1.Introdução
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o nascimento prematuro aquele realizado antes das 37 semanas de idade gestacional, propondo as seguintes subcategorias, com base na idade gestacional ao nascimento: prematuros extremos (<28 semanas), muito prematuros (28 a <32 semanas) e prematuros moderados a tardios (32 a <37 semanas) (Vogel et al., 2018). Devido aos avanços nos cuidados neonatais, muitos bebês prematuros são capazes de sobreviver. No entanto, eles possuem riscos aumentados de sequelas no desenvolvimento neurológico (Abbott, 2015), incluindo deficiências cognitivas e sociocomunicativas (Saigal & Doyle, 2008). O desenvolvimento sensorial e o comportamento do bebê prematuro podem ser afetados negativamente pelas características e morbidades neonatais, principalmente pelo ambiente estressante da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) e fatores sociais que podem influenciar o seu neurodesenvolvimento. A preparação para a alta hospitalar do bebê prematuro é iniciada quando este demonstra estabilidade fisiológica e quando seus pais e/ou cuidadores apresentam-se habilitados para prestar os cuidados necessários no dia a dia. Os programas de seguimento de bebês prematuros bem-sucedidos são iniciados ainda durante a internação hospitalar e os ambulatórios de seguimento (follow-up) têm como objetivo garantir o cuidado do bebê prematuro de risco após a alta hospitalar, possibilitando o diagnóstico precoce de possíveis problemas de saúde, a intervenção precoce e/ou profilática, o suporte às famílias e a realização de estudos em prematuridade para garantir avanços nos tratamentos (Myrhaug et al., 2017). As práticas parentais que promovem um maior vínculo entre pais e bebês são um modulador crítico do desenvolvimento infantil (Meins et al., 2017). Variações na qualidade desse vínculo repercutem diretamente no desenvolvimento neuropsicomotor dos bebês (Sroufe, 2005). As interações dos pais com bebês prematuros podem ser menos eficazes comparadas a bebês nascidos a termo devido a diversos fatores: diminuição da capacidade dos bebês prematuros em relação a atenção e a expressividade facial durante as interações (Bozzette, 2007); experiências estressantes e emocionalmente exigentes para os pais (Ionio et al., 2017); separação dos pais devido a permanência prolongada do bebê na UTIN logo após o nascimento (Vasa et al., 2014); e suscetibilidade dos pais à Síndrome da Criança Vulnerável, em que os bebês prematuros que estavam em um ponto de suas vidas em risco de morte continuam a ser percebidos como mais vulneráveis, resultando em maior ansiedade para os pais (Horwitz et al., 2015). Em 2020, o novo vírus altamente transmissível SARS-CoV-2 (COVID-19) continuava a devastar o estado da saúde e da economia mundial (Verity et al., 2020). No Estado do Ceará, Brasil, as medidas de proteção à COVID-19, como isolamento, distanciamento social e lockdown podem ter contribuído para a gestão inadequada dos principais fatores de risco de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor de bebês prematuros e acesso limitado às instituições de atenção primária (Machado et al., 2021). As condições econômicas inseguras, os deslocamentos restritos, cronogramas de vacinação atrasados e fechamento de ambulatórios de seguimento agravaram ainda mais as condições de saúde de bebês prematuros que receberam alta hospitalar, trazendo preocupações extras às equipes multidisciplinares e aos usuários dos serviços de saúde materno-infantil no município de Fortaleza (Lima et al., 2020). O papel desempenhado pelos profissionais de saúde nesse contexto é primordial. Eles devem ser um elemento facilitador e de aproximação da interação entre os pais e o bebê, por meio da educação permanente em saúde. Um componente chave desse vínculo é a capacidade dos pais de detectarem e responderem aos sinais comportamentais do bebê durante as interações diárias, evitando o agravamento de possíveis alterações no desenvolvimento neuropsicomotor (Feldman et al., 2014). Assim, novas tecnologias entram em cena para possibilitar avanços e perspectivas no acesso à informação que podem repercutir na melhoria do conhecimento dos pais e do cuidado ao bebê prematuro. A OMS considera que as tecnologias eHealth são ferramentas aplicadas à saúde que possibilitam a realização de processos terapêuticos, de aprendizagem e de promoção da saúde, contemplando as seguintes subcategorias: saúde móvel (mobile Health ou mHealth), sistemas de informação de saúde (Health Information Systems ou HIS), cuidados de saúde a distância (Telemedicina) e aprendizagem a distância (eletronic Learning ou eLearning) (Heuvel et al., 2018). Nos últimos anos, pais de bebês e crianças que nasceram prematuros costumam consultar a internet, antes mesmo de um profissional de saúde, por meio de mecanismos de busca e/ou redes sociais para obter informações relacionadas à saúde e aos cuidados com seus filhos (Størksen et al., 2020). Mais especificamente, pais de bebês que permaneceram na UTIN buscam plataformas responsivas, cursos de educação à distância (EaD) e aplicativos móveis, a partir de seus telefones celulares, para pesquisar mais informações sobre a saúde e o bem-estar de seus bebês (Orr et al., 2017). Apesar da grande variedade de informações e aplicativos disponíveis para pais de bebês e crianças que nasceram prematuros, observa-se variável qualidade, usabilidade e credibilidade destes, com pontuações geralmente baixas. Além disso, a literatura revisada por pares ou estudos empíricos relacionados a estes conteúdos são quase inexistentes, sendo necessária mais atenção ao desenvolvimento de recursos confiáveis e de alta qualidade direcionados aos pais de bebês que permaneceram na UTIN (Richardson et al., 2019). Com base nos fatos apresentados, questiona-se: quais os principais temas abordados pelas tecnologias eHealth para amenizar as dificuldades que os pais de bebês prematuros apresentam para cuidar dos seus filhos após a alta da UTIN?; Quais as ferramentas eHealth utilizadas pelos estudos voltados para o desenvolvimento de tecnologias direcionadas aos pais de bebês prematuros?; Quais as dos pais de bebês prematuros sobre as contribuições das tecnologias eHealth para instrumentalizá-los no cuidado dos seus filhos?; Como ocorre a avaliação das tecnologias eHealth desenvolvidas na área de intervenção precoce? Partindo dos pressupostos apontados, o presente estudo objetivou realizar uma revisão integrativa sobre tecnologias eHealth direcionados aos pais para o cuidado de bebês prematuros.
2.Métodos
A revisão integrativa ocorreu de junho a outubro de 2021, nos seguintes portais e bases de dados: Capes, EBSCO, BVS, PubMed, Scholar e Scielo. A margem temporal para a busca incluiu publicações de 2011 a 2021, como maneira de contemplar estudos mais atulizados em relação ao tema principal, nas línguas portuguesa e inglesa, alinhadas às seguintes questões norteadoras: O que a literatura aponta sobre a utilização de tecnologias eHealth para promover a educação em saúde voltadas aos cuidados de bebês prematuros? O que a literatura aponta sobre as estratégias e recursos de promoção da saúde voltados aos pais e familiares de bebês prematuros? A revisão integrativa é um método de pesquisa criterioso que tem como finalidade fornecer e sintetizar os principais conhecimentos relacionados a um dado problema de pesquisa para que estes sejam analisados criticamente e, posteriormente, incorporados à prática assistencial. Essas informações são fornecidas de maneira sistemática, ordenada e abrangente, constituindo o corpo do conhecimento. Desse modo, pesquisador pode elaborar uma revisão integrativa com diferentes finalidades, podendo ser direcionada a definição de conceitos, revisão de teorias ou análise metodológica de estudos sobre um determinado tema (Galvão et al., 2004). Esse método alinha-se a proposta qualitativa, uma vez que proporciona a compreensão mais completa do tema de interesse, a partir da inclusão simultânea de pesquisas com diferentes abordagens e requer um movimento analítico e interpretativo para a elucidação do tema sob investigação. Na área da saúde, por exemplo, a variedade na composição da amostra da revisão integrativa somada às suas diversas finalidades resulta em um quadro completo e relevante com conceitos complexos, teorias ou problemas relativos ao cuidado (Mendes et al., 2008). Ganong (1987) estabelece seis etapas para a construção da revisão integrativa: 1) definição do tema e seleção da hipótese ou questão norteadora; 2) estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão de estudos/busca; 3) definição das informações a serem extraídas dos estudos e categorização destas; 4) avaliação dos estudos incluídos; 5) interpretação dos resultados; e 6) apresentação da revisão/síntese do conhecimento. Para isso, utilizaram-se descritores do Medical Subject Headings (Mesh) e/ou as seguintes palavras-chave, em inglês e português: saúde materno-infantil (maternal and child health); recém-nascido prematuro (infant, premature); promoção da saúde (health promotion); educação a distância (education, distance); estratégias de eSaúde (eHealth strategies). A identificação e a seleção dos estudos foi realizada por dois investigadores, combinando os termos acima apresentados com os operadores boleanos OR ou AND. Estes foram sujeitos à avaliação da qualidade, com avaliações independentes entre dois dos investigadores, de acordo com a Joanna Briggs International (Lockwood et al, 2015), tendo-se verificado que todos os artigos integrados na amostra afinal cumpriam os critérios de qualidade. Inicialmente, identificaram-se 15200 estudos na seleção. Foram excluídos os estudos em duplicidade, que possuíam títulos que não condiziam com os descritores, estudos sem elementos relevantes ao escopo do estudo e que não utilizaram as tecnologias eHealth. Ao final deste processo, a busca resultou na identificação de 49 produções científicas, incluindo artigos e uma dissertação, como apresenta a Tabela 1.
Fonte: Elaborado pelo autor (2021)
Dentre as 49 publicações inicialmente listadas, para responder à questão norteadora principal deste estudo, foram excluídas aquelas que não abordavam o uso de tecnologias para a educação em saúde voltadas a pais de bebês prematuros, sendo mantidas apenas oito publicações que, de alguma forma, tiveram como público-alvo pais e familiares (Quadro 2). Ao longo da revisão integrativa, observou-se uma escassez de publicações sobre o uso de tecnologias eHealth para a educação em saúde voltadas a pais de bebês prematuros, principalmente relacionadas ao desenvolvimento oral e de linguagem destes. Assim, apresentam-se, no Quadro 3, os artigos que versam sobre os tipos de estratégias adotadas. Na primeira etapa, selecionaram-se 8 artigos (Quadro 2) e, na segunda etapa, outros 11 foram, selecionados dentre os 26 artigos que versam sobre estratégias e recursos de promoção da saúde voltados aos pais e familiares de bebês prematuros (Quadro 3). Assim, totalizaram 19 produções científicas que abordam diretamente o uso de tecnologias eHealth no cuidado com bebês prematuros. Após a seleção, realizou-se uma leitura em profundidade do material e procedeu-se a análise de conteúdo na modalidade temática (Minayo, Deslandes, & Gomes, 2013), fazendo-se emergir as seguintes temáticas: alimentação em bebês prematuros; estratégias e recursos de promoção da saúde voltados aos pais e familiares de bebês prematuros sem uso de tecnologias eHealth; e aplicação das tecnologias eHealth na promoção da saúde materno-infantil: um destaque para o eLearning.
3.Resultados e Discussão
Os oito estudos selecionados (Quadro 2), a partir da primeira questão norteadora, contemplam tecnologias eHealth para promover a educação em saúde voltadas aos cuidados de bebês prematuros. Apenas dois tiveram abordagem mista (quantitativo e qualitativo), com a valorização da complementaridade estabelecida entre os números, os testes estatísticos e as percepções dos participantes. Destaca-se que a amamentação, enquanto função orofacial, foi a principal temática abordada nas pesquisas.
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).
A segunda questão norteadora, veio a complementar as publicações que versam sobre as estratégias e recursos de promoção da saúde voltados aos pais e familiares de bebês prematuros, o que está explícito no Quadro 3.
Fonte: Elaborado pelo autor (2021).
O Quadro 3 inclui 26 artigos e mostra que a maioria das estratégias e recursos utilizados para a promoção da saúde voltados aos pais e familiares de bebês prematuros não incluem tecnologias eHealth (15), uma vez que consistem em: programa de intervenção parental, orientação multiprofissional, triagem telefônica, cartilha e folheto. Onze estudos, porém, abordam, nesse contexto, o uso de tecnologias eHealth - telemedicina, websites, mHealth, Gamificação e eLearning (1). A seguir, discutem-se as temáticas que sintetizam o espectro de utilização das tecnologias eHealth pelos pais no cuidado dos bebês prematuros.
3.1 Tecnologias eHealth como ferramentas de comunicação e educação em saúde materno- infantil
As intervenções associadas a eHealth na saúde materno-infantil ganham espaço em estudos que mostram sua importância, relevância clínica e científica, tendo ampla possibilidade de aplicação nos diferentes níveis de atenção. Porém, essas ferramentas, antes de serem adotadas com o público-alvo, requerem avaliação da aplicabilidade, vantagens e limitações (Heuvel et al., 2018). A internet vem sendo, cada vez mais, uma ferramenta para buscar informações relacionadas à saúde materno-infantil, onde as redes sociais de destacam por viabilizar trocas de experiências e suporte aos pais (Ngo e tal., 2020). Muitas vezes, a captação de pais para participação em programas após a alta hospitalar do bebê sofre influências negativas advindas da falta de consciência destes sobre a importância do acompanhamento e da estimulação da criança. É importante conscientizar essa população, por meio de estratégias de comunicação em saúde e de outras ações, sobre a importância da assistência pós-natal para a redução das alterações no desenvolvimento neuropsicomotor (Silva &Carneiro, 2018). A adoção das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) nas estratégias de saúde torna-se uma alternativa eficaz no percurso da assistência pós-natal, uma vez que a troca de informações e experiências sobre o acompanhamento do bebê prematuro são excelentes formas para a educação em saúde de pais e familiares (Rosa et al., 2020). Os programas de intervenção parental relacionados aos cuidados do bebê prematuro devem levar em consideração a fragilidade e a individualidade dos pais. Os profissionais de saúde da UTIN também devem passar por capacitações para o desenvolvimento de habilidades comunicativas voltadas aos pais e para ajudá-los nas tomadas de decisões em relação a saúde do bebê (D’agostini et al., 2020). A fluência da comunicação está diretamente relacionada à forma de compartilhar conhecimentos e experiências entre o profissional e a população assistida. Desse modo, o conhecimento e a utilização de estratégias de comunicação e de outras ações associadas, a exemplo daquelas que utilizam tecnologias em saúde, podem favorecer um trabalho diferenciado, contribuindo para o crescimento, a aprendizagem e o bem-estar da relação pais-bebê (Pilecco &Backes, 2020). Com o avanço da tecnologia e a chegada de dispositivos móveis com maior capacidade de processamento e recursos técnicos avançados, podem-se oferecer novos sistemas que auxiliem no aprimoramento das atividades das pessoas e dos serviços de saúde, a exemplo da saúde materno-infantil. No entanto, há uma escassez de estudos publicados que avaliem o uso de tecnologias mhealth em intervenções no âmbito do pós-natal (Heuvel et al., 2018). Wallwiener et al. (2016) relatam que o perfil predominante de usuários que utilizam tecnologias eHealth em busca de conhecimentos na área da saúde materno-infantil é o seguinte: mulheres jovens, em idade reprodutiva e usuárias frequentes da internet, redes sociais e aplicativos de smartphone. Heuvel et al. (2018), em revisão sistemática de 15 estudos com usuárias de recursos eHealth, apontam que a maioria que busca informações online são gestantes, independente da idade, escolaridade ou perfil socioeconômico. Ademais, 88% dessa população usam smartphone, e 50% a 98% buscam informações relacionadas à saúde materno-infantil, por meio de sites e aplicativos. As intervenções eHealth, com base em Telemedicina, contemplam a tendência de reduzir os custos em saúde sem prejudicar a qualidade do serviço ofertado, tornando-se uma alternativa eficaz para os planos de saúde, por serem modelos assistenciais de baixos risco e custo. Os estudos sobre os efeitos da eHealth na saúde materno-infantil envolvem parâmetros de padrões de qualidade, adesão do público-alvo e aumento da oferta de cuidados. Os resultados do uso dessa tecnologia sugerem efeitos positivos no estilo de vida, gerenciamento do diabetes gestacional, saúde mental, autocuidado da gestante, empoderamento e participação dos pais nos cuidados com o bebê em países de média e baixa renda (Schwamm et al., 2017). Estudos que avaliaram o nível de satisfação de mulheres jovens, primíparas e com ensino superior, que utilizaram aplicativos de saúde materno-infantil sugeridos pelos profissionais de saúde, descrevem altos índices de aceitação, conveniência, educação e co-opartipação (Wade et al., 2010; Walker et al., 2013). Os benefícios das intervenções eHealth no aumento do conhecimento de mães sobre a saúde do bebê estão relacionados a redução da ansiedade materna e das visitas a clínicas, devido a inseguranças e preocupações excessivas. A taxa de satisfação das usuárias com as tecnologias analisadas varia de 86% a 95%, em estudos que abordam a saúde mental, e 90%, em pesquisas sobre mães de bebês monitorados em casa, devido a essas ferramentas possibilitarem que elas permaneçam em seus domicílios cuidando dos filhos por mais tempo (Rauf et al., 2011; O’brien et al., 2013). Ferecini (2011) desenvolveu um website sobre o aleitamento materno do prematuro dirigido à família e avaliou esta tecnologia junto aos profissionais de enfermagem e informática. A tecnologia apresentou boa aceitação de enfermeiros (96%) e dos profissionais da área da informática (92%), concluindo-se que o instrumento é válido para a educação em saúde de pais de bebês prematuros, contribuindo para o incentivo do aleitamento materno. Kim (2020) buscou entender as preocupações e as necessidades de 18 pais (dez mães e oito pais de bebês prematuros) para o desenvolvimento de uma tecnologia eLearning para fortalecer o vínculo pai-bebê e apoiá-los nos cuidados com seus filhos pós-alta. Os entrevistados enfatizaram a importância da educação personalizada para esses pais e argumentaram que um sistema de eLearning tem potencial para atender as suas necessidades educacionais.
3.2 Estratégias de cuidado e promoção da saúde de pais e bebês prematuros a partir das tecnologias eHealth
As tecnologias eHealth também apresentam resultados positivos sobre o impacto da depressão pós-parto, prevalente em 3% a 15% dos casos, mostrando-se bem-sucedida na gestão da saúde mental dessa população (Andrews et al., 2010). Ligações telefônicas e aplicativos para a realização de triagem para a detecção da depressão pós-parto também são considerados instrumentos viáveis e eficazes no enfrentamento desse problema (Mitchell et al., 2006; Jiménez-Serrano et al., 2015; Kingston et al., 2017). Segundo Mitchell et al. (2006), mães com depressão pós-parto podem relutar em procurar atendimento especializado, principalmente devido ao medo de perderem seus filhos. As tecnologias eHealth facilitam a intervenção, uma vez que possibilitam a realização de psicoterapia online, contribuindo para a redução dos escores nas escalas de depressão (Lee et al., 2016; Posmontier et al., 2016; Lau et al., 2017), principalmente quando comparados a grupos em lista de espera (Ashford et al., 2016). As percepções de apoio social e dos pares melhoraram significativamente e um maior apoio foi relacionado de forma relevante a sintomas de depressão mais baixos (Letourneau et al., 2015). Uma intervenção com eHealth em doze mulheres no primeiro trimestre pré-natal mostrou-se favorável em 80% de resposta a intervenção e 60% de remissão dos sintomas depressivos (Ashford et al., 2016). As tecnologias eHealth vêm sendo alternativas para as seguradoras de saúde, pelo fato de as intervenções com sua utilização apresentarem bons resultados na saúde e na redução de custos (Queiroz et al., 2021). Portanto, as TICs podem ser adequadas para transformar a educação em saúde tradicional e ofertar suporte, em um modo de entrega gratuito e amplamente acessível (Scaioli et al., 2015; Sayakhot&Carolan- Olah, 2016; Bush et al., 2017).
3.3 Necessidade de avaliação e validação para a utilização das tecnologias eHealth na saúde materno-infantil
Poucos estudos apresentam as percepções dos profissionais de saúde da saúde materno-infantil sobre a utilização de tecnologias eHealth. Goetz et al., (2017) realizaram um estudo qualitativo com doze profissionais de saúde em departamentos de obstetrícia, os quais relataram preocupações quanto às barreiras de implementação e potenciais riscos legais das intervenções eHealth. Ademais, alguns participantes admitiram ter familiaridade e habilidade insuficientes com essas tecnologias, limitando seu envolvimento e compreensão sobre as possibilidades que podem conferir aos cuidados perinatais. No geral, esses profissionais consideraram a telemedicina como um serviço paralelo adicional, em vez de integrada ao modelo de atendimento pré-natal. Apesar do crescente número de estudos que abordam as intervenções com tecnologias eHealth, a necessidade de avaliar seus impactos é fortemente enfatizada (Heuvel et al., 2018). A principal barreira permanece na identificação limitada de indicadores mensuráveis e confiáveis. Ademais, existem obstáculos para a avaliação dos resultados dessas ferramentas, como a dificuldade de metodologias consistentes e indicadores confiáveis (Schwamm et al., 2017). A identificação de indicadores para esse tipo de avaliação é complexa, pois o intervalo de tempo entre a intervenção com tecnologia eHealth e o resultado potencial costuma ser longo, o que pode ser influenciado por vários fatores de confusão. Isto dificulta a verificação do resultado das intervenções. A relevância desses indicadores pode ser dependente do contexto e sua extrapolação consideravelmente restrita. A disponibilidade de indicadores de resultados (diretos e indiretos) facilita as medições de resultados consistentes e a comparabilidade dos estudos (Schwamm et al., 2017). Diante do exposto, observou-se a necessidade da realização de mais estudos com abordagem qualitativa dentro dessa temática. Assim como uma maior interdisciplinaridade no desenvolvimento das tecnologias eHealth. Sugere-se que o Método Interdisciplinar para o Desenvolvimento de Tecnologias em Saúde (MIDTS) seja aplicado para a concepção de tecnologias eHealth mais confiáveis, a partir do seguimento das etapas de desenvolvimento, validação e/ou avaliação de ferramentas e estratégias de pesquisa, o que se alinha à natureza de estudo metodológico e abordagem qualitativa (Vasconcelos Filho et al., 2021). O MIDTS possui uma abordahem qualitativa que aproxima o pesquisador com o tema investigado, para uma maior compreensão dos fatos. Esse métdodo permite ao investigador a definição do problema-chave, a formulação de hipóteses precisas e a descoberta de resultados relevantes, mas nem sempre evidentes (Vasconcelos Filho et al., 2021). A abordagem qualitativa contribui para a identificação das percepções, sentimentos e necessidades dos pais de bebês prematuros (Minayo, 2014). Essas percepções subsidiam a concepção e a validação de tecnologias eHealth mais eficazes, pois oferece as informações necessárias para a compreensão do cenário e das características do público-alvo, bem como para mensurar o nível de satisfação desses participantes. A união das abordagens quanti e qualitativas segue uma tendência atual, característica do MIDTS, que busca a complementaridade dos olhares objetivos e subjetivos para a obtenção de diversas perspectivas, análises e interpretações dos objetos de estudo (Minayo, 2014).
4.Conclusões
As temáticas deste estudo evidenciam a relevância desta revisão integrativa e inspira o desenvolvimento de pesquisas qualitativas mais específicas sobre a utilização das tecnologias eHealth pelos pais de bebês prematuros, no âmbito da melhoria das condições de saúde e desenvolvimento global dessas crianças. Essas tecnologias são reconhecidas pelo fortalecimento das ações de educação e comunicação em saúde, empoderando os pais nos cuidados ao bebê após a alta hospitalar. Porém, a escuta dos pais e dos profissionais de saúde sobre os significados e contribuições dessas tecnologias podem favorecer o seu desenvolvimento e utilização na saúde materno-infantil. Os resultados permitem concluir que há preocupação em desenvolver estratégias consistentes e sistematizadas, que forneçam intervenções educativas sobre o desenvolvimento e o cuidado dos bebês prematuros. Os profissionais da saúde materno-infantil utilizam as tecnologias eHealth para tentar dinamizar os programas de educação em saúde, obtendo resultados significativos no conhecimento dos pais e no desenvolvimento dos bebês. Nesse contexto, o ensino a distância pode ser considerado uma estratégia pedagógica ideal para disponibilização de conteúdos de forma rápida e ampliada, sendo uma oportunidade de educação para as pessoas em locais remotos, com dificuldades no acesso presencial. Entretanto, recomenda-se a realização de mais estudos qualitativos para obter uma maior consistência em relação às experiências dos pais na utilização das tecnologias eHealth. Assim como a necessidade de abordar temas relacionados ao desenvolvimento da alimentação e da linguagem destes bebês. Verificou-se que as tecnologias eHealth também são utilizadas para a promoção e os cuidados com a saúde do bebê prematuro após a alta hospitalar, contribuindo para a transformação dos sistemas de saúde e a ampliação da resolubilidade das práticas. Nessa perspectiva, observa-se, na assistência neonatal, o aumento das taxas de sobrevida dos bebês prematuros, a partir da utilização de ações que entrelaçam tecnologias, humanização e controle da qualidade. As estratégias identificadas na literatura,a partir da análise qualitativa realizada, registram o respeito à individualidade e a garantia do acesso às tecnologias que proporcionam segurança e acolhimento ao recém-nascido e à sua família, contribuindo para a formação do vínculo pais-bebê. Os profissionais de saúde também podem ser beneficiados com as tecnologias eHealth, pois estas auxiliam no maior engajamento dos pais e familiares nos cuidados com o bebê, visando à redução dos impactos da prematuridade no desenvolvimento e na qualidade de vida, antes e após a alta hospitalar. Apesar dos avanços das tecnologia eHealth, que auxiliam na ampliação da qualidade de vida dos bebês prematuros, muitos desafios e inovações ainda são requeridos. Um deles diz respeito à necessidade de avaliação e validade da utilização desses recursos na saúde materno-infantil, a partir do desenvolvimento de estudos de avaliação da usabilidade, validade, eficácia e eficiência.