Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar
ISSN 2182-5173
FROIS, Ana Teresa SAMPAIO, Ângela Freitas. Impacto da pandemia COVID-19 na utilização da consulta aberta de uma Unidade de Cuidados de Saúde Primários. []. , 38, 6, pp.583-593. 31--2022. ISSN 2182-5173. https://doi.org/10.32385/rpmgf.v38i6.13434.
Introdução:
A consulta aberta é uma consulta com marcação no próprio dia para resolver situações de doença aguda. A sua desadequada utilização é um problema recorrente que gera incapacidade de resposta adequada aos utentes. Durante a pandemia por COVID-19 foi necessário reformular a atividade assistencial nos cuidados de saúde primários, limitando o contacto presencial com os utentes.
Objetivos:
Conhecer o impacto da COVID-19 na utilização da consulta aberta, bem como fazer a caracterização sociodemográfica dos utentes utilizadores e compreender os motivos de utilização mais frequentes.
Métodos:
Estudo observacional descritivo com componente analítica da consulta aberta em abril/19, abril/20 e abril/21, numa unidade de saúde familiar, com caracterização sociodemográfica dos utentes e avaliação dos motivos de consulta e sua adequação.
Resultados:
Realizaram-se uma média diária de 18 consultas em 2019, 19 em 2020 e 31 em 2021. Não se observaram diferenças sociodemográficas dos utentes entre os períodos analisados, havendo sempre predomínio do sexo feminino e idade média entre 45 e 52 anos. Em pré-pandemia prevaleciam os motivos gerais e músculo-esqueléticos. Em 2020 aumentou o peso relativo das queixas respiratórias e, em 2021, foi restabelecido o padrão pré-pandemia. O ano relacionou-se com a adequabilidade do motivo (p<0,001), com valores de inadequabilidade de 47% em 2019, 19% em 2020 e 31% em 2021. Os motivos inadequados mais frequentes foram os mesmos - queixas não agudas, visualização de exames e renovação/pedido de certificado de incapacidade para o trabalho -, mas com pesos relativos diferentes (p<0,001).
Conclusões:
A pandemia COVID-19 associou-se a um aumento da adequação dos motivos de utilização da consulta aberta, o que mostra que não só é fundamental uma adequada educação dos doentes quanto aos motivos corretos para recurso à consulta aberta, mas também assegurar uma adequada acessibilidade às restantes modalidades de consulta para não motivar o recurso indevido à consulta aberta.
: Cuidados de saúde primários; Consulta aberta; Gestão de recursos da equipa de assistência à saúde; COVID-19.