INTRODUÇÃO
A hipertensão é um problema de saúde pública e responsável por 50% das mortes por doenças cardiovasculares (Malachias et al., 2016). Dessa forma, a autoaferição da pressão arterial (PA) é uma estratégia comumente utilizada por pacientes hipertensos com a ideia de melhorar o controle da PA fora do ambiente clínico (Boggia et al., 2011; Little et al., 2002; Margolis et al., 2015; Sang-Ho et al., 2019).
Porém, diversos fatores que ocorrem no cotidiano do paciente acabam influenciando diretamente no resultado da autoaferição da PA, como por exemplo, automedicação (Hyman, 2017), não adesão ao tratamento por não conhecimento da doença ou falta de orientação (Casiglia et al., 2016; Hyman & Pavlik, 2015) quanto ao uso correto do aparelho de pressão, transtorno de ansiedade, estresse (Costa & Manfro, 2019), entre outros.
Estudos indicam que a autoaferição orientada pelo clínico, tem efeitos positivos no tratamento do paciente hipertenso (Boubouchairopoulou et al., 2014; Malta et al., 2018; Ribeiro & Lamas, 2012) em contrapartida, outros estudos (Casiglia et al., 2016; Silva et al., 2016) indicam que esse procedimento interfere no controle da PA.
Portanto, observa-se, na prática clínica, que apesar da preferência do paciente em realizar a autoaferição da PA com aparelhos digitais, pela praticidade, tal procedimento não é aceito por unanimidade (Casiglia et al., 2016; Silva et al., 2016), justamente pelos fatores que interferem: a variação que pode ocorrer no resultado da medição relacionado a má postura durante a autoaferição, transtornos de ansiedade, além de fatores desencadeantes ao longo do dia relacionados ao estresse e estado emocional, dentre outros (Souza et al., 2011).
Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo apresentar a metodologia do estudo AnOPAR para avaliar a associação da autoaferição da PA com o seu controle, com a presença de transtornos de ansiedade, de visitas não programadas à urgência e automedicação em hipertensos.
MÉTODO
Este estudo será desenvolvido com base nos dados da pesquisa “Influência da Ansiedade na Autoaferição da Pressão Arterial Sistêmica em pacientes hipertensos”. Trata-se de um estudo tipo transversal, observacional de caráter analítico, sob a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos sob o número CAAE: 60473316.9.0000.5546. Os participantes do estudo entregarão o termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelos responsáveis legais.
Participantes
A amostra será realizada de forma não aleatória com avaliação de 1000 (mil) pacientes selecionados consecutivamente para minimizar o viés de amostragem, na cidade de Aracaju-Sergipe, Brasil. Como critério de inclusão, serão definidos pacientes maiores de 18 anos, de ambos os sexos e com diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica, acompanhados ambulatorialmente em três instituições hospitalares da cidade de Aracaju-Sergipe, Brasil. Uma dessas instituições atende exclusivamente usuários do serviço público de saúde e duas atendem à iniciativa privada. As instituições escolhidas são referência no tratamento de pacientes hipertensos na cidade. Serão excluídos aqueles com transtornos mentais que puderem comprometer as respostas aos questionários ou os que recusarem a participar.
Instrumentos
A coleta de dados será realizada por meio da aplicação de questionário específico contemplando os seguintes tópicos:
(1) Identificação do paciente e elementos sociodemográficos (sexo, idade, renda, escolaridade, estado civil, automedicação, atendimentos não programados ao pronto-socorro, informações sobre PA autoverificação). A classe social e a escolaridade serão inseridas no questionário de acordo com a classificação utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010). O IBGE é um instituto público da administração federal brasileira, que fornece as informações geográficas e estatísticas do Brasil. Que classifica a classe social por grupo de renda familiar. Em que a classe A corresponde a acima de 20 salários mínimos; B: 10 a 20 salários mínimos; C: 4 a 10 salários mínimos; D: 2 a 4 salários mínimos; E: Até 2 salários mínimos. Educação classificada em: ensino fundamental, médio, superior, programa de graduação e nunca estudou;
(2) Dados clínicos: avaliação do cardiologista baseada na média das três últimas medidas realizadas nas três últimas consultas de acordo com o College of Cardiology e as diretrizes de cardiologia e / ou MAPA para classificação de PA controlada e não controlada, além de a identificação das comorbidades desses pacientes. Os valores da PA serão considerados para o diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica (HAS) de acordo com as recomendações da diretriz de 2017, na qual a American Society of Cardiology (Whelton et al., 2018) classifica os níveis pressóricos de forma diferenciada e sugere uma definição para os valores do estágio 1 da pressão arterial. Pressão arterial sistólica (PAS) entre 130-139 mmHg ou pressão arterial diastólica (PAD) entre 80-89 mmHg; Hipertensão no estágio 2 inclui indivíduos com valores de PAS maiores que 140 mmHg ou PAD iguais ou maiores que 90 mmHg. A categoria de pressão arterial normal será definida como PAS menor que 120 mmHg e PAD menor que 80 mmHg, e a PA elevada foi classificada como PAS entre 130-139 mmHg e PAD maior que 90 mmHg. A justificativa para essa categorização é baseada em dados observacionais relacionados à associação entre pressão arterial diastólica e sistólica e risco de doenças cardiovasculares. Para dicotomizar a variável em hipertensão controlada e não controlada, o procedimento será realizado por meio da monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) ou pela média das medidas nas últimas três consultas realizadas por três médicos assistentes de acordo com a Faculdade de Cardiologia e as diretrizes de Cardiologia brasileira (Malachias et al., 2016). O ponto de corte para hipertensão não controlada será entre PAS: 130-139 mmHg ou PAD entre 80-89 mmHg.
(3) A ansiedade: O Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) será aplicado por uma psicóloga treinada a todos os voluntários da pesquisa. O IDATE tem como objetivo avaliar a ansiedade como uma característica do estado (E) e da personalidade (T). É um instrumento de autoavaliação, composto por duas escalas paralelas, cada uma com 20 itens (Biaggio & Natalicio, 1979). No IDATE, na escala T pelo crivo, a média estipulada é de 45,34 a 55,22 e na escala E a média esperada é 43,64. A consistência interna de ambas as escalas será determinada com base no alfa de Cronbach. A escala E apresenta um alfa de Cronbach de 0,91, enquanto a escala T de 0,894. Portanto, os instrumentos apresentarão alta validade interna quando comparados à população geral, com índice entre 5,6% e 1,8%. Valores acima de 0,8 indicam alta consistência, embora coeficientes acima de 0,60 tenham demonstrado consistência adequada (Ciconelli et al., 1999).
Procedimentos
A coleta de dados será realizada ambulatorialmente em três instituições hospitalares da cidade de Aracaju-Sergipe, Brasil, por uma equipe composta por enfermeiros, médicos assistentes e psicóloga. Os profissionais serão previamente treinados para a aplicação dos instrumentos a fim de padronizar todos os procedimentos referentes à obtenção dos dados.
Análise estatística
As variáveis contínuas serão descritas como média e desvio padrão. Quanto às variáveis categóricas, serão utilizadas frequências absolutas e percentuais e intervalos de confiança de 95% para sumarizá-las quando relevantes. O teste de Shapiro-Wilk será usado para avaliar a suposição de normalidade. Para testar as hipóteses relacionadas às variáveis categóricas, o teste do qui-quadrado de Pearson ou o teste exato de Fisher serão usados quando mais apropriado.
A comparação entre os grupos (com autoavaliação versus sem autoavaliação; hipertensão controlada versus não controlada) será realizada por meio do teste t de Student para dados independentes no caso de variáveis quantitativas.
Para analisar os fatores associados às variáveis de desfecho (auto-medição da PA sistêmica, hipertensão não controlada, automedicação, visitas não programadas e ansiedade traço), a técnica de regressão logística será usada usando o método "forward stepwise" e "backward stepwise", considerando para entrada no modelo p = 0,25 e para permanência no modelo p = 0,05. Em seguida, odds ratios simples e ajustados serão calculados. O Statistical Package for the Social Sciences versão 24.0 será usado para realizar os cálculos estatísticos para o teste. As estimativas serão feitas com os seguintes parâmetros: poder = 80%. O tamanho do efeito (D de Cohen para variáveis contínuas e h de Cohen para variáveis categóricas) será definido como pequeno (<0,20), médio (entre 0,20 e 0,50), grande (entre 0,50 e 0,80) e muito grande (> 1, 20) [ 19]. O valor de p bicaudal inferior a 0,05 será considerado o critério de significância estatística.
RESULTADOS
Os resultados serão apresentados após a análise estatística e avaliação final dos dados. A análise dos resultados pretende produzir informações a respeito do impacto da autoaferição da pressão arterial, não orientada, da população hipertensa. Com isso, espera-se municiar os gestores públicos de informações que embasem políticas de saúde mais eficientes em relação a prática da autoaferição realizada pelos hipertensos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta investigação pretende-se demonstrar a eventual associação entre autoaferição não orientada da PA com o seu controle, com a prática de automedicação, com visitas não programadas aos serviços de saúde e com a síndrome de ansiedade. Espera-se, também, identificar fatores associados ao não controle da PA de acordo com as diretrizes vigentes. É compromisso dos pesquisadores da atual pesquisa em divulgar, os resultados encontrados, com o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade da atenção à saúde da população hipertensa.