1. Introdução
Com o envelhecimento o ser humano tem perdas funcionais ao longo do tempo, passa a ocupar novo papel na sociedade e família, sendo que muitas vezes é desvalorizado e consequentemente estando sujeito à situação de maior vulnerabilidade. É certo que quanto mais dependente física e/ou mentalmente, a pessoa idosa apresenta-se mais frágil perante o outro, podendo muitas vezes vivenciar episódios de violência, fenômeno que vem assumindo grandes proporções na atualidade (Santos et al., 2018).
Estudos realizados em diferentes regiões brasileiras, Nordeste, Sudeste e Sul, apontam a violência contra a pessoa idosa de modo geral, todavia também permeiam a violência contra a mulher idosa e suas especificidades (Colussi et al., 2019; Guimarães et al., 2018; Machado et al., 2020; Maia et al., 2019; Pampolim et al., 2021; R. Sousa et al., 2021).
Os dados do Disque 100 - Disque Direitos Humanos do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos sobre o ano de 2019 indicam que do total de 48.446 denúncias relacionadas à violência contra a pessoa idosa, aproximadamente 66% das vítimas eram mulheres. A predominância de idade entre 76 e 80 anos foram as mais afetadas (Brasil, 2020).
No país quanto mais a população envelhece, mais feminina ela se torna, fenômeno definido como a feminização da velhice (Dias et al., 2018). Em contrapartida a esta maior expectativa de vida, há estudos que apontam que entre as pessoas idosas, as mulheres seriam mais vulneráveis e sofreriam mais violência do que os homens (Santos et al., 2020; Sousa et al., 2021). Tais dados destacam a relevância em se considerar o gênero na temática de violência, haja vista a desigualdade presente nas relações sociais entre homens e mulheres.
As mulheres idosas vivenciaram uma vida inteira de dificuldades inerentes ao seu gênero, incluindo situações como, discriminações, jornada dupla de trabalho e, sobretudo, a violência doméstica e ou familia (Bertolin et al., 2020).
Na pandemia COVID-19 vivenciada desde 2020 ficou evidenciada a vulnerabilidade desta população, não somente com relação às formas graves da doença, mas com aumento de relatos de abuso de pessoas idosas pelo mundo (Han & Mosqueda, 2020; Moraes et al., 2020). Inclusive um dos etudos aponta que dentre as pessoas idosas ser mulher aumentaria a possibilidade de abuso (Du & Chen, 2021).
Frente ao exposto, levando em consideração que a violência contra a mulher idosa carece de reflexão e compreensão pela sociedade de modo geral e em especial pelas mulheres, esta pesquisa partiu da seguinte inquietação: como a mulher idosa compreende a violência?
2. Objetivos
- Explorar a compreensão sobre a violência em geral e contra a mulher idosa na perspectiva das entrevistadas;
- Identificar as sugestões das participantes para prevenção da violência contra a mulher idosa.
3. Metodologia
3.1 Tipo de Pesquisa
Trata-se de uma pesquisa qualitativa fundamentada nos pressupostos da Hermenêutica - Dialética.
A abordagem metodológica qualitativa se ocupa de um nível de realidade social e trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, ou seja, atenta-se a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos. A partir das falas, observações e símbolos que se possibilita a descoberta de códigos sociais (Minayo et al., 2015). Apesar de haver diferentes abordagens qualitativas, essas compartilham do caráter compreensivo, contextualizado, interpretativo e dialético, sendo que para a compreensão na pesquisa qualitativa se leva em consideração a singularidade do indivíduo, sua subjetividade, assim não se busca estudar o fenômeno em si, mas as significações que as pessoas que vivenciam trazem para estes (Minayo, 2012).
De acordo com Minayo (2015) o processo de trabalho científico em pesquisa qualitativa é estruturado em três etapas: fase exploratória, em que se realiza a preparação para a entrada em campo; o trabalho de campo propriamente dito, sendo o momento em que hipóteses levantadas terão oportunidade de ser confirmadas ou refutadas e análise e tratamento do material empírico e documental: onde os dados empíricos são compreendidos, interpretados, articulados, seja com a teoria construída no projeto, assim como outras teorias levantadas após trabalho de campo. Esta última etapa pode ainda ser organizada em: ordenação dos dados, classificação dos dados e análise final.
A pesquisa de campo se apresenta como uma possibilidade de investigação do objeto de estudo, assim além de corroborar para uma aproximação com aquilo que de antemão o pesquisador busca conhecer, também após contato com a realidade do campo poderá ser criado novos conhecimentos. Para que o processo ocorra de maneira satisfatória é indispensável que o projeto esteja bem estruturado e com claras delimitações no objeto de investigação (Cruz, 2015).
Quando da realização de pesquisa de campo há o contato direto entre pesquisador e população do estudo, permitindo assim que o pesquisador esteja presente no espaço do fenômeno, assume-se uma postura que descarta a necessidade de um mediador, ou seja, o acesso às informações se dá de forma direta (Gonçalves, 2019).
É importante ressaltar que o pesquisador deve iniciar sua entrada a campo com uma aproximação gradual com as pessoas do estudo, para então apresentar-se a proposta de pesquisa, lembrando sempre que se trata de uma relação de cooperação, portanto a todo momento deve-se estar atento a necessidade de realizar esclarecimentos (Cruz, 2015).
Esta pesquisa de campo percorreu as seguintes etapas: entrevista semiestruturada; transcrição; análise; e preparo da redação.
3.2 Hermenêutica - Dialética
A socióloga, antropóloga e sanitarista brasileira Maria Cecília de Souza Minayo foi quem primeiramente empregou a técnica de análise Hermenêutico-Dialética no contexto da pesquisa qualitativa brasileira em saúde, entendendo que haveria complementariedade entre os métodos, uma integração dialógica e crítica entre eles. Propõe a Hermenêutica como a arte da compreensão do fenômeno estudado, a busca para alcançar o sentido do texto, e a Dialética como a arte do estranhamento e da crítica, em que se enfatiza a diferença, o contraste, portanto, “[...] o casamento das duas abordagens é fecundo da condução do processo ao mesmo tempo compreensivo e crítico de análise da realidade social” (Minayo, 2002).
A análise de dados a partir da Hermenêutica-Dialética traz possibilidade relevante para fundamentação de pesquisas qualitativas, em que o pesquisador é considerado parte da realidade que investiga. Assim deve sempre buscar o sentido que o interlocutor quis expressar, e não uma verdade de fato. “Sob a ótica da Hermenêutica, entender a realidade que se expressa num texto é também entender o outro, é entender‐se no outro. Porém, essa compreensão só é possível, segundo a Dialética, se houver um “estranhamento” do texto, ou seja, a necessidade do entendimento nasce do fracasso da transparência da linguagem” (Minayo, 2002).
É importante ressaltar que essa articulação não está presa a técnica específica, e sim constituiria uma projeção de um caminho de pensamento com incentivo de que o pesquisador qualitativo trilhe um terreno tomado por autorreflexão, crítica e questionamentos diversos. Conclui-se que a Hermenêutica-Dialética possibilita proteção ao pesquisador de armadilhas quando da análise e responde uma demanda por métodos com coerência crítica, operacionalmente demonstráveis e criticamente fundamentados (Cardoso et al., 2021).
3.3 Local da Pesquisa
Esse estudo foi realizado em um município de médio porte do interior do estado de São Paulo, que conta com aproximadamente 240.000 habitantes. Os dados foram coletados em quatro unidades que compõem a Rede de Atenção Primária à Saúde, uma em cada região do município e que concentravam a maior porcentagem de idosas em relação ao total de habitantes.
Considerando a Pandemia COVID 19 priorizou-se que o ambiente oferecesse toda a segurança necessária, com ambiente ventilado e que entrevistador e entrevistado fizessem uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) indicados.
3.4 Participantes
As idosas foram selecionados para a pesquisa a partir da lista de cadastradas nas Unidades de Atenção Primária à Saúde. Participaram 40 mulheres idosas com idade igual ou superior a 60 anos, todas usuárias do serviço público de saúde. Foram selecionadas 10 mulheres idosas por unidade de saúde por meio de amostragem intencional, em que é selecionado um subgrupo que possa ser considerado representativo de toda a população (Gil, 1999).
Os Critérios de Inclusão foram: idosas com idade igual ou superior a 60 anos, não institucionalizadas assistidas na Rede de Atenção Primária à Saúde, que fossem capazes de se comunicar verbalmente, com capacidade cognitiva preservada e escore acima de 12 no teste Mini Exame do Estado Mental (MEEM) As idosas deveriam ter recebido as duas doses da vacina contra a Covid-19 há pelo menos um mês. Tais critérios foram verificados com antecedência no prontuário, e/ou com enfermeira responsável pela unidade de saúde.
3.5 Instrumento de Coleta de Dados
O Mini Exame do Estado Mental (MEEM) é instrumento de rastreio de comprometimento cognitivo que aborda questões referentes à memória recente e registro da memória imediata, orientação temporal e espacial, atenção e cálculo e linguagem - afasia, apraxia e habilidade construcional. Foi utilizada a versão com sugestões de Brucki et al. (2003), pois sua aplicabilidade revelou-se boa para ambientes hospitalar, ambulatorial e para estudos populacionais.
Para a coleta de dados foi utilizado um roteiro para entrevista semiestruturada, com dados de identificação e as seguintes perguntas direcionadoras:
1. O que é violência para a senhora?
2. O que a senhora entende sobre a violência contra a mulher idosa?
3. O que pode ser feito para evitar a violência contra a mulher idosa?
Esta modalidade de entrevista permite que o pesquisador teste hipóteses ou pressupostos em uma conversa com finalidade (Souza & Pedro, 2018). Sendo que as perguntas direcionadoras foram ainda complementadas com “Pode explicar isso melhor?”; “Como assim?”; “Pode exemplificar?”, tendo em vista a profundidade e amplitude requerida sobre o fenômeno estudado.
O referido instrumento foi avaliado por especialistas com expertise sobre o tema e roteiros de entrevistas semiestruturadas (Manzini, 2003). Dois especialistas avaliaram a adequação da pergunta ao alcance dos objetivos. Também ainda, antes da aplicação do instrumento, foram realizadas entrevistas piloto com quatro participantes da pesquisa, tendo em vista a compreensão da pergunta elaborada e a tentativa de reproduzir os meios e métodos planejados.
O estudo piloto tem como finalidade o ajuste do método e preparar o pesquisador para a coleta adequada dos dados (Zaccaron et al., 2018).
Esta ação se mostrou relevante na medida em que possibilitou validar clareza, o conteúdo da pergunta e a redação, sendo que ao final não foi necessário realizar adequações dos instrumentos e procedimentos contidos no método. Deste modo as entrevistas do estudo piloto foram incluídas no estudo.
3.6 Procedimento de Coleta de Dados
As participantes foram abordadas na Unidade de Saúde enquanto aguardavam por consulta ou procedimento. As entrevistas foram realizadas em sala reservada na Unidade de Saúde mantendo assim a privacidade das participantes e o sigilo requerido. A duração foi em torno de 30 minutos, realizadas em oito semanas, entre novembro de 2021 e janeiro de 2022 e foram gravadas para posterior transcrição na íntegra.
Todas as participantes receberam informações para obter ajuda em situações de violência e foi ofertada a possibilidade de contato com a entrevistadora, que é psicóloga experiente e mestranda.
3.7 Análise dos Dados
Na pesquisa como apoio na análise de dados foi utilizado o software NVivo 12 plus, projetado para ajudar a organizar, analisar e encontrar informações em dados não estruturados ou qualitativos como: entrevistas, respostas abertas de pesquisa, artigos, mídia social e conteúdo web (QRS, 2022).
A análise dos dados obtidos foi fundamentada na Hermenêutica-Dialética. Tal técnica demonstra potencial para a pesquisa desenvolvida, possibilitando desvendar os sentidos, realizar análise compreensiva e crítica da realidade. Foi constituída por três etapas que não necessariamente ocorreram em sequência e tampouco se excluíam mutuamente (Cardoso et al., 2015; Souza et al., 2005).
Leitura compreensiva do material selecionado: nesse momento o pesquisador deverá se impregnar do conteúdo e ter uma visão do conjunto, não deixando de apreender as particularidades do material. Para isso é importante que as falas já transcritas sejam lidas individualmente, por diversas vezes, facilitando assim compreensão da lógica e dos sentidos das narrativas. É importante que o investigador já traga à tona seu conhecimento teórico para a leitura, possibilitando orientação de seu olhar sobre os dados
Exploração do material: esta segunda etapa é a de construção de inferências, e para alcançá-la deve-se caminhar para além de falas e fatos descritos, na identificação de ideias que estão implícitas em cada uma das partes da estrutura de análise. A partir das falas dos sujeitos emerge-se as unidades de sentidos e destas procede-se a nomeação dos temas que se formaram. Pode-se dizer que este momento se assemelha a análise temática em uma análise de conteúdo.
Na busca de aprofundamento dos dados, o investigador pode realizar indagações e procurar respostas no texto, que permitem tanto comparações como a construção de um quadro mais sintético e nítido das temáticas.
Elaboração de síntese interpretativa: a lógica do grupo de entrevistados é apreendida no movimento parte-todo, assim, o processo interpretativo permanece presente em todo o trabalho de campo, contudo nessa terceira etapa é o momento para o ápice da interpretação e para a elaboração da síntese. É oportuno que ocorra um diálogo entre: dimensão teórica e os dados empíricos, os textos e seus contextos, as questões, os pressupostos, as informações trazidas do campo e os indicadores que foram estabelecidos.
Para aprofundamento da análise das falas dos entrevistados, o pesquisador deve atentar-se para as expressões metafóricas, que perpassam a narrativa. Na prática, o uso deste recurso analítico se mostra fecundo na busca dos sentidos, permiti o aprofundamento hermenêutico e também a discussão dialética dos resultados, ocupando-se de ambiguidades e contradições nos discursos (Cardoso et al., 2015).
3.8 Aspectos Éticos
A pesquisa obedeceu aos princípios éticos que norteiam as pesquisas envolvendo seres humanos, de acordo com as Resoluções do Conselho Nacional de Saúde, nº 466/2012 de 12 de dezembro de 2012(Brasil, 2012) e nº 510/2016 de 7 de abril de 2016(Brasil, 2016). Inicialmente o projeto foi encaminhado para assentimento do Conselho Municipal de Avaliação em Pesquisa (COMAP) da Secretaria Municipal de Saúde de Marília protocolo 27765/2021, e então seguiu para o Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Marília aprovado com Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE): 50865621.7.0000.5413. Somente após as aprovações foi iniciado o contato com os participantes, primeiramente com a entrega do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - (TCLE), para anuência, de acordo com as Resoluções acimas e somente após a assinatura do termo a entrevista foi realizada. Para preservar o sigilo da identidade, as participantes foram representadas, na transcrição, pela letra P (Participante) seguida de um número cardinal indicativo da ordem de realização das entrevistas, da seguinte forma: P1, P2.
4. Resultados e Discussão
4.1 Caracterização das Participantes
Entre as participantes a prevalência da faixa etária foi de 60 a 69 ano; no quesito afetivo a maioria possui companheiro; na escolaridade foi apresentada predominância de ensino fundamental; e no que foi referente a renda metade declarou ser aposentada. A maioria das participantes refere algum tipo de doença, acompanhamento médico e uso de medicamentos...
4.2 Análise dos dados obtidos
A análise dos sentidos das respostas das perguntas direcionadoras, evidenciou as três categorias analíticas apresentadas a seguir.
4.2.1 Análise dos dados obtidos
Esta categoria analítica identificou a compreensão acerca da violência como estando relacionada a agressões de diversos tipos, com destaque para a física e verbal, conforme figura 1.
Alguns núcleos de sentido das falas das participantes representados nas palavras são apresentados a seguir:
Violência é espancamento, maus-tratos. (P10)
[...] judiar da mulher, bater na mulher, bater nos filhos, brigar com vizinhos isso é uma violência. (P24)
Falar alto, gritar com a gente, falar palavras de baixo calão, é maus-tratos. (P21)
É importante destacar um estudo brasileiro no qual se observou no referente ao risco da violência que a maioria dos participantes já sofreu algum tipo de violência urbana com percepção de risco elevada em várias situações em que estão expostas no ambiente urbano. Além disso, a maioria acredita que a violência está aumentando com o passar dos anos (Pires et al., 2021).
Os dados da Pesquisa Nacional de Saúde mostram que 18,3% dos brasileiros com 18 anos ou mais sofreu algum tipo de agressão psicológica, física ou sexual em 2019. Essa fonte ainda revela que, tanto no ambiente rural como urbano, as mulheres têm mais probabilidade se sofrer agressões do que os homens (IBGE, 2020). Tais dados mostram a proximidade da violência na vida das pessoas, justificando assim a percepção apresentada neste estudo sobre violência.
4.2.2 Visão da Violência contra as Mulheres Idosas
Pelos relatos das participantes foi possível identificar uma visão focada principalmente em agressões físicas e/ou desrespeitos conforme figura 3.
Alguns núcleos de sentido das falas das participantes representados nas palavras são apresentados a seguir:
Bater, judiar (P14)
É maus tratos da pessoa, tem até filhos que maltrata. (P23)
Vamos supor filho, neto que não respeita? (P40)
A percepção de violência contra a mulher idosa, como agressão física, dialoga com um estudo realizado em estado do nordeste brasileiro, no qual foram levantados dados de homicídios de mulheres de todas as idades e evidenciou-se um aumento no total geral de homicídios dolosos e feminicídios no ano de 2020 em relação ao ano de 2019. Além da ascensão encontrada, aponta-se que, em anos com eventos sanitários atípicos, como a pandemia da Covid-19, tendem a impactar negativamente a vida das mulheres (Chagas et al., 2022).
O desrespeito levantado em diversas falas corrobora com um estudo realizado com mulheres idosas, que relataram a violência como uma questão social permeada por fatores econômicos, sociais e familiares, com temor em serem abandonadas e desrespeitadas no que se refere aos seus direitos (Partezani-Rodrigues et al., 2019).
4.2.3 Sugestões de Ações para Evitar a Violência contra a Mulher Idosa
Dentre as sugestões apresentadas, conforme podemos verificar na figura 5 e 6 podemos dividir o discurso das idosas entre ações externas e as focadas na mulher idosa, em que ela poderia “colaborar” para evitar ser vítima de violência.
Alguns núcleos de sentido das falas das participantes representados nas palavras são apresentados a seguir:
Eu acho um negócio fundamental "educação" e muita conversa. (P30)
Pra evitar a violência?...é ela não ficar sozinha...cuidando...tem que cuidar junto. (P17)
Não ficar assim na rua até tarde, não sair mais de casa, evitar de conversar com certas pessoas. (P1)
A sugestão de educação revelada nas falas das participantes é compreensível na medida em que é analisado como a pessoa idosa é vista pela sociedade. Uma pesquisa brasileira sugere que a população do país se percebe como jovem. Deste modo, pode-se dizer que a velhice se caracteriza como invisibilidade. Tanto o velho como o processo de envelhecimento seriam vistos de forma negativa pela sociedade em geral, assim muitas vezes a pessoa idosa é tratada com desdenho (Keske & Santos, 2019).
Quando as participantes trazem ações/cuidados que a mulher idosa precisa ter é revelado o receio vivido por essas mulheres, fazendo um movimento de racionalizar como que se pudessem evitar.
Tal contexto reflete a construção cultural vivida pela sociedade em que as mulheres idosas estão submetidas vivenciando desigualdades cumulativas que as afetam (Manso & Lopes, 2020).
5. Considerações Finais
A pesquisa qualitativa, por meio da Hermenêutica -Dialética, na perspectiva compreensiva, revelou por intermédio da análise das falas das participantes, uma série de violências percebidas contra a mulher idosa na sociedade. A fragilidade da velhice adicionada a condição de ser mulher, faz com que vivenciem situações de desrespeito de diferentes níveis. Muitas vezes esse desrespeito não deixa marcas no corpo, mas essa invisibilidade não diminui as consequências psíquicas para as vítimas.
O discurso das idosas de que poderiam evitar a violência com alguns comportamentos, além da questão do machismo enraizado na sociedade, faz emergir uma reflexão bastante preocupante, de que elas ao não perceberem meios de intervenção passam a buscar formas de agir, se comportar a fim de esquivar-se de situações de risco para a violência.
A temática violência contra a mulher idosa precisa ganhar mais espaço no campo da pesquisa e divulgação dos achados. Um problema de saúde pública como esse necessita romper tabus que envolvem o tema, promovendo tanto o reconhecimento das vítimas, como também propiciando espaço e informação para o pedido de ajuda.