SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.serVI número1Desenvolvimento da liderança por enfermeiros: Ensaio teórico reflexivo à luz da organização de aprendizagem de Peter SengeEnfermeiros em Portugal no tempo de Nightingale índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Revista de Enfermagem Referência

versão impressa ISSN 0874-0283versão On-line ISSN 2182-2883

Rev. Enf. Ref. vol.serVI no.1 Coimbra dez. 2022  Epub 23-Nov-2022

https://doi.org/10.12707/rv21115 

Artigo Teórico/Ensaio

Pessoas em situação de rua frente à COVID-19: Reflexões à luz de teorias de enfermagem

Homeless population and COVID-19: Reflections in light of nursing theories

Personas sin hogar frente a la COVID-19: Reflexiones desde las teorías de enfermería

Felicialle Pereira da Silva1 
http://orcid.org/0000-0002-2805-7506

Raphael Alves da Silva2 
http://orcid.org/0000-0003-2555-909X

Iracema da Silva Frazão3 
http://orcid.org/0000-0002-4690-3753

Elizandra Cássia da Silva Oliveira1 
http://orcid.org/0000-0002-4785-4375

Emanuela Batista Ferreira e Pereira1 
http://orcid.org/0000-0003-4665-4379

Ligia Maria de Almeida1 
http://orcid.org/0000-0001-9677-0429

Carla Aparecida Arena Ventura4 
http://orcid.org/0000-0003-0379-913X

1 Universidade de Pernambuco-UPE, Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças-FENSG, Recife, Pernambuco, Brasil

2 Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Enfermagem, Recife, Pernambuco, Brasil

3 Hospital Oswaldo Cruz- UPE, Departamento de Enfermagem, Recife, Pernambuco, Brasil

4 Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil


Resumo

Enquadramento:

COVID-19 é uma doença respiratória aguda causada por um novo coronavírus humano. Devido à disseminação acelerada do vírus, as autoridades sanitárias preconizaram o distanciamento social. Neste sentido, a população em situação de rua vivencia dificuldades para atender a tal demanda, pela ausência de direitos básicos, como moradia, educação e saúde. Para a enfermagem, as bases epistemológicas guiadas por teorias de enfermagem contribuem para alicerçar o cuidado para essas pessoas.

Objetivo:

Refletir sobre o cuidado à saúde da população em situação de rua diante da pandemia de COVID-19 à luz de cinco teorias de enfermagem.

Principais tópicos em análise:

As teorías de Nightingale, Roy, Horta, Peplau e Henderson possuem abordagens para o cuidado pautado nas necessidades básicas das pessoas em situação de rua, que frente à COVID-19 requerem ações imediatas.

Conclusão:

o cuidado de enfermagem baseado nos aspetos físicos, biológicos e sociais encontram nas teorias de enfermagem suporte científico para o cuidado à população em situação de rua com parcerias intersetoriais que possam promover o cuidado durante e após pandemia.

Palavras-chave: pessoas em situação de rua; saúde pública; COVID-19; teorias de enfermagem; enfermagem

Abstract

Background:

COVID-19 is an acute respiratory illness caused by a novel human coronavirus. Due to the accelerated spread of the virus, health authorities have advocated social distancing. Homeless people have difficulties meeting this requirement due to a lack of access to fundamental rights such as housing, education, and health. The epistemological bases of nursing theories contribute to underpinning the care provided to these people.

Objective:

To reflect on the health care of the homeless population during the COVID-19 pandemic in light of five nursing theories.

Main topics under analysis:

The theories of Nightingale, Roy, Horta, Peplau, and Henderson have care approaches focused on the basic needs of homeless people who require immediate interventions due to the COVID-19 pandemic.

Conclusion:

Nursing theories provide scientific support to caring for the homeless population based on physical, biological, and social aspects through intersectoral partnerships that can promote care during and after the pandemic.

Keywords: homeless people; public health; COVID-19; nursing theories; nursing

Resumen

Marco contextual:

La COVID-19 es una enfermedad respiratoria aguda causada por un nuevo coronavirus humano. Debido a la acelerada propagación del virus, las autoridades sanitarias han abogado por el distanciamiento social. En este sentido, la población sin hogar experimenta dificultades para responder a dicha demanda, debido a la ausencia de derechos básicos, como la vivienda, la educación y la salud. Para la enfermería, los fundamentos epistemológicos guiados por las teorías de enfermería contribuyen a fundamentar los cuidados a estas personas.

Objetivo:

Reflexionar sobre los cuidados de salud de las personas sin hogar ante la pandemia de la COVID-19 en función de cinco teorías de enfermería.

Principales temas en análisis:

Las teorías de Nightingale, Roy, Horta, Peplau y Henderson tienen enfoques de cuidado basados en las necesidades básicas de las personas sin hogar, quienes, frente a la COVID-19, requieren una acción inmediata.

Conclusión:

Los cuidados de enfermería basados en los aspectos físicos, biológicos y sociales encuentran apoyo científico en las teorías de enfermería para el cuidado de las personas sin hogar con asociaciones intersectoriales que pueden promover cuidados durante y después de la pandemia.

Palabras clave: personas sin hogar; salud pública; COVID-19; teorías de enfermería

Introdução

A COVID-19 é uma doença respiratória aguda, causada por um novo coronavírus humano (SARS-CoV-2), que em março de 2020 obteve status de pandemia, 2 meses depois da Organização Mundial da Saúde (OMS) tê-la declarado como emergência de saúde pública de importância internacional. No Brasil, a primeira ocorrência da COVID-19 foi registada no dia 26 do mês de fevereiro e, deste então, a sua transmissão tem-se expandindo progressivamente, contabilizando milhares de óbitos no país e no mundo (Brasil, 2020; Fahmi, 2019; Zhou et al., 2020).

Devido à transmissão acelerada do vírus, as autoridades de saúde preconizaram o distanciamento social como uma das principais medidas para conter a sua propagação, provocando mudanças radicais no quotidiano das pessoas, transformando os seus hábitos e atitudes. Outras medidas preventivas como suspensão das atividades académicas presenciais, encerramento dos estabelecimentos comerciais e de órgãos públicos, além da recomendação para as pessoas ficarem em casa, foram gradualmente adotadas, em maior ou menor intensidade, na maioria dos países do mundo (Oliveira et al., 2020; Xu et al., 2020).

Perante tal realidade, e pela emergente necessidade da implementação de medidas de controlo da pandemia, torna-se imprescindível revisitar a realidade das populações vulneráveis, como a população em situação de rua, cujas recomendações de saúde impactam a realidade dos contextos de renda, acesso à alimentação e à água corrente. Portanto, estes fatores tornam-se condicionantes para o contágio e agravamento da doença pela ausência de direitos básicos, como saúde, educação e habitação. O Brasil não conta com dados oficiais sobre a população em situação de rua, a qual foi estimada em 22.1869 pessoas no ano de 2020 (Natalino, 2020). Para atender às demandas deste público têm sido revelados novos desafios aos trabalhadores da saúde, sobretudo os da enfermagem, seja na linha de frente da prevenção, ou no combate à COVID-19. Neste sentido, as teorias de enfermagem são alicerces epistemológicos que fundamentam a construção do conhecimento científico e prática profissional dos enfermeiros, considerando a complexidade e multiplicidades dos fenómenos que permeiam o campo da saúde. Portanto, a aplicabilidade no campo prático rompe a cadeia contemplativa e torna possível a análise da realidade do trabalho da enfermagem atrelado às mudanças paradigmáticas e os avanços nas reflexões éticas, bioéticas e epistemológicas. Neste sentido, torna-se possível a atualização das conceções do metaparadigma saúde, ambiente, pessoa e enfermagem, que compõem as teorias de enfermagem. Assim, em vista do exposto, o estudo tem o objetivo de refletir sobre o cuidado à saúde da população em situação de rua à luz de cinco teorias de enfermagem, diante da pandemia da COVID-19.

Desenvolvimento

Como ficar em casa se não há casa?

Os estudos de Wanda Horta, desde 1974, baseiam-se no processo de enfermagem, como método científico a ser aplicado a qualquer pessoa, independentemente da doença de base, ou local onde receba ou deva receber cuidados. As necessidades humanas básicas foram classificadas em três grandes dimensões: Psicobiologias, Psicossociais e Psicoespirituais. Necessariamente, deve contemplar os aspetos da vivência da pessoa com a compreensão de toda complexidade que compromete a sua saúde. Percebe-se que nos cenários de rua o comprometimento destes aspetos já é amplamente conhecido e tem sido ainda mais afetado com o advento da COVID-19, uma vez que resultam da interação entre o meio interno e meio externo (Braga & Silva, 2011; Horta, 1974).

Embora viver na rua não seja um fenómeno recente, o seu crescimento tem sido marcante, principalmente nos grandes centros urbanos e os seus personagens permanecem quase sempre invisíveis, de modo a não se tornarem prioridade de políticas públicas efetivas. Apesar deste crescimento, não existem números precisos sobre a atual quantidade de pessoas em situação de rua no Brasil, uma vez que a única pesquisa nacional foi publicada no ano de 2008, contabilizando 31.922 pessoas adultas vivendo nas ruas, enquanto no ano de 2019, apenas na cidade São Paulo, 24.344 pessoas foram registadas nessas condições. Portanto, a ausência deste diagnóstico em âmbito nacional denuncia as dificuldades em efetivar políticas públicas direcionadas a este público (Arrais et al., 2020).

As medidas de proteção recomendadas para evitar a propagação do vírus são as mesmas utilizadas para prevenir doenças respiratórias e muitas permanecem inacessíveis a essa população, como a higiene das mãos, seja com água e sabão, ou com solução antissética de base alcoólica, medidas educativas para quando tossir ou espirrar e o uso de lenço descartável. Além disso, também são orientados hábitos para o fortalecimento do sistema imunológico que incluem o cuidado com a alimentação, dormir bem, não consumir drogas e manter a ingesta hídrica de pelo menos 2 litros de água diariamente (Ribeiro-Silva et al., 2020). De acordo com Horta, tratam-se das necessidades básicas do ser humano que precisam de ser atendidas a fim de torná-lo tão independente quanto possível (Horta, 1974).

Sabe-se que o maior contingente das pessoas em situação de rua vive sem a proteção concreta e simbólica de uma casa e parte destas, sobretudo durante a pandemia, pode não conseguir obter pelo menos três refeições diárias, às vezes nem mesmo uma. Além disso, o uso e abuso de drogas interfere no autocuidado desta população, também prejudicado por outros fatores, como dificuldades do acesso aos cuidados com sua saúde. Assim, percebe-se que as precárias condições de vida dessa população favorecem à COVID-19, como mais uma contundente ameaça à saúde e morte para este grupo (Silva et al., 2018).

Da mesma forma, o distanciamento social, disseminado mundialmente por meio da frase “fique em casa”, não se adequa ao contexto da população em situação de rua, o que alerta para a necessidade da adoção de estratégias e de medidas específicas para esta população no cenário da pandemia. Neste sentido, verifica-se pertinência para esta reflexão: Como é que as pessoas que não possuem casa podem atender a tal recomendação?

Assim como numa pandemia, Florence Nightingale, considerada fundadora da enfermagem moderna, vivenciou no século XIX uma guerra e desenvolveu um modelo ambiental, associando a melhoria dos seus doentes ao ambiente, higiene e cuidados. O cuidado com a separação dos doentes por patologia, a abertura de janelas, o banho, a higiene das mãos, o não compartilhamento de utensílios de uso pessoal e a limpeza dos ambientes orientados por Florence, adequa-se às recomendações atuais sobre a COVID-19 para todo o segmento populacional, incluindo a população que vive nas ruas (Denadai et al., 2020).

Florence considerava a necessidade do equilíbrio e controlo do ambiente, tanto das pessoas saudáveis, como das pessoas doentes. O pensamento de Florence no contexto da população de rua remete para a necessidade dos serviços estratégicos para abrigar e acolher nos espaços de referência, como por exemplo os centros especializados para população de rua (Centro POP). De acordo com Florence, a manipulação do ambiente físico constituía o principal componente de enfermagem. Neste sentido, fica clara a importância da atuação da enfermagem nos diferentes cenários do cuidado, como os espaços das ruas. Quanto ao equilíbrio do ambiente, Florence salientava a necessidade de deteção e separação de pessoas sintomáticas, bem como encaminhamentos dos sintomáticos graves com fatores de riscos mais severos aos serviços de referência. Além do controlo do ambiente, a teoria de Florence destaca a importância do olhar além do indivíduo, ou seja, para o ambiente social em que esteja inserido, constituindo um modelo de ativismo político na sua época (Braga & Silva, 2011; Denadai et al., 2020).

Sem saúde e sem direitos: consequências da pandemia para população em situação de rua

A teoria e metaparadigma de enfermagem de Virgínia Henderson considera a necessidade da abordagem colaborativa apoiada nos direitos essenciais dos pacientes e na consideração em conhecer a vida da pessoa fora do ambiente institucional. A abordagem colaborativa pressupõe a importância de olhares interdisciplinares e multissetorial no âmbito do cuidado. A visão holística do ser cuidado precisa de promover um ambiente harmonioso e interativo entre profissionais, pessoas com necessidades de cuidados e sociedade (Denadai et al., 2020).

No contexto atual, a persistência pela sobrevivência apresenta-se ainda mais comprometida, uma vez que os efeitos económicos também têm atingido essa população. Assim, a gravidade dos efeitos associados à COVID-19 fica ainda mais evidente pela acumulação de desvantagens sociais, visto que eles costumam viver em ambientes aglomerados, seja como estratégia de enfrentamento da violência, de sobrevivência mediante recebimento de doações ou mendicância, ou até mesmo de sociabilidade (Zeferino et al., 2019). Henderson propôs 14 necessidades fundamentais, a maioria delas são impactadas pelo contexto de vida nas ruas, como dormir e descansar, comer e beber adequadamente e evitar os perigos ambientais (Braga & Silva, 2011).

Isso torna imperioso o entendimento de que a transmissão comunitária nas populações em condições de pobreza extrema pode constituir uma grave ameaça à vida e à saúde pública. É importante ressaltar que diante de tantos desafios que este grupo enfrenta no seu quotidiano, as consequências para a saúde são as suas últimas preocupações, pois primeiro precisam de saber como se vão alimentar, trabalhar e abrigar-se do sol, da chuva e da violência.

As marcas da desigualdade para esse grupo populacional também podem ser vistas pela falta de acesso à internet ou a outros media, dependem apenas das orientações adequadas para compreender o que está a ocorrer no mundo. De acordo com a teoria de Orem (1985) , a ação de autocuidado pela pessoa em situação de rua é afetada por condicionantes básicos, fatores da rede de cuidados de saúde, ambientais e familiares (Almeida et al., 2020; Orem, 1985; Valle et al., 2020).

O autocuidado também depende do empenho do indivíduo, para prover ações de educação em saúde de forma a que haja a provisão dos requisitos universais para o autocuidado. As atividades de vida diárias dessa população também têm sido reduzidas, aumentando as chances de adoecimento, principalmente frente a uma nova doença. A exigência nas mudanças de comportamento do autocuidado foi e está a ser um desafio para população de um modo geral, portanto para quem vive nas ruas este desafio é ainda maior.

Saúde mental das pessoas em situação de rua em tempos de pandemia

Em situações normais já seria comum identificar um contingente significativo de pessoas em situação de rua em sofrimento psíquico, e/ou com consumo abusivo de drogas. Parte destas pessoas passaram a viver nas ruas em consequência de tais comprometimentos, outras desenvolveram ou intensificam estes quadros de adoecimento diante do stress crónico nas ruas, frente a um conjunto contínuo de adversidades, privações e incertezas. Os quadros de sofrimento psíquicos agudos ou crónicos causam grande impacto e estão entre um dos principais problemas de saúde nesta população, constituindo-se também como barreiras para a continuidade dos tratamentos (Denadai et al., 2020; Valle et al., 2020).

Esta realidade pressupõe que o sofrimento neste contexto de pandemia possa afetar ainda mais a saúde mental das pessoas em situação de rua. Apesar das estratégias existentes no Brasil, como o consultório na rua, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS Ad), a maioria das pessoas em situação de rua com prejuízos de saúde mais acentuados não costumam utilizar de forma sistemática estes serviços. Como agravante, durante a pandemia estes serviços têm funcionado de maneira restrita, com redução de profissionais, principalmente afastados por questões de saúde, de modo que estes espaços têm funcionado de maneira limitada, dificultando assim as possibilidades já escassas de cuidado (Pinho et al., 2019; Silva, 2018).

A teoria das relações interpessoais, desenvolvida por Hildegard Peplau é adaptável à realidade das ruas, pois enfoca o potencial terapêutico da enfermagem por meio de ferramentas do vínculo e da educação em saúde, como forma de cuidar e modificar comportamentos. Portanto, para se ensinar é necessário conviver com os hábitos culturais, entender as linguagens faladas e corporais deste grupo para identificar suas demandas, exigindo emancipação e criatividade das ações de enfermagem (Braga & Silva, 2011; Denadai et al., 2020).

Além disso, é relevante a representação do sistema adaptativo da pessoa em situação de rua, que de acordo com a teoria de Callista Roy, é apoiado numa perspetiva holística de que as pessoas estão em constante interação com os seus ambientes (Denadai et al., 2020). O enfermeiro torna-se referência deste cuidado, no apoio aos mecanismos de enfrentamento e na busca das respostas adaptativas para promover a integridade da pessoa, utilizando a perceção das respostas comportamentais e a construção de laços de confiança.

A variação de respostas é exclusiva de cada indivíduo e podem ser comunicados de maneira subjetiva. Neste sentido, a enfermagem deve conduzir o indivíduo no estabelecimento de metas em termos de sobrevivência, crescimento e domínio. Portanto, o exercício do autoconhecimento para interagir com o outro é indispensável e essencial para a identificação dos impasses e desafios para o enfrentamento da situação atual, bem como para o desenvolvimento de ações criativas que possam impactar o cuidado a essas pessoas, durante e após a pandemia. Os cuidados de enfermagem devem ser planeados na busca de respostas adaptativas e, devido à sua formação holística, a presença do enfermeiro deve ser requerida na composição das equipas de referência para população em situação de rua.

Conclusão

A preocupação sobre os impactos da pandemia da COVID-19 sobre a população em situação de rua deve ser prioridade das políticas de saúde e da assistência social, uma vez que essa população é considerada um dos grupos sociais mais vulneráveis para adoecerem. Neste sentido, precisa-se do avanço imediato na oferta de cuidados multidisciplinares, especialmente neste momento de pandemia.

Para a enfermagem, os paradigmas biomédicos e emergentes evidenciam-se em várias teorias de enfermagem e apresentam correlação apropriadas ao processo de compreensão da dimensão do cuidado à pessoa em situação de rua frente à COVID-19. No âmbito da saúde pública, torna-se imperativo o reconhecimento e visibilidade das pessoas em situação de rua, quanto à necessidade de assistência integral, que envolva participação intersetorial: dispositivos de saúde, sociedade e poder público, através de ações conjuntas que possam ampliar e fortalecer cuidado e proteção social para essas pessoas, durante e após a pandemia.

Referências bibliográficas

Almeida, I. J., Lúcio, P. D., Nascimento, M. F., & Coura, A. S. (2020). Pandemia pelo coronavírus à luz de teorias de enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, 73(Supl 1), 1-5. https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0538 [ Links ]

Arrais, T. A., Oliveira, A. R., Viana, J. L., Alencar, D. P., Salgado, T. R., Morais, J. P., & Souza, M. E. (2020). Celeiros da pobreza urbana: Suplementação de renda e isolamento social em ambientes metropolitanos nos tempos pandêmicos. Vigilância Sanitária em Debate: Sociedade, Ciência & Tecnologia, 8(3), 11-25. https://doi.org/10.22239/2317-269x.01609 [ Links ]

Brasil, G. (2020). Brasil confirma primeiro caso do novo coronavírus. https://www.gov.br/pt-br/noticias/saude-e-vigilancia-sanitaria/2020/02/brasil-confirma-primeiro-caso-do-novo-coronavirusLinks ]

Braga, C. G., & Silva, J. V. (2011). Teorias de enfermagem. Saraiva [ Links ]

Denadai, W., Primo, C. C., Lopes, R. O., Mercês, C. A., Brandão, A. P., Martins, J. S., & Brandão, M. A. (2020). Teoria de enfermagem de médio alcance para atenção à saúde mental. Research, Society and Development, 9(7), e825974950. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i7.4950 [ Links ]

Fahmi, I. (2019). World health organization coronavirus disease 2019 (Covid-19): Situation report. DroneEmprit. [ Links ]

Horta, W. D. (1974). Enfermagem: Teoria, conceitos, princípios e processo. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 8(1), 7-17. https://doi.org/10.1590/0080-6234197400800100007 [ Links ]

Orem, D. E. (1985). A concept of self-care for the rehabilitation client. Rehabilitation Nursing Journal, 10(3), 33-36. https://doi.org/10.1002/j.2048-7940.1985.tb00428.x [ Links ]

Oliveira, W. K., Duarte, E., França, G. V., & Garcia, L. P. (2020). How Brazil can hold back COVID-19. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 29(2), e2020044. http://dx.doi.org/10.5123/s1679-49742020000200023 [ Links ]

Pinho, R. J., Pereira, A. P., & Lussi, I. A. (2019). Homeless, the world of work and the specialized reference centers for population in street situation (centro pop): Perspectives on actions for productive inclusion. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 27(3), 480-495. https://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1842 [ Links ]

Natalino, M. A. (2020). Estimativa da população em situação de rua no Brasil (setembro de 2012 a março de 2020). http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/10074Links ]

Ribeiro-Silva, R. D., Pereira, M., Campello, T., Aragão, É., Guimarães, J. M., Ferreira, A. J., Barreto, M. L., & Santos, S. M. (2020). Implicações da pandemia COVID-19 para a segurança alimentar e nutricional no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 25(9), 3421-3430. https://doi.org/10.1590/1413-81232020259.22152020 [ Links ]

Valle, F. A., Farah, B. F., & Carneiro, N. (2020). Health-interfering streets experiences: Homeless people’s perspective. Saúde em Debate, 44(124), 182-192. https://doi.org/10.1590/0103-1104202012413 [ Links ]

Silva, P. M. (2018). Políticas públicas para pessoas em situação de rua no Brasil: Ações para o exercício da cidadania? InterNaciones, 13, 213-235. https://doi.org/10.32870/in.v5i13.7072 [ Links ]

Silva, F. P., Paiva, F. D., Guedes, C. P., Frazão, I. S., Vasconcelos, S. C., & Lima, M. D. (2018). Nursing diagnoses of the homeless population in light of self-care theory. Archives of Psychiatric Nursing, 32(3), 425-431. https://doi.org/10.1016/j.apnu.2017.12.009 [ Links ]

Xu, Z., Shi, L., Wang, Y., Zhang, J., Huang, L., Zhang, C., Liu, S., Zhao, P., Liu, H., Zhu, L., Tai, Y., Bai, C., Gao, T., Song, J., Xia, P., Dong, J., Zhao, J., & Wang, F. S. (2020). Pathological findings of COVID-19 associated with acute respiratory distress syndrome. The Lancet Respiratory Medicine, 8(4), 420-422. https://doi.org/10.1016/S2213-2600(20)30076-X [ Links ]

Zeferino, M. T., Fermo, V. C., Fialho, M. B., Kenthi, A., & Bastos, F. I. (2019). Crack cocaine use scene in the capital of the state of Santa Catarina/Brazil: The (in) visibility of users. Texto & Contexto-Enfermagem, 28, e20170460. https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2017-0460 [ Links ]

Zhou, F., Yu, T., Du, R., Fan, G., Liu, Y., Liu, Z., Xiang, J., Wang, Y., Song, B., Gu, X., Guan, L., Wei, Y., Li, H., Wu, X., Xu, J., Tu, S., Zhang, Y., Chen, H., & Cao, B. (2020). Clinical course and risk factors for mortality of adult inpatients with COVID-19 in Wuhan, China: A retrospective cohort study. The Lancet, 395(10229), 1054-1062. https://doi.org/10.1016/ S0140-6736(20)30566-3 [ Links ]

7Como citar este artigo: Silva, F. P., Silva, R. A., Frazão, I. S., Oliveira, E. C., Pereira, E. B., Almeida, L. M., & Ventura, C. A. (2022). Pessoas em situação de rua frente à COVID-19: Reflexões à luz de teorias de enfermagem. Revista de Enfermagem Referência, 6(1), e21115. https://doi.org/10.12707/RV21115

Recebido: 15 de Setembro de 2021; Aceito: 15 de Maio de 2022

Autor de correspondência Raphael Alves da Silva E-mail: raphaelalves770@hotmail.com

Conceptualização: Silva, F. P., Ventura, C. A.

Tratamento de dados: Silva, F. P., Silva, R. A., Frazão, I. S., Oliveira, E. C., Pereira, E. B., Almeida, L. M., Ventura, C. A.

Metodologia: Silva, F. P., Silva, R. A., Frazão, I. S., Oliveira, E. C., Pereira, E. B., Almeida, L. M., Ventura, C. A.

Supervisão: Silva, F. P., Silva, R. A., Frazão, I. S., Oliveira, E. C., Pereira, E. B., Almeida, L. M., Ventura, C. A.

Redação - rascunho original: Silva, F. P., Silva, R. A., Frazão, I. S., Oliveira, E. C., Pereira, E. B., Almeida, L. M., Ventura, C. A.

Redação - análise e edição: Silva, F. P., Silva, R. A., Frazão, I. S., Oliveira, E. C., Pereira, E. B., Almeida, L. M., Ventura, C. A.

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons