INTRODUÇÃO
O termo ergogénico é derivado do grego ergo = trabalho e gen = produção, e está relacionado à aplicação de procedimentos ou recursos que visam melhorar a capacidade de trabalho físico e/ou a performance do desportista. Podem ser classificados como mecânico ou biomecânico, fisiológico, farmacológico, psicológico, farmacológico e nutricional - este o principal escopo da presente pesquisa (1). Os suplementos alimentares têm como objetivos suprir as necessidades nutricionais ou fisiológicas de pessoas que, por alguma razão, possam estar com deficiência de algum nutriente ou, no caso de desportistas, auxiliar no complemento ou substituir a ingestão alimentar em situações específicas (2).
No aspecto de saúde em geral, reduz o risco de doenças ou agravos nutricionais em situações de deficiência de ingestão de um ou mais nutrientesEssas substâncias já são discutidas há décadas pela comunidade científica, e o destaque dado pela mídia graças ao investimento da indústria de suplementos alimentares proporcionou um aumento exponencial no número de pessoas que utilizam esses produtos (8 - 10). Este contexto remete a uma importante reflexão sobre os perigos da utilização dos suplementos alimentares sem orientação, e alguns questionamentos são necessários: será que a prevalência da utilização de suplementos ainda é elevada? Quem utiliza, está tendo alguma orientação ou está realizando por conta própria? Quais são os objetivos buscados com a utilização desses produtos?
OBJETIVOS
Verificar a prevalência da utilização de suplementos alimentares por praticantes de musculação, bem como os objetivos relacionados ao consumo e quais as fontes de indicação das substâncias.
METODOLOGIA
Este estudo possui um delineamento transversal, com frequentadores de uma academia localizada na cidade de Volta Redonda, interior do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Foram estipulados como critério de inclusão alunos maiores de 18 anos, de ambos os sexos que estavam com matrícula ativa na academia durante a pesquisa e que aceitaram responder o questionário voluntariamente consentindo a participação mediante assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. A pesquisa foi realizada nos meses de maio, junho e julho de 2021, com entrada aleatória dos participantes.
Foi aplicado um questionário (11) composto por vinte e nove perguntas fechadas, sendo quatorze questões referentes a dados sociodemográficos e hábitos de vida e as demais questões referentes ao uso de ergogénicos nutricionais, objetivos e fontes de indicação. Para análise dos resultados foram realizados procedimentos descritivos (média, desvio-padrão e percentagem). Para verificação de correlações entre as variáveis foi utilizado o teste de correlação de Pearson para comparação das múltiplas variáveis, com nível de significância p < 0,05. As análises foram realizadas com auxílio do programa JAMOVI®- versão 1.6. O presente estudo foi aprovado pelo Comité de Ética em Pesquisa do Centro Universitário de Volta Redonda sob registro CAAE número 50134821.0.0000.5237
RESULTADOS
Ao final do período de coleta obteve-se um total de 151 questionários respondidos, todos por praticantes de musculação. A média de idade foi de 30,6 ± 8,86 anos (18 - 64 anos). O perfil (Tabela 1) apresenta maioria de mulher (53%), solteira (57%), sem filhos (61,6%), com 12 ou mais anos de estudo (77,5%), trabalhando (44,4%) e com renda familiar de 4 ou mais salários mínimos (66,2%). Acerca da saúde e hábitos de vida a maioria relatou não possuir nenhum tipo de doença (93,4%) não utilizar medicação (82,8%), se preocupa com a alimentação (89,4%), realiza quatro ou mais refeições por dia (72,2%), pratica exercício com objetivo de melhorar o corpo (55,6%), não fuma (90,1%) e ingere bebida alcoólica (51%). Quando avaliada a utilização de suplementos alimentares a maioria (n = 88) declarou que utiliza ao menos um suplemento, seguido por não utiliza (n = 37) e não utiliza no momento, mas já utilizou (n = 26). Considerando a utilização por 75% (n = 114) dos participantes que relataram fazer ou já ter feito o uso de ao menos uma substância, ocorreu prevalência do sexo masculino de 53,5% (n = 61), mostrando que mesmo tendo predominância feminina de participação, os homens são mais propensos a utilizar suplementos alimentares. Na presente pesquisa os suplementos alimentares utilizados pelos participantes da pesquisa foram whey protein (n = 100), creatina (n = 75), cafeína (n = 48), BCAA (n = 42). O Gráfico 1 apresenta todos os produtos listados pelos participantes da pesquisa, sendo que o carboidrato está unificado (maltodextrina n = 15; dextrose n = 09; D-ribose n = 04; palatinose n = 04 e waxy maize n = 02)
A maioria busca com a suplementação melhorar a saúde (n = 45), seguido por hipertrofia (n = 27), complementação da alimentação (n = 18), perda de peso (n = 13), performance (n = 7) e ganho de força (n = 4), entretanto, foram encontradas associações significativas apenas para o sexo, estado civil, ocupação, renda, preocupação com alimentação e número de refeições consumidas (Tabela 2). Sobre a indicação e/ou prescrição dos produtos (Gráfico 2), a maioria dos participantes (57,9%) utiliza os produtos sem orientação profissional adequada (nutricionista e/ou médico). A maioria reportou ter adquirido os produtos após pesquisa por conta própria na internet (n = 42), seguido da prescrição por nutricionista (n = 40) e afirmou perceção parcial de resultados com a utilização dos suplementos alimentares (n = 60), seguido por percepção total (n = 45), não observou resultado (n = 7) e dois participantes não recordavam. Foi encontrada associação entre eficácia e prescrição por nutricionista (x² = 41,564; p < 0,001) e ausência de efeito colateral e prescrição por nutricionista (x² = 35,636; p < 0,001), ou seja, dos 40 participantes que utilizaram com prescrição realizada por nutricionista, todos encontraram efeitos satisfatórios (n = 18) ou parcialmente satisfatórios (n = 22), e apenas um reportou perceção de efeitos colaterais. Para as demais fontes prescritoras ou indicadoras não foram encontradas associações significativas.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A maioria composta por mulheres não é uma constante em estudos realizados com este escopo (6, 7). Referente a saúde os achados reportados vão ao encontro da pesquisa de Cordeiro, Cardoso e Souza (12) que revelam uma prevalência de 78,3% dos participantes sem doença. A preocupação com a alimentação corrobora com o estudo de Oliveira, Liberali e Coutinho (13) onde a maioria (55%) relatou preocupação com a alimentação e realizam ao menos 4 refeições por dia. A prática de exercício com finalidade estética foi apontada pela maioria, diferente dos achados de Reis et al. (14) que descrevem como principal objetivo a hipertrofia muscular. A prevalência e os suplementos mais utilizados apresentam o mesmo perfil observado em outros estudos (9, 15-21) e as associações aqui descritas são corroboradas pela literatura (6, 7, 22, 23). Assumpção, Diniz e Sol (24), em estudo realizado na cidade de Sete Lagoas (MG) reforça a correlação positiva de ser solteiro e consumir suplementos alimentares, descrevendo que solteiros fazem mais uso de suplementos. Tal fato pode ser explicado pelo fato de homens solteiros se preocupam mais com aparência e estética (14). Sobre a correlação entre preocupação com alimentação e utilização de suplementos alimentares, Barros, Pinheiro e Rodrigues (25) afirmam que quanto maior a preocupação com a alimentação, maior é a utilização de suplementos alimentares. Santos et al. (27) em investigação sobre o uso de suplementos alimentares por praticantes de musculação na cidade de Barbacena (MG) concluíram que a maioria (58,8%) dos participantes alcançou o objetivo com a utilização dos suplementos e a maioria foi orientada por nutricionistas. Pereira (28) em estudo sobre a utilização de suplementos alimentares e/ou medicamentos em uma academia da cidade de Barra do Piraí (RJ) encontrou que metade dos participantes conseguiram o resultado desejado com o consumo, e a maioria não reportou efeito colateral. Uma possível limitação deve-se ao fato de mesmo utilizado previamente em outro estudo, o questionário utilizado não é um instrumento validado. Porém, como não objetivou mensurar nenhuma medida de intervenção, não compromete os resultados apresentados.
CONCLUSÕES
Conclui-se que os resultados aqui descritos estão em consonância com as demais pesquisas que investigam a prevalência de consumo de suplementos, com tendência de alto consumo de suplementos alimentares com objetivos estéticos. Esta utilização, na maioria das vezes, é realizada sem orientação profissional adequada.
Foi encontrada associação entre utilização de suplementos e sexo (homens), estado civil (solteiros), ocupação (trabalha), renda (> 3 salários mínimos), que se preocupam com alimentação e consomem poucas refeições ao dia. Também foi encontrada forte correlação entre eficácia e prescrição por nutricionistas, assim como ausência de efeitos colaterais e prescrição por nutricionista, comprovando que o profissional nutricionista é o profissional mais adequado para realizar tais prescrições. A maioria dos participantes informou perceção de resultados com a utilização, entretanto, ressalta-se que a utilização destes produtos de forma excessiva e indevida pode acarretar a vários problemas de saúde.