Os Serviços de Urgência são um tema inevitável quando se fala no estado da Saúde no país. Todos os profissionais de saúde e muitos doentes, sabem que uma das especialidades que mais enfrenta os desafios da “Urgência” é a Medicina Interna.1,2
No sentido de conhecer a atividade dos internistas nos Serviços de Urgência do país, a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna decidiu levar a cabo um Inquérito simples dirigido aos Diretores dos Serviços de Medicina Interna sobre as urgências dos seus hospitais. No fundo é um “retrato”, ainda que incompleto, da representatividade dos internistas nos Serviços de Urgência e da forma como aí se distribuem.3
Responderam 45 diretores de Serviços, na maioria (62,2%) de hospitais com Serviços de Urgência médico-cirúrgicos, 15 polivalentes e 2 com Serviço de Urgência geral.3
Verificou-se que nos Serviços de Urgência destes hospitais, maioritariamente não existem equipas fixas (30 hospitais) e que em 34 (75,6%) dos casos os diretores do Serviço de Urgência são internistas.3
No que concerne à composição das equipas nos Serviços de Urgencia destes 45 hospitais, 67% durante o dia e 30% à noite têm mais de 3 internistas na equipa. Destes Internistas, 47% fazem regularmente turnos de 24 horas.3
Em 33% dos casos existem 3 ou mais Internos de Formação Específica durante o dia, dos quais 30% são de Medicina Interna e em 31% há 3 ou mais Internos de Formação Específica durante a noite (29% de Medicina Interna).3
A maioria (95,6%) dos hospitais que responderam referem recorrer a médicos indiferenciados e/ou subcontratados, para turnos do Serviço de Urgência. Em 31 destes hospitais existem médicos de Medicina Geral e Familiar a participar nas equipas da urgência geral e apenas 7 têm médicos de outras especialidades.3
Nestes 45 hospitais, apenas em 5 (11,1%) casos os Chefes de Equipa da Urgência não acumulam funções clínicas com as suas funções de chefia de equipa, sendo que a média de doentes que recorrem ao Serviço de Urgencia em 24 horas é 259,4, com variações entre os 516 e os 80 episódios diários de urgencia.3
Para as Urgências Internas de Medicina Interna, também chamadas Residências, 78% dos hospitais têm escala própria durante o dia e 53% durante a noite. Nos restantes casos, quem assegura as urgências internas é a equipa do Serviço de Urgência. Em muitos destes hospitais, as equipas de Urgência Interna dão apoio, em média, a 189 doentes, quer de medicina interna, quer de outras especialidades.
Olhando para estes números, se bem que incompletos, pode-se confirmar que é a Especialidade de Medicina Interna que suporta as urgências hospitalares, o que não é surpresa para ninguém.
Os internistas são, reconhecidamente, essenciais nos serviços de urgencia, têm todas as competências para identificar e tratar situações de emergência/urgência, estabelecer prioridades nos procedimentos diagnósticos e terapêuticos e manusear situações clínicas complexas. Para além disso, possuem uma capacidade única de coordenação das equipas e do trabalho multidisciplinar em diversos cenários incluindo na urgência onde há a necessidade de decisões rápidas, com evidentes ganhos de eficiência.
Os Serviços de Urgência precisam que os Internistas estejam presentes e os Internistas sabem que são precisos.
A insuficiência de recursos humanos nas escalas de urgência e a inclusão de médicos indiferenciados nas equipas são dois problemas que precisam muita atenção, mas, mais do que isso, têm de ser ultrapassadas as disfunções do sistema.
Os problemas principais estão a montante e a jusante dos Serviços de Urgência. Faltam Centros de Saúde com horários de funcionamento alargados e dotados de alguns exames complementares de diagnóstico, com soluções que possam resolver os problemas de saúde agudos de muitos dos seus utentes a par com o incremento da capacidade para seguir os doentes crónicos de forma mais eficaz, evitando descompensações das suas patologias. Por outro lado, os hospitais precisam de ter condições para organizar formas de atendimento mais ágeis para acesso mais rápido e direto dos doentes com hospitais de dia, consultas abertas, unidades de diagnóstico e de tratamento rápidos e recorrer às novas tecnologias para aproximar mais os doentes dos profissionais de saúde.2
Nunca é demais repetir que a Medicina Interna é o pilar dos hospitais. É preciso fornecer os meios para os serviços se organizarem e reduzir o número de doentes com patologias menos graves que podem ser resolvidas fora do hospital, deixando para o hospital as situações verdadeiramente graves e complexas que possam ser atendidas com menos pressão. Os internistas lá estarão para os doentes!