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Cadernos de Estudos Africanos
versão impressa ISSN 1645-3794
Cadernos de Estudos Africanos no.32 Lisboa dez. 2016
https://doi.org/10.4000/cea.2074
ARTIGO ORIGINAL
Tempo Livre e Lazer na África sob Domínio Colonial Alemão
Free time and leisure in Africa under German colonial rule
Sílvio Marcus de Souza Correa
Departamento de História, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Campus Trindade, 88040-900 Florianópolis, Brasil, endereço de correio eletrónico: silvio.correa@ufsc.br
RESUMO
O lazer em África sob o domínio colonial alemão tem uma breve história de três décadas. Durante o colonialismo, o lazer foi quase um privilégio dos brancos. Mas algumas modalidades desportivas ou formas de lazer precisavam do suporte de africanos. O lazer fomentou também aspirações entre os africanos e que variaram segundo a região, o grupo étnico, social ou religioso, assim como a faixa etária ou o gênero dos indivíduos. A prática de atividades desportivas ou de lazer teve um efeito agregado em relação aos grupos subalternos.
Palavras-chave: tempo livre, lazer, desporto, imagens, África, colonialismo alemão
ABSTRACT
Leisure in Africa under German colonial rule has a short history of three decades. The leisure was almost a privilege of whites during the colonial era. But some Africans were supporting the sports practices or leisure of white. Without the assistance of natives would not be possible to practice some sports or forms of recreation in the colonial context. Leisure also fostered aspirations among Africans and varied by region, ethnic, social or religious group, as well as the age or gender of individuals. The practice of sporting or leisure activities had an aggregate effect on the subaltern groups.
Keywords: free time, leisure, sport, images, Africa, German colonialism
Da metrópole aos espaços coloniais
Para a sociedade alemã do Segundo Império (1871-1918), o tempo livre teve uma supina importância para o seu processo de modernização, notadamente no que tange ao campo da diferenciação e da individualização[1]. Nesse período da história alemã, as formas de recreio da aristocracia coexistem com as práticas de lazer da burguesia. Algumas delas se confundem devido à vizinhança social entre a nobreza e a alta burguesia alemãs. Para ambos grupos sociais, ter tempo para si é um privilégio e traduz um estilo de vida.
A partir do final do século XIX, o tempo livre deixa de ser um privilégio social na Alemanha, pois a redução da jornada de trabalho, o direito às férias e outras conquistas do movimento operário favorecem mais momentos fora das fábricas e das oficinas para a classe trabalhadora (Giesecke, 1983, p. 27). Escusado é lembrar que a incipiente indústria do entretenimento resultou de uma nova demanda social que promoveu a difusão e o incremento das formas de lazer. Desse modo, há uma sinonímia entre lazer e tempo livre. Inclusive, na língua alemã, tem-se a mesma palavra (Freizeit) para ambos os termos.
O tempo livre pode ser o de uma pausa, de um feriado, de um final de semana ou das férias. Uma parte dele passa a ser dispensado com atividades de lazer. Para tratar das formas de lazer em contexto colonial cabe retomar a definição de lazer de Joffre Dumazedier:
O lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode se dar por completo, seja para se repousar, seja para se divertir, seja para desenvolver sua informação ou sua formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criativa depois de ter se livrado das obrigações profissionais, familiares e sociais (Dumazedier, 1962, p. 29).
Na sociologia do lazer, enfatiza-se o caráter individual e a dimensão espontânea ou desobrigada dessas ocupações, com as quais o indivíduo se envolve no seu tempo livre. Cabe ainda lembrar que o lazer se inscreve num conjunto de cuidados de si muito próprios de uma cultura burguesa.
O desenvolvimento da individualização e da diferenciação na sociedade burguesa não tinha equivalente na África do final do século XIX. No entanto, o colonialismo engendrou uma nova gestão do tempo, atribuindo outro sentido social às ocupações dos grupos locais e que passaram à condição de grupos subalternos na ordem colonial.
A partir de 1884, quando a Alemanha se torna um império colonial, uma série de atividades praticadas durante o tempo livre viria a ter expressão também nas colônias, inclusive formas variadas de lazer. No entanto, certas práticas metropolitanas de entretenimento foram alteradas pela nova realidade social. Se a difusão do desporto e do lazer na metrópole se fazia sob o signo da democratização, as práticas desportivas e de lazer na África colonial se operam como privilégios raciais.
Na África sob domínio colonial alemão, foram os grupos europeus de majoritária origem germânica os agentes da difusão seletiva de modalidades desportivas e formas de lazer. Trabalhadores africanos, recrutados na Libéria e Serra Leoa, como os carregadores Kru nos portos de Swakopmund e da Baía de Lüderitz, ou aqueles chamados Kapneger e que chegavam para catar diamantes nos areais do deserto do sudoeste africano, tinham, provavelmente, contato com certas práticas desportivas ou de lazer dos britânicos. Da África ocidental, do enclave britânico de Walvis Bay ou mesmo da Colônia do Cabo na África austral, alguns africanos já tinham experiência com certas modalidades desportivas.
Outros fatores condicionaram a difusão de certas modalidades desportivas e de lazer. A pesca em rios da Europa não seria a mesma em rios africanos onde as correntezas, o regime das cheias em determinadas épocas do ano e a ictiofauna exigiam outras técnicas e instrumentos próprios. A caça desportiva também se adaptaria à fauna bravia das florestas ou savanas africanas, às condições ambientais, climáticas, etc. A pesca e a caça, assim como o safari, demandariam uma participação de africanos como guias, carregadores, cozinheiros. Eram também os africanos que despedaçavam o animal morto e preparavam as peles e os troféus. Porém, a arma de fogo do caçador branco era exclusividade do sportsman. Mesmo que algum africano carregasse a arma, atirar com ela era um privilégio reservado ao caçador branco.
Outra atividade dileta dos alemães era o passeio. Porém, passear exigia a observância do horário em função da intensidade dos raios solares, do calor ou em alguns lugares ou em certas épocas do ano dos mosquitos e de outros insetos. Se algumas práticas desportivas e formas de lazer puderam ser mais facilmente adaptadas à realidade colonial, outras não tiveram vez. Algumas delas dependiam de equipamentos e de serviços urbanos que careciam nas colônias.
Apesar de uma série de dificuldades, uma panóplia de modalidades desportivas e de lazer teve lugar nas comunidades alemãs estabelecidas no continente africano. Em Lomé, Duala, Windhuk e Dar-es-Salam, por exemplo, alemães, civis e militares praticavam algumas modalidades desportivas e de lazer. Entre elas, destacaram-se a ginástica, a caça desportiva, as corridas de cavalos e as cavalgadas[2].
No que tange à introdução do desporto e do lazer na África sob domínio colonial alemão, cabe ainda salientar que a racialização das relações de trabalho fez do tempo livre um privilégio racial. Os brancos se outorgavam o direito exclusivo da prática desportiva e de lazer. Muitas vezes, essas práticas demandavam o auxílio de africanos como gandulas ou meros portadores de equipamentos. Em alguns casos, elas se operavam à vista de empregados domésticos ou tinham por assistência um público também africano.
Para a difusão do lazer na África sob domínio colonial alemão, parecem valer as considerações de Allen Guttmann (2010) sobre a difusão dos desportos como um processo complexo que não se deixa reduzir a mero desdobramento de um imperialismo econômico ou político ou cultural. Para evitar o reducionismo como fez Peter Rummelt (1986, 1989) quando toma a difusão do desporto no continente africano como um prolongamento do imperialismo e do colonialismo, deve-se considerar a facilidade ou a maleabilidade com a qual algumas formas de lazer se deixam praticar ou moldar de acordo com os interesses das populações locais, bem como a permeabilidade de suas normas e valores sociais. As populações locais não eram passivas e sim agentes seletivos para a difusão ou não de práticas desportivas e de lazer.
Todavia, a difusão seletiva de modalidades desportivas ou de formas de lazer em situação colonial tem dinâmicas diferenciadas[3]. As três décadas do domínio colonial alemão constituem um período relativamente curto para um estudo da difusão do desporto e do lazer entre os grupos subalternos.
A condição de excluídos ou o papel de meros coadjuvantes que tiveram os africanos no campo desportivo ou dos lazeres durante o colonialismo alemão não significa que essas coisas de branco não tivessem impacto sobre suas vidas. Mas antes de tratar disso, é mister abordar algumas formas de lazer enquanto privilégio racial.
Formas de lazer em contexto colonial
Para as colônias alemãs, uma copiosa iconografia permite inferir que o desporto e o lazer foram privilégios dos brancos. A posição que ocupam alguns africanos nas fotografias é reveladora das barreiras sociais do campo desportivo e do lazer. Um exemplo é a imagem da luta de box entre Blake e van Wÿk, realizada em Okanjande no dia 9 de abril de 1915 (figura 1). Através do ângulo escolhido pelo fotógrafo, percebe-se uma assistência branca e masculina. Todavia, essa fotografia contém aquilo que Roland Barthes (2015, p. 42) denominou de punctum, ou seja, um detalhe dado por acaso[4]. Nessa imagem do pugilato, tem-se, ao fundo, três ou quatro espectadores negros, sendo que dois ou três podem ser crianças pela estatura.
Se negros podem usufruir do seu tempo livre e participar da luta de box como espectadores, o lugar onde eles se encontram acusa uma posição marginal conforme a hierarquia social e racial do colonialismo. Na colônia alemã do sudoeste africano (atual Namíbia), as raras participações dos negros em festividades ou eventos desportivos podem ser vistas como brechas às apropriações e recriações de tais práticas pelos africanos. Para ficar em dois exemplos: a participação de negros nas corridas de cavalos, mas somente na categoria corrida de mulas e que, geralmente, era também a última categoria do dia (Correa, 2013a); e a participação de grupos carnavalescos como aquele de Kapboys que divertiu a população da Baía de Lüderitz num dia de festa em 1909[5].
A despeito da duração do colonialismo alemão, a experiência colonial foi suficiente para alguns africanos recusar a assimilação de práticas então tidas por coisas de branco, enquanto que outros já aspiravam dominar tais práticas. No entanto, certas aspirações não encontraram condições para a sua realização em situação colonial. Em alguns casos, os próprios alemães poderiam ter seus privilégios suspensos. No regulamento da sociedade de ginástica de Keetmanshoop (fundada em 1907), qualquer alemão que vivesse casado com uma mulher de cor (mit einer farbigen Frau in bürgerliche Ehe lebt) não poderia ser membro da instituição[6]. Isso mostra como a linha de cor definia também os espaços desportivos e de lazer.
Na África sob domínio colonial alemão, o controle do tempo dos trabalhadores africanos foi regulado de acordo com os interesses da economia colonial. O tempo livre concedido aos trabalhadores africanos era sumário e eles procuravam aproveitá-lo para tratar de assuntos familiares ou comunitários ou simplesmente para ocupar-se com aquilo que lhes interessava.
Trabalhar em plantações de cacau ou de sisal, nas minas de cobre ou de diamantes ou nas fazendas de gado de propriedade de alemães ou de firmas alemãs, implicava, em geral, o afastamento da família por tempo indeterminado. Sem poder retornar diária ou semanalmente para o seio da família ou da comunidade, os trabalhadores se reuniam entre eles e faziam do tempo livre não mais do que um momento de repouso ou de entretenimento entre os consortes.
Nos areais diamantinos da Baía de Lüderitz, a concentração de trabalhadores africanos vindos de diferentes regiões não raro fazia das poucas horas de descanso um momento de risco, de desentendimento e mesmo de rebelião, conforme indicam alguns processos-crimes do Arquivo Nacional da Namíbia. Com base nesses processos-crimes, pode-se inferir que apesar do austero controle dos trabalhadores, inclusive com a proibição de bebidas alcoólicas na zona diamantífera o regime de trabalho minava as forças físicas e mentais dos africanos. Nos campos das sociedades de diamantes, a gestão da jornada de trabalho e do tempo livre dos africanos era rigorosa e não diferia muito de um controle policial.
No entanto, em condições extremas ou excepcionais, seja numa zona de mineração ou num campo de concentração, algumas fotografias registam momentos de descontração e mesmo lúdicos. Um exemplo é a partida improvisada de críquete (ou basebol?) entre sul-africanos e nativos num campo de concentração no sudoeste africano em 1915 (figura 2). Cabe lembrar que os campos de concentração foram usados durante as guerras anglo-bôeres na África do Sul e também na colônia alemã do sudoeste africano durante a Primeira Guerra Mundial.
O tempo livre na vida de trabalhadores africanos dos portos, fazendas ou campos de mineração, de prisioneiros civis ou militares e de uma pequena burguesia colonial não tinha por certo o mesmo significado. Na cidade portuária de Lüderitz, os salões de hotéis e restaurantes promoviam festas e bailes para os brancos (Correa, 2012a). Também associações promoviam eventos ou encontros para seus sócios e familiares. Imagens desses momentos de lazer foram publicadas em revistas ilustradas como Kolonie und Heimat, órgão da Liga Feminina da Sociedade Alemã de Colonização. Nas páginas da literatura colonial pululam também passagens em torno do lazer. Trata-se de uma reprodução cultural, como se a prática de lazeres nos trópicos fosse a prova de que a colônia era uma nova pátria.
Se momentos de entretenimento como bailes ou concertos permitiam um exercício de sociabilidade a um determinado grupo, malgrado a esporadicidade em que se realizavam, outros momentos de lazer e entretenimento aconteciam regularmente. Um deles, talvez o mais importante no calendário do colonialismo alemão, foi a Kaiserfest.
A Kaiserfest foi uma festa imperial e colonial que ocorria anualmente na Alemanha e nas suas colônias simultaneamente. Tratava-se de um ato comemorativo ao aniversário do imperador alemão. Sua organização era feita pelas próprias comunidades alemãs nos territórios coloniais[7].
Na África sob domínio colonial alemão, as autoridades alemãs convidavam os régulos locais e seus súditos a participar da festividade. O feriado permitia uma celebração onde civis e militares, homens e mulheres, europeus e africanos participavam de acordo com as hierarquias da ordem colonial.
No final de janeiro de 1910, uma matéria sobre a Kaiserfest nas colônias foi publicada na revista ilustrada Kolonie und Heimat. Entre as várias imagens que ilustram o artigo, tem-se a de um régulo com o seu séquito em Lomé (figura 3). Sem considerar os feriados religiosos, a Kaiserfest foi o feriado mais importante durante o colonialismo alemão. A adesão popular e de certas elites locais não significa, contudo, que a comemoração do aniversário do Kaiser fosse a verdadeira ou única motivação para tal participação dos africanos nessa festa.
Apesar de ser anual, a Kaiserfest revestiu-se de uma importância política para o colonialismo alemão, mas também para as elites locais africanas que não deixavam de aproveitar a ocasião para negociar a sua aliança com o império alemão. Além de desfile militar, de hinos e discursos em alemão, a festa tinha uma componente africana, com danças de guerreiros e também de mulheres africanas ao som de tambores e de cantos em diferentes línguas.
Em 1911, outra matéria sobre as comemorações da festa do imperador nas colônias, com imagens de africanos nas proximidades do lago Tchad e também reunidos em Yaundé e alhures foi publicada na mesma revista (Kolonie und Heimat in Wort und Bild, 4. Jahrgang, Nr. 19, 29/01/1911).
Com menos pompa e circunstância, outras festividades ocorriam ao longo de um ano. Algumas delas se inseriam num calendário de feriados, comemorações, eventos e torneios desportivos e que foi sendo incrementado durante o colonialismo alemão (Correa, 2013a).
Para os alemães, o emprego do tempo livre em atividades desportivas ou de lazer variava também de acordo com a localidade ou a época do ano. Em cidades portuárias como Lomé ou Dar-es-Salam, as opções de lazer eram diferentes daquelas do meio rural. Fazendeiros ou colonos alemães nem sempre usavam o seu tempo livre como os seus compatriotas comerciantes ou funcionários instalados em cidades litorâneas. Em outras localidades, como Swakopmund ou Bagamoyo, os momentos de folga para civis e militares eram usufruídos de acordo com os serviços urbanos disponíveis. Variava também conforme o capital cultural e social dos indivíduos. Cassinos, cervejarias, restaurantes e clubes tinham seus atrativos como lugares de passatempo.
A caça era uma das atividades prediletas de soldados e oficiais para preencher o tempo. Para as atividades cinegéticas, o auxílio de guias e portadores era imprescindível. Mas a prática da caça nas colônias não significa sempre um lazer. O caçador branco nem sempre era um sportsman.
Em anúncios de oferta de emprego do jornal da Baía de Lüderitz, uma demanda por capataz de fazenda estipulava como uma das obrigações ao posto a caça no tempo livre (Lüderitzbuchter Zeitung, 16/07/1910, p. 9). A pré-condição de uma atividade durante o tempo livre vai de encontro à noção de lazer como aquilo que se faz sem obrigação. Nesse caso, a caça desportiva deixa de ser uma forma de lazer segundo aquela perspectiva sociológica de lazer como uma ocupação feita pela vontade própria do indivíduo depois de haver se livrado de suas obrigações familiares ou profissionais.
O anúncio supracitado permite supor que o empregador, ao condicionar o tempo livre do seu empregado à atividade cinegética, pretendia abater sistematicamente a fauna bravia que, provavelmente, representava uma ameaça para a sua atividade pecuária e/ou agrícola.
Como outras práticas desportivas, a caça exigia um repouso que, geralmente, era feito no acampamento. Feita ao ar livre, a reunião entre os caçadores se fazia com a imprescindível bebida alcoólica e importada. Relatos de caçadores narram esse momento noturno de lazer entre os caçadores brancos[8].
Em matéria de Otto Stollowisky sobre a hospitalidade na África Oriental e publicada na revista ilustrada Kolonie und Heimat, tem-se, entre outras ilustrações de Fritz Nansen, uma cena de sociabilidade entre três homens brancos, que conversam e bebem ao ar livre (figura 4)[9]. Tem-se ainda a presença de um serviçal negro para quem nenhum olhar é dirigido. Apenas um copo é erguido para ser servido.
A iconografia colonial é pródiga em cenas de descontração e sociabilidade entre brancos, geralmente sentados em volta de uma mesa, bebendo algo e com a presença discreta de serviçais negros em pé ou sentados ao chão[10].
A captura de imagens como uma forma de lazer
Em seu primeiro livro, Clara Brockmann deu uma série de conselhos às mulheres que viajavam para a então África do Sudoeste Alemã. Entre outros, a autora destacou a fotografia como lazer: Para o entretenimento e para o embelezamento das horas livres, gostaria de sugerir aprender a fotografar e adquirir uma boa câmara. O rico proveito disso vale todo esforço e custos (Brockmann, 1910, p. 62).
Na revista ilustrada da Liga Feminina da Sociedade Alemã de Colonização, o Dr. R. Lohmeyer publicou um artigo de duas páginas com várias dicas para se fotografar nos trópicos (Kolonie und Heimat in Wort und Bild, Ano IV, Nr. 25, Berlin, 1911, pp. 2-3). O artigo foi ilustrado com sete clichês de fotógrafos amadores, sendo alguns deles de fotógrafos anônimos e outros de oficiais militares. Uma continuação do artigo com outras dicas e fotografias de amadores foi publicada ainda no mesmo ano, no número 30 da revista.
O elemento africano como objeto predomina nas fotografias. Forma de lazer para os brancos nas colônias, a fotografia coisifica os africanos. No entanto, alguns africanos já negociavam a sua imagem. Como registou o médico alemão Karl Wilhelm Schinke durante a sua passagem pela costa da Serra Leoa em 1905:
Foi visitada a aldeia dos negros, e todas as beldades, que para tanto se prontificaram, foram fotografadas. Essas nativas não conhecem sentimentos de vergonha. As moças e as mulheres andam nuas, do umbigo para cima [...] Mas parece que as fotos não saíram muito bem (Schinke, 2009, pp. 54-55).
Nas cartas do médico alemão há referência a um capitão que, com sua máquina fotográfica, andava à caça de negros interessantes (ibid., p. 63) e também de um tenente que andava fotografando nas horas livres (ibid., p. 140). Fotografar tipos africanos parece ter sido uma forma de lazer como foi também fotografar a paisagem africana. O consentimento ou a autorização dos africanos não era, provavelmente, uma pré-condição para a captura de suas imagens.
Como pode-se inferir do testemunho do médico alemão durante a sua passagem pela Serra Leoa, algumas mulheres se prontificavam a pousar. Mas nem todas. A recusa de algumas em deixar-se fotografar não garantia que o botão das máquinas fotográficas não fosse disparado. Muitos africanos foram fotografados à revelia de sua vontade.
Uma fotografia de dois tutsis em torno de um jogo de tabuleiro aponta para uma intersecção entre a tradição e a modernidade (figura 5). Se a imagem capturada cristaliza um momento de entretenimento durante o tempo livre de duas pessoas, ela também acusa o ato de fotografar de um terceiro orientado pelo interesse etnográfico[11]. Se a fotografia documenta uma forma de lazer (do fotógrafo ou da fotógrafa), ela regista outrossim um passatempo tradicional, porém entre homens em situação colonial.
A prática fotográfica como forma de lazer não significa, necessariamente, uma prática desinteressada. Muitas fotografias de africanos poderiam se tornar objetos de coleção ou mesmo mercadorias, ou seja, para compra e venda. Alguns estúdios fotográficos na Alemanha e nas colônias vendiam fotografias de amadores.
Durante o colonialismo, os corpos dos africanos, suas vestimentas e seus costumes foram objetos desse olhar fotográfico enquanto forma de lazer. Uma forma de lazer que se confundia com o ato de colecionar e inventariar a alteridade africana. Se os africanos tornavam-se objetos diante das lentes, dificilmente eles se encontravam por detrás delas, apertando um botão, fazendo suas próprias fotografias. Assim como a arma de fogo do sportsman, a máquina fotográfica do amador estava fora do alcance das mãos africanas. E como troféus, as fotografias não eram também para a contemplação dos olhos africanos[12].
Como bem apontou Barthes (2015, p. 17), uma fotografia implica três práticas: fazer, suportar e olhar. Durante o colonialismo alemão, quem fez (Operator), quem pousou (Spectrum) e quem olhou (Spectator), foram, geralmente, os brancos. Ao africano, mesmo quando alvo e referente de uma fotografia, não lhe foi possível fazer ou olhar a imagem de si mesmo.
A falta de acesso às técnicas e aos meios de fotografar por parte dos africanos durante o domínio colonial alemão demonstra o caráter seletivo das trocas materiais e simbólicas. Como observou Malinowski, certos equipamentos e conhecimentos dos europeus não entraram no circuito de trocas, sobretudo aqueles que garantiam a dominação europeia. Além dos recursos técnicos e materiais para capturar imagens, ler e escrever também fizeram parte desse capital cultural dos brancos e que poucos africanos puderam adquirir durante o colonialismo alemão.
Deve-se ressaltar ainda que o ato de fotografar como lazer e durante o tempo livre produz imagens que são, muitas vezes, mais projeções dos fotógrafos europeus que retratos de uma realidade colonial. No entanto, as fotografias são expressões de um imaginário colonial com efeito sobre o real.
A leitura como lazer
Entre as formas de lazer na África sob domínio colonial alemão, destaca-se a leitura. A imprensa local se desenvolve nas colônias alemãs desde o final do século XIX e as cidades portuárias, como Swakopmund, Baía de Lüderitz e Dar-es-Salam, têm cada uma o seu jornal. A imprensa periódica ilustrada oferece informação e distração aos alemães nos territórios ultramarinos, mas ela também fez parte da vida de alguns africanos.
Em uma crônica humorística sobre a imprensa colonial, o articulista abordou a concorrência dos jornais locais na colônia alemã do sudoeste africano, inclusive a matéria foi ilustrada com um desenho de um jovem jornaleiro africano (figura 6). Além dos vendedores de jornais, outros africanos se deparavam diariamente com jornais, revistas e livros sem poder ler, sobretudo aqueles que trabalhavam como domésticos em casas de europeus. Como alguns periódicos eram ilustrados, a informação visual poderia ser suficiente para alguns fortuitos leitores africanos.
As livrarias e editoras locais também importavam livros da Alemanha e Sociedades de Leitura contavam com pequenas bibliotecas. A Liga Feminina da Sociedade Alemã de Colonização emprestava livros ao seu público por meio de uma biblioteca itinerante, abastecida regularmente por livros despachados da Alemanha e que chegavam às colônias pelos navios da companhia Woermann.
A leitura no espaço colonial demandava uma provisão de livros, geralmente encontrados em clubes literários ou em pequenas bibliotecas locais, além de jornais ou revistas que os leitores poderiam receber por assinatura. Mas a leitura tem por requisito básico a alfabetização e o tempo livre. Ambos requisitos excluíam a maioria dos africanos, mesmo aqueles que tinham um conhecimento instrumental da língua do colonizador.
Uma fotografia publicada na revista da Liga Feminina da Sociedade de Colonização Alemã (figura 7) regista alguns aspectos simbólicos relacionados à leitura durante o colonialismo. À sombra de uma varanda e à vontade em sua espreguiçadeira, um alemão tem em seu colo um exemplar da revista Kolonie und Heimat e outro sobre o chão ao lado do seu capacete colonial. Tem-se ainda uma garrafa sobre a mesa e um serviçal ao seu dispor. A fotografia ilustra um poema de Max Müller intitulado Feierabend e que pode ser traduzido por hora-livre ou happy hour. O poema faz loa ao trabalho alemão que torna a colônia uma nova pátria. Para o poeta, depois do dever cumprido, um doce sentimento de cansaço se desfruta na hora-livre. Mas o que o poema esconde e a fotografia revela é que a hora livre para o colonizador, não tem o mesmo sentido para o colonizado. O spectrum do africano é um referente da ordem colonial.
Ainda em 1911, o periódico ilustrado Kolonie und Heimat publicou a imagem fotográfica de uma mulher negra lendo um exemplar da revista da Liga Feminina da Sociedade de Colonização Alemã. Pelo jeito como a leitora segura em suas mãos a revista e pela própria postura, nota-se que a fotografia não tem nada de espontâneo. O fotógrafo ou a fotógrafa buscou registar um momento de leitura de uma nativa, supostamente alfabetizada e assimilada. Outros elementos compõem a semântica colonial da fotografia. O seu cabelo sem qualquer penteado tradicional, o seu vestido branco e a sua posição sentada numa cadeira sugerem uma mulher civilizada[13].
Para a ideologia colonial da Liga Feminina da Sociedade de Colonização Alemã, a publicação de uma imagem de uma leitora negra em sua revista seria um exemplo cabal da missão civilizatória realizada nas colônias pelas mulheres brancas. Aliás, essas últimas eram vistas como portadoras da cultura alemã (Trägerin deutscher Kultur).
Mesmo que a imagem possa indicar um certo empowerment das mulheres africanas, uma vez que a leitura era percebida como uma forma de libertação feminina, o que se busca nessa idealização é a assimilação cultural sem que isso represente um questionamento da ordem colonial. No entanto, assim como a leitura, outras formas de lazer e de desporto seriam instrumentalizadas para reivindicações de cariz político. Cabe informar que o fim do colonialismo alemão não sustou o processo de apropriação de práticas desportivas e de lazer pelos grupos subalternos. Depois de 1920, as ex-colônias alemãs na África conheceram o domínio francês ou britânico ou sul-africano. Novas práticas desportivas e de lazer foram introduzidas, outras foram mais ou menos difundidas.
Os impactos inusitados do tempo livre e dos lazeres
Ao pretender servir de modelo aos africanos, os europeus acabaram involuntariamente acirrando as contradições do sistema de dominação colonial. Ao valorizar o tempo para si, incitou-se indiretamente a vontade dos africanos em ter o mesmo tempo livre e, por conseguinte, poder ocupar-se com suas coisas. Em contexto colonial, não tardou para que africanos assimilados começassem a querer praticar aquilo que era considerado um privilégio racial.
Em termos de lazer, a exclusão da maioria dos africanos traduziu o racismo intrínseco ao colonialismo. Porém, algumas brechas se encontravam no interdito. A participação embora irrisória ou esporádica e mesmo em condição subalterna favoreceu a organização ulterior dos africanos para praticar o desporto e o lazer. Por isso, a inculcação de valores europeus nos grupos subalternos sob dominação colonial alemã teve efeitos inusitados.
Para os africanos, ter o direito ao tempo livre e às práticas de lazer e desportivas poderia ser uma forma de buscar a igualdade, o que significava rever as bases da própria ordem colonial. Para outros, a indiferença ou a recusa diante daquelas coisas de branco ou manias de branco pode ser interpretada como uma forma de resistência ou de rechaço de uma cultura colonial.
Algumas práticas de lazer ocorriam em espaços sociais exclusivos para brancos, o que não significava um desconhecimento por parte dos africanos do que se passava em certos clubes ou associações cuja entrada lhes era vedada. A convivência de empregados domésticos, por exemplo, serviu de vetor para a difusão de algumas práticas desportivas ou de lazer para fora dos grupos europeus.
Durante o colonialismo alemão, a regra foi uma extenuante jornada de trabalho para os africanos. Não raro ocorreu o trabalho compulsório e outras formas análogas à escravidão. Por isso, não é difícil imaginar o impacto entre os grupos subalternos dos passeios à beira-mar, das cavalgadas pelo campo, da leitura ou do jogo de carta à sombra de uma varanda e de outras formas de lazer dos brancos, fossem eles fazendeiros, comerciantes, militares ou funcionários da administração colonial.
Os jovens negros que espiavam de longe uma luta de box ou uma corrida de cavalo, os boys que serviam drinks aos brancos em suas varandas ou acampamentos, o régulo e o seu séquito que participavam anualmente da Kaiserfest, os vendedores de jornais e os milhares de africanos que se deixavam fotografar participaram nolens volensde um tempo livre engendrado pelo colonialismo. Atentar para a participação desses africanos numa zona de contato vazada por práticas desportivas e de lazer permite compreender como essas práticas se reproduziram durante o domínio colonial alemão e, ao mesmo tempo, como tal participação nativa, mesmo que marginal ou subalterna, continuaria nas ex-colônias alemãs.
Mesmo que o presente estudo permita inferir algumas brechas para uma apropriação seletiva dos lazeres por parte dos africanos, o estágio atual da investigação impede avançar com algumas hipóteses para além das inferências. Com base no que foi exposto, pode-se pensar uma agenda de pesquisa para mostrar como algumas formas de lazer se desenvolveram em contexto colonial e como elas favoreceram a emergência de uma subjetividade moderna não-europeia.
Referências
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Schinke, K. W. (2009). Diário da África: O diário de um médico alemão na guerra dos hotentotes
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Schveitzer, A. C. (2016) Imagens do Império: Mulheres africanas pelas lentes coloniais alemãs (1884-1914). Dissertação de mestrado, Programa de Pós-graduação em História, Universidade Federal de Santa Catarina, [ Links ] Brasil.
Recebido: 23 de outubro de 2015
Aceite: 18 de abril de 2016
Notas
[1] A diferenciação e a individualização são dois dos quatro vértices do esquema interpretativo do processo de modernização proposto por Hans van der Loo e Willem van Reijen (1997). Com base no modelo parsoniano, os autores enfatizam os paradoxos do processo de modernização e criticam perspectivas lineares ou evolutivas. Desse modo, diferenciação, individualização, domesticação e racionalização são processos correlatos mas cujas dinâmicas próprias podem resultar em diferentes complexos em termos de mudanças estruturais, psíquicas, físicas e culturais.
[2] Estes temas foram tratados em outros trabalhos (Correa, 2012b, 2013a, 2013b).
[3] Para uma história do desporto na África portuguesa, alguns trabalhos demonstraram certas preferências desportivas em Cabo Verde, Guiné, São Tomé, Angola e Moçambique, assim como algumas diferenças na cultura desportiva de grupos em situação colonial (Nascimento, Bittencourt, & Melo, 2010).
[4] A partir do punctum pode-se fazer uma leitura da fotografia diferente daquela que sugere o studium (outro termo cunhado por Barthes). Afinal, um detalhe dado ao acaso pode contrariar as intenções do fotógrafo ou destoar daquilo que ele desejou registar (Barthes, 2015, p. 29).
[5] Uma foto dos Kapboys com seus trajes carnavalescos, instrumentos musicais e seus rostos pintados de branco foi publicada em Lüderitzbucht. Damals und Gestern (1998). A fotografia provém do acervo de imagem do Staatsarchiv de Windhoek (Namíbia).
[6] Satzungen Turnverein Gut Heil Keetmanshoop (National Archives of Namibia).
[7] A Kaiserfest também era organizada por comunidades alemãs em cidades do Brasil como Porto Alegre ou Blumenau. Mesmo durante a Primeira República, as comunidades teuto-brasileiras comemoravam o aniversário do Kaiser, inclusive com a participação de membros das elites políticas locais e que não tinham origem alemã.
[8] Essa forma de lazer, assim como outras, não foi apanágio dos caçadores alemães. Franklin Roosevelt, Winston Churchill e Ernest Hemingway, para ficar em três exemplos famosos, também registaram em seus relatos as noites de descanso e de prosa etílica após um dia de caçada em diferentes partes da África.
[9] O ilustrador Fritz Nansen foi um colaborador assíduo da revista ilustrada Kolonie und Heimat e a cena de momentos de lazer entre brancos com a presença marginal de um servidor negro foi recorrente. Para dar mais um exemplo, tem-se uma ilustração do primeiro capítulo do romance de Jonk Steffen sobre a guerra no sudoeste africano, publicado no número 29 da revista em 1911, em que um grupo de homens brancos se encontram à mesa e tem-se, ao lado deles, um garçom negro.
[10] Ver por exemplo: Diner im provisorischen Heim des Farmers. Kolonie und Heimat in Wort und Bild, Nr. 14 (1910), p. 6; Ein Picknick im Innern von Togo. Kolonie und Heimat in Wort und Bild, Nr. 36 (1911), p. 9.
[11] Numa edição da Kolonie und Heimat (Ano III, Nr. 1, 01/10/1909, p. 13), uma outra fotografia, dessa vez com cinco africanos, regista o nsolo, um jogo de tabuleiro, na região de Niassa. O mesmo jogo, mais conhecido como mancala, recebe nomes diferentes em várias partes da África.
[12] Curiosamente ambas disparam e o verbo em inglês (to shoot) poderia sugerir aos africanos uma similaridade entre a arma de fogo que tira a vida e a máquina fotográfica que captura a imagem ou talvez mais que isso.
[13] Sobre a fotografia publicada na revista Kolonie und Heimat, Ano IV, Nr. 49 (1911), p. 12, ver também Schveitzer (2016).