Introdução
A Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono Posicional (SAOS-P) é um subtipo de SAOS que engloba os doentes cujo as apneias e hipopneias tendem a ocorrer com maior frequência em certas posições do sono, principalmente na posição supina1. Desde 1984 que têm surgido diversas definições de SAOS-P, embora nenhuma seja amplamente aceite na comunidade científica. O primeiro autor a caracterizar mais extensivamente a SAOS-P foi Cartwright, que a definiu como os doentes com SAOS que tinham pelo menos o dobro do Índice de Apneia/Hipopneia (IAH) em posição supina relativamente à posição não supina2. Embora seja uma das primeiras definições, esta continua a ser uma das mais utilizadas em diversos centros. Mais recentemente, Levendowski et al, introduziu a definição de SAOS-P como um IAH pelo menos 1,5 vezes o IAH em posição não supina3, e em 2015, Frank et al, numa tentativa de melhor identificar os candidatos a terapêutica com posicionadores, desenvolveu a classificação Amsterdan Positional OSA Classification (APOC), que implica diagnóstico de SAOS pelos critérios da American Academy of Sleep Medicine (AASM) e pelo menos 10% do tempo na melhor e pior posição de sono, dividindo-se depois em 3 categorias: APOC I quando o IAH na melhor posição de sono é inferior a 5; APOC II quando o IAH na melhor posição de sono é de menor gravidade que na pior posição de sono e APOC III quando o IAH é de pelo menos 40 e há uma redução de pelo menos 25% na melhor posição de sono 4,5.
A prevalência de SAOS-P é estimada entre 53 e 77,4% dos doentes com SAOS sendo esta variabilidade justificada pelo desenho dos estudos, etnicidade dos doentes e utilização de diferentes definições de SAOS-P. Os doentes com SAOS-P apresentam predominantemente SAOS ligeiro a moderado e são maioritariamente homens mais jovens, com menor IMC, com menos sintomas, menos comorbilidades, menor perímetro cervical e abdominal e menor pontuação nos questionários de Berlim, STOP-BANG e Escala de Sonolência de Epworth em relação aos doentes com SAOS não posicional1,6. Os principais mecanismos associados com a SAOS-P são provavelmente uma combinação de geometria da via aérea superior inadequada, com aumento da probabilidade de colapso, volume pulmonar reduzido e falha na compensação gerada pelos músculos dilatadores da via aérea7.
Embora a terapêutica com CPAP (pressão positiva contínua da via aérea) continue a ser o gold standard do tratamento da SAOS, a taxa de aderência à mesma continua relativamente baixa por parte dos doentes8. Nesse sentido, a identificação de doentes com SAOS-P assume uma importância clínica decisiva uma vez que estes podem beneficiar de terapêutica com a nova geração de posicionadores9.
O presente estudo teve como objetivo comparar sistematicamente a prevalência de SAOS-P em doentes adultos diagnosticados com SAOS com base em diferentes definições e identificar os principais fatores independentemente associados com SAOS-P e SAOS-P exclusiva (SAOS-Pe).
Material e Métodos
Estudo retrospetivo com análise do registo das PSG tipo 3 realizadas entre janeiro de 2020 e dezembro 2021 no Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Garcia de Orta - Centro de Responsabilidade Integrada.
Foram incluídos os registos de PSG de doentes com idade igual ou superior a 18 anos, tempo total do registo superior 4 horas e IAH maior ou igual a 5. Os doentes com registo de sinal de fluxo nasal inferior a 85% do tempo total ou com falhas no sensor de posição foram excluídos.
Foi utilizado um aparelho NOX T3® em todos as PSG, com 6 canais: sensor de fluxo nasal, oximetria de pulso, bandas torácicas e abdominais, sensor de posição e microfone. Os traçados obtidos foram automaticamente analisados recorrendo ao software Noxturnal da Nox Medical® e revistos manualmente segundo os critérios da AASM de 201810. As apneias foram definidas como uma diminuição de pelo menos 90% no sensor de fluxo nasal e as hipopneias como uma diminuição de pelo menos 30% no sensor de fluxo nasal associado a dessaturação de oxigénio de pelo menos 3%, ambos com duração igual ou superior a 10 segundos.
Foram analisadas as variáveis: idade, género, IMC, tempo em posição supina e em posição não supina, IAH, IAH em posição supina e não supina, índice de dessaturação de oxigénio (IDO), IDO em posição supina e não supina, média da queda de dessaturação (MQD) total, em posição supina e não supina, roncopatia, roncopatia em posição supina e não supina. A SAOS-P foi caracterizada utilizando os critérios de APOC e a SAOS-Pe foi definida como APOC I, uma vez que nos critérios de Cartwright a ausência de indicação de tempo mínimo nas várias posições de sono pode facilmente gerar falsos positivos, ou seja, doentes que dormem mais de 90% da noite em posição supina, com IAH acima de 5 eventos/h, e que no restante tempo, por ser muito diminuto, numa posição não supina, apresentem um IAH muito reduzido, preenchendo sem dificuldade o critério do dobro de IAH em posição supina relativamente à posição não supina.
Os dados quantitativos foram descritos através da mediana e intervalo interquartil, e os dados categóricos, por frequências e percentagens. A análise estatística foi efetuada com recurso ao software SPSS® (Statistical Package for the Social Sciences - IBM Corp. Released 2017, IBM SPSS Statistics for Windows, Version 25.0. Armonk, NY: IBM Corp.) para Microsoft Windows®. Recorreu-se ao teste de Mann-Whitney U e ao teste de Chi-quadrado. Foi ainda realizada uma regressão logística binominal para determinar os fatores preditivos mais significantes da dependência posicional. Um valor de p≤0.05 foi considerado estatisticamente significativo.
Resultados
Dos 372 doentes que realizaram PSG tipo 3 entre 2020 e 2021, foram incluídos no estudo 245, sendo os restantes 127 excluídos após aplicação dos critérios de exclusão. Verificou-se uma idade média de 57(±20) anos e 159 doentes (64,9%), eram do género masculino. A maioria apresentava excesso de peso ou obesidade (mediana IMC 29,4±6,3kg/m2) e, como demonstrado pelo Gráfico 1, foram maioritariamente classificados como SAOS ligeiro (mediana de IAH de 17,8 eventos/h ± 21,3, com uma variação entre 5,1 e 110,8).
A mediana de IDO foi de 19 ± 21,5 eventos/h e a mediana da MQD foi de 4,6% ± 1,6. Quando ajustado à posição do doente, o IAH, IDO e a MQD foram mais elevados na posição supina (Tabela 1), apesar da mediana do tempo em posição supina ser menor (65,8% ± 37,3).
Quanto à roncopatia, verificou-se a sua presença em 14,3% ± 29 do tempo dos exames e sobretudo na posição não supina (13,7% ± 35).
A Tabela 1 resume a caracterização da amostra.
Mediana (AIQ) | Min-max | |
Homens (n(%)) | 159 (64,9%) | - |
Idade (anos) | 57 ± 20 | 20-91 |
IMC (kg/m2) | 29.4 ± 6,3 | 20.5 - 58.7 |
Tempo supino (%) | 34.2 ± 37.5 | 0.2 - 100 |
Tempo não supino (%) | 65.8 ± 37.3 | 0 - 99.7 |
IAH | 17.8 ± 21.3 | 5.1 - 110.8 |
IAH supino | 30.9 ± 36.2 | 0 - 122.4 |
IAH não supino | 9.9 ± 16 | 0 - 109.5 |
IDO | 19 ± 21.5 | 5 - 129.3 |
IDO supino | 31.2 ± 33.7 | 0 - 126.1 |
IDO não supino | 12.4 ± 19.6 | 0 - 129.7 |
Média queda dessaturação (%) | 4.6 ± 1.6 | 3.2 - 18.7 |
Média queda dessaturação supino (%) | 4.2 ± 2.2 | 0 - 17.1 |
Média queda dessaturação não supino (%) | 3.9 ± 1.1 | 0 - 19.9 |
Roncopatia (%) | 14.3 ± 29 | 0 - 74.7 |
Roncopatia supino (%) | 8.7 ± 22.8 | 0 - 74.9 |
Roncopatia não supino (%) | 13.7 ± 35 | 0 - 82.6 |
Dos 245 doentes incluídos, 136 (55,5%) foram classificados como SAOS-P de acordo com os critérios de APOC e 52 (21,2%) foram classificados como SAOS-Pe, o que representa 38% da SAOS-P pelos critérios de APOC. A prevalência de SAOS-P e SAOS-Pe de acordo com o grau de SAOS é demonstrada no Gráfico 2. A prevalência de SAOS-P diminui de 43% na SAOS ligeira para 22% na SAOS grave, enquanto a prevalência de SAOS-Pe diminui de 71% na SAOS ligeira para 4% na SAOS grave.
Quando comparados com doentes com SAOS não posicional (SAOS-NP), os doentes com SAOS-P apresentam menor IMC, dormem menos tempo na posição não supina, e têm IAH, IDO e tempo de roncopatia menores. Por outro lado, apresentam maior MQD em posição supina e dormem mais tempo em posição supina (Tabela 2).
SAOS-P (Cartwright) | SAOS-NP | Valor P | SAOS-P (APOC) | SAOS-NP | Valor P | |
N | 159 | 86 | 136 | 109 | ||
Homens (n(%)) | 110 (69.2%) | 49 (57%) | 0.056 | 91 (66.9%) | 68 (62.4%) | 0.056 |
Idade (anos) | 55 ± 21 | 60 ± 18 | 0.011 | 56 ± 20 | 58 ± 20 | 0.559 |
IMC (kg/m2) | 28.4 ± 5.3 | 32.4 ± 8.4 | <0.001 | 28.15 ± 5.8 | 31 ± 7.3 | <0.001 |
Tempo supino (%) | 39.7 ± 37.4 | 27.85 ± 39.5 | 0.12 | 42.7 ± 30.2 | 21.6 ± 44.9 | <0.001 |
Tempo não supino (%) | 60.3 ± 37.4 | 72.15 ± 39.5 | 0.011 | 57.3 ± 30.2 | 77.2 ± 44.8 | <0.001 |
IAH | 15.9 ± 15.1 | 24.25 ± 41.1 | 0.001 | 16.85 ± 14.3 | 20.2 ± 37.4 | 0.026 |
IAH supino | 32.2 ± 32 | 20.1 ± 39.7 | 0.001 | 31.2 ± 23.6 | 30 ± 53 | 0.575 |
IAH não supino | 7.1 ± 9 | 25 ± 31.7 | <0.001 | 7.1 ± 9.2 | 17.5 ± 31 | <0.001 |
IDO | 16.6 ± 15.8 | 26.05 ± 39.2 | <0.001 | 17.35 ± 14.4 | 24.4 ± 37.3 | 0.001 |
IDO supino | 32.3 ± 30.5 | 26.55 ± 40.8 | 0.084 | 31.05 ± 24.4 | 31.2 ± 51.6 | 0.753 |
IDO não supino | 9 ± 10.4 | 26.45 ± 36.1 | <0.001 | 9.3 ± 10.1 | 21.2 ± 31.9 | <0.001 |
Média queda dessaturação (%) | 4.6 ± 1.4 | 4.6 ± 1.6 | 0.02 | 4.6 ± 1.6 | 4.6 ± 2 | 0.415 |
Média queda dessaturação supino (%) | 4.6 ± 2 | 4.2 ± 2.2 | 0.028 | 4.75 ± 1.7 | 4.2 ± 3 | 0.017 |
Média queda dessaturação não supino (%) | 3.7 ± 0.8 | 3.9 ± 1.1 | <0.001 | 3.8 ± 0.9 | 4.3 ± 1.4 | <0.001 |
Roncopatia (%) | 14.3 ± 31.1 | 14.4 ± 27 | 0.919 | 12.55 ± 24.4 | 18 ± 34.2 | 0.037 |
Roncopatia supino (%) | 9.2 ± 21.9 | 6.75 ± 23.3 | 0.052 | 11.25 ± 23.6 | 5.4 ± 19.4 | 0.001 |
Roncopatia não supino (%) | 11.5 ± 35.5 | 16.4 ± 33.9 | 0.128 | 8.2 ± 26 | 17.9 ± 39.7 | 0.002 |
Quando comparados com doentes com SAOS não posicional exclusiva (SAOS-NPe), os doentes com SAOS-Pe apresentam idades inferiores, menor IMC, dormem mais tempo na posição supina, e têm IAH, IDO, MQD e tempo de roncopatia menores (Tabela 3).
SAOS-Pe (APOC I) | SAOS-NPe | Valor P | |
N | 52 | 193 | |
Homens (n(%)) | 35 (67.3%) | 124 (64.2%) | 0.682 |
Idade (anos) | 53 ± 24 | 58 ± 29 | 0.014 |
IMC (kg/m2) | 27.65 ± 5 | 30.4 ± 6.2 | 0.002 |
Tempo supino (%) | 46.05 ± 25.7 | 28 ± 40.6 | <0.001 |
Tempo não supino (%) | 53.9 ± 25.7 | 72 ± 40.3 | <0.001 |
IAH | 10.9 ± 9.7 | 21.1 ± 25 | <0.001 |
IAH supino | 23.4 ± 19.5 | 34.4 ± 39.9 | <0.001 |
IAH não supino | 2.5 ± 2.5 | 13 ± 19.3 | <0.001 |
IDO | 11.45 ± 7.2 | 23.2 ± 26.9 | <0.001 |
IDO supino | 22.65 ± 17.8 | 36.1 ± 36.8 | <0.001 |
IDO não supino | 3.4 ± 3 | 15.8 ± 20.8 | <0.001 |
Média queda dessaturação (%) | 4.1 ± 1 | 4.7 ± 2 | <0.001 |
Média queda dessaturação supino (%) | 4.25 ± 1.1 | 4.6 ± 2.5 | 0.149 |
Média queda dessaturação não supino (%) | 3.4 ± 0.6 | 4.1 ± 1.3 | <0.001 |
Roncopatia (%) | 8.2 ± 21.9 | 16.7 ± 32.6 | 0.003 |
Roncopatia supino (%) | 12.2 ± 29.2 | 8.1 ± 20.5 | 0.071 |
Roncopatia não supino (%) | 2.75 ± 14.9 | 17.9 ± 38 | <0.001 |
O modelo de regressão logística binominal demonstrou que os fatores preditores com significância estatística foram o IMC (β=-0,073, p=0,02), tempo em posição supina (β=0,022, p=0,001) e IDO (β=-0,037, p<0,001) para SAOS-P (Tabela 4). Este modelo de regressão logística binominal (incluindo IMC, tempo em posição supina e IDO) classificou 71% dos doentes corretamente. A sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo foram de 83,1%, 56%, 70,2% e 72,6%, respetivamente.
Relativamente à SAOS-Pe, os fatores preditores mais significantes foram o tempo em posição supina (β=0,031, p<0,001) e o IDO (β=-0,129, p<0,001) (Tabela 4). Este modelo de regressão logística binominal (incluindo o tempo em posição supina e o IDO) classificou 80,8% dos doentes corretamente. A sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo foram de 32,7%, 93,8%, 58,6% e 83,8%, respetivamente.
Parâmetros | β | SE | Wald | Df | OR (95% IC) | Valor P | |
SAOS-P critérios Cartwright | Idade (anos) | -0.029 | 0.012 | 5.608 | 1 | 0.971 (0.948 - 0.995) | 0.018 |
IMC (kg/m2) | -0.125 | 0.035 | 12.862 | 1 | 0.882 (0.824 - 0.945) | <0.001 | |
IDO (eventos/h) | -0.031 | 0.009 | 11.667 | 1 | 0.969 (0.952 - 0.987) | 0.001 | |
Tempo em posição supina (%) | 0.014 | 0.007 | 4.343 | 1 | 1.014 (1.001 - 1.027) | 0.037 | |
SAOS-P critérios APOC | IMC (kg/m2) | -0.073 | 0.031 | 5.397 | 1 | 0.930 (0.874 - 0.989) | 0.02 |
Tempo em posição supina (%) | 0.022 | 0.006 | 11.914 | 1 | 1.022 (1.009 - 1.035) | 0.001 | |
IDO (eventos/h) | -0.037 | 0.009 | 16.094 | 1 | 0.964 (0.946 - 0.981) | 0.007 | |
SAOS-Pe | IDO (eventos/h) | -0.129 | 0.026 | 24.636 | 1 | 0.879 (0.835 - 0.925) | <0.001 |
Tempo em posição supina (%) | 0.031 | 0.008 | 16.380 | 1 | 1.031 (1.016 - 1.047) | <0.001 |
Discussão
A SAOS-P como subtipo de SAOS tem vindo a ganhar importância na comunidade científica nas últimas décadas, sobretudo pelo desenvolvimento tecnológico dos posicionadores. A crescente onda de publicações sobre o tema bem como a procura de critérios de SAOS-P com melhor capacidade de selecionar os candidatos à terapêutica com posicionadores, atestam este facto.
A prevalência de SAOS-P em doentes com diagnóstico de SAOS no nosso estudo foi de 55,5% e de 21,2% para SAOS-Pe. Estes dados de prevalência estão de acordo com o descrito na literatura revista. Em 2016, Lee et al. numa série de 1052 adultos coreanos demonstraram uma prevalência de 75,6% de SAOS-P com critérios de Cartwright e 39,9% de SAOS-Pe, que foi definido como subtipo I, com IAH em posição não supina inferior a 5 eventos/h11. A prevalência ligeiramente acima do que encontramos no nosso estudo, sobretudo em relação à SAOS-Pe pode estar relacionada com as características fisionómicas na população asiática, nomeadamente base do crânio curta e retrognatia. Já em 2018, Levendowski et al. descreveram uma prevalência de 64,8% e 50,7% de SAOS-P numa amostra de 142 doentes, utilizando critérios de Cartwright e APOC respetivamente9, e mais recentemente, num dos maiores estudos sobre características e prevalência de SAOS-P e SAOS-Pe, numa serie de 6437 doentes da população francesa, Sabil A. et al. verificaram uma prevalência de 53,5% e 20,1% respetivamente7.
A gravidade inferior da SAOS nos doentes considerados SAOS-P ou SAOS-Pe é transmitida pela percentagem de SAOS grave nos doentes SAOS-P (22%), e nos SAOS-Pe (4%). Estes dados estão de acordo com o observado em estudos anteriores9.
À semelhança de outros estudos 7,8,9 observámos que o grupo de doentes classificados como SAOS-P dormiram mais tempo em posição supina, e tinham menor idade, IMC, IDO e IAH. Contudo, utilizando um modelo de regressão logística binominal, observámos que os fatores preditores mais significativos de SAOS-P foram o IMC, IDO e o tempo de posição supina. Assim, quando o IMC e IDO aumentam, a probabilidade de o doente apresentar SAOS-P diminui. Pelo contrário, quando o tempo em posição supina aumenta, a probabilidade de o doente apresentar SAOS-P aumenta também.
Já relativamente à SAOS-Pe, observámos que o grupo classificado como SAOS-Pe dormiu mais tempo em posição supina, e que apresentou idade, IMC, IAH, IDO, MQD e tempo de roncopatia menores, o que atesta a menor gravidade destes casos. Aplicando o mesmo princípio que para a SAOS-P, utilizando um modelo de regressão logística binominal, observámos que os fatores preditores mais significativos de SAOS-Pe foram o IDO e o tempo em posição supina. Deste modo, quando o IDO aumenta, a probabilidade de ser SAOS-Pe diminui e pelo contrário, quando o tempo em posição supina aumenta, a probabilidade de ser SAOS-Pe aumenta também.
Ao contrário de alguma da literatura consultada, a predominância de doente do género masculino no grupo de SAOS-P ou SAOS-Pe não foi estatisticamente significativa no nosso estudo12. Na visão dos autores esta diferença poderá estar relacionada com a predominância à partida de doentes de género masculino na amostra.
Uma das limitações deste estudo poderá ser a utilização de PSG tipo III em ambulatório ao invés de PSG tipo I em laboratório de sono, uma vez que apenas com o segundo se consegue verificar as fases de sono do doente, e por outro lado, o feedback de vídeo permite também a correção da posição do equipamento no doente. Outra limitação que reconhecemos foi a realização de PSG em apenas uma noite por doente, o que não acautela a variabilidade intraindividual dos doentes com SAOS13.
Destacamos ainda o facto de, no conhecimento dos autores, se tratar do primeiro estudo do género numa amostra da população portuguesa.
Conclusão
Da análise dos nossos resultados podemos concluir que a SAOS-P é relativamente frequente na população de doentes com SAOS. Os doentes com SAOS-P tendem a ser mais novos, menos obesos e apresentam quadros menos graves comparativamente aos doentes com SAOS-NP. A identificação de doentes com SAOS-P e SAOS-Pe, que correspondem a cerca de 1/3 dos anteriores, apresenta-se de importância decisiva dado o potencial de melhoria ou resolução da sua doença com recurso a posicionadores.
Conflito de Interesses
Os autores declaram que não têm qualquer conflito de interesse relativo a este artigo.
Confidencialidade dos dados
Os autores declaram que seguiram os protocolos do seu trabalho na publicação dos dados de pacientes.