
Importante | 15 | 17.4 | |
Muito importante | 50 | 58.1 |
Quanto à dimensão “amizade e lazer” (Tabela 5), para além de se denotar a ausência do grau de concordância “nada importante” nas respostas atribuídas aos itens 2, 3 e 4, verifica-se igualmente que estar com os amigos, fazer novas amizades, divertir-se e fazer algo de que se gosta são motivos muito importantes para, respetivamente, 59.3%, 47.7%, 59.3% e 65.1% dos participantes; os itens relativos ao trabalho em equipa e fazer parte de um grupo são percecionados como importantes por 43% e 34.9% dos jovens, respetivamente.
Amizade / lazer | Amizade / lazer | ||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Item | Grau de concordância | Freq. | % | Item | Grau de concordância | Freq. | % |
para estar com os amigos | nada importante | -- | -- | para fazer algo que gosto | nada importante | 2 | 2.3 |
pouco importante | 2 | 2.3 | pouco importante | 13 | 15.1 | ||
importante | 33 | 38.4 | importante | 15 | 17.4 | ||
muito importante | 51 | 59.3 | muito importante | 56 | 65.1 | ||
para fazer novas amizades | nada importante | -- | 18 | para não ficar em casa | nada importante | 46 | 53.5 |
pouco importante | 11 | 17 | pouco importante | 18 | 20.9 | ||
importante | 34 | 5 | importante | 17 | 19.8 | ||
muito importante | 41 | 47.7 | muito importante | 5 | 5.8 | ||
para me divertir | nada importante | -- | 22 | por influência da família ou de outros amigos | nada importante | 26 | 30.2 |
pouco importante | 3 | 30 | pouco importante | 22 | 25.6 | ||
importante | 32 | 8 | importante | 30 | 34.9 | ||
muito importante | 51 | 59.3 | muito importante | 8 | 9.3 | ||
para trabalhar em equipa/pertencer a um grupo | nada importante | 12 | 28 | por influência dos treinadores | nada importante | 36 | 41.9 |
pouco importante | 12 | 16 | pouco importante | 28 | 32.6 | ||
importante | 37 | 6 | importante | 16 | 18.6 | ||
muito importante | 25 | 36 | muito importante | 6 | 7.0 |
De modo a caracterizar-se as motivações dos rapazes e, em seguida, das raparigas nas diferentes dimensões, o processo de análise descritiva isolou agora a variável sexo. Com efeito, retiraram-se as seguintes elações na “dimensão competência desportiva” (Tabela 6): vencer é apontado por 29.8% do sexo masculino como pouco importante; por sua vez, este item é considerado nada importante por 48.7% do sexo feminino; as opiniões de ambos os sexos assemelham-se quando a motivação se prende com o melhorar das capacidades técnicas, percecionado como importante por 48.9% e 46.2% do sexo masculino e feminino, respetivamente; as raparigas consideram muito importante aprender novas técnicas/aprende, enquanto este aspeto é apontado como importante pelos rapazes; os itens relativos a competir, ser um atleta, ser o melhor na natação e ser nadador quando crescer são apontados como nada importantes para a maioria dos jovens do sexo masculino, pelo que esta opinião não difere com veemência da do sexo feminino, à exceção do que podemos vislumbrar no item relativo ao ser o melhor na natação; 46.2% das jovens pronuncia-se a este item como pouco importante; com percentagem semelhante, ainda que com diferentes graus de motivação, observamos que 38.3% dos jovens masculinos considera, nada importante, ter espírito de equipa como motivação, enquanto o sexo feminino o considera como pouco importante; 46.8% dos rapazes e 46.2% das raparigas consideram que ultrapassar desafios é um dos motivos que mais os conduz à prática da natação, considerado muito importante por ambos os sexos.
Competência desportiva (sexo masculino) | Competência desportiva (sexo feminino) | ||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Item | Grau de concordância | Freq. | % | Grau de concordância | Freq. | % | |
Para vencer | Nada importante | 11 | 23.4 | Nada importante | 19 | 48.7 | |
Pouco importante | 14 | 29.8 | Pouco importante | 12 | 30.8 | ||
Importante | 12 | 25.5 | Importante | 5 | 12.8 | ||
Muito importante | 10 | 21.3 | Muito importante | 3 | 7.7 | ||
Para aprender novas técnicas/aprender a nadar | Nada importante | 4 | 8.5 | Nada importante | 5 | 12.8 | |
Pouco importante | 14 | 29.8 | Pouco importante | 4 | 10.3 | ||
Importante | 18 | 38.3 | Importante | 12 | 30.8 | ||
Muito importante | 11 | 23.4 | Muito importante | 18 | 46.2 | ||
Para melhorar as capacidades técnicas | nada importante | 1 | 2.1 | Nada importante | 2 | 5.1 | |
pouco importante | 7 | 14.9 | Pouco importante | 7 | 17.9 | ||
importante | 23 | 48.9 | Importante | 18 | 46.2 | ||
muito importante | 16 | 34.0 | Muito importante | 12 | 30.8 | ||
Para competir | Nada importante | 33 | 70.2 | Nada importante | 28 | 71.8 | |
Pouco importante | 6 | 12.8 | Pouco importante | 4 | 10.3 | ||
Importante | 1 | 2.1 | Importante | 7 | 17.9 | ||
Muito importante | 7 | 14.9 | Muito importante | -- | -- | ||
Para ser um atleta | nada importante | 24 | 51.1 | nada importante | 19 | 48.7 | |
pouco importante | 11 | 23.4 | pouco importante | 13 | 33.3 | ||
importante | 4 | 8.5 | importante | 5 | 12.8 | ||
Para ser o(a) melhor na natação | Nada importante | 19 | 40.4 | Nada importante | 17 | 43.6 | |
Pouco importante | 11 | 23.4 | Pouco importante | 18 | 46.2 | ||
Importante | 10 | 21.3 | Importante | 3 | 7.7 | ||
Muito importante | 7 | 14.9 | Muito importante | 1 | 2.6 | ||
Para ser nadador(a) quando crescer | Nada importante | 25 | 53.2 | Nada importante | 22 | 56.4 | |
Pouco importante | 15 | 31.9 | Pouco importante | 13 | 33.3 | ||
Importante | 5 | 10.6 | Importante | 2 | 5.1 | ||
Muito importante | 2 | 4.3 | Muito importante | 2 | 5.1 | ||
Para ter espírito de equipa | Nada importante | 18 | 38.3 | Nada importante | 12 | 30.8 | |
Pouco importante | 12 | 25.5 | Pouco importante | 15 | 38.5 | ||
Importante | 8 | 17.0 | Importante | 8 | 20.5 | ||
Muito importante | 9 | 19.1 | Muito importante | 4 | 10.3 | ||
Para ultrapassar desafios | Nada importante | 5 | 10.6 | Nada importante | 4 | 10.3 | |
Pouco importante | 10 | 21.3 | Pouco importante | 7 | 17.9 | ||
Importante | 10 | 21.3 | Importante | 10 | 25.6 | ||
Muito importante | 22 | 46.8 | Muito importante | 18 | 46.2 |
Para ambos os sexos, os itens relativos à saúde são encarados como muito importantes, conduzindo-nos a depreender que os aspetos inerentes ao presente contexto constituem as principais razões que orientam os jovens à prática da natação (Tabela 7). A realização de exercício físico e boa condição física são apontados como muito importantes por mais de metade dos jovens de ambos os géneros. Ainda que a manutenção da saúde, por seu lado, apresente menores percentagens de resposta, grau de motivação mantém-se elevado.
saúde (sexo masculino) | saúde (sexo feminino) | ||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
item | grau de concordância | freq. | % | grau de concordância | freq. | % | |
para fazer exercício físico | nada importante | 4 | 8.5 | nada importante | 1 | 2.6 | |
pouco importante | 10 | 21.3 | pouco importante | 6 | 15.4 | ||
importante | 7 | 14.9 | importante | 10 | 25.6 | ||
muito importante | 26 | 55.3 | muito importante | 22 | 56.4 | ||
para manter a saúde | nada importante | 3 | 6.4 | nada importante | 1 | 2.6 | |
pouco importante | 16 | 34.0 | pouco importante | 10 | 25.6 | ||
importante | 8 | 17.0 | importante | 13 | 33.3 | ||
muito importante | 20 | 42.6 | muito importante | 15 | 38.5 | ||
para estar em boa condição física | nada importante | 4 | 8.5 | nada importante | 2 | 5.1 | |
pouco importante | 11 | 23.4 | pouco importante | 4 | 10.3 | ||
importante | 7 | 14.9 | importante | 8 | 20.5 | ||
muito importante | 25 | 53.2 | muito importante | 25 | 64.1 |
Por fim, e no que concerne à dimensão “amizade e lazer” (Tabela 8), constatou-se que estar com os amigos, fazer novas amizades e divertir-se são motivações muito importantes para os rapazes, para 57.4%, 42.6% e 55.3% respetivamente; estes itens possuem o mesmo grau de importância para as raparigas, respetivamente 61.5%, 53.8% e 64.1%; fazer algo que se gosta é também apontado como muito importante por 44.7% dos jovens masculinos e 89.7% dos jovens do sexo feminino; trabalhar em equipa/pertencer a um grupo é encarado como importante e muito importante pelos rapazes, em percentagens bastante semelhantes; por seu lado, 53.8% das raparigas perceciona esta motivação como importante; ambos os sexos consideram nada importante, (46.8% de masculinos e 61.5% de femininos), para não ficar em casa.
À semelhança do que aconteceu em análise anterior, a presente dimensão apresenta a maior divergência de opiniões e motivações para a prática, não obstante alguns itens aproximarem-se quanto ao grau de importância que possuem para ambos os sexos.
Amizade / Lazer (sexo Masculino) | Amizade / Lazer (sexo Feminino) | ||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
Item | Grau de Concordância | Freq. | % | Grau de Concordância | Freq. | % | |
Para estar com os amigos | Nada importante | -- | -- | Nada importante | -- | -- | |
Pouco importante | 1 | 2.1 | Pouco importante | 1 | 2.6 | ||
Importante | 19 | 40.4 | Importante | 14 | 35.9 | ||
Muito importante | 27 | 57.4 | Muito importante | 24 | 61.5 | ||
Para fazer novas amizades | Nada importante | -- | -- | Nada importante | -- | -- | |
Pouco importante | 8 | 17.0 | Pouco importante | 3 | 7.7 | ||
Importante | 19 | 40.4 | Importante | 15 | 38.5 | ||
Muito importante | 20 | 42.6 | Muito importante | 21 | 53.8 | ||
Para me divertir | Nada importante | -- | -- | Nada importante | -- | -- | |
Pouco importante | 1 | 2.1 | Pouco importante | 2 | 5.1 | ||
Importante | 20 | 42.6 | Importante | 12 | 30.8 | ||
Muito importante | 26 | 55.3 | Muito importante | 25 | 64.1 | ||
para trabalhar em equipa/pertencer a um grupo | Nada importante | 8 | 17.0 | Nada importante | 4 | 10.3 | |
Pouco importante | 7 | 14.9 | Pouco importante | 5 | 12.8 | ||
Importante | 16 | 34.0 | Importante | 21 | 53.8 | ||
Muito importante | 16 | 34.0 | Muito importante | 9 | 23.1 | ||
Para fazer algo que gosto | Nada importante | 1 | 2.1 | Nada importante | 1 | 2.6 | |
Pouco importante | 11 | 23.4 | Pouco importante | 2 | 5.1 | ||
Importante | 14 | 29.8 | Importante | 1 | 2.6 | ||
Muito importante | 21 | 44.7 | Muito importante | 35 | 89.7 | ||
Para não ficar em casa | Nada importante | 22 | 46.8 | Nada importante | 24 | 61.5 | |
Pouco importante | 13 | 27.7 | Pouco importante | 5 | 12.8 | ||
Importante | 10 | 21.3 | Importante | 7 | 17.9 | ||
Muito importante | 2 | 4.3 | Muito importante | 3 | 7.7 | ||
Por influência da família ou de outros amigos | Nada importante | 10 | 21.3 | Nada importante | 16 | 41.0 | |
Pouco importante | 13 | 27.7 | Pouco importante | 9 | 23.1 | ||
Importante | 17 | 36.2 | Importante | 13 | 33.3 | ||
Muito importante | 7 | 14.9 | Muito importante | 1 | 2.6 | ||
Por influência dos treinadores | Nada importante | 13 | 27.7 | Nada importante | 23 | 59.0 | |
Pouco importante | 18 | 38.3 | Pouco importante | 10 | 25.6 | ||
Importante | 11 | 23.4 | Importante | 5 | 12.8 | ||
Muito importante | 5 | 10.6 | Muito importante | 1 | 2.6 |
De forma a concluir o processo de análise dos dados, procedeu-se à análise inferencial através da comparação de sexos e idades, no que diz respeito à perceção dos inquiridos em cada uma das dimensões. Para a criação dos grupos da variável “idade”, utilizou-se a média como valor de corte, originando a divisão entre mais novos (até à média) e mais velhos (acima da média). Com efeito, apurou-se que não existem diferenças significativas entre rapazes e raparigas (Tabela 9), relativamente ao grau de concordância em qualquer das dimensões, o que afere que o género não é um fator pertinente de motivação.
Aferiu-se a existência de diferenças significativas entre mais novos e mais velhos. nas dimensões “saúde” e “amizade e lazer” (Tabela 10), na medida em que os mais velhos valorizam significativamente mais as questões da saúde, enquanto os mais novos se voltam significativamente para o contexto da amizade e lazer.
4. Discussão
As instituições de ensino, para além de constituírem locais onde os jovens passam grande parte do seu tempo, são responsáveis pela sua formação e desenvolvimento transversal. Com efeito, os aspetos relacionados com a saúde são aprendidos e percecionados como algo positivo e dinâmico (Brito & Rocha, 2019), pelo que a escola visa ser um ambiente estratégico de transmissão dessa informação. Estas perceções vão ao encontro dos resultados obtidos no presente estudo, no qual a dimensão “saúde” obteve a maior valorização por parte dos participantes, independente do género, ainda que o género feminino aponte, como principal motivação, a manutenção da “boa” condição física como muito importante.
Em primeira instância, depreende-se que que os motivos que conduzem à prática desportiva resultam de um desenvolvimento formatado por indicadores sociais, ambientais e, sobretudo, individuais, pois serão estes que influenciam radicalmente a escolha das modalidades desportivas, assim como as suas componentes de treino (frequência, volume, intensidade, estilo competitivo, entre outras). Nesta linha de pensamento, verificou-se que ambos os sexos desvalorizam a dimensão “competência desportiva”, na qual o melhoramento das capacidades técnicas e o aprender de novas técnicas/aprender a nadar não são motivações muito importantes para a prática, ainda que enfrentar desafios seja considerado um aspeto importante para os participantes. Estes resultados contrariam os de Guedes e Netto (2013), Januário et al., (2012) e Campos et al., (2011), na medida em que os autores apontam, como principais motivos descritos pelos jovens para a prática desportiva, o privilegiar do aprimoramento técnico e a busca persistente pelo sucesso desportivo. Por seu lado, os estudos de Garyfallos e Asterios (2011) e Sit e Lindner (2006) identificaram a “diversão” como principal motivação para a prática, sem distinção de género.
O Desporto encerra em si uma multiplicidade de vertentes, competitiva ou de entretenimento. Quando situado neste primeiro prisma, isto é, encarando o Desporto de forma lúdica, as ações possuem maior plasticidade, logo, menor rigor, visando a ocupação do tempo livre. Estar com os amigos, criar amizades e realizar a prática da modalidade por divertimento são itens caracterizados como muito importantes por ambos os sexos, relevando as questões sociais conducentes à prática desportiva pelos participantes do presente estudo. Ainda que fazer algo que se gosta é considerado bastante importante, tanto pelo género masculino, como pelo feminino, são as raparigas que apresentam um maior número de respostas positivas relativas a este item. Enquanto se moldam de acordo com os valores da sociedade, tentando construir o seu caminho e encontrar o seu lugar, é natural que os mais jovens valorizem significativamente o contexto social, ou seja, as relações pessoais, de amizade e cooperação, de lazer e diversão, enquanto os mais velhos se voltem para valores inerentes à sua preservação.
Conclusão
É inegável a contribuição do Desporto no desenvolvimento transversal dos jovens, através dos inúmeros benefícios que lhe estão associados, não apenas do ponto de vista física, como também de índoles social e psicológica. Com efeito, urge atentar aos índices de prática desportiva infantil e juvenil, ainda longe dos desejados, pelo que a tentativa de compreensão das motivações que conduzem os jovens a praticar Desporto e/ou atividade física pode constituir um importante catalisador para o combate ao abandono, cujas repercussões para o presente e futuro desses jovens serão certamente severas.
De facto, estudos na área demonstram que a motivação desempenha um importante papel na iniciação à prática desportiva, ao mesmo tempo que pode consubstanciar a sua permanência e, dessa forma, atenuar os casos de abandono (Capranica & Millard-Stafford, 2011; Delorme et al., 2011). Os fatores que impelem à prática desportiva são diversos e normalmente construídos e instituídos na simbiose estabelecida entre o indivíduo e o ambiente no qual se encontra inserido, numa interação de expetativas entre o potencial que o praticante possui e os atributos socioculturais e ambientais. As influências provenientes do seio familiar, dos modelos e pares, manifestam-se de diferente modo durante os estágios de desenvolvimento dos jovens, daí resultando a multiplicidade de motivações que necessita ser analisada para que tentemos compreender os motivos vinculados associados aos diferentes domínios de autorrealização dos jovens.
Os jovens do nosso estudo valorizam significativamente o contexto social, as relações pessoais, as amizades e o espírito de cooperação, e a diversão, como fatores fundamentais para a prática desportiva; estar com os amigos, fazer algo de que se gosta, fazer novas amizades e divertir-se são motivações muito importantes para os rapazes e para as raparigas do nosso estudo; trabalhar em equipa/pertencer a um grupo é encarado como muito importante tanto pelos rapazes como pelas raparigas. Os atletas do nosso estudo consideram a aprendizagem das técnicas e a melhoria da capacidade técnica como importante para enfrentar os desafios de um desporto com estas características; a dimensão “saúde”, é um fator de grande importância para as crianças e jovens do nosso estudo, uma vez que a maioria dos participantes considera muito importante para qualquer um dos itens inerente a esta dimensão; Quando se faz uma comparação (entre atletas de sexos diferentes) verificamos que não existem diferenças significativas entre rapazes e raparigas, relativamente ao grau de concordância em qualquer das dimensões estudadas, o que afere que o sexo não é um fator pertinente de motivação para a prática da natação.