INTRODUÇÃO
A diabetes mellitus é definida como um conjunto de alterações metabólicas caracterizadas por hiperglicemia crónica, que ocorrem devido à destruição das células beta do pâncreas, resistência à ação e/ou distúrbios da secreção da insulina1.
A diabetes mellitus pode ser classificada nas seguintes categorias: diabetes tipo 1, diabetes tipo 2, diabetes mellitus gestacional e diabetes com origem noutras causas especificas2-3. Contudo, o estudo vai centrar-se na diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2.
A diabetes mellitus tipo 1 surge quando há destruição das células beta, levando a uma produção deficiente de insulina no organismo. A causa para este tipo de diabetes ainda não é conhecida. Os sintomas incluem: sede excessiva, micções frequentes, fome, perda de peso, alterações na visão e fadiga2-3.
A diabetes mellitus tipo 2 ocorre devido a uma alteração na secreção de insulina levando a uma resistência à insulina pelo organismo. Este tipo de diabetes é um dos mais frequentes e os sintomas são muito semelhantes à diabetes mellitus tipo I mas geralmente menos evidentes ou até mesmo ausentes2-3.
O diabetes mellitus tem-se tornado num dos mais importantes desafios de saúde pública do século XXI. Até a última década, foi subestimada, atualmente é vista como uma ameaça à saúde publica global 4.
Em 2014, a nível mundial, estimou-se que 422 milhões de pessoas adultas tinham diabetes, verificando-se um aumento relativamente a 1980 que apresentava uma prevalência de 108 milhões de pessoas. A prevalência global (padronizada por idade) de diabetes aumentou para quase o dobro desde 1980, passando de 4,7% para 8,5% nas pessoas adultas. Este aumento está associado a fatores de risco, como excesso de peso ou obesidade3.
Em Portugal, existe uma diferença estatisticamente significativa na prevalência da Diabetes entre os homens (15,9%) e as mulheres (10,9%), assim como a existência de um forte aumento da prevalência da diabetes com a idade (mais de um quarto das pessoas entre os 60-79 anos tem Diabetes) 5.
De entre os vários tipos diabetes, a diabete mellitus tipo 2 é a mais comum representando cerca de 90-95 % dos casos6. Alguns fatores de risco para este tipo de diabetes são: a genética, etnia, idade (fatores não modificáveis), o excesso de peso ou obesidade, dieta não saudável, atividade física insuficiente e tabagismo (fatores modificáveis por meio de alterações comportamentais e ambientais)3.
A atividade física regular é importante para todos, mas é especialmente relevante para pessoas com diabetes sendo considerado como adjuvante na prevenção e no tratamento7.
A atividade física inclui todos os movimentos que resultam num gasto de energia acima do nível de repouso. Já o exercício físico é um tipo de atividade que consiste em movimentos corporais programados, estruturados e sistematicamente repetitivos que têm como objetivo melhorar a preparação física6.
O exercício físico, para além de hábitos alimentares saudáveis, é uma das primeiras estratégias aconselhadas para pessoas recém-diagnosticadas com diabetes mellitus tipo 2, trazendo benefícios no que diz respeito à redução do risco de diabetes e do aumento da glicose no sangue3 sendo essencial para a redução do risco cardiovascular, a perda ou controle de peso e bem-estar geral. O exercício físico, seja aeróbico ou de resistência ou uma combinação, facilita a regulação da glicose. O exercício intervalado de alta intensidade é eficaz e tem como vantagem de ser muito eficiente em termos de tempo7.
O exercício físico regular traz ainda consideráveis benefícios para a saúde das pessoas com diabetes mellitus tipo 1 especificamente, a nível cardiovascular, força muscular e sensibilidade á insulina.6.
O exercício aeróbio consiste num tipo de exercício que engloba movimentos contínuos e rítmicos de grandes grupos musculares, como caminhar, correr e andar de bicicleta. (8 Este tem impacto a nível do aumento da densidade mitocondrial, sensibilidade à insulina, enzimas oxidativas, reatividade dos vasos sanguíneos, função pulmonar, função imunitária e débito cardíaco. Na diabetes mellitus tipo 1, o exercício aeróbio aumenta a aptidão cardiorrespiratória, diminui a resistência à insulina e melhora os níveis lipídicos e a função endotelial6, já em pessoas com diabetes mellitus tipo 2, melhora o controlo da glicémia, sensibilidade à insulina, capacidade oxidativa e importantes parâmetros metabólicos relacionados8.
O exercício de resistência é sinónimo de treino de força e engloba movimentos com recurso a pesos livres, aparelhos de musculação, exercícios de peso corporal ou bandas de resistência elástica8. A nível da diebetes mellitus tipo 1 o exercício de resistência no controle da glicémia capilar não está bem definido, no entanto pode ajudar a minimizar o risco de hipoglicémia induzida pelo exercício físico6. Nas pessoas com diabetes mellitus tipo 2 o exercício de resistência traz ganhos nomeadamente a nível da força, densidade mineral óssea, pressão arterial, perfil lipídico, saúde cardiovascular, sensibilidade à insulina e massa muscular8.
Em relação aos exercícios de mobilidade e equilíbrio estes têm maior relevância em idosos com diabetes. A mobilidade articular limitada que frequentemente se observa nesta população, resulta em parte da formação de produtos finais de glicosilação avançada, que se acumulam durante o envelhecimento normal e são acelerados pela hiperglicemia6.
Os exercícios de alongamento contribuem para o aumento da mobilidade, mas não afetam o controle glicémico, enquanto que exercícios de equilíbrio podem reduzir o risco de quedas6.
O enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação possui conhecimentos e competências especializadas, intervindo de forma individual e singular, tendo em conta as necessidades, características, capacidades e tolerância de cada pessoa9.
Tem também como competência monitorizar e implementar programas de reabilitação, avaliando e efetuando os ajustes necessários no processo de prestação de cuidados. Desta forma possibilita melhorar a qualidade de vida, através da melhoria da funcionalidade e da autonomia, envolvendo dimensão física social e emocional9. Com esta revisão sistemática da literatura pretende-se identificar: “Quais os benefícios do Exercício Físico na Pessoa com Diabetes?”. Foi escolhido pela sua prevalência atual que lhe confere especial importância na área de atuação do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Reabilitação.
Assim, a presente revisão sistemática da literatura (RSL) tem como objetivo avaliar os efeitos do exercício físico em pessoas com diabetes.
MATERIAL E MÉTODOS
A Investigação em Enfermagem é um método sistemático, científico e rigoroso que busca o desenvolvimento e aprofundamento do conhecimento nesta área, procurando responder a questões ou soluções para problemas em prol do benefício da pessoa, família e comunidade10.
As investigações científicas na área da enfermagem têm vindo a aumentar, especialmente as pesquisas clínicas, com métodos bem delineados e forte grau de evidência, a fim de sustentar a prática baseada na evidência (PBE)11.
A RSL é uma metodologia científica que possibilita identificar, avaliar e abreviar os estudos realizados por investigadores, académicos e profissionais de saúde. O ponto de partida é uma questão bem delineada e formulada recorrendo a métodos sistemáticos e claros, permitindo também recolher e analisar os dados dos estudos que se incluíram na revisão 12-13. Para uma análise de toda a evidencia disponível é fundamental seguir as seguintes etapas: definir de forma clara os objetivos tendo em conta os critérios de elegibilidade; metodologia explícita e reprodutível, pesquisa sistemática que evidencie que todos os estudos cumpram os critérios de elegibilidade; avaliação da autenticidade dos resultados dos estudos incluídos 12-13.
A questão de investigação deste estudo foi conduzida através do método PICO - Participant (Tipo de Participantes); Intervention (Tipo de Intervenção); Comparasion (comparação); Outcomes (Tipo de Resultados), como se pode verificar na tabela nº1.
Participantes (P) | Pessoa com Diabetes |
Intervenção (I) | Exercício físico |
Comparação (C) | Pessoas com diabetes que não praticam exercício físico |
Resultados (O) | Benefícios para a saúde (ex. bem-estar, qualidade de vida…) |
Posto isto, definiu-se para a presente Revisão Sistemática da Literatura, a seguinte questão de investigação: “Quais os benefícios do Exercício Físico na Pessoa com Diabetes?”.
A pesquisa para a revisão sistemática da literatura definiu-se em função da questão de investigação, dos descritores relacionados com cada uma das componentes da estratégia PICO e palavras chave conforme tabela nº 2. Os descritores foram validados previamente na plataforma Descritores em Ciências da Saúde e Medical Subject Headings.
Critérios | Questões de Partida | Descritores | Palavras Chave |
---|---|---|---|
Participantes (P) | Pessoa com diabetes | Diabetes | |
Intervenção (I) | Exercício Físico | Exercício Físico Enfermagem Reabilitação | Frequência do exercício, Intensidade, Duração, Modalidade, Tipo Exercício |
Comparação (C) | Diabéticos que não praticam exercício | ||
Resultados (O) | Benefícios para a saúde | Glicemia Qualidade de vida |
A investigação decorreu no mês de novembro 2018 através de duas pesquisas independentes. Tendo como base os descritores já referidos realizou-se a pesquisa nas plataformas de bases de dados eletrónicas: EBESCO host, Medline e Biblioteca Virtual em Saúde.
Atendendo à especificidade do tema e ao grande número de estudos/artigos encontrados foi necessário definir critérios de inclusão e exclusão (tabela nº3) de forma a ajudar na seleção dos estudos/artigos relevantes para o desenvolvimento da temática em questão.
Critérios Elegibilidade | Critérios Inclusão | Critérios Exclusão |
---|---|---|
Participantes (P) | Pessoa com diabetes | Pessoa com outra patologia |
Intervenção (I) | Exercício Físico | |
Desenho do(s) Estudo(s) | Estudo experimental aleatório controlado | Revisão Sistemática Literatura, Outros estudos quantitativos e estudos Qualitativos |
Período de Publicação | Artigo publicado entre 2014 e 2018 | |
Língua em que está publicado | Artigo publicado em Português, Inglês e Espanhol | |
Disponibilidade do Artigo | Artigo Completo e de acesso livre | Artigo Incompleto ou que implique custos |
Do processo de pesquisa bibliográfica realizada, com esta metodologia, obtivemos 1039 artigos para a seleção inicial. Destes, 910 foram rejeitados pelo título ou pelo assunto e 30 pelo resumo. Dos 18 resultantes, 7 foram excluídos após análise do texto integral, dado não cumprirem os critérios de inclusão definidos, tendo sido o resultado final de 10 artigos incluídos que preencheram os critérios de inclusão.
A Tabela 4 descreve o processo de conjugação dos descritores e palavras-chave para a pesquisa nas bases de dados. A Figura 1 ilustra o fluxograma PRISMA14correspondente à identificação, análise, seleção e inclusão dos artigos.
Conjugação booleana | Medline | BVS | EBSCOhost |
---|---|---|---|
((exercise)OR(physical activity))AND(diabetes) | 605 | 67 | |
((Physical activity) OR (Exercise)) AND (Diabetes) | 369 | ||
Total de artigos | 1039 |
Os artigos selecionados para leitura completa foram avaliados por dois investigadores de forma independente, tendo em consideração os critérios de qualidade metodológica, propostos pelo JBI, Assessment and Review of Information, 15 tendo sido selecionados os artigos com mais de 75% dos critérios.
Foi extraida informação dos artigos sobre autores, ano, país, amostra, dados sobre o exercício físico (modalidade, frequência, intensidade, volume e duração), conclusões e nível de evidência. Os níveis de evidência dos estudos incluídos foram classificados de acordo com os critérios da Registered Nurses Association of Ontario como se pode ver seguidamente: Ib-Evidência determinada a partir de pelo menos um estudo aleatório controlado16-17 .
RESULTADOS
Nesta RSL foram publicados 9 artigos nos seguintes anos: 201420-21,23, 201519, 201624 e 201718,22,25-26. A amostra de pessoas com diabetes que foi sujeita a intervenção variou entre 1218 e 53626. O grupo de controlo variou entre 518 e 14926. Todos os estudos incluídos (Tabela 5) são estudos experimentais, com nível de evidência Ib isto é, evidência obtida a partir de um estudo bem desenhado e através de pelo menos um estudo aleatório controlado15 sendo portanto uma mais valia para esta RSL.
Autor, ano, país | Participantes | Objetivo | Intervenção | Resultados | Nível de evidência |
---|---|---|---|---|---|
Asuako,Benjamim; et al 18
2017 Gana |
12 pessoas com diabetes atendidos na unidade diabética do KATH com diagnóstico de diabetes há menos de cinquenta anos, estado ambulatorial / idade de 20 a 68 anos, sedentários e livres de complicações. 7 pessoas no grupo de intervenção (GI) 5 pessoas no grupo controle (GC) |
Avaliar os efeitos do exercício físico aeróbico sobre a glicose plasmática em jejum e perfis lipídicos (FPG / LP) de pessoas com diabetes | Oito semanas de treinamento aeróbico entre agosto de 2015 e março de 2016 Durante 8 semanas: entre agosto de 2015 e março de 2016 Modalidade: Caminhada sem recurso a passadeira Tipo Exercício: aeróbico Frequência do exercício:3 vezes/ semana Intensidade: moderada Volume exercício: Não definido Duração:45 min Grupo Controlo: não desenvolveram nenhuma atividade física |
- Perda de peso corporal de 4,85 kg (7,0%) - Redução de 4,08kg / m 2 (7,3%) no IMC A FPG reduziu em 43,5% (5,28mmol / l) após oito semanas de treino com exercícios aeróbicos comparativamente com o grupo controle - Descida de valores nos perfis de LDL-C (0,33mmol / l, 11,9%), CT (0,47mmol / l, 5,3%) e T (0,48mmol / l, 29,4%) dos pacientes do IG e aumento do HDL- CC (0,16mmol / l, 7,1%) |
Nivel Ib Estudo aleatório e controlado |
Parra-Sánchez, J; et al 19
(2015) Espanha |
100 participantes com diabetes tipo 2 Idade entre os 65 e 80 anos, sedentários 50% grupo controle (GI) e 50% grupo intervenção (GC). |
Analisar se um programa de exercícios pode modificar a hemoglobina glicada (HbA1c), pressão arterial (PA), índice de massa corporal (IMC), lipídios, perfil de risco cardiovascular (RVC), autopercepção do estado de saúde (SHS) e gasto farmacêutico (EP ). | Durante 3mesesAtenção Primária: 2 áreas rurais de saúde. Área de Saúde de Navalmoral. Cáceres. Extremadura. Espanha Modalidade: Não definido Tipo exercício: aeróbico controlado Frequência do exercício: 2 vezes / semana Intensidade: Não definido Volume exercício: Não definido Duração: 50 min Grupo Controlo: não desenvolveram nenhuma atividade física |
Diminuição significativa em; HbA1c: 0,2 ± 0,4% (IC 95%: 0,1 a 0,3); PA sistólica: 11,8 ± 8,5 mmHg (IC 95%: 5,1 a 11,9), IMC: 0,5 ± 1 (IC 95%: 0,2 a 0,8); Colesterol total : 14 ± 28,2mg / dl (IC 95%: 5,9 a 22,2); LDL: 18,3 ± 28,2mg / dl IC 95%: 10,2 a 26,3), RVC: 6,7 ± 7,7% (IC 95%: 4,5 a 8,9), EP: 3,9 ± 10,2 € (IC 95%: 0,9 a 6,8) e Aumento de SHS: 4,7 ± 5,7 (IC 95%: 3 a 6,3). |
Nível Ib Estudo aleatório e controlado, cego. |
Dixit,Shenil ;et al20
2014 India |
87 Pessoas com diabetes tipo 2 com neuropatia diabética 47 pessoas no grupo controle com idade média de 59.45 anos 40 pessoas no grupo intervenção com idade média de 54,4 anos |
Avaliar o efeito do exercício aeróbio de intensidade moderada de 8 semanas (40-60% da frequência cardíaca) sobre a qualidade de vida da neuropatia no diabetes tipo 2. |
O estudo foi realizado em um ambiente terciário em Karnataka, Índia, de outubro de 2009 a dezembro de 201 Durante 8 semanas: entre outubro de 2009 e dezembro de 2012 Modalidade: passadeira Tipo de exercício: aeróbio Intensidade: moderada Frequência do exercício: 5 a 6 dias /semana Volume: Não definido Duração: mínimo 150min/semana e máximo 360 min/semana Grupo Controlo: não desenvolveram nenhuma atividade física |
Na comparação dos resultados do controle e do grupo de estudo de RANOV : Sem alterações significativas: - nos valores médios das medidas antropométricas utilizando RANOVA (p <0,05) - (p <0,05) nos valores médios do controle glicémico Com alterações significativas:Diferença significativa: - (p < 0,05) nos valores médios de MDNS -(p <0,05) nas medidas de qualidade de vida -(p <0,05) nos valores médios da velocidade de condução do segmento distal do nervo fibular (df = 1, 62, F = 5,14 ep = 0,03) e do nervo sensorial sural (df = 1, 60, F = 10,16 e p \ 0,001)- para as velocidades de condução nervosa em dois grupos, houve diferença significativa entre ambos os grupos (p <0,05) |
Nível Ib Estudo aleatório e controlado |
Taylor, J.; et al 2014 21 Arkansas |
21 pessoas com diabetes tipo 2 com idades entre os 18 e 69 anos 10 pessoas no grupo de treino de exercício de intensidade moderada (grupo MOD) 11 pessoas no grupo de treino de exercício de alta intensidade (grupo HIGH). |
Investigar os efeitos do exercício físico moderado versus de alta intensidade sobre aptidão e condição física em pessoas com diabetes tipo 2. |
De setembro de 2011 a agosto de 2012. Grupo MOD: Treino aeróbio Modalidade: passadeira Tipo de exercício: aeróbio Intensidade: 30% a 45% de reserva da FC Frequência do exercício: 3 vezes/semana Volume: Não definido Duração: 20min Treino Resistência Modalidade: máquinas resistência e pesos Tipo exercício: resistência Intensidade: 75% das 8-RM Frequência do exercício: 2 vezes/semana Volume: 4 series de 8 repetições Duração: Não definido Grupo HIGH Treino aeróbio Modalidade: passadeira Tipo de exercício: aeróbio Intensidade: 50% a 65% de reserva da FC Frequência do exercício: 3 vezes/semana Volume: Não definido Duração: 20 min Treino Resistência Modalidade: máquinas resistência e pesos Tipo exercício: resistência Intensidade: 100% das 8-RM Frequência do exercício: 2 vezes/semana Volume: 4 series de 8 repetições Duração: - Não definido |
Níveis médios de glicose antes após o exercício e após 1 hora após o exercício Grupo MOD 204,5 mg / dL (DP 92,3), 181,1 mg / dL (SD 84,2) e 172,0 mg / dL (SD 81,3 ) Grupo HIGH 140,0 mg / d SD 34,4), 109,8 mg / dL (SD 17,9) e 118,5 mg / dL (SD 33,2). Diferenças pouco significativa (mas com melhorias) entre grupos em relação a: capacidade de exercício, força muscular e condição física |
Nível Ib Estudo aleatório e controlado |
Karimi, Hossein, et al 22
2017 Paquistão |
102 participantes Grupo experimental (n = 51) com média de idade de 53,74 ± 8,75 anos Grupo controle (n = 51) com média de idade de 55,08 ± 7,67 anos |
Determinar os efeitos do programa de treinamento físico aeróbico estruturado supervisionado (SSAET) sobre a interleucina-6 (IL-6), óxido nítrico sintase 1 (NOS-1) e ciclooxigenase-2 (COX-2) no diabetes tipo 2. | Durante 25 semanas De janeiro de 2015 a junho de 2016. SSAET combinado com medicação de rotina e plano de dieta foi aplicado no grupo experimental Grupo controle tratado com medicação de rotina e plano de dieta Modalidade: passadeira Tipo de exercício: aeróbio Intensidade: Não definido Frequência do exercício: Não definido Volume: Não definido Duração: 30 min na primeira semana aumentando 30 min a cada semana num total 4 semanas |
O programa SSAET, medicação de rotina e plano alimentar melhoram os valores de IL-6 no grupo experimental, em comparação com grupo controle controlado por medicação de rotina e plano alimentar, onde foi observada deterioração na IL-6 . |
Nível Ib Estudo aleatório e controlado |
Schreuder, TH; et al 23
2014 Inglaterra e Holanda |
15 pessoas do sexo masculino com diagnóstico de diabetes tipo 2 há pelo menos 2 anos -Exercício físico com bloqueador duplo (EX-ET) - Exercício físico com placebo (EX + placebo) |
Avaliar aptidão física em pessoas com diabetes tipo 2 |
Durante 8 semanas. Todos participantes preencheram um questionário sobre o seu médico e uso de medicação. Todos os individuos foram submetidos aos mesmos exercícios: Modalidade: Bicicleta e máquinas com resistência Tipo exercício: aeróbio e circuito de exercícios de resistência Frequência:3 vezes por semana Intensidade: moderada Volume: Não definido Duração: 60 minutos |
Não foi encontrado efeito da intervenção de 8 semanas na homeostase da glicose. |
Nível Ib Estudo aleatório e controlado |
Leehey, DJ; et al 2016 24 USA |
36 pacientes do sexo masculino Idade entre os 49-81 Grupos: - Exercício + gestão da dieta (n = 18) - Dieta sozinho (n = 18). |
Determinar os efeitos do exercício estruturado aptidão física, função renal, função endotelial, inflamação, e composição corporal nesses pacientes. |
Durante 12 semanas Grupo Exercício + gestão dieta Modalidade: passadeira Tipo Exercício: Aeróbico e Resistência Frequência: 3 vezes por semana Intensidade: Não definido Volume: Não definido Duração: Não definido Grupo Controlo: apenas a dieta, sem exercício físico |
Sem alterações significativas na: - taxa de albumina na urina para creatinina, - taxa de filtração glomerular estimada, - função endotelial, inflamação ou composição corporal entre os grupos. O exercício controlado melhorou a capacidade de exercício na pessoa diabética obesa com DRC mas não a composição corporal ou a função renal. |
Nível Ib Estudo aleatório e controlado |
Otten,Julia; et al25
2017 Suécia |
32 pessoas com diabetes tipo 2 (idade 59 ± 8 anos) seguiram uma dieta paleolítica por 12 semanas. 2 grupos: Dieta paleolítica e recomendações de exercício de cuidados padrão (DP) Dieta paleolítica com sessões de exercício supervisionado de 1 h três vezes por semana (PD-EX) |
Avaliar os feitos de uma dieta paleolítica com e sem exercício supervisionado sobre a massa gorda, sensibilidade à insulina e controle glicêmico | Grupo (DP) Modalidade: caminhada rápida Tipo Exercício: aeróbio Frequência: diário Intensidade: moderada Volume: Não definido Duração: 30 minutos Grupo (PD-EX) Modalidade: caminhada rápida, sprints,leg press, extensões de pernas sentadas, flexões de pernas, elevações de quadril, supinos planos e inclinados, fileiras sentadas, fileiras de haltere, pull-downs lat ombro levanta, extensões de volta, burpees, sit-ups, step-ups e tiros de bola de parede Tipo Exercício: aeróbio e de resistência Frequência: 3 vezes/semana Intensidade: moderada Volume: no treino resistência 10 a 15 repetições cada exercício 2 a 4 séries Duração:60min |
Diminuição: - Massa de gordura :5,7 kg (IQR: -6,6, -4,1; p <0,001); - da Leptina em 62% ( p<0,001); - Pressão Arterial - Triglicéridos - HbA 1C em 0,9% (-1,2, -0,6; p <0,001); Melhoria: - Sensibilidade à insulina e controle glicémico - Participantes sexo masculino diminuíram a massa magra em 2,6 kg |
Nivel IB Estudo aleatório e controlado |
Vlaar MA, et al 26 (2017) Holanda |
536 sul-asiáticos de 18 a 60 anos com risco para diabetes Grupo intervenção (n = 283): entrevista motivacional, sessão familiar, aulas culinária, programa de atividade física supervisionada Grupo controle (n = 253)- receberam concelhos genéricos de estilo vida |
Investigar a eficácia de uma intervenção intensiva culturalmente direcionada ao estilo de vida para prevenir DM2 e fatores de risco cardiovascular entre Surinameses do Sul da Ásia na atenção primária. | De 18 de maio de 2009 e 11 de outubro de 2010 Grupo Intervenção: Modalidade: Qualquer atividade física; Tipo Exercício: Não definido Intensidade: Moderada a Intensa Frequência: - Não definido Intensidade: Não definido Volume: - Não definido Duração: Não definido Grupo Controlo: receberam diretrizes atuais para dieta e atividade física |
Uma intervenção de estilo de vida culturalmente direcionada na atenção primária não alterou o comportamento alimentar e a atividade física de um grupo de pessoas do sul da Ásia sob risco de diabetes tipo 2 | Ib Estudo aleatório e controlado |
DISCUSSÃO
As modalidades de exercício físico mais aplicadas nos estudos abordados foram: a caminhada 18,20-21,23-24 máquinas de resistência e peso livre 22,25 e bicicleta24. O tipo de exercício físico recomendado para a pessoa diabética vai depender de alguns fatores nomeadamente a sua condição física basal, preferências, meios disponíveis ou presença de limitações físicas19.
Os estudos analisados recorreram essencialmente a exercícios aeróbios com a exceção de 22-25 que combinaram exercícios aeróbios e de resistência. Alguns estudos realizados referem que a combinação de exercício físico aeróbico em complemento com treino de resistência pode ser melhor que qualquer um deles separadamente 20.
A frequência do exercício evidenciada nos estudos variou entre 2 vezes por semana19 e 5 a 6 vezes por semana20 e teve uma duração entre os 30 minutos22 e os 60 minutos24-25 por cada sessão de exercício. A frequência mínima de exercício recomendada pela American Diabetes Association é de 150 minutos por semana de exercício físico aeróbio moderado ao longo de pelo menos três dias para a semana; já a Sociedade Espanhola de Diabetes recomenda sessões de exercício com a duração de pelo menos 45 minutos, três vezes por semana, divididas em pré-aquecimento, fase principal e por fim o relaxamento20.
A intensidade do exercício não foi avaliada de igual forma nos artigos analisados e nem todos faziam referência a este parâmetro. Asuako e colaboradores(18) avaliaram a intensidade recorrendo à frequência cardíaca máxima, valor este obtido através de um oxímetro de pulso versão 803, China, colocado aquando do exercício e através da aplicação online Pace Calculator.
Nos estudos realizados por Dixit e colaboradores20 e Taylor e colaboradores21, a intensidade do exercício foi avaliada com recurso a fórmula de Karvonen (Frequência cardíaca treino = Frequência cardíaca Repouso +(Intensidade) x (Frequência cardíaca máxima - Frequência Cardíaca em repouso). Dixit e colaboradores20 recorreram a monitor de frequência cardíaca (Polar Electro Oy, Kempele, Finlândia) e usaram-no para monitorizar a frequência cardíaca continuamente durante o exercício aeróbico.
De salientar que nos estudos analisados nem sempre a caracterização do exercício estava completa (modalidade, tipo exercício, frequência, intensidade, volume e duração) o que limitou a análise limitando de alguma forma a generalização dos resultados.
Na análise realizada, apenas dois artigos combinaram o estudo do exercício com um tipo de dieta específica25-26.
Otten e colaboraores 25 combinaram o exercício físico com dieta paleolítica, dieta esta baseada no consumo de carne magra, peixe, frutos do mar, ovos, legumes, frutas, frutas vermelhas e nozes e excluindo cereais, produtos lácteos, leguminosas, gorduras refinadas, açúcares refinados e sal. Em estudos já realizados anteriormente a dieta Paleolítica teve efeitos metabólicos benéficos sobre a obesidade e no tipo de diabetes25.
Vlaar e colaboradores26combinaram o exercício físico com a dieta saudável baseadas nas diretrizes alimentares nacionais do sul da Asia e que inclui 2 pedaços de fruta/dia, vegetais (200g/dia), trigo integral (exclusivamente produtos de trigo integral), arroz (unicamente arroz integral) e 3 refeições por dia/horário regular.
Na análise dos artigos, verificamos que existem ganhos importantes na saúde da pessoa com diabetes associada à prática de exercício físico. As variáveis mais utilizados na maioria dos estudos e que evidenciam esses ganhos foram a glicose20, a HbA1c19-25, o peso corporal18-25 e o colesterol18-19.O exercício físico controlado está associado a valores da hemoglobina glicosada mais controlados e menor risco cardiovascular, melhorando também o estado de saúde psicossocial e diminuindo os gastos farmacêuticos 19.
Implicações Práticas
O exercício físico tem um efeito positivo na saúde da pessoa diabética, contudo, o tipo de exercícios, duração, frequência e intensidade para utilizar na redução da glicemia devem ser clarificados em futuros estudos experimentais.
O sedentarismo e a obesidade na pessoa com diabetes, são fatores, que marcam a aptidão física. Neste sentido, enfermeiros, médicos e outros cuidadores devem promover um maior incentivo e acompanhamento (inter e extra-hospitalar) de modo a melhorar a adesão destas pessoas à atividade física em geral e ao exercício físico em particular. Salientando-se que a atividade física é definida como qualquer movimento corporal produzido pela contração muscular que resulte num gasto energético acima do nível de repouso e o exercício físico é caraterizado por movimentos corporais planeados, organizados e repetidos, tendo como objetivo, manter ou melhorar uma ou mais componentes da aptidão física27.
A Enfermagem de Reabilitação pode ter um papel determinante no aumento da prática de exercício físico em pessoa com diabetes. E os enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação devem participar na produção de evidências neste âmbito, participar nas tomadas de decisões relacionadas com a saúde, assim como na construção de políticas de saúde que visem a adoção de estilos de vida saudáveis relacionados com a prática de exercício físico em pessoas com diabetes.
Limitações do estudo
Os estudos que integraram esta RSL apresentaram algumas limitações, nomeadamente: o tamanho reduzido da amostra, limitando a generalização dos resultados, nem todos os artigos analisados caracterizavam o exercício físico e os que o faziam, não abordavam todos os critérios, especificamente, frequência, volume, duração e intensidade. Relativamente à intensidade, poucos estudos recorreram a escalas para descrever a intensidade como baixa, moderada ou vigorosa, o que torna esta avaliação pouco objetiva. Além disso, existe uma parca produção científica sobre este tema, o que foi um obstáculo à realização desta RSL. Por fim, refere-se o número reduzido de bases de dados acedidas assim como à língua e horizonte temporal utilizado, que pode contribuir para o reduzido número de estudos identificados e incluídos na última etapa.
CONCLUSÃO
Com esta RSL e após a análise dos 9 estudos, podemos concluir que o exercício físico traz benefícios na pessoa com diabetes nomeadamente a nível da redução da glicose plasmática em jejum, valores da hemoglobina glicosada, redução do peso corporal e colesterol, assim como melhorar a qualidade de vida da pessoa.
Este estudo permitiu aumentar o conhecimento em enfermagem de reabilitação, bem como, contribuir para avaliar os benefícios do exercício físico estruturado na pessoa com diabetes. No entanto, verificaram-se lacunas na descrição dos exercícios ao nível da modalidade, frequência, intensidade, volume, duração e progressão. Recomendam-se mais estudos, com amostra mais robustas, onde sejam descritas de forma mais objetiva as intervenções no âmbito do exercício físico, assim como, os instrumentos de avaliação que permitam não só definir a intensidade do exercício, como demonstrar os ganhos sensíveis à prescrição de exercício realizada por enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação.